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Adolescentes foram levados a uma igreja pela Polícia Militar, após passarem mal depois de fazerem a brincadeira ‘Charlie Charlie’. De acordo com a polícia, eles brincavam em um terreno baldio em frente a uma escola. Claudia Cardamone comenta.

  • Data :03 Jun, 2015
  • Categoria :

3 de junho de 2015

Em RR, alunos passam mal após ‘Charlie Charlie’ e são levados à igreja

Caso ocorreu nessa sexta (29) na zona Oeste de Boa Vista. Samu foi acionado mas disse não ser ‘competente’ para socorro, diz PM.

Inaê Brandão Do G1 RR

Quatro adolescentes foram levados a uma igreja pela Polícia Militar nessa sexta-feira (29), após passarem mal depois de fazerem a brincadeira ‘Charlie Charlie’. De acordo com a polícia, os estudantes brincavam em um terreno baldio em frente da Escola Estadual Doutor Luiz Rittler Brito de Lucena, no bairro Nova Cidade, zona Oeste de Boa Vista, quando começaram a sentir um mal-estar. Ao todo, seis viaturas foram deslocadas para atender a ocorrência.

Um policial, que preferiu não se identificar, contou ao G1 que uma equipe foi informada pela população de que estava ocorrendo uma confusão na escola. Chegando no local, os policiais se depararam com uma aluna que afirmava estar com dores no estômago.

“Quando a primeira viatura chegou tinha somente uma menina sentindo um mal-estar na barriga. O colega pediu para ver o que estava acontecendo e ela caiu. Logo em seguida outros dois caíram e começou aquele desespero”, relatou o policial.

A polícia só entendeu o que estava acontecendo quando outro aluno mostrou um vídeo onde os adolescentes apareciam brincando de ‘Charlie Charlie’. “Os colegas pediram apoio policial enquanto outras pessoas iam desmaiando e esperneando. Os alunos se batiam e se jogavam nas paredes e nas árvores. Ficavam falando palavras com vozes pesadas e os olhos reviravam. Parecia que tinha alguma coisa dentro deles que girava por conta própria”, detalhou.

Sem poder controlar os estudantes, a Polícia Militar informou que a primeira providência foi acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Eles relataram o acontecido, mas foram informados que ’esse tipo de serviço não era de competência deles [Samu]’. Diante disso, um dos policiais apresentou a ideia de levar os adolescentes a uma igreja.

“Muita gente estava em transe naquele momento, cerca de oito pessoas, mas conduzimos somente as que estavam em estado mais grave, que eram quatro estudantes”. Segundo o policial, os adolescentes tinham entre 14 e 15 anos de idade.

Depois de passarem por três igrejas que estavam fechadas, os policiais encontraram uma igreja aberta na rua Estrela Dalva, no bairro Raiar do Sol. “Fiz contato com o pastor que orou na cabeça de cada um e logo em seguida chegou mais uma jovem que também estava brincando, tinha melhorado, mas acabou desmaiando no caminho de casa”.

Ainda conforme relatos do policial, um dos policiais militares chegou a passar mal também. “Ele tem um conhecimento religioso e como tinha um rapaz lá que desafiava muito, fazia gestos, falava e gritava, ele resolveu tentor acalmar. Quando conseguiu e saiu de perto do rapaz, também ele sentiu algo tomando conta do corpo dele”, contou, afirmando que o policial foi atendido pelo pastor e se sentiu melhor.

Cerca de 3 horas após o início da ocorrência a situação começou a ser controlada. Depois de se sentirem melhor, os adolescentes foram levados individualmente para suas casas. “Conversamos com os responsáveis de todos e explicamos o que havia acontecido”, disse.

‘Experiência mais difícil que já passei’, diz policial

Em 25 anos de serviço na Polícia Militar, o policial afirmou que esta foi a experiência mais complicada e diferentes que já teve que enfrentar durante a vida profissional.

“Essa noite foi bem complicada. Quando a gente passa por uma situação dessa acaba ficando abalado. Nessa noite quando eu ia dormir, fechava os olhos e vinha aquela imagem na cabeça. Trabalho como policial há 25 anos e essa foi a experiência mais difícil que já passei. Estamos preparados para um tipo de situação e quando envolve uma outra coisa, principalmente com a parte espiritual, a gente fica um pouco perdido”, disse.

‘Histeria em massa’, afirma psicóloga

A psicóloga Gabriela Matias explicou que o acontecido pode ser explicado pelo fenômeno da ‘histeria em massa’. “É uma reação em massa. Um deles viu o outro passar mal e aquilo reverberou em todos. Todo mundo espera que aconteça e todos os envolvidos sentem alguma coisa”, esclareceu.

Segundo Gabriela, a psicologia da religião explica que esses fenômenos podem acontecer de acordo com a crença da pessoa. “Elas estavam querendo, estavam esperando e desejando aquilo. Eles estavam tão esperançosos que tivesse um espírito e que o espírito fosse falar”, comentou.

Sobre a orientação que deve ser dada aos jovens, a psicóloga recomendou que o interessante é não brincar com o que a gente não conhece.

“Se você quer saber sobre espíritos, você deve estudar, pegar um livro de Allan Kardec e estudar. A internet nos oferece várias informações. Claro que é importante saber dosar o que é verdade e o que é mentira, mas tem sites sérios”, orientou a psicóloga.

Atendimento do Samu

Em nota, o Samu de Boa Vista informou que a denúncia de que a instituição deixou de ir ao local é improcedente. De acordo com a nota, uma unidade de Suporte Básico foi encaminhada à escola e um técnico em enfermagem e um socorrista aferiram, em todos os envolvidos, a pressão arterial e fizeram a saturação de oxigênio.

Após a verificação, os profissionais constataram que o caso se tratava de uma histeria coletiva, na qual a resposta do organismo de alguns adolescentes está mais propícia a causar desmaios. “O Samu enfatiza que, somente após todos terem sido observados, houve a liberação dos adolescentes, ocorrida na própria escola, pois não se tratava de um caso grave”, informou a nota.

Notícia publicada no Portal G1 , em 30 de maio de 2015.

Claudia Cardamone comenta*

Esta é uma história que surgiu na internet, o Desafio Charlie Charlie. Ele funciona como funcionava o copo, há alguns anos atrás, e como a mesinha com lápis, cestinhas e pranchetas, enfim, como um instrumento de comunicação com os espíritos. A pessoa cruza dois lápis, um sobre o outro, e escreve sim em quadrantes diagonais opostos e não nos outros dois. O lápis de cima deverá mover-se para o sim ou o não.

Se comunicar com espíritos, almas ou fantasmas faz parte do imaginário humano. Muitos vêm à casa espírita com este objetivo, desvendar o mistério que tanto nos fascina e que infelizmente é tão normal como nossa vida aqui na Terra. Uma pergunta fica: Houve comunicação real? Houve possessão dos alunos?

É difícil julgar os fatos pelas notícias que sempre serão influenciadas por quem escreve ou fala. Pode ter havido sim, há vídeos que aparentemente mostram o lápis respondendo a perguntas. Quem era? Pode ser qualquer espírito disposto a participar de tal brincadeira em ambiente frívolo, como os Espíritos responderam a Kardec: “Evoque um rochedo e ele responderá. Há sempre uma multidão de Espíritos prontos a falar sobre tudo”.

Mas e quanto às ditas possessões? Se verificarmos na mídia como são divulgadas as manifestações de espíritos, veremos na sua grande maioria que acontecem em igrejas, onde a pessoa se debate, grunhe, fala rouco, xinga, pula, cai no chão inconsciente e então o pastor coloca a mão sobre a pessoa e a liberta em nome de Jesus. O que os vídeos mostraram nestas ocorrências foi uma cópia exata do que é visto na mídia.

No Cap. 18 de O Livro dos Médiuns, os espíritos afirmam que desenvolver a mediunidade em crianças é incoveniente, pois seus organismos frágeis e delicados seriam abalados e sua imaginação muito superexcitada. E é possível ver como os acontecimentos excitam todas as crianças envolvidas. Infelizmente, a mistificação e a valorização só vai aumentar a vontade de realizar o desafio, enquanto que o adequado conhecimento sobre o assunto provavelmente até evitaria essa realização por pura curiosidade. Mas faz parte da natureza humana experimentar e dos espíritas explicar e divulgar a doutrina.

  • Claudia Cardamone nasceu em 31 de outubro de 1969, na cidade de São Paulo/SP. Formada em Psicologia, pelas FMU, e em Pedagogia, pela UNISUL. Reside atualmente em Santa Catarina, onde trabalha como professora. É espírita e trabalhadora do Grupo União e Amor de Formação Espiritual, em Paulo Lopes/SC.