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Beija-Flor levanta troféu com patrocínio de um ditador. Uma conversa a sério sobre o Carnaval do Rio precisa discutir os repasses de verba pública às escolas de samba e o controle da festa mais popular do país por uma entidade ligada ao crime, com as bênçãos do Estado e da prefeitura. Jorge Hessen comenta.

  • Data :14/03/2015
  • Categoria :

15 de março de 2015

O crime compensa na Sapucaí

Bernardo Mello Franco

BRASÍLIA - Não basta reclamar da Beija-Flor, que levantou o troféu com patrocínio do sanguinário ditador da Guiné Equatorial. Uma conversa a sério sobre o financiamento do Carnaval do Rio precisa discutir os repasses de verba pública às escolas de samba e o controle da festa mais popular do país por uma entidade ligada ao crime, com as bênçãos do Estado e da prefeitura.

A escola campeã, comandada há décadas por um contraventor de Nilópolis, está longe de ser exceção. A simpática Portela tem como patrono um miliciano, a Mocidade Independente pertence a um capo dos caça-níqueis, a Imperatriz Leopoldinense está nas mãos de um ex-torturador que virou bicheiro.

Os quatro já estiveram presos e continuam a reinar na Marquês de Sapucaí, onde têm livre acesso aos camarotes e são reverenciados por artistas e políticos. Eles mandam na Liesa, a liga que organiza os desfiles na Marquês de Sapucaí.

Em 2008, uma CPI da Câmara Municipal do Rio concluiu que a entidade deveria disputar licitação se quisesse continuar à frente do Carnaval. O então prefeito Cesar Maia foi contra. Os postulantes à sua cadeira evitaram o assunto. Eduardo Paes venceu a eleição, e pouca coisa mudou no Sambódromo.

A prefeitura continuou a injetar dinheiro nas escolas até 2010, quando o Ministério Público mandou suspender os repasses. A verba direta foi substituída por patrocínios a eventos paralelos. Os conselheiros do Tribunal de Contas do Município, que deveriam coibir a farra, assistiam a tudo em quatro camarotes na avenida, depois devolvidos por ordem judicial.

Paes já ensaiou licitar o desfile, mas desistiu alegando falta de interessados. Em 2012, quando concorria à reeleição, foi cobrado em sabatina do jornal “O Globo” sobre a permanência dos bicheiros. “Chato é, mas vou fazer o quê? Acabar com o Carnaval?”, perguntou o prefeito. Aí está um bom tema para os candidatos à sua sucessão no ano que vem.

Coluna publicada no Jornal Folha de S.Paulo , em 19 de fevereiro de 2015.

Jorge Hessen comenta*

Não é nada agradável discorrer sobre o fadigoso tema “carnaval”, mormente quando sabemos que Escolas de samba cariocas levantam seus troféus sob as bênçãos do patrocínio de assassinos, ditadores sanguinários, torturadores, contraventores. Considerando que o carnaval é um desses delírios coletivos que costumam ser classificados como supostos extravasadores de energias reprimidas e representa o momento em que pessoas projetam o que há de mais irracional e de mais incivilizado em si mesmas, não fica difícil entender por que paraninfos criminosos custeiam com o dinheiro do crime a devassidão moral.

A cultura do carnaval estabelece tudo o que aguça o primarismo humano, crimes, volúpias, sensualidades e prazeres. Não cremos que as normas suspensivas ou restrição de anseios pessoais resolveriam a encrenca que dizem ser cultural na cidade dos cariocas. Mas, graças a Deus, a Lei de Causa e Efeito preconiza a obrigatoriedade da colheita em tudo o que foi semeado livremente. Quem semeia joio, não colhe trigo.

Considerando a forma de patrocínio das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, não há dúvida nenhuma que um espirita consciente jamais apoia. Inobstante não ditemos regras coercitivas, cremos que o espírita deve ter completa ciência das implicações infelizes advindas desses festejos alucinantes, considerando a forma espúria pelos quais são injetados recursos financeiros para o evento.

Não há como “tapar o sol com a peneira” e ignorar que nos dias de Momo surgem maníacos de todos os antros a fim de excitarem a perversão. A efervescência momesca é episódio que satura em si a carga da barbárie e do primitivismo. Há os que aniquilam as finanças familiares para experimentar o momento efêmero de “desfrutar” três dias de total paranoia. Adolescentes, adultos e decrépitos se abandonam nas arapucas pegajosas das estéreis fanfarras. Não percebem que bandos de malfeitores do além (obsessores) igualmente colonizam as “avenidas e ruas” num lúgubre show de bizarrices. Malfeitores das penumbras espirituais se acoplam aos histriões fantasiados pelos fios invisíveis do pensamento por causa dos entulhos lascivos que trazem na intimidade.

Como nosso imperativo maior é a Lei de Evolução, um dia tudo isso, todas essas manifestações ruidosas que marcam nosso estágio de inferioridade desaparecerão da Terra. Em seu lugar então predominarão a alegria pura, a jovialidade, a satisfação, o júbilo real, com o homem despertando para a beleza e a arte, sem agressão nem promiscuidade.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.