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Como trabalho de conclusão de seus estudos em desenho industrial, a designer holandesa Laura Cornet preparou uma linha de brinquedos interativos com o objetivo de criticar a exposição de crianças em ferramentas de mídia social. Claudio Conti comenta.

  • Data :22/01/2015
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22 de janeiro de 2015

Brinquedos que permitem “selfies” para bebês criam dilema

“Não tenho a pretensão de querer aconselhar alguém sobre como lidar com filhos e mídias sociais, mas ao menos posso sugerir o debate”, diz a designer Laura Cornet está na chamada “sinuca de bico”, com diz a gíria brasileira. Como trabalho de conclusão de seus estudos em desenho industrial, a designer holandesa, de 25 anos, preparou uma linha de brinquedos interativos com o objetivo de criticar a exposição de crianças em ferramentas de mídia social. Um deles é um móbile cuja câmera de vídeo envia automaticamente imagens do berço para o Facebook. Cornet, porém, foi pega de surpresa pelo fato de que sua tese acabou despertando interesse comercial depois de seu trabalho ter sido exposto na Semana de Desenho Industrial de Eindhoven, na Holanda, um dos principais eventos de design do calendário Europeu. “É um dilema moral. Minha intenção inicial foi justamente expressar uma crítica a pais que postam fotos de seus filhos nas mídias sociais sem refletir sobre a privacidade das crianças. Por outro lado, há o sucesso potencial de um produto criado por mim e que pode impulsionar minha carreira como designer. O consolo é que não preciso adotar nenhuma atitude extrema”, admite Cornet, em entrevista à BBC Brasil.

Debate moral A designer pensa estar justamente fazendo isso no novo protótipo do móbile, que elimina a postagem automática, enviando as fotos para os telefones ou tablets dos pais. “Não tenho a pretensão de querer aconselhar alguém sobre como lidar com filhos e mídias sociais, mas ao menos posso sugerir o debate”, completa Cornet, que ainda não tem filhos. Além do móbile, a holandesa criou um painel de berço que tira uma ‘selfie’ todas as vezes em que o bebê gira uma espécie de bola acoplada, um sapato que registra o número de chutes e movimentos de pernas - fazendo upload dos dados - e uma chupeta com localizador por satélite (GPS). Cornet conta que a ideia do projeto surgiu de meras observações de sua conta no Facebook. “Comecei a ver mais e mais fotos de bebê. Aquilo me fez pensar se não era estranho estar mexendo com a privacidade de alguém que não está a par de como eu e quem mais tivesse acesso às fotos estava simplesmente vendo tudo sobre a vida dele ou dela. E como os bebês não tinham uma chance de decidir.” O trabalho da designer também foi recebido com críticas. “Houve gente me mandando emails irritados e me acusando de estar fornecendo mais um veículo de invasão de privacidade. Fui chamada de pervertida e tudo”, explica Cornet. “Mas a reação que mais me surpreendeu foi mesmo a de pais que imediatamente quiseram saber quando os brinquedos estariam à venda.” Cornet, no entanto, acredita que os brinquedos pode ser ajustados para utilidades bem mais práticas. “O móbile, por exemplo, pode servir como uma babá eletrônica. O importante aqui é sabermos que nosso controle sobre como alguém vai usar uma tecnologia é muito menor do que pensamos”, acredita a holandesa, que espera ter uma versão comercial pronta nos próximos meses. Terra Notícia publicada no Portal Terra , em 8 de novembro de 2014.

Claudio Conti comenta* A reportagem em análise é muito interessante por haver duas questões importantes envolvidas. Vamos abordá-las separadamente. Em primeiro lugar, o que nos chamou a atenção, foi a intenção inicial da designer que elaborou um projeto de final de curso visando criticar e, consequentemente, iniciar um debate sobre um tema que, na sua opinião, era polêmico: a exposição exagerada de crianças nas redes sociais. Os trabalhos acadêmicos, além de trazer inovações tecnológicas e do conhecimento, podem e devem servir ao propósito de levantar temas controversos para o debate, utilizando de processos criativos para tal. Desta forma, serve para o desenvolvimento do aluno e da sociedade. Os debates ajudam a elaboração de conceitos e ideias mais adequadas por serem decorrentes da participação de várias pessoas com pensamentos diferentes. Desta forma, é válido o trabalho da aluna como produto acadêmico, visando o debate sobre um tipo de comportamento que ela considerava como merecedor de aprimoramento de entendimento, para que as pessoas em geral pudessem nortear seus hábitos em conformidade com os novos paradigmas que poderiam surgir. Todavia, uma reviravolta inesperada colocou a designer em uma situação que, a princípio, deveria ser de fácil decisão para ela: o interesse comercial do produto de seu trabalho. Contudo, os interesses pessoais falaram mais alto e deixou-se levar e passou a, de certa forma, incentivar o comportamento que inicialmente considerava inadequado. No capítulo XVI d’O Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos o ensinamento de Jesus que pode ser aplicado a esta situação: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou se prenderá a um e desprezará o outro. Não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon.” A outra questão relacionada com esta reportagem é a exposição exagerada nas redes sociais, e na mídia em geral, que conduz à banalização da informação. Este ponto é comprometedor pela decorrente perda da capacidade de avaliação do que é realmente importante para o ser como individualidade em aprimoramento. É muito comum encontramos notícias como: “Fulano passeou com sua filha na praia” ou “Beltrano foi visto almoçando em tal restaurante”. Notícias deste tipo não agregam valor algum, porém, percebe-se uma busca desenfreada por este tipo de informação, além, é claro, do desejo de ser o próprio protagonista. Este desejo de autopromoção e a obliteração do bom senso leva o próprio indivíduo a alimentar sua rede social de informação desnecessária, e muitas vezes descabível, a respeito de si próprio e de seus afetos.

  • Claudio Conti é graduado em Química, mestre e doutor em Engenharia Nuclear e integra o quadro de profissionais do Instituto de Radioproteção e Dosimetria - CNEN. Na área espírita, participa como instrutor em cursos sobre as obras básicas, mediunidade e correlação entre ciência e Espiritismo, é conferencista em palestras e seminários, além de ser médium pscógrafo e psicifônico (principalmente). Detalhes no site www.ccconti.com .