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O jornal Charlie Hebdo já tinha recebido várias ameaças por causa de caricaturas do profeta Maomé e outros desenhos considerados polêmicos. O imã da Grande Mesquita de Paris disse que o ataque não foi em nome do islã, mas um golpe contra os muçulmanos. Jorge Hessen comenta.

  • Data :16/01/2015
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16 de janeiro de 2015

Terrorismo islâmico choca o mundo e deixa Paris de luto

Homens armados mataram 12 pessoas em atentado ao jornal Charlie Hebdo. Polícia já tem o nome de dois suspeitos e uma caçada tenta localizá-los.

André Luiz Azevedo Paris

Quase seis horas da manhã na França, três horas da madrugada no Brasil e milhares de pessoas passaram a noite em vigília nas praças, igrejas e ruas de Paris. De várias cidades da França, homenagens foram feitas às vítimas do atentado ao jornal Charlie Hebdo. Os manifestantes, na luta pela liberdade de expressão, prometem não parar tão cedo em uma grande demonstração de união.

A frase mais usada nas manifestações “Je Suis Charlie”, “Eu Sou Charlie”, em português, foi a marca dos protestos.

Durante a madrugada, a polícia divulgou fotos de dois irmãos suspeitos de participar do atentado, Said Kouachi, de 34 anos, e Cherif Kouachi, de 32 anos, e alertou que eles podem ser perigosos.

Vinte agentes da polícia antiterror francesa vasculharam um apartamento na cidade de Reims, a 130 quilômetros ao norte de Paris, em busca de pistas que possam levar à captura dos dois homens. Uma verdadeira caçada foi montada na França.

O ataque

O ataque começou por volta das 11h30 da manhã, no horário local. Três homens encapuzados, armados com metralhadoras AK-47, entraram na redação do jornal satírico Charlie Hebdo e começaram a abrir fogo contra os jornalistas e cartunistas que estavam na reunião de pauta que acontece toda quarta de manhã.

Um vídeo amador flagrou dois homens encapuzados saindo do prédio. Eles atiraram no policial que fazia a segurança da revista. O policial, já deitado, fez um apelo ao atirador, mas mesmo assim levou um tiro na cabeça. Eles diziam algo que, em árabe, quer dizer “Deus é grande”. Depois, entraram com calma em um carro preto e fugiram.

Logo em seguida, começou uma grande caçada aos atiradores. Um representante da polícia francesa disse que os fugitivos atiraram contra os carros de polícia que encontraram pelo caminho.

O presidente François Hollande convocou uma reunião de emergência no gabinete e elevou o alerta de segurança do país para o máximo.

Mais tarde, a polícia encontrou o carro da fuga batido e abandonado. Ele foi deixado no norte de Paris, onde os atiradores roubaram outro veículo.

O jornal Charlie Hebdo já tinha recebido várias ameaças por causa de caricaturas do profeta Maomé e outros desenhos considerados polêmicos. Pouco antes do ataque, o jornal publicou na internet um cartum satirizando Abu Bakr Al-Baghdadi, o chefe do grupo terrorista Estado Islâmico.

O imã da Grande Mesquita de Paris, Dalil Boubakeur, disse que o ataque não foi feito em nome do islã, pelo contrário, foi um golpe contra todos os muçulmanos.

O presidente da ONG Repórteres sem Fronteiras, Christopher Deloire, disse que o atentado foi uma tentativa de intimidar jornalistas e de restringir a liberdade de imprensa.

Notícia publicada na página do Hora 1 , em 8 de janeiro de 2015.

Jorge Hessen comenta*

Dois homens vestidos de preto, encapuzados e armados com fuzis automáticos abrem o fogo na redação de Charlie Hebdo, em plena reunião de pauta, aos gritos de “Allah akbar” (Alá é grande). Matam 11 pessoas na sede do jornal e um policial na saída, antes de fugir de carro rumo à zona nordeste de Paris. A maioria das capas de jornais pelo mundo têm a cor dominante preta em sinal de luto, e anônimos colocam flores, lápis, velas e mensagens perto da sede de Charlie Hebdo.   Toda França respeita um minuto de silêncio, enquanto os sinos dobram na catedral Notre Dame de Paris. As luzes da Torre Eiffel, outro cartão postal da cidade, são desligadas por alguns instantes às 20h.

Não há, ao menos por enquanto, uma definição oficial no plano internacional sobre o que é propriamente o terrorismo, mas se pode considerar como terrorista todo e qualquer ato ou organização que utilize métodos violentos ou ameaçadores para alcançar um determinado objetivo político. Assim, sequestros, atentados a lugares públicos e privados, ataques aéreos, assassinatos ou outras formas de agressão podem ser relacionados com o terrorismo. Embora as definições de terrorismo sejam imprecisas a atuação dessas organizações é antiga, a exemplo do atentado de Sarajevo, em 1914, constituído pela organização Mão Negra e que culminou na morte do herdeiro do Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinando (estopim da Primeira Guerra Mundial).

Os maiores grupos terroristas da atualidade são de origem islâmica. Como a Al-Qaeda, majoritariamente composta por muçulmanos fanáticos e tem por objetivo erradicar a influência ocidental sobre o mundo árabe; O Boko Haram, organização antiocidental que objetiva implantar a sharia (lei islâmica) no território da Nigéria; O Hamas (sigla em árabe para “Movimento de Resistência Islâmica”) é temido pela maioria das organizações internacionais e Estados. Atua nos territórios da Palestina, tendo como objetivo a destruição do Estado de Israel e a consolidação do Estado da Palestina; O Estado Islâmico (EIIS), grupo terrorista jihadista que age no Iraque e na Síria, tendo surgido em 2013 como uma dissidência da Al-Qaeda, inspirando-se nesse grupo e o Talibã que atua no Paquistão e no Afeganistão, também preocupado com a aplicação das leis da sharia (é o nome que se dá ao Direito Islâmico).

Os discursos psicopatológicos e religiosos são apontados como fatores de compreensão causais da questão terrorista na atualidade. Na difusão midiática, esses elementos são a base para a compreensão do fenômeno, eliminando, praticamente, fatores sócio-políticos e econômicos do seu discurso. Contudo, a busca pelo entendimento mais amplo do problema envolve conhecimento das Relações Internacionais, História, Política e Sociologia e Antropologia, aos quais o jornalista atualizado pode recorrer, sempre que se reportar ao terrorismo islâmico contemporâneo.

Muitas vezes temos a impressão de que a forma da religiosidade armada e eventualmente violenta, conhecida como “fundamentalista”, é um fenômeno puramente islâmico (ideia imposta por Israel e os Estados Unidos). Porém, o fundamentalismo é um fenômeno mundial e, em algumas religiões, e, até mesmo, em partidos políticos, tem surgido como resposta aos problemas de nossa modernidade. O termo terrorismo islâmico é abundante nas páginas de jornais e revistas. Reducionista, esta denominação não permite uma compreensão da complexidade que envolve o terrorismo, suas causas sócio-políticas, e deixa implícito que o problema do terrorismo está na religião, portanto, em todo o mulçumano, quando na realidade é um recurso de pequenos grupos que fazem uma leitura extremista da religião e/ou de partidos políticos.

Para o terrorismo sustentado no fanatismo, os inocentes devem pagar pelos inimigos; a destruição deve ser a única linguagem possível. O fanatismo parece surgir de uma estrutura psicótica. O fato do sujeito se ver como o único que está no lugar de certeza absoluta, de ter sido escolhido por Deus para uma missão qualquer, já constitui sintoma suficiente para muitos psiquiatras diagnosticarem, aí, uma loucura ou psicose. Seguindo o raciocínio de Sigmund Freud, vemos que aquilo que o psicótico paranoico vivencia na própria pele, o parafrênico experimenta na pele do outro, ou seja, somos levados a supor que o fanatismo está mais para a parafrenia(1) que para a paranoia.

Temos a convicção de que, por trás dos novos fanatismos religiosos - católicos, evangélicos, espíritas, muçulmanos, hinduístas etc. - há o pendor místico do religioso que leva a uma cristalização da fé, desembocando numa falsa doutrina das virtudes. A base dos fanatismos é o medo: medo à liberdade, medo à vida, medo à cultura, medo, medo, medo, enfim, medo do mundo, que é encarado de um modo suspeito e hostil.

O fanatismo é a intolerância extrema para com os diferentes. Um evangélico fanático é incapaz de diálogo e respeito para com um católico ou um budista e vice e versa. Um fanático de direita não quer diálogo com os de esquerda e este com aquele. Organizações como a Ku Klux Klan são intolerantes, igualmente, com negros adultos, mulheres e crianças. Destarte, são tão fanáticos os terroristas-suicidas muçulmanos como os fundamentalistas cristãos norte-americanos que atacam clínicas de abortos, perseguem homossexuais, proíbem o ensino da teoria evolucionista de Darwin, obrigando aos professores ensinarem a doutrina criacionista tal como está na Bíblia, ou ainda, os protestantes da Irlanda do Norte que atacam crianças católicas ou os bascos que querem ser um país independente, a qualquer preço, por meio do terror.

Sabemos que a desordem devastadora de hoje é a guerra aterrorizante  da treva contra a claridade do amor. “A vitória do Bem reclama espíritos fortalecidos de Coragem e Fé, acima de tudo. O mundo cheio de sombras do mal não oferece lugar a espectadores. A guerra de nervos traz ameaças, gritos, terrores, bombas, incêndios, metralhadoras, mas o defensor do Bem traz o caráter firme, solidificado na confiança em Deus e em si mesmo. Nestas horas de apreensões justas, recordemos as palavras serenas do Mestre: - “E quando ouvirdes de guerras e sedições, não vos assusteis”.(2)

A Doutrina Espírita nos faz entender quem somos, efetivamente, quem realmente é o ser humano em sua vocação e circunstância, visão que possibilita, por sua vez, a compreensão e a vivência de uma vida social, moralmente correta, a partir da qual podemos julgar com retidão se determinadas atitudes e ideias propostas por grupos políticos e/ou religiosos correspondem àquilo que o próprio Criador espera de nós.

A Terra é um mundo de expiações e provas, razão pela qual a paz absoluta ainda não se encontra aqui no Planeta, só em mundos mais evoluídos. Em nosso orbe, a tranquilidade social é relativa.(3) É verdade! Ao Espiritismo cristão está reservada a tarefa de alargar os horizontes dos conhecimentos, nos domínios da alma humana, contribuindo para a solução dos enigmas que atormentam as sociedades contemporâneas de todas as culturas, projetando luz nas questões quase que indecifráveis do destino e das dores morais do homem contemporâneo.

Nota e referências bibliográficas:

(1) Parafrenia é um composto erudito constituído pelos elementos gregos ‘para’ (“junto, ao lado de”) e ‘phrenía’ (“estado mental patológico”) e significa “conjunto de problemas mentais que inclui a demência precoce e a paranóia”;

(2) Xavier, Francisco Cândido. Harmonização, ditado pelo Espírito Emmanuel, São Paulo: Ed. GEEM. Lição nº 19. Pág. 101;

(3) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 20, capítulo V, RJ: Ed. FEB, 2000.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.