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Você está de férias, mas checa os e-mails do trabalho assim que acorda. E fica preocupado se o hotel não tiver um bom wi-fi ou se seu celular ficar sem sinal. Esses são típicos indícios do estresse conhecido como ‘sempre ligado’. Jorge Hessen comenta.

  • Data :15/12/2014
  • Categoria :

15 de dezembro de 2014

A síndrome do ‘sempre ligado’ que aflige usuários de smartphones

Matthew Wall BBC News

Você está de férias, mas checa os e-mails do trabalho assim que acorda. E fica preocupado se o hotel não tiver um bom wi-fi ou se seu celular ficar sem sinal.

Esses são típicos indícios de que você pode sofrer do estresse conhecido como “sempre ligado”, que afeta pessoas que não conseguem largar de seus smartphones.

Para alguns, os aparelhos os liberaram de uma rotina rígida no escritório. As horas de trabalho ficaram mais flexíveis, dando mais autonomia ao funcionário. Para outros, no entanto, os smartphones se transformaram em verdadeiros tiranos dentro do bolso, impedindo que seus usuários se desconectem do trabalho.

E essa dependência torna-se cada vez mais preocupante, segundo observadores.

O americano Kevin Holesh estava tão preocupado com o fato de ignorar cada vez mais parentes e amigos por conta de seu iPhone que criou um aplicativo - Moment - para monitorar seu próprio uso.

O aplicativo lhe permite contar a quantidade de tempo gasta no smartphone e adverte se esse uso ultrapassar limites que Holesh se autoimpôs.

“O objetivo é promover o equilíbrio na vida”, diz seu site. “(Passar) um tempo no telefone e um tempo sem ele, aproveitando sua família e seus amigos.”

Desligar

E alguns empregadores estão percebendo que não é muito fácil manter esse equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Alguns precisam de ajuda externa.

A montadora alemã Daimler, por exemplo, recentemente passou a oferecer um “apagador” automático de e-mails para funcionários em férias, reconhecendo que muitos têm dificuldade em se desligar do trabalho.

“Os impactos negativos dessa cultura do ‘sempre ligado’ são que a sua mente nunca descansa, você não dá ao seu corpo o tempo para se recuperar e fica sempre estressado”, disse à BBC a psicóloga ocupacional Christine Grant, do centro de pesquisas em psicologia e comportamento da Universidade Coventry (Grã-Bretanha).

“E, quanto mais cansaço e estresse, mais erros cometemos. A saúde mental e física pode sofrer.”

O fato de podermos estar conectados ao trabalho em qualquer lugar do mundo está fomentando inseguranças, prossegue Grant.

“Há uma enorme ansiedade quanto a delegar”, diz. “Na minha pesquisa, encontrei diversas pessoas exaustas porque viajavam conectadas o tempo todo, independentemente do fuso horário em que estivessem.”

As mulheres causam preocupação em especial: muitas passam o dia trabalhando, voltam para casa para cuidar dos filhos e ainda fazem uma jornada extra no computador antes de dormir.

“Essa jornada tripla pode ter um grande impacto na saúde”, opina Grant.

**Adoecendo **

O presidente da Sociedade Britânica de Medicina Ocupacional, Alastair Emslie, concorda, alegando que centenas de milhares de britânicos relatam anualmente sofrer de estresse no trabalho - a ponto de adoecerem.

“As mudanças tecnológicas contribuem para isso, sobretudo se fizerem os funcionários se sentirem incapazes de lidar com as crescentes demandas ou perderem o controle sobre sua carga de trabalho.”

Dados indicam que os britânicos passam até 11 horas diárias consumindo mídias; e o Brasil tem um dos maiores índices globais de uso diário de smartphones (cerca de uma hora e meia).

E, com o crescimento no número de smartphones, cresce também a quantidade de dados à nossa disposição - o que pode levar a uma espécie de paralisia, argumenta Michael Rendell, que trabalha com a consultoria PwC.

“Isso cria mais estresse no ambiente de trabalho porque as pessoas estão tendo de englobar uma quantidade maior de informações e meios de comunicação, e é difícil gerenciar tudo. Torna-se mais difícil tomar decisões, e muitos perdem produtividade por estarem sobrecarregados e sentirem que nunca escapam do trabalho.”

“Achamos que ficar checando e-mails é trabalhar, mas muitas vezes não é algo produtivo”, argumenta o advogado britânico Tim Forer.

Ele explica que a checagem constante de e-mails fora do escritório pode, em alguns casos, desrespeitar legislações trabalhistas. “Isso coloca em risco o dever da empresa em zelar por seus empregados”, diz.

**Disponíveis **

Uma pesquisa da empresa de TI SolarWinds diz que mais da metade dos trabalhadores entrevistados sente que é esperado que eles trabalhem mais rápido e cumpram prazos menores por estarem mais conectados. Quase a metade deles acha que seus empregadores esperam que eles estejam disponíveis a qualquer hora ou lugar.

Claro que nem tudo é negativo. Chris Kozup, diretor da empresa de telecom Aruba Networks, diz que um estudo conduzido pela própria empresa “mostra que essa ideia de estar ‘sempre ligado’ está, na verdade, ajudando os trabalhadores a gerenciarem o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal”.

A chave é fazer com que essa flexibilidade aja em seu favor e ser disciplinado quanto ao uso de smartphones.

Ou seja, se você vai sair de férias, lembre-se de ativar os alertas que avisarão que você estará “fora do escritório”, de desligar seu telefone e mantê-lo longe do alcance quando for dormir. E o conselho de Christine Grant é: lembre-se de que “raramente você é o único capaz de resolver um problema” no escritório.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 16 de agosto de 2014.

Jorge Hessen comenta*

Por que será que o mundo virtual vem fascinando mais do que a vida que se levava 30 anos atrás? Permanecer neste mundo utópico, seduzidos pelas ondas eletromagnéticas da Internet, diante das novas mídias, será por desconfiança? Timidez? Sujeição? Carência de amor próprio? Insegurança? Solidão? Ou será ingênuo encantamento, necessidade de aventuras, realização de feitos inenarráveis, ultrapassar limites, provocar reações e alvoroços…?

A rigor, a Era Tecnológica e o mundo virtual têm ampliado e facilitado a vida humana em face do rápido acesso à informação. Nesse contexto, a Internet é a maior rede mundial de comunicação, ligando centenas de milhões de computadores, smartphones, tablets, iPhone, iPad com enorme quantidade de pessoas de interesses variados, seja nos negócios, nas pesquisas, no lazer, na comunicação, e tantas outras áreas quanto se possa imaginar.

Estatísticas comprovam que os britânicos passam quase metade do dia consumindo mídias; e “o Brasil tem um dos maiores índices globais de uso diário de smartphones. Os dados mais recentes do Ibope/Nielsen calculam em 54,4 milhões o número de usuários da internet em casa e no trabalho.”(1) Na Pátria do Evangelho, o tempo médio de navegação na web tem sido de 65 horas e 11 minutos por pessoa e pesquisa da consultoria Accenture aponta que o Brasil liderou as compras de celulares e TVs HD em 2010.

A psicóloga Christine Grant adverte que “os impactos negativos dessa cultura do ‘sempre ligado’ são que a sua mente nunca descansa, você não dá ao seu corpo o tempo para se recuperar e fica sempre estressado.”(2) Por outro lado, Chris Kozup, diretor da empresa de telecom Aruba Networks, afiança que nem tudo é negativo, pois há estudo conduzido pela própria empresa mostrando que essa ideia de estar ‘sempre ligado’ está, na verdade, ajudando os trabalhadores a gerenciarem o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.(3)

É evidente que o uso exagerado dos aparelhos tecnológicos torne as pessoas mais ausentes. Basta observemos que não são poucas as pessoas que se distraem de uma tarefa para checar seu perfil nas redes sociais, ou perdem uma conversa na mesa do restaurante porque vão responder mensagens no smartphone etc. Pesquisas mostram que nossa concentração média é de 3 a 5 minutos antes que acabemos nos distraindo, no estudo ou no trabalho. A maioria dessas distrações são tecnológicas (alertas de mensagem, “torpedos”, e-mails etc).

Até a mídia televisiva transformou-se. Em programas de TV dos anos 1980 e 1990, o tempo de cada cena era muito maior do que é nos programas atuais, que se adaptaram à atenção mais curta dos telespectadores. Revistas também fazem reportagens cada vez mais curtas. Muitas pessoas já não conseguem mais ler integralmente, elas apenas “passam os olhos”. Hoje em dia, os familiares vão almoçar ou jantar algemados aos seus celulares. Destarte, obstrui-se o tempo para conversas caseiras. Se cada um estiver hipnotizado em seu celular ou smartphone, que interação familiar sobrevirá e que diálogo ocorrerá? Nenhuma e nenhum.

No momento, as pessoas estão muito empolgadas com a tecnologia e agem como crianças em uma loja de doces: querendo experimentar tudo. Muitos pais talvez se preocupem com o tempo gasto por seus filhos – e por eles próprios – na internet, mas provavelmente poucos (pais e filhos) ousariam passar seis meses completamente longe da web, da TV e de smartphones. Porém, uma coisa é certa, qualquer família que não fica algemada nas redes sociais da web, que não é obcecada pela tecnologia, consegue atrair amigos e parentes e acende a chama da boa conversação presencial com pessoas queridas.

Sem os exageros acima, e considerando que o mundo está passando por intensas mudanças, principalmente aquelas movidas pela força do instinto, em que a violência substitui o diálogo e a compaixão perde para o ódio, cremos que o espírita pode e deve recorrer às mídias tecnológicas onde encontra excelente meio de divulgação doutrinária, “em face da sua facilidade, versatilidade, abrangência, interatividade e baixo custo (é corriqueiro notarmos celulares nas mãos de cidadãos de todas as classes sociais).

Com as novas mídias tecnológicas interligadas pela Internet consegue-se atingir uma população anônima que não pode ou nem sempre vai a um Centro Espírita. Ao ponderarmos sobre a capacidade de persuasão das novas mídias, somos compelidos a refletir sobre a antevisão de Kardec no século XIX, quando pronunciou: “uma vulgarização em larga escala, feita nos jornais de maior circulação, levaria ao mundo inteiro, até às localidades mais distantes, o conhecimento das ideias espíritas, despertaria o desejo de aprofundá-las e, multiplicando-lhes os adeptos, imporia silêncio aos detratores, que logo teriam de ceder, diante do ascendente da opinião geral."(4)

Nos dias de hoje, existem inúmeros grupos de estudo e discussões sobre temas espíritas, na Internet, com um conteúdo magnífico. Não há dúvida de que é um excelente instrumento de divulgação, especialmente pelo fato de atingir longas distâncias, e, até mesmo, outros países, onde a Doutrina Espírita, ainda, é pouco conhecida. Pela rede de computadores, surge uma nova Era para o movimento espírita, sobretudo, na diretriz dada por Ismael ao Brasil.

Há dois mil anos, Paulo de Tarso teve que andar a pé, cerca de 15 mil quilômetros, para divulgar a Boa Nova. Hoje, Deus nos oportuniza, do conforto da nossa casa, participar de estudos interativos em “salas espíritas” - a exemplo do uso do Paltalk - e, com isso, espalharmos a Terceira Revelação aos mais longínquos recantos da Terra.

Por essas relevantes razões, “é interessante que as Casas Espíritas busquem os recursos tecnológicos como retroprojetores, data shows, áudios, vídeos, filmes, microfones, caixas de som e todo ferramental disponível que seja útil e aplicável para o aprendizado das Verdades da Vida, mas, principalmente, através desse imenso e irreversível universo de utilização da Informação por meios eletrônicos."(5)

Devemos acreditar na força da realidade virtual como meio prestigioso de publicação espírita. Entendemos que em poucos anos as novas mídias tecnológicas através da Internet serão as maiores vias de interação do movimento espírita mundial. Por esses recursos tecnológicos, os livros espíritas poderão ser disponibilizados em hipertexto, em versões de consulta simplificada. Relatos específicos deverão ser colecionados e indexados para pesquisa rápida. Atualmente pode ser disponibilizada nas novas mídias toda literatura das obras básicas da Doutrina dos Espíritos. Ou seja, estamos diante da possibilidade de construirmos e acessarmos instantaneamente todas as informações espíritas em todos os ambientes culturais da Humanidade.

Referências:

(1) Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/01/110106_ winterdisconnect_pai.shtml >, acessado em 05/12/2014;

(2) Psicóloga ocupacional, do centro de pesquisas em psicologia e comportamento da Universidade Coventry (Grã-Bretanha);

(3) Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140816_smartphones _sempre_ligados_pai.shtml >, acessado em 05/12/2014;

(4) Kardec, Allan. Obras Póstumas - Projeto 1868, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001;

(5) Macedo, Reinaldo. Espiritismo e Tecnologia da Informação (palestra realizada em 25/08/2008 por ocasião da 44ª Semana de Confraternização dos CEs do Méier e Adjacências no CENMC - RJ). Reinaldo é o Webmaster do site http://jorgehessen.net - ver este estudo no ítem 44 de 2008.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.