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Na pequena vila de Bilin, perto da capital Ramallah, na Palestina, uma mulher criou um jardim para homenagear os civis mortos durante os conflitos entre Israel e a Palestina. As flores foram plantadas em granadas desativadas, num sinal de resistência. Jorge Hessen comenta.

  • Data :02/11/2014
  • Categoria :

3 de novembro de 2014

Mulher cria jardim com granadas desativadas para pedir paz na Palestina

por Redação Hypeness @hypeness_combr

Esta não é a primeira vez que flores são usadas para protestar contra a guerra, mas a originalidade não quer dizer muito em situações como esta. Na pequena vila de Bilin , perto da capital Ramallah, na Palestina, uma mulher criou um jardim para homenagear os civis mortos durante os conflitos entre Israel e a Palestina. As flores foram plantadas em granadas desativadas.

Num incrível sinal de resistência, esta mulher acumulou granadas durante as ofensivas dos soldados israelenses e dos locais palestinianos, decidindo depois ‘plantá-las’ num lugar que a Palestina reclamou como seu, dois anos atrás. A batalha judicial acabou originando a construção do Muro da Cisjordânia , uma controversa barreira erguida pelos israelenses que, quando concluída, terá mais de 700 km de extensão.

Mohammed Khatib , um dos organizadores da vila onde o jardim foi feito, afirma que o objetivo é mostrar que a vida pode nascer também da morte . O uso de uma arma como recipiente para plantas é uma ótima forma de chamar a atenção para uma região cansada de guerra e de perdas humanas dos dois lados.

Por agora, e até que esperamos que o conflito se resolva, resta a satisfação de ver que a guerra ainda não destruiu tudo, muito menos a esperança das pessoas.

Notícia publicada no Portal Hypeness , em 29 de maio de 2014.

Jorge Hessen comenta*

Será que é legítimo analisarmos o conflito entre judeus e palestinos seguindo o pleito de quem chegou primeiro à região? Historicamente, os palestinos (antigos filisteus) estão naquelas terras muito antes de Isaque. Por esse aspecto, os judeus deveriam abandonar a Palestina e voltar a ser um povo errante, como era Jacó (Israel) e seus filhos, ou então deveriam pedir cidadania iraquiana e se fixarem no Iraque, local onde ficava a cidade de Ur, de onde saiu Abraão.

A questão de utilizar o critério de quem chegou primeiro à região pode gerar dúvidas, pois em que pese os filisteus (antepassados dos atuais palestinos) habitarem aquela terra muito antes dos israelitas, é possível que outros povos tenham sido expulsos pelos filisteus a fim de tomarem o seu lugar. Destarte, os palestinos podem se basear no argumento, não de quem estava primeiro na terra, mas de quem a conquistou há mais tempo. O imbróglio da questão está aí, pois nesse caso, o direito passou para os judeus atuais, que conquistaram a terra após a Segunda Guerra tal como fizeram os palestinos no passado.

De que maneira a humanidade atual poderá ajudar palestinos e Judeus a solucionar esses dilemas históricos? Seria através dos canais diplomáticos da ONU, da ação dos que lutam pela Justiça, pela Dignidade Humana, pela Paz? Enquanto não há solução imediata, eis que na pequena vila de Bilin, perto da capital Ramallah (Palestina), foi criado um jardim para homenagear os civis mortos durante os conflitos entre Israel e a Palestina. As flores são plantadas em granadas desativadas. Mohammed Khatib, um dos organizadores da vila onde o jardim foi construído, afirma que o objetivo é mostrar que a vida pode nascer também da morte. O uso de uma granada desativada como recipiente para plantas é uma ótima forma de chamar a atenção para uma região cansada de guerra e de perdas humanas dos dois lados.(1)

Recordo que no dia 25 de maio de 1982, o Skyhawk, um caça-bombardeiro da Força Aérea Argentina, pilotado por Mariano Velasco, investiu contra uma embarcação militar inglesa deixando um saldo de 19 mortos. Dois dias depois, o também Skyhawk pilotado por Velasco foi abatido no Estreito de São Carlos, arquipélago no Atlântico Sul, por Neil Wilkinson, artilheiro antiaéreo no navio de combate HMS Intrepid da Inglaterra. O argentino sobreviveu ao saltar de paraquedas poucos minutos após ser atingido.

Quase três décadas após o fim do confronto entre Argentina e Grã-Bretanha pelas ilhas Malvinas,(2) os dois ex-inimigos de guerra viveram um encontro emocionante. “Meglio tardi che mai” – como diz o provérbio italiano (“Antes tarde do que nunca”), Mariano Velasco recebeu em sua casa na província de Córdoba, para um magnificente banquete, o veterano artilheiro inglês Neil Wilkinson. Atualmente são amigos e se correspondem com certa frequência por e-mail, Facebook ou Skype.

O episódio inevitavelmente nos remete para reflexões sobre a guerra. Qual a base lógica que justifica uma guerra? Os Benfeitores do Além admoestam que a guerra é a “predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e satisfação das paixões”.(3) No transcurso da guerra, predominou entre Velasco e Wilkinson a índole selvagem sobre a espiritual. Hoje, 30 anos depois, a situação é inversa entre os dois ex-combatentes inimigos do front de batalha. Infelizmente, o “caso Velasco/Wilkinson” é uma raríssima exceção, pois nem sempre esse é o desfecho entre ex-inimigos de guerra.

Onde se encontram os valores morais da sociedade contemporânea? Muitas religiões estão amordaçadas pelas injunções de ordem econômica e política. A Doutrina dos Espíritos tem efetuado o esforço hercúleo de sustentar acesa a luz da crença nas plagas iluminadas da razão, da cultura e do direito. Embora seja “o esforço do Espiritismo quase superior às suas próprias forças, o mundo não está à disposição dos ditadores terrestres. Jesus é o seu único diretor no plano das realidades imortais”.(4)

Cremos que judeus e palestinos podem conviver, no respeito recíproco, trocando o fuzil pelo magnificente banquete, transmutando a exclusão pela partilha, alterando a incompreensão pela tolerância. Quem sabe a Doutrina dos Espíritos, nessa conjuntura, possa levar-lhes a Mensagem do Evangelho, consubstanciada na lei do amor, da fraternidade, do perdão, da reencarnação, da comunicabilidade dos desencarnados, transformando gradualmente as leis de Moisés e Maomé, justificados pela lei de talião (olho por olho, dente por dente), que têm gerado cada vez mais ódio sobre ódio, tal como estamos assistindo no proscênio dessa estúpida guerra do Oriente Médio!

Anota Emmanuel que “épocas de lutas amargas, desde os primeiros anos do século XX, a guerra se aninhou com caráter permanente em quase todas as regiões do planeta. A Liga das Nações, o Tratado de Versalhes, bem como todos os pactos de segurança da paz, não têm sido senão fenômenos da própria guerra”.(5) Sem tolerância, toda fé se resume em adoração inútil; a paz não passa de uma flor incapaz de frutescência e a própria solidariedade se circunscreve a um jogo de palavras brilhantes, em torno do qual judeus e árabes costumam parecer pronunciando maldições. Jesus, um excelso filho da região, declarou que nos daria a sua paz, que deixaria para nós a sua paz, e neste instante em que filhos de Abraão se destroçam, são válidas todas as fórmulas (políticas, econômicas, sociais, religiosas) para a busca da paz entre eles.

Referências bibliográficas:

(1) Disponível em http://www.hypeness.com.br/2014/05/jardim-de-granadas-e-criado-na-palestina-como-simbolo-de-paz/ , acessado em 12/10/2014;

(2) Falklands (para os britânicos);

(3) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, Perg. 742;

(4) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1976;

(5) Idem.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.