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Solteira há seis anos, a fotógrafa e videomaker disse que havia construído uma relação incrível com ela mesma e que se envolver com outra pessoa parecia ’trabalhoso demais’ naquele momento. Foi um casamento quase tradicional. Breno Henrique de Sousa comenta.

  • Data :25/11/2014
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25 de novembro de 2014

Após 6 anos solteira, britânica se casa consigo mesma

Foi um casamento quase tradicional: teve vestido de noiva, aliança, votos e buquê. Mas o beijo foi dado em um espelho. A britânica Grace Gelder, 31, se casou com ela mesma.

“Não fiz isso porque ninguém tinha me pedido em casamento. Foi uma forma de celebrar a relação que eu já tinha comigo mesma”, disse Grace à BBC.

Solteira há seis anos, a fotógrafa e videomaker disse que havia construído uma relação incrível com ela mesma e que se envolver com outra pessoa parecia “trabalhoso demais” naquele momento.

Ela afirma que, recentemente, estava tentando aumentar seu autoconhecimento. Em um curso de tantra, aprendeu como a sexualidade estava ligada a se conhecer e a compromissos feitos consigo mesma e com os outros.

Gelder se inspirou em uma música da cantora Björk, Isobel, que diz “Meu nome é Isobel/casada comigo mesma”. Para celebrar a boa relação consigo e marcar uma nova fase, fez o pedido de casamento a ela mesma em um parque, em novembro do ano passado.

A fotógrafa afirma que muitas vezes as pessoas se comprometem com os outros antes de pensar no que gostam, nos compromissos que deveriam assumir com elas mesmas.

Ela acredita que o seu casamento pode fazer com que ela pense melhor até na hora de se envolver com outras pessoas, sem se enganar apenas para estar em um relacionamento.

“Se isso te deixa feliz a gente aceita”, disseram os pais de Grace quando ela anunciou o casório.

O noivado durou até março, e a festa foi planejada com ajuda de uma amiga cerimonialista. Em fevereiro, Grace teve aquele típico medo do casamento, mas resolveu ir em frente.

O vestido foi comprado de última hora em um brechó, mas a aliança e os votos foram feitos com antecedência.

Apesar de alguns amigos terem dito que a ideia era uma pouco narcisista, cerca de 50 pessoas comparecem à festa, em uma fazenda em Devon, na Inglaterra.

Em seus votos, Grace prometeu se arriscar mais em assuntos do coração. A aliança foi colocada em uma mão só, e o beijo foi dado em um espelho.

O casamento - que foi feito de forma simbólica, e não oficial - segundo Grace, está indo muito bem. Ela diz que se sente mais confiante desde a cerimônia.

Mas já está saindo outras pessoas - alguns que conheceu pela internet. Ela contou a eles sobre o compromisso já assumido.

Mas e se Grace quiser casar com outra pessoa? Vai ter que se separar?

“Nada me impede de casar de novo um dia”, afirma. “Acho que vou ser uma esposa melhor até.”

Notícia publicada na BBC Brasil , em 8 de outubro de 2014.

Breno Henrique de Sousa comenta*

Uniões

Parece que encontrar o parceiro ou parceira ideal nunca foi fácil para a maioria das pessoas, e, nesse caso, Grace Gelder decidiu tratar o tema de forma excêntrica e bem humorada. Pelo que foi dito, ela é uma profissional que transita no meio publicitário, e, de fato, a sua atitude foi destacada pela mídia mundial, e por isso está sendo comentada. Independentemente de suas outras intenções, não se pode negar que essa foi uma boa estratégia de marketing profissional e que deu visibilidade a sua pessoa, de maneira que no fim da reportagem ela já admite estar saindo com outras pessoas.

Minha interpretação pessoal para este caso específico é a de que, com bom humor, Grace fez uma divulgação pessoal e profissional, pôs-se em contato com possíveis pretendentes e, além disso, celebrou simbolicamente sua união consigo mesma, afinal, para estar bem com o outro, de fato é preciso antes estar bem consigo. Se você não se considera boa companhia para si mesmo, como poderá ser boa companhia para outra pessoa? Se a atitude de Grace fosse apenas uma fuga por suas frustrações amorosas, se ela estivesse usando isso como uma afirmação de que ela basta a si mesma e não precisa de mais ninguém em sua vida, essa de fato seria uma atitude egocêntrica e narcisista. Mas não, Grace parece ter amigos e ser uma pessoa aberta a novas amizades e relacionamentos.

O “amar a si mesmo” nada tem a ver com a atitude egoísta de pensar apenas em si em detrimento dos outros. Amar a si significa valorizar-nos enquanto seres humanos, reconhecer que trazemos o potencial para sermos felizes, que não somos melhores nem piores que ninguém e, enquanto seres humanos, sempre necessitaremos uns dos outros. O egoísta pensa apenas em seu proveito pessoal, tudo o que faz é apenas para si e, se necessário, para atingir os seus fins, não se importa em prejudicar ou magoar aos seus semelhantes. Quem ama a si é capaz de amar o outro e até mesmo de renunciar pelo outro. Ao contrário, o egoísta sofre com sua baixa autoestima, precisa de reconhecimento alheio, de aplausos, de paparicos. O egoísta cultiva apenas bens e não sentimentos e, por isso mesmo, é ávido por adquirir coisas que lhe garantam prestígio e poder.

Quem ama a si mesmo já é rico, mesmo sendo pobre materialmente, porque o amor transborda de si e é como um bálsamo que alivia a atrai a todos. Como diz o ditado popular, cuide de seu jardim que as borboletas aparecerão. A reconciliação de Grace consigo fez-lhe aparecer novos pretendentes.

Vivemos uma época de cultura narcisista. As pessoas sem nenhum pudor expõem a sua intimidade nas redes sociais, publicam frases prontas e centenas de fotos, ávidos por elogios, mendicantes de atenção e reconhecimento público. Contemplam a vida também fictícia das outras pessoas que simulam uma imagem de prosperidade e felicidade através dessas mesmas redes sociais, aprisionando-se a um ciclo doentio de inveja, voyeurismo e narcisismo.

O amor nos aproxima verdadeiramente das pessoas. A essência do amor é reveladora e nos põe em contato com a essência do nosso próximo em uma comunhão que de fato nos completa e nos enriquece a alma. Esse é o segredo para o sucesso em qualquer relacionamento, consigo ou com os outros, seja de natureza fraterna ou afetiva.

  • Breno Henrique de Sousa é paraibano de João Pessoa, graduado em Ciências Agrárias e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba. Ambientalista e militante do movimento espírita paraibano há mais de 10 anos, sendo articulista e expositor.