Carregando...

  • Início
  • Estudo mostra o quanto é difícil ficar sem fazer nada

Em um teste, conduzido por psicólogos das universidades Harvard e de Virgínia, nos Estados Unidos, em que deveriam permanecer sentados, sozinhos e acordados por até 15 minutos, participantes escolheram receber choques elétricos ‘para se distrair’. Nara de Campos Coelho comenta.

  • Data :25/08/2014
  • Categoria :

25 de agosto de 2014

Estudo mostra o quanto é difícil ficar sem fazer nada

Em um teste em que deveriam permanecer sentados, sozinhos e acordados por até 15 minutos, participantes escolheram receber choques elétricos “para se distrair”

Realizar qualquer ação, mesmo que desagradável, é preferível a ficar sem fazer nada. Essa é a principal conclusão de onze experimentos compilados em um artigo publicado na quinta-feira na revista Science. A maioria das pessoas considerou desagradável ficar sozinha e sem nenhum entretenimento por períodos de 6 a 15 minutos. Dois terços dos homens e um quarto das mulheres julgaram o exercício tão insuportável que preferiram aplicar leves choques elétricos em si mesmos para se distrair. Em um caso, um homem apertou o botão que liberava o choque 190 vezes.

Na primeira fase do estudo, conduzido por psicólogos das universidades Harvard e de Virgínia, nos Estados Unidos, estudantes universitários eram deixados sozinhos em uma sala sem decoração, livros, telefone ou qualquer outra distração. A única regra é que eles deveriam ficar sentados e acordados. Questionados ao fim do teste, os voluntários disseram, na média, não ter gostado da experiência e relataram que a mente ficava vagando.

Os pesquisadores suspeitaram que o ambiente pudesse ter atrapalhado e refizeram o experimento com outros estudantes, desta vez em suas casas. Os resultados não mudaram, exceto que a tarefa foi considerada ainda mais desagradável. Neste caso, 32% dos estudantes admitiram ter trapaceado, mexendo nos celulares, ouvindo música ou se levantando para fazer qualquer outra coisa durante o teste.

Grupo ampliado — Para ter certeza de que o resultado não se aplicava apenas a universitários, os cientistas recrutaram voluntários de 18 a 77 anos em uma feira e uma igreja. Eles repetiram o experimento nas casas das pessoas, e os relatos foram iguais. Com isso, os pesquisadores concluíram que, independentemente da idade, nível econômico, escolaridade e frequência de uso do celular e de mídias sociais, as pessoas não gostam de ficar sozinhas com seus pensamentos.

Choque para se distrair — Mas seria isso tão desagradável a ponto das pessoas preferirem uma experiência negativa a não fazer nada? Em um estudo seguinte, os participantes tinham a opção de ficar sentados sem distrações ou aplicar choques elétricos em si mesmos. Surpreendentemente para os cientistas, 67% (12 de 18) dos homens e 25% (6 de 24) das mulheres aplicaram o choque pelo menos uma vez durante o teste. Antes do experimento, em uma conversa com os cientistas, a maioria dos participantes tinha afirmado que pagaria para não receber os choques, mas mudou de ideia diante do tédio.

Os pesquisadores ainda não sabem por que isso acontece com os humanos, mas acreditam que essa característica explica, por exemplo, porque algumas pessoas buscam técnicas para controlar melhor seus pensamentos, como a meditação.

Matéria publicada na Revista Veja , em 4 de julho de 2014.

Nara de Campos Coelho comenta*

A Tristeza de não se fazer nada!

“Ah! Estou doido para me aposentar e ficar sem fazer nada!”, dizem muitos.

“Meu sonho de consumo é ficar sem fazer nada o dia inteiro!”, dizem outros.

E assim por diante, muitas pessoas se enganam, achando que fazer nada é prêmio. E querem conquistar esta possibilidade a qualquer custo, enquanto outras que se aposentam, ou que ficam doentes, ou que se veem vencidos pela idade reclamam e até se deprimem por não terem o que fazer.

Pesquisa feita pelas Universidades de Harvard e de Virgínia, nos Estados Unidos, e publicada na revista Science, nos dão conta de que há quem prefira fazer algo desagradável do que não fazer nada. Na pesquisa, muitos optaram por levar choques elétricos, única chance oferecida para acabar com a monotonia dos até quinze minutos daquele “castigo” de não fazer nada.

Nós, criaturas humanas, fomos criados para viver em sociedade, por isto, sofremos quando nos sentimos sozinhos e inúteis. Está gravada em nossa alma a responsabilidade que temos com a própria vida e com o próprio futuro, além do que nos cabe fazer para o nosso próximo ser feliz, tanto individual quanto coletivamente. Por isto, Jesus nos ensinou que “quando duas ou mais pessoas estivessem reunidas em seu nome, ele ali estaria.” Ele não se refere só à prece, pois do contrário não poderíamos rezar sozinhos… Isto significa que o Mestre nos concita a trabalhar em benefício do próximo, priorizando a companhia de outras pessoas para que nos sintamos bem e mais fortes! Assim, ficar sem fazer nada contradiz a destinação do homem que é a evolução. N’O Livro dos Espíritos, temos esclarecida esta proposta, ao entender que se o homem não tivesse feito nada ao longo dos séculos, a humanidade teria estacionado mais do que estacionou. Eis que a evolução nasce do desenvolvimento da inteligência e do sentimento, que são instigados pela necessidade de melhorar suas condições de vida e de trabalho. Se o homem não tivesse sentido a urgência de se locomover e carregar seus pertences, desenvolvendo seu trabalho com mais facilidade, não teria, por exemplo, inventado a roda e começado todo o processo evolucional que se seguiu.

“Toda ocupação útil é trabalho”, nos ensina Kardec, alertando-nos para a necessidade imprescindível do homem trabalhar, para se sentir em paz com sua consciência, alcançando o objetivo superior do progresso. Por isto, quando os governos falham, não oferecendo trabalho para que nos aperfeiçoemos, devemos ter o compromisso de nos ocupar, seriamente, com a nossa criatividade, inventando ocupações novas, servindo ao trabalho voluntário, para que continuemos vinculados ao caráter educativo de qualquer função útil que esteja ao nosso alcance.

Mas, precisamos estar atentos ao que se conhece por equilíbrio. É preciso que estejamos preparados para necessidades ocasionais. Por ficar quinze minutos sem fazer nada, preferir levar choques elétricos, parece-nos um certo exagero ou despreparo para as vicissitudes da vida. Em quinze minutos, os pesquisados poderiam orar, por exemplo; conversar com Jesus, fazer uma reflexão sobre a sua vida e seus propósitos de futuro; cantar, mentalmente, músicas do seu agrado, declamar poesias… Quem entra numa máquina de ressonância magnética, por exemplo, não pode fazer nada, tem que ficar imóvel por muitos minutos ou mais, e tem que aguentar!

Trabalhemos, pois, e se formos espreitados por uma prova esdrúxula como esta de ficar sem fazer nada, aproveitemos para efetivar um balanço da nossa vida, procurando arrancar o joio que nasce em nossa atividade mental, para que o trigo do entendimento dos objetivos da vida brilhe ao sol de nossa convicção espiritual, que nos sustentará em qualquer ocasião.

  • Nara de Campos Coelho, mineira de Juiz de Fora, formada em Direito pela Faculdade de Direito da UFJF, é expositora espírita nos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, articulista em vários jornais, revistas e sites de diversas regiões do país.