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Um oficial de Justiça, um agente imobiliário e um chaveiro conseguiram entrar no apartamento, que ficava no térreo de um prédio com oito apartamentos. Lá, eles descobriram o corpo da idosa. Segundo os vizinhos, ela se chamava Anne Leitrim. Jorge Hessen comenta.

  • Data :15/08/2014
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15 de agosto de 2014

Britânica é achada morta em apartamento após 6 anos

Uma idosa de cerca de 70 anos foi encontrada em seu apartamento, em Bournemouth, sul da Inglaterra, seis anos depois de morrer.

Um oficial de Justiça, um agente imobiliário e um chaveiro conseguiram entrar no apartamento, que ficava no térreo de um prédio com oito apartamentos. Lá, eles descobriram o corpo.

Segundo os vizinhos, ela se chamava Anne Leitrim.

“É horrível, depois de todo este tempo. Por que ninguém notou? Nós pensamos que ela tinha se mudado. Ela tinha um carro e o carro desapareceu. Automaticamente pensamos: a senhora se mudou”, disse John Stanley, vizinho da idosa.

“Estou tremendo há dois dias. Nos sentimos tão culpados, pois não tentamos bater na porta, ou tentamos entrar no apartamento, ou avisar alguém. Nós realmente pensamos que ela tinha se mudado”, disse outra vizinha, Ruth Evans.

Stanley entrou no apartamento para identificar o corpo.

“Quando fui até o fundo do quarto, pude ver um par de pés para fora da cama. Agora, dois dias depois, veio o choque (…). É uma tragédia para todos nós”, disse.

“Ela era uma senhora tão boa e pensar que em mais de cinco anos ninguém, ninguém mesmo, sentiu falta dela… isto é tão triste”, afirmou Ruth.

Uma instituição de caridade britânica que fornece apoio a idosos do país afirma que muitos deles são praticamente invisíveis para o resto da sociedade.

“Eles realmente não saem de casa então é bem comum que um idoso viva em um lugar e as pessoas não o vejam. Mas tenho que dizer que este tempo todo (seis anos sem ver uma pessoa) é uma situação muito extrema”, disse Cliff Rich, da organização Contact the Elderly.

A polícia de Dorset, que cuida da região de Bournemouth, não está tratando o caso como morte suspeita.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 27 de junho de 2014.

Jorge Hessen comenta*

Anne Leitrim, uma inglesa de 70 anos de idade, residia sozinha em Bournemouth, no sul da Inglaterra, e foi encontrada morta no quarto do seu apartamento (após seis anos). Os vizinhos supunham que ela tinha se mudado e a família (pasmem!) não sentiu sua ausência durante todo esse tempo. Diante do caso, o servidor Cliff Rich, membro da organização Contact the Elderly, instituição filantrópica de apoio a idosos, alegou que muitos anciães são praticamente “invisíveis” para o resto da sociedade inglesa.(1)

Observemos que estamos diante da sociedade mais conservadora da Terra, tida como de “primeiro mundo”, onde se apregoa muito a importância do “bem-estar” dos idosos. “No Brasil, alguns sociólogos afirmam que, se um país como o nosso precisa de um “estatuto dos idosos” (ou seja, de uma lei), para lembrar a respeitabilidade deles, isso indica que algo está muito errado com a sociedade.”(2)

Certo dia escutei um cidadão (brasileiro) na fila do cartório, esbravejando que o direito do idoso era uma incoerência, um exagero. Revoltado, arrazoava: “Vamos ao banco, ao cinema, em qualquer fila, até as de emergência, e aquele montão de pessoas passa na nossa frente se dizendo “preferencial”. Quem é idoso? A pessoa às vezes nem tem 60 anos, anda de sapato esportivo (tênis), usa óculos Ray Ban, está magnificamente arrumada, mulheres maquiadíssimas, homens arremessando glamour e dizem “sou idoso”. E lá ficamos nós, otários, para trás. Acho que há muita indolência. Até office velho os escritórios arrumaram… Empréstimos, décimo-terceiro antecipado, medicamentos e trabalho? Tudo é para eles, e nós, que estamos na idade adulta e necessitada, o que sobra para nós? O governo devia pensar em todos, mesmo porque ser idoso não é ser minoria."

Sem entrar em disputa com tal indignado cidadão, cabe-lhe recordar que não se pode generalizar jamais numa circunstância dessas. O processo de envelhecer demanda uma atenção especial, em virtude das modificações biológicas, psicológicas e sociais, sendo necessária uma maior atenção por parte da sociedade e formulação e efetivação de políticas públicas voltadas para o idoso. Em muitas culturas e civilizações, principalmente as orientais, o idoso é visto com respeito e veneração, representando uma fonte de experiência, do valioso saber acumulado ao longo dos anos, da prudência e da reflexão, enquanto em outras o idoso representa “o velho”, “o ultrapassado” e “a falência múltipla do potencial do ser humano” – é lamentável!

A História mostra que o envelhecimento do corpo de muitos anciãos não se processou em paralelo, para quem soube cultivar o Espírito. A idade cronológica não representou barreiras para Giuseppe Verdi, compositor italiano, que aos sessenta anos compôs “Aída”; com mais de setenta e quatro, “Otelo”; e aos oitenta e quatro completa três imorredouras páginas religiosas: “Ave Maria”, “Stabat Mater” e “Te Deum”. Pablo Picasso, o genial pintor espanhol, aos noventa e um anos, cria; Winston Leonard Spencer Churchill, septuagenário, foi a alma da resistência na Segunda Grande Guerra, e morre aos noventa e um anos em plena contribuição social.

Que falar ainda de Albert Einsten, Thomas Edison, Albert Schweitzer, Louis Pasteur, Alexander Fleming, Konrad Hermann Joseph Adenauer, Bertrand Russell, espíritos altamente produtivos aos setenta, oitenta, noventa anos de idade física, que não se entregando à vida contemplativa, permanecem vivos até hoje, quando pelos efeitos de suas descobertas, invenções, ideias e ideais se mantiveram produtivos, interessados, interessantes e atuantes, apesar do envelhecimento físico.

Cremos que a decrepitude deveria ser encarada como venturosa pelo que contém de gratificante, mormente por causa das longas refregas das buscas e das realizações. Envelhecer é uma arte e uma ciência, se buscarmos rejuvenescer nossa alma. Há idosos que conquistaram a longevidade de forma sadia e feliz, contudo muitos estão largados nos asilos da vida, amargando suas enfermidades no isolamento. Há os que aceitam sua decrepitude sem rezingar e sem exigir nada dos outros; todavia igualmente indiferentes não oferecem nada a ninguém.

Dizem que a idade avançada é a noite da Vida, entretanto, a noite pode ser bela, clara, toda ornamentada de estrelas e constelações, luar e claridade a se esparzirem de uma longa vida cheia de virtude, bondade e honra! O entendimento espírita vê a idade avançada como o outono no tempo, fase normal, necessária, imprescindível na sucessão harmônica dos objetivos e funções da encarnação, envolta, igual a todas as outras, nos dons da Natureza, nas bênçãos de Deus.

Referências:

(1) Disponível em http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/06/britanica-e-achada-morta-em-apartamento-apos-6-anos.html >, acessado em 08/08/2014;

(2) Disponível em http://educacao.uol.com.br/bancoderedacoes >, acessado em 09/07/2014.

​* Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.