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A violência entre grupos religiosos na República Centro-Africana atingiu um novo extremo, com relatos de canibalismo na capital do país. Em uma de suas ruas, um muçulmano foi morto por cristãos, e seus braços e pernas foram arrancados. Jorge Hessen comenta.

  • Data :31/05/2014
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31 de maio de 2014

Canibal diz ter comido homem por vingança na República Centro-Africana

Paul Wood Da BBC News em Bangui, na República Centro-Africana

A violência entre grupos religiosos na República Centro-Africana atingiu um novo extremo neste final de semana, com relatos de canibalismo na capital do país, Bangui.

Em uma das ruas da cidade, o intenso trânsito de ônibus e a poeira ainda não conseguiram apagar uma mancha de sangue. Há alguns dias aqui, um muçulmano foi morto por cristãos, e seus braços e pernas foram arrancados.

Em seguida, um dos homens na multidão começou a comer a carne da vítima.

A equipe da BBC filmava perto dali. Alguns instantes depois, o repórter foi abordado por um jovem de camisa amarela e armado com um facão, que se identificou como sendo o canibal.

Câmeras de celular haviam registrado o crime. As imagem mostram um corpo queimado e estraçalhado sendo arrastado pelas ruas por uma multidão. No vídeo, o jovem que conversou com a BBC aparece mordendo a perna do cadáver.

A República Centro-Africana vive dias de intensa violência entre milícias cristãs e muçulmanas. O país de maioria cristã era governado por um presidente muçulmano até a semana passada. Michel Djotodia havia chegado ao poder em março de 2013 com ajuda de milícias.

Ele prometeu desmantelar as gangues que o ajudaram, mas não conseguiu. Em reação, cristãos montaram milícias próprias, e o país se afundou em um conflito religioso armado.

Mais de mil pessoas já morreram e estima-se que 20% da população total do país abandonou suas casas e vive refugiada.

Grávida e bebê mortos

O homem que admitiu o ato de canibalismo é apelidado de “Cachorro Louco”.

Ele disse que muçulmanos haviam assassinado muitos familiares seus, incluindo sua esposa – que estava grávida – sua cunhada e sua sobrinha, que ainda era bebê.

“Eles derrubaram a porta da casa da minha cunhada e a encontraram com o bebê”, diz ele. “Eles cortaram seus seios. Eles também mataram a bebê com uma faca. Era uma bebê muito nova, mas eles a cortaram ao meio. Eu jurei que me vingaria.”

Não está claro se a vítima de “Cachorro Louco” tinha algum envolvimento em algum episódio de violência, ou se ele foi morto apenas por ser muçulmano.

“Cachorro Louco” contou à BBC que viu a vítima sentada no ônibus e decidiu segui-lo. Ele também reuniu outros cristãos que passaram a seguir o ônibus.

O veículo foi parado pela multidão que se formava, e o motorista identificou o homem perseguido como sendo muçulmano. Ele foi arrastado para fora do ônibus e assassinado.

“Eu o esfaqueei na cabeça. Eu derramei gasolina nele. Eu o queimei. Então eu comi sua perna, tudinho até chegar ao osso, com pão. É por isso que me chamam de ‘Cachorro Louco’”, disse “Cachorro Louco”.

A parte mais perturbadora do vídeo é quando “Cachorro Louco” aparece sorrindo enquanto mastiga.

Quando perguntado pela BBC sobre o motivo da violência e do canibalismo, ele respondeu: “Porque estou furioso”.

Uma das testemunhas de todo o episódio, Ghislein Nzoto, disse que ninguém tentou impedir a violência.

“Todos estão furiosos com os muçulmanos. De jeito nenhum alguém teria coragem de intervir”, diz.

Nzoto disse entender o motivo pelo qual os muçulmanos estão sendo perseguidos por cristãos, mas afirmou que não concorda com o ato de canibalismo. Ele acha que talvez isso possa ser só um ato isolado de alguém com distúrbios mentais.

A testemunha também levanta outra hipótese: a de um ato de magia negra. Muitos dos combatentes cristãos usam amuletos que contêm pedaços de carne das vítimas que eles assassinaram.

Enquanto “Cachorro Louco” conversava com a BBC, muitos cristãos ao seu redor balançavam suas cabeças, em sinal de apoio, e davam tapinhas nas suas costas. Ali, ele é tratado como um herói por seu ato de canibalismo.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 13 de janeiro de 2014.

Jorge Hessen comenta*

Intolerância religiosa, eis aí um gravíssimo nódulo cancerígeno do mundo contemporâneo. Esta semana, ao chegar a Israel, o papa Francisco expressou sua “profunda dor” pelo atentado contra o Museu Judaico de Bruxelas que causou a morte de quatro pessoas, entre elas dois israelenses. Historicamente os judeus tornaram-se alvo preferencial de perseguição religiosa ainda antes do fim do Império Romano, mas esta recrudesceu durante a Idade Média. A perseguição religiosa (ao judaísmo) atingiu níveis nunca vistos antes na História durante o século XX, quando os nazistas perseguiram milhões de judeus e outras etnias indesejadas pelo regime.

O Fanatismo religioso é marcado pela aversão a diferenças de crenças, resultando em perseguição à liberdade de credo e pluralismo religioso. Ódios que podem levar a prisões ilegais, espancamentos, sequestros, torturas, execução injustificada, negação de benefícios e de direitos e liberdades civis. Como ocorre na Nigéria, onde a maioria das pessoas do norte é muçulmana, “mas nem todas interpretam o Corão da mesma forma que o grupo extremista nigeriano Boko Haram. Em face desse radicalismo, muitos muçulmanos estão sendo convertidos ao Cristianismo.

Por causa da conversão dos muçulmanos ao Cristianismo, o Boko Haram começou atacar as igrejas cristãs porque estavam perdendo seguidores. Recentemente milhares de pessoas foram assassinadas pelo grupo extremista. Sua ação mais notória ocorreu em 14 de abril de 2014, quando sequestrou 223 meninas e adolescentes no nordeste da Nigéria, onde o grupo é baseado. Nos últimos dois meses, o Boko Haram intensificou a sua campanha para transformar a Nigéria num estado islâmico, que tem como principais alvos os civis.

Estudiosos afirmam que a rápida expansão do cristianismo e do Islã na África se deve, em grande parte, ao sentido religioso, ao respeito e à tolerância inerentes à cultura tradicional. Os africanos descobriram que essas novas religiões provenientes do exterior continham muitos aspectos das crenças fundamentais (Ser Supremo, culto aos mortos/antepassados, espíritos, etc.) e dos valores (centralidade da pessoa, importância da comunidade, a caridade e o perdão…) de sua própria experiência religiosa. Mas nem todos convertidos interpretam dessa forma e utilizam a crença para busca do poder político.

A violência entre grupos religiosos na República Centro-Africana atingiu, recentemente, um novo extremo, com relatos de canibalismo na capital do país, Bangui. Aí está ocorrendo intensa violência entre milícias cristãs e muçulmanas. O país de maioria cristã era governado por um presidente muçulmano que se elegeu com ajuda de milícias muçulmanas. Ele prometeu desmantelar as gangues que o ajudaram, mas não conseguiu. Em reação, cristãos montaram milícias próprias, e o país se afundou em um conflito religioso armado.(1)

Atualmente, cerca de 80% dos conflitos armados que existem por todo mundo são decorrentes de questões religiosas. Em todo mundo estamos vendo o desenrolar de guerras e mais guerras em nome de algo que eles chamam de “fé”. Mas entenda a palavra “fé” que eles usam como: ambição, fanatismo, incredulidade, loucura, ou falta da verdadeira FÉ!

Atentados suicidas têm matado muitas pessoas em Bagdad. Durante o regime de Saddam Hussein, os sunitas dominavam os aparelhos do Estado e das Forças Armadas, e os xiitas eram reprimidos. Quando o regime caiu os xiitas assumiram o poder e o país entrou em colapso, num estado de quase guerra civil, com grupos armados sunitas e xiitas guerreando entre si.

A França foi o país que mais contribuiu para o aumento dos índices de intolerância religiosa na Europa, não só por causa das proibições em vigor contra vestuário religioso em espaços públicos, mas também devido ao assassinato, em 2012, de um rabino e de três crianças judias. Com o aumento da diversidade religiosa no Brasil, é verificado um crescimento da intolerância religiosa, tendo sido criado até mesmo o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa [21 de janeiro], por meio da Lei nº 11.635, de 27 de dezembro de 2007. Vários países ao redor do mundo incluíram cláusulas nas suas constituições proibindo expressamente a promoção ou prática de certos atos de intolerância religiosa ou de favorecimento religioso dentro das suas fronteiras.

A intolerância religiosa aumentou globalmente durante o ano de 2012, em todos os continentes, exceto nas Américas. Temos a convicção de que, por trás dos novos fanatismos religiosos - católicos, evangélicos, espíritas, muçulmanos etc. - está o pendor místico do religioso que leva a uma cristalização da fé, desembocando numa falsa doutrina das virtudes. A base dos fanatismos é o medo: medo à liberdade, medo à vida, medo à cultura, medo, medo, medo, enfim, medo do mundo, que é encarado de um modo suspeito e hostil.

A Doutrina Espírita nos faz entender quem somos, efetivamente, quem realmente é o ser humano em sua vocação e circunstância, visão que possibilita, por sua vez, a compreensão e a vivência de uma vida social, moralmente correta, a partir da qual podemos julgar com retidão se determinadas atitudes e ideias propostas por grupos religiosos e ou políticos correspondem àquilo que o próprio Criador espera de nós.

Deus nos quer abertos para a realidade, para a beleza das coisas criadas, para a ventura transcendente da liberdade humana de buscar esse ou aquele caminho para Deus, e não acabrunhados pelo medo e, em última análise, cegos pelo fanatismo. Talvez com aquela cegueira suprema, apontada por Jesus Cristo: “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso o vosso pecado permanece”.(2)

Oremos pelo mundo!

Referências:

(1) Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/01/140113_canibal_car _ dg.shtml](http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/01/140113_canibal_car_dg.shtml)> acessado em 29/05/2014;

(2) João, 9:39-41.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.