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Best-seller da psicóloga Barbara Fredrickson, diretora do Laboratório de Emoções Positivas e Psicofisiologia da Universidade da Carolina do Norte, derruba o mito que alimenta os românticos e mostra que o sentimento capaz de unir duas pessoas é momentâneo e pode durar apenas poucos segundos. Jorge Hessen comenta.

  • Data :10 Mar, 2014
  • Categoria :

10 de março de 2014

O Amor não é eterno

Best-seller de psicóloga americana derruba o mito que alimenta os românticos e mostra que o sentimento capaz de unir duas pessoas é momentâneo e pode durar apenas poucos segundos.

Por Eduardo Araia

O Mito do amor romântico, eterno e incondicional, desautorizado pela experiência moderna, a literatura e o cinema, pode ter recebido um golpe mortal da ciência no início deste ano. A autora do feito é a psicóloga norte-americana Barbara Fredrickson, diretora do Laboratório de Emoções Positivas e Psicofisiologia da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill (EUA), autoridade mundial na área. Seu mais recente livro, o best-seller Love 2.0: How Our Supreme Emotion Affects Everything We Feel, Think, Do, and Become (Amor 2.0: Como Nossa Emoção Suprema Afeta Tudo o Que Sentimos, Pensamos, Fazemos e nos Tornamos), propõe, baseado na biologia do corpo, uma redefinição radical do conceito.

Em primeiro lugar, ressalta Barbara, o amor não é o que gostaríamos que ele fosse. Trata-se de uma emoção – e emoções não duram para sempre. Ninguém vive permanentemente com raiva ou com medo. O amor não é a emoção duradoura e continuamente presente que sustenta um casamento, nem a ansiedade da paixão juvenil ou o vínculo de sangue do parentesco. Tampouco existe amor individual, autônomo, isolado, pois a conexão com o outro é fundamental para a deflagração fisiológica do seu processo.

“O amor não conhece tais fronteiras”, afirma a autora. “As evidências sugerem que quando você realmente tem um ‘clique’ com alguém, uma sincronia momentânea mas discernível, emerge entre os dois, conforme os gestos, a bioquímica e as descargas neurais, se espelhando um no outro em um padrão que denomino ressonância de positividade.”

Em termos fisiológicos, o amor não dura minutos. Na verdade, o período desse “ato único, desempenhado por dois cérebros”, como diz a psicóloga, dura frações de segundo. Trata-se de “micromomentos de ressonância de positividade”, explica Barbara, fluxos de emoções positivas que podem ser compartilhados com outra pessoa – qualquer pessoa – com quem nos conectamos ao longo do dia. Podemos experienciar micromomentos de amor com nossos parceiros românticos, os filhos ou os amigos. Podemos nos apaixonar, embora momentaneamente, por candidatos menos cotados, como um estranho na rua, um colega de trabalho ou um simpático vendedor da mercearia.

“Pensar no amor puramente como romance, ou compromisso compartilhado com uma pessoa especial, certamente limita a alegria e a saúde derivadas do amor”, diz a psicóloga. “Meu conceito valoriza caminhos mais curtos para experimentar o amor, abrindo esperanças para solitários, solteiros ou viúvos.” A ideia do amor eterno como paixão eterna não evanescente é um mito e uma impossibilidade biológica.

Três protagonistas

Há três protagonistas-chave no microcenário do amor. O primeiro é o cérebro, ou, mais precisamente, os neurônios-espelhos. Eles disparam quando um animal pratica um determinado ato ou observa outro animal (em geral da mesma espécie) fazer o mesmo. Já registrados em primatas, os neurôniosespelhos supostamente existem em aves e humanos. Nesses últimos há evidências de sua presença no córtex prémotor e no lobo parietal inferior.

Quando o amor aparece, os neurônios-espelhos se comportam de forma peculiar. Um estudo feito com imagens de ressonância magnética pelo psicólogo Uri Hasson, da Universidade Princeton, sugere que um espelhamento pode ocorrer com frações de segundo de diferença entre quem inicia a ação e o parceiro, simultaneamente, ou como uma antecipação do que se espera que o outro faça. Qualquer um desses casos de entendimento mútuo e compartilhamento de emoções é um micromomento de amor, define Barbara.

O segundo protagonista-chave é a oxitocina, o hormônio do amor e do afeto. Esse componente do ancestral sistema “acalmar-se e conectar-se” dos mamíferos (oposto ao “lutar ou fugir” relacionado ao cortisol, o hormônio do estresse) age tanto no cérebro quanto no resto do corpo, estimulando as pessoas a se sentir mais confiantes e abertas a entrar em conexão.

Produzida no hipotálamo, a oxitocina é liberada em grande quantidade no sangue durante a relação sexual, mas também aparece em outros instantes de relacionamento íntimo. As pesquisas mostram que, quando a mãe ou o pai interagem afetivamente com o seu bebê, olhando-o nos olhos, abraçando-o, sorrindo e brincando com ele, os níveis de oxitocina sobem sincronicamente tanto na criança como no adulto.

O terceiro personagem é o nervo vago, que liga o cérebro ao resto do corpo, e em especial ao coração. Ele tem papel importante na coordenação e no apoio à experiência amorosa. “Totalmente fora da consciência, o nervo vago estimula micromúsculos faciais que melhoram a capacidade visual e a sincronia com as expressões faciais da outra pessoa”, explica Barbara. “Ele também ajusta os pequenos músculos do ouvido médio de modo que se possa rastrear a voz do outro em meio a qualquer barulho.” De forma sutil, mas com importantes consequências, o nervo vago aumenta as chances de nos conectarmos a outras pessoas e, assim, de chegarmos à ressonância de positividade.

Os cientistas avaliam a força do nervo vago (o tônus vagal) medindo a frequência cardíaca em conjunção com a frequência respiratória. Assim como o tônus muscular, quanto mais elevado for o tônus vagal, mais a pessoa será capaz de regular processos biológicos como a taxa de glicose no sangue e as inflamações, além de reduzir as chances de ocorrência de diabete, derrames e doenças cardíacas. O tônus aprimora o controle da atenção e das emoções, torna a pessoa mais amorosa e aumenta suas conexões positivas. A consequência são mais micromomentos de amor.

Meditação

Em uma pesquisa de 2010, Barbara Fredrickson desmontou a tese de que o tônus vagal é sempre estável. Ela designou aleatoriamente metade dos participantes do estudo a dedicar uma hora por semana, durante vários meses, à prática da meditação budista da benignidade (lovingkindness meditation), enquanto os demais funcionavam como grupo de controle.

Nessa prática, feita num ambiente silencioso, a pessoa repete, mentalmente, frases de carinho e de compaixão com desejos de paz, amor, força e bem-estar geral – inicialmente para si própria, a fim de interiorizar esses sentimentos, e depois para os outros. Todos os participantes tiveram seu tônus vagal medido antes e depois. A psicóloga constatou que os praticantes da meditação elevaram seu tônus vagal, capacitando-se para viver mais momentos de amor.

Atingir a almejada ressonância de positividade, portanto, não é exclusividade de casais enamorados ou da relação entre um bebê e sua mãe. Embora a intensidade certamente não seja a mesma, muitos contatos simples do cotidiano geram micromomentos de amor e acarretam efeitos positivos. “A conversa rotineira com o cônjuge, no café da manhã, ou uma bem-humorada interação com um estranho estão no limite inferior do espectro. Mas o que a ciência das emoções diz é que experiências modestas como essas, mas frequentes, são computadas em nosso bem-estar”, afirma a autora.

“Certamente nos lembramos melhor de experiências superintensas, mas elas não são necessariamente mais importantes em termos da nossa saúde ou da força de um relacionamento. Partilhar uma história boba, ter orgulho do cônjuge, dizer ‘obrigado’ com sinceridade constituem microinjeções de reforço que mantêm saudáveis a nós e aos nossos relacionamentos.”

A mudança na forma de ver a situação se reflete em todo o corpo, diz a psicóloga, pois repercute nas células que ele produz rotineiramente para substituir as antigas. A pessoa que se sente só e desconectada dos outros, por exemplo, provavelmente assistirá à subida dos seus níveis de cortisol, o que induzirá o sistema imunológico a alterar a forma com que os genes são expressos na geração seguinte de células brancas, tornando-as mais sensíveis ao cortisol. Isso pode acarretar mais doenças crônicas baseadas em inflamações, como problemas cardiovasculares e artrite. “Em uma considerável medida, você orquestra as mensagens que suas células escutam, as mensagens que contam às suas células se elas devem crescer no rumo da saúde”, explica a pesquisadora.

No mínimo, salienta Barbara, devemos cultivar micromomentos de amor diariamente, sintonizando-se e conectando-se não só com as pessoas próximas, mas também com aquelas com que interagimos. Com o aumento dos divórcios e a diminuição dos casamentos, mais gente corre o risco de viver a vida sem relacionamentos íntimos. Se mudarmos de atitude, perceberemos que o amor pode alcançar mais longe do que se imagina.

“Promova esses momentos como algo importante na sua vida diária e priorize-os”, recomenda a pesquisadora. “Você verá que ganhará não só uma plástica emocional, mas também um aprimoramento da saúde, e não será o único a conseguir a melhora; na medida em que você induz o amor, o outro indivíduo também a consegue. Portanto, você está espalhando bem-estar e saúde, e não apenas cultivando-os para si mesmo.”

Matéria publicada na Revista Planeta , em junho de 2013.

Jorge Hessen comenta*

Pesquisadores situam o “Amor” como um subproduto oriundo da reação química regida pelo cérebro. No processamento biológico refere-se a feniletilamina(1) produzida pelo organismo, na medida em que surge uma atração sexual absorvente. Para Hellen Fischer, estudiosa do assunto, o romantismo tende a desaparecer em pouco tempo. Hellen crê que existe outra substância relacionada ao “Amor”: a Oxitocina, que “sensibiliza os nervos nas contrações musculares, porém o efeito dessas substâncias é pouco duradouro, resultando no esfriamento afetivo e nas separações entre os casais, razão do grande número de divórcios”.(2)

Nessa direção perambula Barbara Fredrickson, diretora do Laboratório de Emoções Positivas e Psicofisiologia da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill (EUA), que sugere novo conceito sobre o Amor, baseado no arranjo biológico. Para ela a ideia do amor eterno é um mito e uma impossibilidade fisiológica, pois o “amor” é fugaz. Trata-se tão-somente de “micromomentos de ressonância de positividade”. Barbara destaca três protagonistas-chave no microcenário do amor. O primeiro é o cérebro, ou, mais precisamente, os neurônios-espelhos. O segundo é a oxitocina, produzida no hipotálamo, para ela um hormônio vinculado ao “amor” e ao “afeto”. O terceiro é o nervo vago, que liga o cérebro ao resto do corpo, e em especial ao coração – isso torna a pessoa mais amorosa e aumenta suas conexões positivas.(3)

O dicionarista Aurélio Buarque define o Amor como “um sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa. Pode ser um sentimento terno ou ardente de uma pessoa por outra, e que engloba também atração física, ou ainda inclinação ou apego profundo a algum valor ou a alguma coisa que proporcione prazer, entusiasmo, paixão”.(4) Sobre que tipo de “amor” tais especialistas estão fazendo ilações?

Será plausível comparar o Amor com o mosaico das sensações fisiológicas do ser humano? Metaforicamente podemos até citar o amor conjugal, amor materno, amor filial ou fraterno, amor à pátria, da raça, da humanidade, como refrações, raios refratados do amor divino, que abrange, penetra todos os seres, e difunde-se neles, faz rebentar e desabrochar mil formas variadas, mil esplêndidas florescências de amor.

Não se pode, porém, definir Amor como se fosse a abrasadora paixão que provoca os desejos carnais. Esta não passa de uma imagem de um grosseiro simulacro do Amor. Nos dias de hoje, fala-se e escreve-se muito sobre sexo, sensualismo, erotismo; raramente sobre Amor. Certamente, porque esse sentimento (Amor) não se deixa decifrar academicamente, repelindo toda tentativa de definição científica.

O Amor verdadeiro vai muito além do cientificismo, do romantismo e do erotismo. Embora absorvidos pela condição animalizante, psicólogos e filósofos até hoje se interessam por estudar, quase que exclusivamente, essa forma lírica e dramática da paixão entre duas criaturas. A Psicanálise, nos primórdios da teoria freudiana, colocou o problema do “Amor” na dimensão do patológico. Em verdade, Freud teve de entrar no estudo e na pesquisa do “Amor” pelos porões da psicopatologia. O aspecto patológico é o mais dramático do “Amor” e o que mais toca o interesse humano.

Ao oposto do Amor, a paixão é exclusivista, egoísta, dominadora; é predominantemente desejo. Um sentimento que impõe o sequestro da consciência do outro, desenvolvendo uma forma possessiva, em que brota o ciúme e a vontade de domínio integral da pessoa “amada”. O Amor é mais forte do que o desejo, mais poderoso que o ódio.

O vazio conceitual deve-se à dificuldade de manifestação do Amor na forma de solidariedade e fraternidade no mundo contemporâneo. A ampliação dos centros urbanos cunhou a “Era da alienação”, a síndrome da multidão solitária, das adesões afetivas frágeis. As pessoas estão lado a lado, mas suas relações são de contiguidade e brutal desconfiança. A presente geração, amputada de maiores anseios espirituais, intrinsecamente hedonista, sensual e consumista, conferindo a si mesma as mais elevadas aquisições de caráter prático na província da razão, produziu os mais extensos desequilíbrios nos cursos evolutivos do planeta, com o seu imperdoável alheamento do Amor.

Allan Kardec, comentando a questão 938 de O Livro dos Espíritos, certifica: “a natureza deu ao homem a necessidade de amar e de ser amado. Um dos maiores gozos que lhe são concedidos na Terra é o de encontrar corações que com o seu simpatizem. Dá-lhe ela, assim, as primícias da felicidade que o aguarda no mundo dos Espíritos perfeitos, onde tudo é amor e benignidade. Desse gozo está excluído o egoísta.”(5) O apóstolo dos gentios, escrevendo aos filipenses, ensinou que “o Amor deve crescer, cada vez mais, no conhecimento e no discernimento, a fim de que o aprendiz possa aprovar as coisas que são excelentes”.(6) Se atendermos ao conselho apostólico cresceremos em valores espirituais para a eternidade, mas se rumarmos por atalhos escorregadiços, “o nosso Amor será simplesmente querer e tão-somente com o “querer” é possível desfigurar, impensadamente, os mais belos quadros da vida”.(7)

Léon Denis decifrou: “o Amor, profundo como o mar, infinito como o céu, abraça todas as criaturas. Deus é o seu foco. Assim como o Sol se projeta, sem exclusões, sobre todas as coisas e reaquece a natureza inteira, assim também o Amor divino vivifica todas as almas; seus raios, penetrando através das trevas do nosso egoísmo, vão iluminar com trêmulos clarões os recônditos de cada coração humano”.(8)

O Convertido de Damasco anotou junto aos coríntios que “o Amor é paciente, o Amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O Amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta."(9)

O Amor, enfim, “resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito. O ponto delicado do sentimento é o Amor, não o Amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas”.(10)

Notas e referências bibliográficas:

(1) Líquido oleoso, incolor, redutor enérgico, uso como reagente [fórm.: C6H8N2];

(2) Fischer, Helen. The Anatomy of Love, New York: Norton, 1992;

(3) Disponível em http://revistaplaneta.terra.com.br/secao/comportamento/o-amor-nao-e-eterno , acessado em 01/03/2014;

(4) Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio da língua portuguesa, 5ª Edição, Editora Positivo, 2010;

(5) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2002, questão 983-a;

(6) Filipenses, 1:9-11;

(7) Xavier, Francisco Cândido. Fonte Viva, Cap. 91, Problemas do amor, RJ: Ed. FEB, 1999;

(8) Denis, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, RJ: Ed. FEB, 2000;

(9) 1 Coríntios, 13:4-7;

(10) Allan Kardec. Da obra: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Lázaro. (Paris, 1862.) 112ª edição. Livro eletrônico gratuito em http://www.febnet.org.br . Federação Espírita Brasileira, 1996.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.