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Há trinta anos, o mundo escapou de um possível desastre nuclear. Nas primeiras horas do dia, os sistemas de alerta da União Soviética detectaram mísseis vindo em direção à região. Mas Stanislav Petrov decidiu não relatar o ataque a seus superiores. Miriam Nascimento comenta.

  • Data :22/11/2013
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22 de novembro de 2013

Conheça o homem que pode ter salvado o mundo de uma guerra atômica

Há trinta anos, no dia 26 de setembro de 1983, o mundo escapou de um possível desastre nuclear.

Nas primeiras horas do dia, os sistemas de alerta balístico da União Soviética detectaram mísseis vindo em direção à região. Leituras de dados de computador sugeriam que havia sido lançado um ataque dos Estados Unidos. O protocolo soviético determinava que a atitude a ser tomada em casos como esse seria o lançamento imediato de um ataque nuclear de retaliação.

Mas Stanislav Petrov — cujo trabalho era monitorar lançamentos de mísseis em países inimigos — decidiu não relatar o ataque a seus superiores, apostando na interpretação de que se tratava de um alerta falso.

Ele tinha ordens claras de, em casos como esse, reportar imediatamente o ocorrido a seus superiores. A opção segura seria a de passar a responsabilidade das decisões para seus superiores.

Mas sua decisão pode ter salvado o mundo.

“Eu tinha todos os dados (para sugerir que havia um ataque de mísseis em andamento). Se eu tivesse mandado meu relato para meus superiores, ninguém teria contestado meus dados”, disse Petrov à BBC – 30 anos depois daquele dia.

Petrov – que se aposentou e hoje vive em uma pequena cidade perto de Moscou – era parte de uma equipe treinada que trabalhava em uma das primeiras bases de alerta da União Soviética, não muito longe da capital. Seu treinamento foi bastante rigoroso, e suas ordens sempre foram claras.

Seu trabalho era registrar qualquer ataque com mísseis e relatá-los aos líderes militares e políticos. No clima político de 1983, uma retaliação imediata seria a opção mais provável.

Mas Petrov congelou diante da situação.

“A sirene tocou, mas eu fiquei parado por alguns segundos, encarando a tela vermelha com a palavra ’lançado’ escrita”, diz. O sistema, com bom nível de confiabilidade, estava alertando sem grandes margens para dúvida de que os Estados Unidos tinham lançado um míssil.

“Um minuto depois, a sirene soou de novo. Um segundo míssil havia sido disparado. Depois um terceiro, um quarto e um quinto. Os computadores mudaram o alerta de ’lançado’ para ‘ataque de mísseis’.”

“Não havia regras sobre quanto tempo tínhamos para ponderar antes de relatar um ataque. Mas nós sabíamos que cada segundo de adiamento era uma perda de tempo precioso, e que a liderança política e militar da União Soviética precisava ser alertada sem atrasos.”

“Tudo que eu precisava fazer era pegar o telefone e fazer contato direto com os altos comandantes – mas eu não conseguia me mexer. Eu me sentia como se estivesse sentado em cima de uma frigideira”, lembra Petrov.

Ele resolveu consultar fontes secundárias, como especialistas que operam radares de satélites, que disseram não ter detectado mísseis.

Mas o que mais chamou sua atenção foi a intensidade dos alertas feitos pelos computadores.

“Havia 28 ou 29 testes de segurança. Depois que o alvo fosse identificado, o alerta teria que passar por todos esses testes. Eu não via como isso podia ser possível nessas circunstâncias.”

Petrov chamou o plantonista do quartel-general do Exército soviético e alertou para uma falha no sistema. Caso estivesse errado, a primeira explosão nuclear poderia acontecer em poucos minutos.

“Vinte e três minutos depois eu percebi que nada tinha acontecido. Se um ataque de verdade tivesse acontecido, eu já teria recebido notícias. Foi um alívio enorme”, ele lembra, com um sorriso.

‘Sorte que era eu’

Agora, 30 anos depois, Petrov avalia que a probabilidade de o ataque ser real era de 50%. Ele admite que nunca teve certeza de que se tratava de um alerta falso.

Ele afirma que foi o único entre seus colegas que tinha tido uma educação em escolas civis.

“Meus colegas eram soldados profissionais, ensinados a dar e receber ordens.”

Ele acredita que, caso tivesse sido outra pessoa no seu lugar, provavelmente o alerta teria sido informado aos superiores.

Dias depois, Petrov foi repreendido por suas ações naquele dia. Mas curiosamente não foi por ter tratado tudo como alerta falso – mas sim por erros cometidos na hora de escrever tudo no livro de registros.

Por dez anos, ele não falou sobre o assunto.

“Eu achava que era uma vergonha para o Exército soviético que nosso sistema tivesse falhado desta forma.”

Depois do colapso da União Soviética, a história foi amplamente contada na imprensa e Petrov ganhou vários prêmios internacionais.

Apesar de tudo, ele não se vê como um herói.

“Era meu trabalho”, diz ele. “Mas eles tiveram sorte que era eu quem estava trabalhando naquela noite.”

Notícia publicada na BBC Brasil , em 27 de setembro de 2013.

Miriam Nascimento comenta*

Será que podemos mudar o nosso destino?

A cada instante vivenciamos situações onde somos surpreendidos por um instante de lucidez ou por certo pressentimento, que muda o rumo de nossas escolhas.

Allan Kardec fez esta mesma pergunta em “O Livro dos Espíritos”, interrogando aos Instrutores Espirituais na questão 860:

“860. Pode o homem, por sua vontade e pelos seus atos, evitar acontecimentos que deviam realizar-se e vice-versa?

— Pode, desde que esse desvio aparente possa caber na ordem geral da vida que ele escolheu. Além disso, para fazer o bem, como é do seu dever e único objetivo da vida, ele pode impedir o mal, sobretudo aquele que pudesse contribuir para um mal ainda maior.” (1)

Stanislav Petrov teve em suas mãos a oportunidade de mudar o destino de um acontecimento que mudaria o cenário mundial.

Petrov, guiado por regras e condutas já determinadas pelo cargo que ocupava, entendeu que poderia exercer o seu livre-arbítrio, pois o mesmo traria consequências importantes naquele momento. A utilização do bom senso e a análise de tudo que envolve as nossas decisões é uma conquista do Espírito.

A Doutrina Espírita relembra os ensinamentos de Jesus, ao nos revelar que somos Espíritos imortais. Interagimos e somos veículos constantes do processo harmonioso da Providência Divina.

Muitos conflitos poderiam ser evitados pelo ser humano, pois somente a morte é, em si, uma fatalidade. Os acontecimentos ora estão programados por consequência de atos do passado, ora são resultado de ações do presente. Exercemos diariamente nossa capacidade de decidir qual caminho seguiremos.

Mas nos perguntamos: Por que, justamente naquele momento, Petrov foi quem recebeu aquele sinal de um possível ataque?

Ele mesmo analisa que foi um instante de “sorte”, visto que outros colegas, submetidos às regras rígidas, teriam tomado a atitude determinada por superiores. Sobre a atitude dos outros, nunca teremos certeza, mas o fato é que o Espiritismo acaba de vez com o paradigma da “sorte” e do “azar”, que não é compatível com os atributos de Deus, de sabedoria e justiça.

Petrov já possuia, por conquista própria, uma percepção mais ampla de coletividade, que o conectou naquele momento às inspirações mais elevadas, fazendo-o parar, analisar, buscar outras opiniões e esgotar todas as possibilidades. Ele arriscou-se? Provavelmente sim, mas não domado pelo impulso, mas pelo bom senso, tornando-se o veículo de influências espirituais benéficas, que potencializaram a sua capacidade de discernimento.

O mais interessante é que Petrov foi testado várias vezes, a cada sinal que se repetia indicando ataque, direcionando-o para a decisão aparentemente mais acertada. E ainda assim, em seu íntimo, sua consciência também acendia sinais repetidos para reflexão, paralisando-o e oferecendo a ele uma nova forma de pensar sobre qual atitude tomar.

Através das obras basilares, entendemos mais sobre a influência espiritual, que se revela em pressentimentos, pensamentos e intuições, fazendo uma conexão entre nossos pensamentos e os Espíritos mais elevados, que têm como missão nos orientar.

Sem dúvida, nosso irmão russo foi um elemento colaborador, evitando um acontecimento que poderia atrasar ainda mais o progresso em nosso Planeta.

Porém, para ele, não bastou o bom senso e a determinação, foi necessária a iniciativa proativa, positiva e questionadora de uma possível falha técnica que resultaria em uma falha ainda maior e sem precedentes.

Petrov, dotado do sentimento de humildade, nos exemplifica, mais uma vez, que o bem pode ser preterido na medida que priorizamos o reconhecimento de outros em relação às nossas atitudes, como nos fala claramente Kardec em “O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XIII - Fazer O Bem Sem Ostentação:

“Fazer o bem sem ostentação tem grande mérito. Esconder a mão que dá é ainda mais meritório, é o sinal incontestável de uma grande superioridade moral. Porque, para ver as coisas de mais alto que o vulgo, é necessário fazer abstração da vida presente e identificar-se com a vida futura. É necessário, numa palavra, colocar-se acima da humanidade, para renunciar à satisfação do testemunho dos homens e esperar a aprovação de Deus. Aquele que preza mais a aprovação dos homens que a de Deus, prova que tem mais fé nos homens que em Deus, e que a vida presente é para ele mais do que a vida futura, ou até mesmo que não crê na vida futura. Se ele diz o contrário, age, entretanto, como se não acreditasse no que diz.” (2)

E, assim, muitos conflitos podem ser evitados, na medida em que vivenciamos a Lei de Amor em tudo que fazemos e pensamos.

Léon Denis, na obra “O Mundo Invisível e Guerra”, nos deixa orientação vigilante e generosa sobre esta assistência elevada que nos é oferecida durante a realização de nossas tarefas:

“Aos seus olhos apareceram novas perspectivas, vozes interiores lhes cantaram dentro d’alma, e a vida agora lhes apareceu sob um aspecto não reconhecido. O mundo invisível, que na sangrenta luta os animava, os inspira nas horas de calma e repouso, sugerindo-lhes nobre e elevado ideal, depositando em suas almas os germes de sagrada semente.” (3)

Que saibamos, sempre, reconhecer que somos instrumentos da Providência Divina para um bem maior.

Referências:

(1) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos . FEB. Parte Terceira - Capítulo X - Das leis morais - Lei de Liberdade – Fatalidade;

(2) KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo . FEB. Capítulo XIII - Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita - Fazer O Bem Sem Ostentação;

(3) O Mundo Invisível e Guerra – Léon Denis - Capítulo VIII – Ação dos Espíritos sobre os atuais acontecimentos.

  • Miriam Nascimento é carioca, designer de interiores e professora, espírita, dinamizadora de estudos virtuais, membro da equipe Espiritismo.net e tarefeira no Centro Espírita Irmã Rosa, em Niterói, RJ.