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Conhecida há mais de meio século, a poluição marinha por lixo plástico é um problema ambiental que não para de crescer. Mas um novo estudo, publicado no periódico Environmental Science & Technology, indica que esses resíduos abrigam uma vida secreta. Breno Henrique de Sousa comenta.

  • Data :03/11/2013
  • Categoria :

4 de novembro de 2013

Lixo plástico oceânico abriga vida secreta

Cientistas descobriram que os resíduos plásticos que poluem os oceanos estão servindo de casa para uma comunidade microbiana batizada de “Plastisphere”

Vanessa Barbosa Exame.com

Conhecida há mais de meio século, a poluição marinha por lixo plástico é um problema ambiental que não para de crescer. Mas um novo estudo, publicado no periódico Environmental Science & Technology, indica que esses resíduos abrigam uma vida secreta.

Os cientistas descobriram que uma multidão variada de microrganismos colonizam e prosperam nessas ilhas submarinas de plástico, representando uma nova comunidade microbiana batizada de “Plastisphere”.

Habitantes do “plastisphere” incluem bactérias patológicas do grupo vibrião, causadoras de cólera e perturbações gastrointestinais, além de micróbios conhecidos por quebrar as ligações de hidrocarbonetos do plástico, ajudando no processo de biodegradação desse material.

Realizada em colaboração por três instituições americanas – o SEA - Education Association, o Marine Biological Laboratory e Woods Hole Oceanographic Institution – a pesquisa analisou pequenos detritos plásticos (alguns de milímetros) encontrados em redes de pesca em vários locais ao norte do Oceano Atlântico nas navegações científicas.

Utilizando técnicas de microscopia eletrônica e de sequenciação de gene, os pesquisadores encontraram pelo menos mil diferentes tipos de células de bactérias em amostras do plástico, incluindo muitas espécies individuais não identificadas, que incluíam plantas, algas e bactérias que produzem seu próprio alimento.

Segundo os cientistas, os organismos que habitam a “plastisphere” são diferentes daqueles encontrados na água do mar em outros materiais flutuantes, como madeiras e microalgas. Os plásticos oferecem condições diferentes, incluindo a capacidade de durar muito mais tempo sem degradar, o que indica que eles atuam como recifes artificiais microbianos, selecionando micróbios distintos, dizem os pesquisadores.

Como um novo habitat ecológico, o “platisphere” levanta uma série de perguntas, que deverão nortear as pesquisas daqui pra frente, de acordo com os cientistas. Como ele vai mudar as condições ambientais para outros microorganismos marinhos? Será que no ecossistema global do oceano, essa nova comunidade pode afetar organismos maiores? Como eles estão alterando esse ecossistema, e qual é o destino final dessas partículas no oceano? A conferir.

Notícia publicada no Planeta Sustentável , em 15 de julho de 2013.

Breno Henrique de Sousa comenta*

A Vida Resiste

A destruição da natureza pelo homem é ainda mais difícil de ser combatida quando ele não enxerga com seus olhos as consequências diretas de suas ações. Se somos sensíveis aos maus tratos com animais, ou a poluição do ar que afeta diretamente a nossa saúde, é mais difícil sensibilizar-se a um problema que não observamos diretamente e que nem é responsabilidade apenas de um único país.

É difícil imaginar que já existe no oceano Pacífico uma ilha de plástico que nos últimos 40 anos aumentou em 100 vezes, tendo hoje o tamanho próximo ao estado de Minas Gerais.(1) O que fazer diante disso? De quem é a responsabilidade? Enquanto estivermos pensando apenas dentro das fronteiras do próprio país, não resolveremos os problemas globais que nos afetam a todos.

Esta matéria mostra que a natureza encontra suas estratégias para proteger-se. Desenvolve organismos adaptados capazes de viver nesse ambiente inóspito e degradar mesmo os materiais plásticos menos degradáveis. Porém, a ação da natureza é lenta e a do homem é rápida e devastadora. A natureza encontrará uma saída, mas talvez essa saída passe por fortes consequências e privações para sobrevivência da espécie humana na Terra. Não estamos livres das consequências dos nossos atos e o fato de começarmos a construir um mundo de regeneração não significa que catástrofes ambientais não possam acontecer com grandes consequências para a vida humana na Terra.

O oceano, dizem-nos os Espíritos, é um território desconhecido que guarda soluções e alimentos para a nossa sobrevivência no futuro. Desconhecemos os oceanos e ainda estamos longe de explorar todas as suas potencialidades, mas já estamos degradando o ambiente que guarda nossas possibilidades futuras.

Enquanto a natureza encontra um caminho para reestabelecer seu equilíbrio, nesse caso pelo surgimento de microrganismos adaptados àquelas condições, é possível que esses microrganismos produzam substâncias tóxicas ao homem e a outras formas de vida que vivem no mar ou que dependem do mar, como muitas espécies de aves. Parece pouco importante, afinal são apenas microrganismos, mas toda a base da cadeia alimentar depende de microrganismos.

O excesso de lixo que produzimos está relacionado com os nossos hábitos de consumo pouco responsáveis ambientalmente, não apenas consumidores, mas a indústria em geral investe pouco em embalagens ecoeficientes . Até mesmo os bens de consumo mais duradouros, como os produtos eletrônicos, são feitos hoje em dia para durar pouco tempo e estimular o consumo que mantém viva a indústria. Desse modo produzimos a cada dia mais lixo. Criamos falsas necessidades e construímos hábitos de consumo que são realmente ameaçadores para a sobrevivência da própria espécie humana na Terra.

Finalizo com uma reflexão dos Espíritos, que responderam a Kardec, em O Livro dos Espíritos . Ela, por si só, resume todo o problema pelo qual estamos passando.

705. Por que nem sempre a terra produz bastante para fornecer ao homem o necessário?

“É que, ingrato, o homem a despreza! Ela, no entanto, é excelente mãe. Muitas vezes, também, ele acusa a Natureza do que só é resultado da sua imperícia ou da sua imprevidência. A terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela produz não lhe basta a todas as necessidades, é que ele emprega no supérfluo o que poderia ser aplicado no necessário. Olha o árabe no deserto. Acha sempre de que viver, porque não cria para si necessidades factícias. Desde que haja desperdiçado a metade dos produtos em satisfazer a fantasias, que motivos tem o homem para se espantar de nada encontrar no dia seguinte e para se queixar de estar desprovido de tudo, quando chegam os dias de penúria? Em verdade vos digo, imprevidente não é a Natureza, é o homem, que não sabe regrar o seu viver.”

Referência:

(1) G1Natureza. Ilha de lixo no Oceano Pacífico aumentou 100 vezes de tamanho.  Disponível em: http://g1.globo.com/natureza/noticia/2012/05/ilha-de-lixo-no-oceano-pacifico-aumentou-100-vezes-de-tamanho.html](http://g1.globo.com/natureza/noticia/2012/05/ilha-de-lixo-no-oceano-pacifico-aumentou-100-vezes-de-tamanho.html)> .

  • Breno Henrique de Sousa é paraibano de João Pessoa, graduado em Ciências Agrárias e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba. Ambientalista e militante do movimento espírita paraibano há mais de 10 anos, sendo articulista e expositor.