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A britânica Sarah Thomson, de 32 anos, sofreu um derrame em consequência de um coágulo de sangue em seu cérebro, devido a uma má-formação de vasos sanguíneos, que apagou 13 anos de suas memórias. Carlos Miguel Pereira comenta.

  • Data :18/09/2013
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19 de setembro de 2013

Após derrame, mãe esquece marido e filhos e pensa ser adolescente

A britânica Sarah Thomson, de 32 anos, sofreu um derrame em consequência de um coágulo de sangue em seu cérebro que apagou 13 anos de suas memórias.

O coágulo, que teria origem, segundo os médicos, em uma má-formação de vasos sanguíneos, interrompeu o fluxo de sangue para um parte do seu cérebro, fazendo com que o local ficasse temporariamente sem oxigênio e sem nutrientes.

Quando ela recobrou sua consciência, após ter sido levada a um hospital, não reconheceu seu marido ou seus três filhos e estranhou o fato de seu irmão estar calvo.

Ela pensou que o marido, Chris, fosse um funcionário do hospital. “Não me lembrava de tê-lo conhecido, de ter me casado com ele ou o que quer que seja.” E afirma que teve de “se apaixonar novamente” pelo marido.

“Quando as crianças vieram me ver, eu não tinha ideia de quem elas eram, pensei que fossem filhos de outra pessoa. Eu os chamava pelo nome errado, não entendia por que estavam tão felizes em me ver.”

Ela conta que a reação ao ver os demais integrantes de sua família também foi de estranhamento. “Olhei para o meu irmão e disse: ‘você está careca’. E também falei aos meus pais como eles pareciam mais velhos. Era como se tivessem envelhecido da noite para o dia.”

Estranha no espelho

Ela afirma ainda que não foi capaz de se reconhecer ao se olhar no espelho. Sarah conta que teve de assistir a vídeos e ver fotos para tentar lembrar como era a sua vida anterior. “Mas, às vezes, parecia que eu estava vendo outra pessoa”, relata.

Sarah Thomson descreve como o marido como tem sido “incrível” e atribui a ele sua recuperação. “Eu tive de me apaixonar por ele novamente. Ele me levou a todos os lugares que havíamos ido juntos para tentar despertar minha memória.”

Ela comenta que é estranho acordar diariamente com um “estranho” a seu lado, mas que as recordações estão voltando ao poucos.

No Natal do ano passado, ela afirma que voltou a se apaixonar por ele e conta ter se sentido muito nervosa ao se declarar para o marido, como se fosse a primeira vez que o fazia.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 26 de setembro de 2012.

Carlos Miguel Pereira comenta*

Em “O Livro dos Espíritos”, questões 368 e 369, lemos: “O exercício das faculdades [do espírito] depende dos órgãos que lhes servem de instrumento. Os órgãos são os instrumentos da manifestação das faculdades da alma, manifestação que se acha subordinada ao desenvolvimento e ao grau de perfeição dos órgãos (…)”

O corpo é o instrumento, ainda que limitado, que o espírito dispõe para interagir com o mundo físico. Sendo uma inspiração da engenharia biológica, o corpo humano é um universo extraordinário de vida em permanente organização, funcionando através de sistemas estupendos que, à medida que conhecemos os seus detalhes, nos maravilham cada vez mais, tal a complexidade, organização e criatividade que evidenciam. Mesmo sendo um organismo extraordinário, isso não significa que não possua as limitações naturais que a dimensão física impõe.

O pressuposto materialista que nos garante que as nossas memórias se encontram guardadas dentro do cérebro é um dado que tomamos muitas vezes por adquirido. Uma notícia como esta, em que a amnésia surge como consequência de uma lesão ao nível do cérebro, parece reforçar os argumentos materialistas. Mas será mesmo assim? Será o cérebro o lugar onde todas as memórias e conhecimentos estão guardados? Será o cérebro a sede e a origem de todos os nossos pensamentos, emoções e sentimentos? Será o cérebro o núcleo fundamental daquilo que somos e da forma como nos comportamos? Se assim fosse, a morte do corpo levaria à desagregação do cérebro e, com ele, todas as memórias, sentimentos, experiências e conhecimentos adquiridos. Neste caso, a sobrevivência da alma mantendo a individualidade depois da morte do corpo seria uma impossibilidade, já que as nossas memórias, conscientes e inconscientes, são cruciais para fundamentar a nossa individualidade, para a ideia que temos de nós próprios e para o papel que desempenhamos no mundo.

O Espírito André Luiz, na obra “Evolução em Dois Mundos”, pela psicografia de Chico Xavier, escreve desta forma: “O espírito encontra no cérebro o gabinete de comando das energias que o servem, como aparelho de expressão dos seus sentimentos e pensamentos (…)” Assim, o cérebro não é a fonte da consciência nem um depósito das nossas memórias mais duradouras, mas o instrumento físico para a manifestação da vontade e das capacidades do espírito e a forma que ele dispõe para percepcionar e processar a realidade à sua volta. Na verdade, é um instrumento ainda limitado que funciona como um filtro para a realidade espiritual, uma barreira que se levanta à percepção das experiências mais elevadas, reduzindo a amplitude das capacidades espirituais e limitando-a para nosso benefício durante as nossas vidas físicas. Isto pode ser constatado já que, ao reencarnarmos, não dispomos, conscientemente, de acesso ao banco de dados de nossas memórias de experiências em vidas passadas, mas isso não significa que, de forma inconsciente ou subconsciente, essas memórias não influenciem quem somos e o que fazemos, e não possam ser acedidas através de estados alterados de consciência.

E a questão da lesão cerebral que leva a uma perda de memória que a notícia nos relata? Atentemos nesta analogia: Para que um rádio funcione é necessário que lhe seja providenciada energia, é preciso uma antena, modulador e amplificador de sinal, bem como também uma forma de difundir o som. Só desta forma podemos escutar a emissão que está a ser transmitida numa determinada frequência. Não é racional pensar que a música e as vozes que ele transmite estejam guardadas dentro do rádio, pois sabemos que aquele aparelho é apenas o instrumento necessário para fazer chegar a emissão até nós. Embora de uma forma extraordinariamente mais complexa, o nosso cérebro desempenha um papel semelhante à manifestação da vontade do Espírito. Lesões cerebrais como a que notícia nos fala e que provocam perda de memória ao nível consciente não provam que todas as nossas memórias estão armazenadas dentro do cérebro. Quando o rádio tem a antena partida ou um qualquer circuito danificado, o som pode sair com ruídos ou até chegar imperceptível. Isso não significa que a emissão esteja a ser transmitida dessa forma, mas sim que a nossa capacidade para a receber de forma nítida se encontra comprometida. Da mesma forma, uma lesão cerebral pode corromper a possibilidade do cérebro para sintonizar de forma consciente com a dimensão espiritual que lhe serve de suporte à personalidade, conhecimento e até às nossas memórias mais queridas, diminuindo assim a capacidade do Espírito para se relacionar de uma forma mais ampla com a realidade física em que se encontra.

  • Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.