Carregando...

  • Início
  • Pesquisadora sustenta que crianças ociosas se tornam mais criativas

Crianças devem ser motivadas a ficarem ociosas e entediadas para desenvolverem sua capacidade criativa, afirma Teresa Belton, uma especialista em educação, pesquisadora da Universidade East Anglia, na Grã-Bretanha. Claudio Conti comenta.

  • Data :25/08/2013
  • Categoria :

26 de agosto de 2013

Pesquisadora sustenta que crianças ociosas se tornam mais criativas

Hannah Richardson Correspondente de Educação da BBC

Crianças devem ser motivadas a ficarem ociosas e entediadas para desenvolverem sua capacidade criativa, afirma uma especialista em educação.

Para Teresa Belton, pesquisadora da Universidade East Anglia, na Grã-Bretanha, a expectativa cultural de que as crianças estejam sempre ativas pode minar o desenvolvimento de sua imaginação.

Em seu estudo, Belton ouviu a escritora Meera Syal e o artista plástico Grayson Perry sobre como o tédio os ajudou a desenvolver sua criatividade na infância.

Além de escritora e jornalista, Syal é uma famosa comediante na Grã-Bretanha. Perry é hoje um reconhecido artista que faz trabalhos em cerâmica, e suas criações já foram expostas até mesmo no Museu Britânico, em Londres.

Syal disse que o tédio fez com que ela escrevesse, enquanto Perry afirmou que isso era um estado criativo para ele.

A pesquisadora ainda entrevistou um grande número de outros escritores, artistas e cientistas, durante sua busca sobre os efeitos do tédio.

Ela estudou as memórias da infância de Syal, que cresceu numa pequena vila de mineiros, lugar sem muita coisa para fazer.

Belton disse que “a ausência de coisas para fazer motivou (a escritora Syal) a gastar horas do dia a falar com outras pessoas e a tentar outras atividades que em outras circunstâncias ela jamais teria experimentado, como interagir com os mais velhos e vizinhos e aprender a fazer bolos”.

“Tédio é frequentemente associado a solidão, e Syal gastou horas de sua infância observando pela janela o campo e as florestas, assistindo a mudança do clima e das estações.”

“Mas o mais importante foi que o tédio a fez escrever. Ela mantinha um diário desde pequena, que preenchia com observações, pequenas histórias, poemas e críticas. Ela atribui a esta fase seus primeiros passos como a escritora que se tornaria mais tarde”, disse Belton.

Reflexão

Syal, a comediante e escritora, disse que “a solidão imposta como uma página em branco foi um ótimo estímulo”.

Já o artista plástico Grayson Perry afirma que o tédio também pode ser benéfico para adultos: “conforme fui envelhecendo, passei a apreciar a reflexão e o tédio. O ócio é um estado muito criativo.”

A neurocientista e especialista em deterioração da mente Suzan Greenfield, que também respondeu a questões para a pesquisa de Belton, relembrou a infância em uma família com muito pouco dinheiro e sem irmãos até os 13 anos de idade.

“Ela confortavelmente divertia a si mesma, inventando histórias, desenhando figuras para suas fantasias e indo até a biblioteca”, disse Belton.

Ainda de acordo com Belton, que também é especialista no impacto das emoções no comportamento e aprendizado, o tédio pode ser um “sentimento desconfortável”. Para ela a sociedade “desenvolveu uma expectativa de ser constantemente ocupada e constantemente estimulada”.

Mas ela advertiu que a criatividade “envolve ser capaz de desenvolver um estímulo interno”.

“A natureza estimula um vácuo que tentamos preencher”, disse ela. “Alguns jovens que não têm a capacidade interior ou a resposta para lidar com o tédio criativamente. Às vezes eles terminam vandalizando abrigos de pontos de ônibus ou saindo inadvertidamente para um passeio de carro.”

Curto-circuito

Belton, que também já estudou o impacto da televisão e vídeos na escrita das crianças, afirma ainda que “quando os pequenos não têm nada para fazer, eles imediatamente ligam a TV, o computador, o celular ou algum tipo de aparelho com tela. O tempo gasto com estas coisas aumentou.

“Mas crianças precisam ter um tempo para parar e pensar, imaginando que eles possuem seus próprios processos de pensamento e assimilação, por meio de experiências com brincadeiras ou apenas observando o mundo ao seu redor.”

Este é o tipo de coisa que estimula a imaginação, ressalta a pesquisadora, enquanto a tela de alguns aparelhos “tende a criar um curto-circuito no processo de desenvolvimento da capacidade criativa”.

Syal ainda reforça: “Você começa a escrever porque não há nada para provar, nada a perder e nenhuma outra coisa para fazer.”

“É muito libertador ser criativo por nenhuma outra razão além do próprio passatempo.”

Belton conclui: “Para o bem da criatividade talvez devamos diminuir nosso ritmo e ficar offline de tempos em tempos.”

Notícia publicada na BBC Brasil , em 4 de abril de 2013.

Claudio Conti comenta*

Creio que a chamada “Crianças devem ser motivadas a ficarem ociosas e entediadas para desenvolverem sua capacidade criativa, afirma uma especialista em educação.”, presente no início da notícia, é um tanto quanto perigosa e necessita de atenção e análise adequadas.

Verificando outras publicações a respeito do pensamento da pesquisadora Dra. Teresa Belton, é possível observar que ela tenta combater o conceito atualmente muito em voga de que as crianças devem ser super-estimuladas, isto é, terem todos os minutos de seus dias ocupados com atividades das mais variadas, como sendo necessário para o seu desenvolvimento. Muito ao contrário, ainda segundo a pesquisadora, os momentos de ociosidade permitem que as crianças possam desenvolver sua capacidade criativa. A criatividade funcionaria como um mecanismo do próprio espírito para combater o tédio.

Desta forma, as crianças não devem ser motivadas ao ócio e ao tédio, pois poderia desenvolver ou aumentar o desejo no espírito de se manter inativo. Devemos sempre lembrar que somos espíritos de um mundo de expiação e provas e, por isso, temos tendências inadequadas e que, muitas vezes, não se apresentam claramente nos primeiros anos da encarnação. Percebemos que nosso processo evolutivo ocorre muito lentamente, portanto, somos espíritos preguiçosos em combater as más tendências.

Sob igual sentido, podemos dizer que o mesmo pode ser aplicado aos adultos, pois nos mantemos ocupados e em constante frenesi, tendo como aliado a tecnologia, que favorece estes estados. Existe o crescente conceito de que devemos estar conectados 24 horas e, assim, vemos famílias que, mesmo na mesa de um restaurante, não interagem entre si, cada qual se mantendo ligado ao seu aparelho, seja celular ou tablet.

Os momentos de introspecção e meditação são necessários para que possamos ponderar acerca da própria existência e os caminhos que se está tomando; analisar nossas escolhas e conceitos para que possamos aprimorá-los; mas, para isso, é necessário tempo disponível.

Este conceito em nada se opõem ao “aviso” creditado à Emmanuel: “Valoriza o tempo e não te concedas o luxo das horas vazias”, pois o tempo utilizado em ponderações sobre a própria vida não se caracterizaria como “horas vazias”, mas necessárias ao bom aproveitamento das experiências vividas.

  • Claudio Conti é graduado em Química, mestre e doutor em Engenharia Nuclear e integra o quadro de profissionais do Instituto de Radioproteção e Dosimetria - CNEN. Na área espírita, participa como instrutor em cursos sobre as obras básicas, mediunidade e correlação entre ciência e Espiritismo, é conferencista em palestras e seminários, além de ser médium pscógrafo e psicifônico (principalmente). Detalhes no site www.ccconti.com .