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Não restou outra alternativa à administração do Mercado Central de Belo Horizonte: arrumar um uniforme novo para as imagens e organizar as entrevistas da ex-faxineira Maria da Conceição da Silva, após a súbita fama da pernambucana. Claudio Conti comenta.

  • Data :25/06/2013
  • Categoria :

5 de julho de 2013

Em Belo Horizonte, ex-faxineira vira “celebridade” por falar quatro línguas

Carlos Eduardo Cherem Do UOL, em Belo Horizonte

Não restou outra alternativa nesta sexta-feira (17) à administração do Mercado Central de Belo Horizonte: arrumar um uniforme novo para as imagens e organizar as entrevistas da ex-faxineira Maria da Conceição da Silva, após a súbita fama da pernambucana, quando os colegas descobriram que ela fala inglês, holandês, italiano e espanhol, além de “arranhar” alemão, árabe e hebraico, e contaram para a diretoria do mercado.

Com isso, em pouco mais de 15 minutos de conversa, com o superintendente do mercado Luiz Carlos Braga, informado no início de maio, que, além de poliglota, a faxineira tem formação superior em contabilidade, Maria da Conceição foi promovida a atendente turística do Mercado Central. Seu salário passou de R$ 674 (salário mínimo) para R$ 1.100, com a promoção.

“Estamos organizando. É para ficar mais ajeitado”, afirma o superintendente, que pede que os jornalistas formem uma fila para falar com a empregada do mercado.

Maria da Conceição atendeu a reportagem do UOL , entre os desfiles que fez nos corredores do mercado para as imagens e as entrevistas individuais que concedeu aos repórteres. A agora atendente turística disse que há exageros na repercussão do caso e que não se sente celebridade.

“Senhor, estão exagerando. Eu só falo quatro línguas. O alemão, árabe e hebraico, eu só arranho. Não tem nada disso não”, diz Maria da Conceição.

“O hebraico estava aprendendo com um amigo marroquino. Eu só arranho, não falo”.

O mundo sem fronteiras

“Sou filha de pais separados. Meus irmãos mais velhos foram criados pela minha avó materna. Um outro foi criado por parentes. Minha mãe me doou ainda bebê. Mas arrependeu-se e me buscou mais tarde.

Aos 11 anos, Maria da Conceição trabalhava como recepcionista e, a mãe, como doméstica. “Estudava em colégio de freiras. No escritório, fazia serviços gerais e datilografia”. Mudou-se com a mãe para Fortaleza e lá fez o ensino fundamental num colégio militar.

Após o período na capital cearense, transferiu-se novamente com a mãe para Elesbão Veloso (PI), onde morou na casa de uma irmã. De lá, foi para Teresina e concluiu o ensino médio no Colégio Salesiano. Mudou-se com a mãe para Campina Grande (PB), onde trabalhou em diversas profissões.

“Comecei no levantamento de estoque em uma loja de autopeças, depois fui para o balcão. Aprendi muito. Fiz serviços hidráulicos e de servente de pedreiro também. Fui doméstica e até em oficina mecânica trabalhei”. Nessa cidade paraibana, em 1991, a mãe morreu.

Em 2005, Maria da Conceição trabalhava numa oficina de informática quando conheceu um alemão, um espanhol e uma holandesa. Eles faziam intercâmbio no país e foram embora. Mas a amizade foi mantida por meio de contatos pela internet. “Numa dessas conversas, entrou uma mineira, dez anos mais nova, que se tornou minha companheira. Sou homossexual”.

As duas foram convidadas pela amiga holandesa para se mudarem para lá. Toparam e, em Amsterdam, fizeram faxina e reforma de residências para sobreviver. Foi aí, que Maria da Conceição começou a aprender, “com uma certa facilidade”, as línguas que hoje domina.

Voltou o ano passado, após ter conhecido boa parte da Europa, e veio morar com uma irmã em Belo Horizonte e, óbvio, teve de procurar emprego.

Acabou arrumando o de faxineira do mercado e, agora, a promoção, quando foram descobertas suas qualificações.

15 minutos de fama

Dá um sorriso largo e avisa à reportagem, quando se prepara para atender outro jornalista, já impaciente na fila: “Eu sei disso tudo. São os 15 minutos de fama…”

“Você acha que eu sou boba? Isso tudo passa rápido”. Entretanto, não esconde uma leve expectativa com a súbita fama: “Emprego? É. Isso pode ser que melhore um pouco”, afirma Maria da Conceição, antes de partir para outra entrevista.

Em Belo Horizonte, desde setembro do ano passado, procurou trabalhar em escritórios mas não conseguiu. “As pessoas criavam dificuldades: veio da Europa? O que fazia lá? Já passou dos 40? Tem curso superior, precisamos de pessoas com formação até o ensino médio”, diz.

“Fiquei sabendo que havia vaga na faxina do mercado e fui ao escritório. Mas não apresentei currículo e omiti a formação superior e o fato de falar outras línguas”, afirma.

Ela afirma que teve dificuldades para arrumar emprego em Belo Horizonte, mesmo com a boa formação educacional. Por isso, foi para a faxina do mercado e, agora, o atendimento aos turistas.

Notícia publicada no Portal UOL , em 17 de maio de 2013.

Claudio Conti comenta*

Não posso evitar de comparar a reportagem em análise com a história baseada em uma caso real do filme intitulado A Procura da Felicidade , protagonizado pelo ator Will Smith, especialmente pela sua repercussão no meio espírita, pois foi considerado e apresentado como uma questão de fé.

São duas abordagens para uma mesma situação.

No citado filme, o protagonista, capacitado, almeja o sucesso a todo o custo, demonstrando claramente estar disposto a correr riscos para atingir o seu objetivo. Em uma série de atos e decisões irresponsáveis, coloca em risco não apenas a própria vida, mas também a do seu filho, sem nenhuma garantia de um final feliz.

Diante do filme, cremos que as decisões foram adequadas porque ele atingiu o seu objetivo e, desta forma, os meios foram esquecidos. Todavia, sempre é importante ter em mente que, segundo a abordagem espírita, os fins nunca justificam os meios, pois meios corrompidos geram desarmonias para o espírito e compromete a integridade do objetivo.

Como espíritas, não podemos apresentar exemplos equivocados como demonstração de fé, pois o Espiritismo tem como premissa a fé raciocinada e não a fé irresponsável.

Expor a própria vida e a de outrem ao risco de morte sem um motivo justificável gerará desarmonias que, cedo ou tarde, trarão consequências.

Em contrapartida, o caso trazido pela reportagem em questão pode servir como exemplo de fé e aceitação ativa, que é o tipo de comportamento mais adequado diante das tribulações e dificuldades que se apresentam durante a vida. Mesmo experimentando dificuldades, pelo que é apresentado, se manteve firme nos seu propósitos e aproveitou todas as oportunidades para o seu aprimoramento pessoal, demonstrando, inclusive, humildade diante de seus companheiros de trabalho.

As consequências são sempre decorrentes de nossos atos. Que estes sejam os mais corretos possíveis para que aquelas sejam plenas e felizes a serem vivenciadas na mesma encarnação ou no pós-morte.

  • Claudio Conti é graduado em Química, mestre e doutor em Engenharia Nuclear e integra o quadro de profissionais do Instituto de Radioproteção e Dosimetria - CNEN. Na área espírita, participa como instrutor em cursos sobre as obras básicas, mediunidade e correlação entre ciência e Espiritismo, é conferencista em palestras e seminários, além de ser médium pscógrafo e psicifônico (principalmente). Detalhes no site www.ccconti.com .