Carregando...

  • Início
  • A primeira propaganda contra a violência doméstica já feita na Arábia Saudita

A violência doméstica é um problema que ignora nacionalidades, etnias, religiões ou classes sociais. Em países islâmicos, a situação é um pouco mais complicada, já que as mulheres são “guardadas” por homens. Raphael Vivacqua Carneiro comenta.

  • Data :19/06/2013
  • Categoria :

19 de junho de 2013

A primeira propaganda contra a violência doméstica já feita na Arábia Saudita

  • Memac Ogilvy assina a criação para a King Khalid Foundation *

*por Amanda de Almeida *

A violência doméstica é um problema que ignora nacionalidades, etnias, religiões ou classes sociais. Aqui no B9 , a gente já viu bons exemplos de campanhas focadas no assunto, mas a imagem acima é histórica. Segundo o site BuzzFeed , esta é a primeira propaganda contra a violência doméstica já feita na Arábia Saudita, com criação da Memac Ogilvy para a King Khalid Foundation .

Em países islâmicos, a situação é um pouco mais complicada, já que as mulheres são “guardadas” por homens – geralmente seus pais, irmãos ou maridos.

Isso significa que os abusos, em sua maioria, não são denunciados. E apesar do uso do véu e da burca, o próprio impresso já diz: há coisas que não podem ser cobertas. Independentemente dos resultados, a coragem de falar a respeito já torna este material histórico.

Dentro desta temática, vale lembrar que, há cerca de um mês, mostramos por aqui o vídeo One Photo a Day in the Worst Year of My Life , em que a modelo Mia Hujic aparecia em diversas fotos supostamente tiradas ao longo de um ano, mostrando a escalada da violência doméstica. Na época, ficou evidente que era uma campanha mais ou menos nos moldes de Perdi Meu Amor na Balada , mas com o importante propósito de conscientizar o público sobre o abuso.

Aproveitamos o gancho da propaganda árabe para relembrar essa história. O vídeo está próximo das 5 milhões de visualizações no YouTube e a Saatchi & Saatchi de Belgrado e a Fund B92 assumiram a autoria da campanha.

Independentemente das maneiras escolhidas para se falar sobre o assunto, o importante é que ele continue em pauta.

Notícia publicada no blog Brainstorm9 , em 25 de abril de 2013.

Raphael Vivacqua Carneiro comenta*

Em 29 de maio de 1983, a biofarmacêutica cearense Maria da Penha Maia Fernandes recebeu um tiro enquanto dormia e ficou paraplégica. Pouco tempo depois, ela quase foi eletrocutada ao tomar banho. As investigações revelaram que o autor de ambos os atos de violência foi o seu marido. Entre a dupla tentativa de homicídio e a prisão do agressor, transcorreram quase 20 anos, devido aos procedimentos legais vigentes. Ele foi solto em pouco mais de dois anos. Inconformada com esta situação, Maria da Penha escreveu um livro, recorreu a ONGs e denunciou o Brasil na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA – Organização dos Estados Americanos. O resultado desses esforços e da pressão internacional culminou, em 7 de agosto de 2006, na sanção da Lei n° 11.340/06, que aumentou o rigor das punições à violência contra a mulher no Brasil e que ficou conhecida como “Lei Maria da Penha”.

Este episódio exemplifica o processo lento e gradual da evolução da justiça humana. Em países como o Brasil, a violência doméstica já conta com o repúdio da sociedade e é tratada como crime de certa gravidade pela lei. Contudo, a história nos mostra que essa evolução levou muitas eras. À época do reinado de Dom Pedro II, o código civil brasileiro considerava o homem como o chefe da família, materializando em lei a cultura patriarcal herdada dos povos da Antiguidade, os quais, por sua vez, guardavam reminiscências das sociedades mais primitivas, em que a força bruta ditava o direito e o poder. Essa evolução da lei dos homens ao longo do tempo nos leva a indagar: O que faz uma tradição, um costume ou uma lei ser considerada justa numa certa época e, posteriormente, uma prática bárbara e abominável?

A Doutrina Espírita ensina que existe uma “lei natural”, divina, eterna e imutável – como o próprio Deus – que rege todas as coisas, materiais e espirituais. Os sábios dos diversos ramos das ciências da natureza estudam e revelam gradativamente as leis da matéria; enquanto os filósofos, os profetas, os homens de bem se ocupam das leis morais. Todos os homens podem conhecer a lei natural, porquanto ela está gravada na consciência; entretanto, nem todos a compreendem, porque isso requer saber. O progresso, a igualdade, a liberdade, a justiça, o amor são exemplos de leis morais naturais.

O sentimento natural de justiça se revela pela indignidade e revolta que nos acomete quando presenciamos um caso de violência como o de Maria da Penha. E a lei natural de progresso se mostra – entre tantas coisas – pela evolução das leis humanas, da barbárie à civilização. Os homens formulam leis e direitos mutáveis, apropriados a seus costumes e caracteres. Os direitos consagrados na Idade Média, que agora nos parecem monstruosos, pareciam justos naquela época, como por exemplo: execuções em praça pública, torturas em cárceres privados, comércio de escravos. Isso mostra que o direito prescrito pelos homens nem sempre é de acordo com a justiça natural ou divina. Nas épocas de barbárie, são os mais fortes que fazem as leis, e as fazem em próprio benefício. A civilização cria novas necessidades para o homem, e estes, influenciados por suas paixões, por vezes criam direitos e deveres imaginários. À medida que os povos progridem, riscam de seus códigos aquilo que a lei natural rejeita.

As desigualdades sociais existentes entre os sexos situam-se nesse contexto que o sentimento natural repudia. A inferioridade moral da mulher perante o homem em certos países provém do predomínio injusto e cruel e do abuso da força sobre a fraqueza. Entre homens moralmente pouco adiantados, a força faz o direito. Deus a uns deu a força para protegerem os mais fracos, e não para subjugá-los e escravizá-los. A lei natural de igualdade de direitos entre os sexos se reflete no fato de Deus ter dado a ambos a inteligência do bem e do mal, e a capacidade de progredir.

A criação da primeira propaganda contra a violência doméstica na Arábia Saudita é algo que desperta em cada um de nós aquele júbilo natural, por presenciarmos a movimentação das leis de progresso, de igualdade, de justiça, de amor. Congratulamo-nos com as nossas irmãs marias-da-penha de véu e burca, por este marco histórico alcançado. Outros virão.

  • Raphael Vivacqua Carneiro é engenheiro e mestre em informática. É palestrante espírita e dirigente de grupo mediúnico em Vitória, Espírito Santo. É um dos fundadores do Espiritismo.net.