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Uma britânica mãe de três filhos falou à BBC de sua luta para vencer uma fobia até recentemente não reconhecida por médicos: o pavor do parto. Muitas mulheres sentem medo e ansiedade em relação ao parto, especialmente na primeira gravidez. Carlos Miguel Pereira comenta.

  • Data :25/03/2013
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25 de março de 2013

Britânica conta como superou fobia a gravidez e teve três filhos

Uma britânica mãe de três filhos falou à BBC de sua luta para vencer uma fobia até recentemente não reconhecida por médicos: o pavor do parto.

Muitas mulheres sentem medo e ansiedade em relação ao parto, especialmente na primeira gravidez.

Mas para as que sofrem de tocofobia – transtorno psicológico identificado em 2000 pela psiquiatra Kristina Hofberg – esse medo natural se transforma em um pavor irracional e profundo que as leva a evitar o parto.

“Eu sentia um temor incontrolável, como se o parto fosse algo impossível”, disse à BBC Brasil a jornalista Fran Benson. “Eu achava que se tivesse um filho meu corpo iria se partir pela metade e eu morreria”.

Um estudo feito recentemente no Akershus University Hospital da Universidade de Oslo, na Noruega, concluiu que os partos de mulheres que sentem medo de parir são em média 90 minutos mais longos.

Pânico

Quem vê a foto de Benson sorrindo ao lado dos filhos dificilmente imagina o inferno emocional que ela teve de superar para que suas crianças viessem ao mundo.

A jornalista contou que, desde pequena, sentia desconforto na presença de mulheres grávidas e evitava conversas sobre gravidez e partos. Se havia cenas envolvendo gravidez e partos na TV, ficava nervosa e tinha de sair da sala. Também evitava visitar amigas na maternidade.

Seu marido, no entanto, queria ter filhos.

“Evitei a gravidez por um longo tempo”.

Quando finalmente engravidou, Benson teve de confrontar seu medo profundo. Ela disse que sofreu cinco ou seis ataques de pânico.

“O ritmo das minhas batidas cardíacas se acelerava e eu sentia um frio na barriga. Se eu não me retirasse daquela situação, começava a chorar e ficava histérica”.

“Uma vez, no início da gravidez, durante um jantar, minhas amigas começaram a falar de seus partos e dos cortes que sofreram. Pedi que parassem, mas continuaram. Comecei a hiperventilar e chorar”.

Estudo

Um total de 2.206 mulheres participaram do estudo norueguês. Todas pretendiam ter partos normais.

Os especialistas constataram que as que tinham medo de parir passaram, em média, uma hora e 32 minutos a mais em trabalho de parto do que as que não tinham esse medo.

“Encontramos uma relação entre o medo de parir e a duração mais longa do parto”, disse Samantha Salvesen Adams, co-autora do estudo. “De maneira geral, a duração maior do trabalho de parto aumenta os riscos de partos instrumentais (fórceps) e de cesáreas de emergência”.

Ela ressaltou, no entanto, que a grande maioria das participantes que tinham medo do parto conseguiu ter seu filho por parto normal.

Em artigo publicado na revista científica de ginecologia e obstetrícia BJOG, Adams e seus colegas disseram que, de maneira geral, entre 5 e 20% das mulheres grávidas têm medo do parto. (Nem todos esses casos seriam classificados como tocofobia.)

Eles explicam que vários fatores estão associados ao medo de parir. Entre eles, falta de suporte social, histórico de abuso ou de problemas associados ao parto, a pouca idade da mãe, o fato de se tratar de uma primeira gravidez e problemas psicológicos.

E o problema parece estar aumentando, disse Adams.

“O medo do parto parece estar um tema cada vez mais importante em obstetrícia. Nossa descoberta de que partos demoram mais entre mulheres com medo de parir é uma nova peça nesse quebra-cabeças que é uma intersecção entre psicologia e obstetrícia”.

Pesadelo

Fran Benson teve a sorte de conhecer a psiquiatra Kristina Hofberg, do St. George’s Hospital em Stafford, Inglaterra.

Especialista no assunto, Hofberg diagnosticou a tocofobia da paciente na primeira gravidez.

A jornalista começou então a se preparar para o parto utilizando, entre outros recursos, CDs de relaxamento. Baseados em técnicas de hipnose, os CDs, nas palavras dela, tinham o objetivo de “reprogramar seu cérebro”, convencendo-a de que ela era capaz de parir e de que o parto não iria matá-la.

No entanto, após algumas horas na mesa de operações, seu parto se complicou. Terminado o seu turno de trabalho, o primeiro grupo de parteiras - que já conhecia Fran e sabia do seu diagnóstico de tocofobia - foi substituído por um outro grupo.

Benson explicou que antes de entrar em trabalho de parto havia pedido à equipe que acompanhava sua gravidez que evitasse fazer cortes em seu períneo ou o uso de instrumentos (como os utilizados em partos fórceps).

Mas a nova equipe não havia lido o prontuário da paciente e começou a considerar o uso desses recursos. Sem o suporte psicológico necessário, Fran Benson viveu seu pior pesadelo. Ela sofreu uma crise de pânico na mesa de cirurgia.

Agitada e sem controle, começou a gritar, dizendo que preferia morrer e que não se importava com o bebê.

Benson acabou recebendo uma injeção epidural que a anestesiou parcialmente e a equipe teve de usar instrumentos para auxiliar o parto. Seu primeiro filho, Sam, nasceu saudável, mas ela acha que o trauma do parto poderia ter sido evitado.

Conselhos

Ao longo de três gravidezes, Fran Benson aprendeu a lidar com sua fobia.

Ela acha importante que equipes médicas estejam conscientes de que o problema existe. Mas muito pode ser feito pelas próprias mulheres.

Além dos CDs de relaxamento, um bom grupo de apoio é fundamental, ela recomendou.

“Eu sugiro que você se cerque de profissionais com quem se sente confortável”.

Suporte na sala de cirurgia também é essencial - e não apenas por parte da equipe médica.

“Escolha alguém de confiança para te apoiar durante o parto - seu marido, um amigo, alguém que pode ser seu porta-voz se você começar a entrar em pânico”.

Benson também é a favor de partos em casa - especialmente para mulheres que têm fobia de hospitais -, mas reconhece que essa nem sempre é a opção mais adequada.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 2 de agosto de 2012.

Carlos Miguel comenta*

Todos carregamos medos. Uns mais silenciosos outros mais perturbadores, dentro de nós convivem os mais diversos receios sobre ameaças reais ou imaginárias que a concretizarem-se nos provocariam sofrimento. Lembranças conscientes ou inconscientes da dor, sofrimento ou aflição que situações passadas provocaram podem ainda acentuar esses medos dando-lhes uma dimensão fóbica.   O medo é um mecanismo natural do ser humano que permite que ele se defenda de situações de perigo, protege-o da impulsividade e de atos irrefletidos. Ter medo é algo tão normal, que mesmo aqueles que costumamos admirar por sua coragem e valentia o sentem com frequência! No entanto, quando o medo deixa de ser um sentimento que se experimenta e se transforma numa emoção que domina o indivíduo, ele deixa de ser saudável para se transformar num fator de perturbação e de desequilíbrio. Ao deixar que ele condicione a liberdade para agir e escolher, o medo torna-se num pavoroso buraco negro que impede a luz de se exteriorizar, enclausurando a imensa potência de vida que reside em cada um.

Ao percebermos que uma determinada situação irá nos magoar, como não sentir medo da dor? Ao sentirmos que um desatino da vida pode aniquilar os nossos sonhos, tirar-nos quem mais amamos, deixar-nos sem sustento ou arruinar tudo aquilo que construímos, como não sentir medo do sofrimento? Ao expormos as nossas debilidades e limitações diante dos outros, como não sentir medo do ridículo, da vulgaridade e da rejeição? Ao escolher, ao tomar decisões, quando trocamos o certo pelo incerto, como não sentir medo de estarmos enganados? É normal o medo de tudo isso. Mas será saudável fugir da nossa verdade íntima e abdicar de perseguir os nossos sonhos, por medo? Não tentar por medo de não ser capaz, evitar o amor com medo da desilusão, não expor aquilo que sentimos por medo do que os outros vão pensar ou não mudar o que está mal com medo do fracasso? Quando o medo paralisa a ação, rejeitamos sucessivamente os convites da vida, condicionamos a nossa liberdade e limitamos a nossa potência de vida, abdicando do que nos poderia fazer felizes para permanecer numa segurança parecida à que um pássaro sente numa bela gaiola pendurada num alpendre limpo e envernizado.

Na mitologia grega, Phobos, filho de Marte - Deus da guerra - e de Vênus - Deusa do amor -, é personificação do medo desequilibrado. Phobos acompanhava o seu pai nos campos de batalha, mas em vez de lutar e inspirar à confrontação, incitava os combatentes a fugirem. Esta é a característica mais inibidora do medo: Incutindo uma sensação de vulnerabilidade, ele incita à desistência, a voltar atrás, a não enfrentar os riscos que os desafios diários colocam. As mais inofensivas situações tomam uma dimensão desmesurada, paralisando. A cedência ao medo abre um campo fértil à desilusão, promovendo a insegurança, o sentimento de inferioridade e a falta de confiança nas capacidades próprias, tornando essas características predominantes na relação estabelecida com os outros e com a vida.

A Doutrina Espírita, assente num paradigma espiritual que encara a vida como um continuum de oportunidades e experiências que promovem a educação e sublimação do Espírito, não tem a pretensão de erradicar o medo, mas ajudar a vivenciá-lo de forma mais saudável, oferecendo mais e melhores motivações para confrontar e vencer os medos: A fé aliada ao conhecimento e à razão. O principal objetivo da nossa trajetória como Espíritos é a aprendizagem, a evolução, já que dessa evolução depende uma maior aproximação àquilo que chamamos de felicidade. E não existe ambiente mais apropriado à aprendizagem do que esta vida. É uma vida cheia de vicissitudes, incertezas e lições duras que nos oferecem a oportunidade de aprender, mudar e crescer ao longo de toda a jornada. A vida é um processo interminável que nos estimula a desabrochar, desenvolver e prosperar. E é exatamente para isso que aqui estamos. Só que o medo limita a potência de vida que Deus colocou à nossa disposição e faz-nos agir como aquele servo preguiçoso que foi esconder o seu talento na terra com medo que os ladrões o tomassem ou que uma desventura qualquer o levasse para longe de si.

Uma ave presa numa gaiola será mesmo um pássaro? É verdade que mantém a aparência física de uma ave, está mais protegida dos predadores, não sofre as agruras da geada, nem as vicissitudes da escassez, mas sem a liberdade para exprimir a sua essência mais verdadeira ela será mesmo pássaro? Sem saber como procurar alimento ou proteger o seu ninho, impedido de voar por cima das árvores e das flores, depenicar os bagos maduros, cantar pendurado nos ramos de loureiro e beber dos charcos marcados na pedra, que animal será aquele? Assim somos nós quando deixamos que o medo nos prenda na sua gaiola. Com o passar dos dias, vem o desânimo. Começa a fazer-se sentir uma defasagem entre o que se vive e o que poderia ser vivido, entre o que somos e a nossa potência de vida. A tristeza e a angústia vão se instalando, vindas não se sabe de onde, e a depressão pode tornar-se uma realidade dolorosa. Isto porque não ousamos ir mais além, sufocando a essência que em nós aspira à transcendência e superação. Essa superação só pode ser conseguida no confronto com os nossos limites, pelo esforço de superação dos desafios que produzirá em nós, experiência, conhecimento e crescimento.

Enfrentar o medo é um salto de fé. Fé em nós próprios e no amor supremo que sustém o Universo. Fran Benson é uma heroína porque, apesar da sua fobia, não permitiu que essa enorme limitação a impedisse de concretizar o seu sonho de ser mãe, por três vezes.

  • Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.