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  • Filme mostra a rotina de médicos que fazem abortos tardios nos EUA

Os 4 médicos são o tema de um novo documentário que narra seu cotidiano de trabalho. Durante o festival de cinema de Sundance esse foi o único filme cuja primeira exibição contou com segurança armada e detectores de metais. Nara de Campos Coelho comenta.

  • Data :22/02/2013
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23 de fevereiro de 2013

Filme mostra a rotina arriscada de médicos que fazem abortos tardios nos EUA

Apenas quatro médicos fazem abortos tardios nos Estados Unidos. Eles são o tema de um novo documentário que narra seu cotidiano de trabalho.

Durante o festival de cinema de Sundance, na semana passada, esse foi o único filme cuja primeira exibição contou com segurança armada e detectores de metais.

O aparato não visava proteger celebridades e as jóias usadas por elas em eventos do gênero.

A proteção era para LeRoy Carhart, Warren Hern, Susan Robinson e Shelley Sella. Eles são os quatro médicos cujas vidas são retratadas no documentário After Tiller (Depois de Tiller, em tradução literal), de Lana Wilson e Martha Shane.

Assassinato

George Tiller, um dos mais proeminentes médicos especializados em abortos nos Estados Unidos, foi assassinado em 2009 em uma igreja no Kansas, enquanto rezava com a família.

A cineasta Wilson se viu confundida pela ironia - de um homem ser morto dentro de uma igreja por um fanático religioso.

“Eu me perguntei quem havia sobrado para fazer abortos aos nove meses, que era sua especialidade”, disse.

Antes de sua morte, Tiller treinou os quatro médicos.

Eles estão agora espalhados pelos Estados Unidos. Carhart, de 71 anos, em Maryland, Hern, de 74, no Colorado, e Robinson e Sella, ambos de 60 anos, trabalham na mesma clínica em Albuquerque, Novo México.

Sella e Robinson só se convenceram a participar do documentário após um ano. Já Carhart e Hern concordaram rapidamente.

“Eu sempre fui da opinião de que não importa o que as pessoas ouçam, se nos querem mortos, nos matarão de qualquer jeito”, disse Carhart.

Para Hern, o filme é uma chance de educar o público sobre seu trabalho.

O filme chega às telas no 40º aniversário do julgamento do caso que ficou conhecido nos EUA como Roe Vs. Wade – ocasião em que a Suprema Corte americana estabeleceu o direito de abortar no país.

Prática reprovada

Uma pesquisa recente das redes NBC e WSJ revelou que a maioria dos americanos são favoráveis a alguma forma de aborto legalizado. Contudo, abortos realizados no final da gestação – que segundo especialistas representam apenas 1% dos casos – ainda são reprovados por uma maioria esmagadora das pessoas.

Uma pesquisa do Instituto Gallup realizada em 2011 mostrou que a maioria dos pesquisados – tantos dos favoráveis quanto dos contrários ao aborto – acredita que tais procedimentos deveriam ser considerao ilegais.

Apesar do aborto ser um dos temas mais polêmicos dos EUA, o documentário tentou apresentar o trabalho desses médicos, sem inseri-lo em um contexto político.

Shane, co-diretora da obra, disse que o objetivo de sua equipe era tratar o tema de uma forma honesta e mostrar que o assunto é muito mais complexo do que a forma como é retratado nos discursos tanto de defensores como detratores.

O filme retrata as histórias de vários casais que procuram a solução do aborto para casos de anomalia fetal. Eles realizam exames nos últimos períodos da gravidez e descobrem que seus filhos não terão chances de sobreviver muitos dias fora do útero.

Os médicos dizem que essa é a maior causa de abortos tardios.

Outros casos abordados no documentário são de uma adolescente estuprada, uma mulher que diz que não poderia sustentar outro filho e de uma garota de 14 anos que ameaça cometer suicídio.

“O meu respeito para os médicos aumentou dez vezes, mas isso não é devido ao fato de que eles estão arriscando suas vidas”, diz Shane.

“Eles estão ajudando as mulheres com uma das coisas mais difíceis que você jamais vai passar”, afirma.

“O trabalho que estão fazendo é muito mais complexo emocionalmente do que qualquer um pode imaginar”.

Robinson afirmou que seu trabalho é uma luta. “Nós já nos recusamos a atender muitas mulheres que queriam abortos, mas também realizamos muitos procedimentos com o coração pesado”, disse.

“Mas, de modo geral, se uma mulher vem depois de viajar por quilômetros e enfrentar os manifestantes, então eu sei que ela está comprometida com seus desejos”.

Ameaças e agressões

O documentário revela ainda as ameaças e agressões praticadas por ativistas contrários ao aborto contra esses médicos. Os criminosos teriam queimado um estábulo e matado 21 cavalos de Carhart, e ameaçado a mãe de Hern, de 90 anos de idade. Além disso, os quatro médicos já receberam ameaças de morte.

E diariamente, eles se deparam com uma barreira de manifestantes esperando por eles no trabalho. E eles permanecem irredutíveis.

“Se não formos nós, quem irá fazê-lo?”, pergunta Carhart. “Eu faria tudo novamente, se tivesse a escolha, apesar de tudo que já me aconteceu.”

“No final das contas, é uma questão de saúde. Estamos prestando um serviço às mulheres.”

Quando estes médicos se forem, não se sabe quem irá fornecer estes cuidados às mulheres e se este serviço ainda estará disponível.

A clínica de Albuquerque está treinando um novo médico, mas 8 Estados americanos já promoveram emendas em suas legislações a fim de proibir o aborto após 20 semanas de gravidez.

After Tiller foi aplaudido de pé durante sua exibição, mas sites de grupos antiaborto e blogs condenaram-no por glorificar o aborto e médicos que realizam-nos.

O documentário está sendo vendido pelos seus realizadores, com vistas a um lançamento no cinema.

Enquanto isso, os médicos estão voltando ao trabalho.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 2 de fevereiro de 2013.

Nara de Campos Coelho comenta*

A questão do aborto provocado alastra-se pelas décadas, dividindo as opiniões e causando estresse social, pois o número de materialistas que lhe são favoráveis cresce a cada ano e os que o repudiam assumem, cada vez mais, a atitude de donos da verdade, embora fazendo uso de violência, o que é incompatível com a serenidade e a sabedoria do justo.

O documentário que fala sobre os quatro médicos americanos que fazem abortos em gravidezes avançadas e que foi aplaudido de pé no Festival de Cinema de Sundance, mostra bem este desencontro de opiniões, pois seus protagonistas estão também sofrendo agressões, por onde passam.

Com o Espiritismo, sabemos que não somos julgadores de ninguém, seguindo o pensamento de Jesus que nos ensina: “Não julgueis!” Eis que cada pessoa tem a sua forma de ver a vida e não podemos agredi-la pelo simples fato de pensarem diferente de nós mesmos. É um paradoxo combater uma ideia nociva com atos de violência.

Os médicos em questão alegam prestar socorro às mulheres que querem fazer o aborto tardio, muitas vezes aos nove meses de gestação, porque terão filhos doentes que não viverão após o parto ou porque foram estupradas ou porque não têm condições financeiras para criá-los e muitas outras razões parecidas. As cineastas, ao seu tempo, comentam a sua profunda admiração pelo trabalho deles, porque ainda que xingados, ameaçados de morte e sofrendo outros atos de violência, realizam um bem social que deveria credenciá-los à admiração pública.

Com Kardec, aprendemos que somos Espíritos em evolução, retornando ao planeta tantas vezes quantas forem necessárias para que o aprimoramento integral se efetive. Somos Espíritos que precisamos do novo corpo físico que nos é dado pelos nossos pais. O nosso corpo é uma herança genética submetida às leis divinas; nossos Espíritos são herança de Deus. Assim, o Pai nos delega o direito e o dever de cuidar de um filho Dele, para que, por meio da vida física, ele progrida e alcance, ao longo das vidas sucessivas, a iluminação interior. Quando interferimos neste processo, frustramos esta sublime perspectiva. E o pior: estamos nos tornando autores de um crime hediondo, pois a vítima não tem como se defender. Pensa que está acolhida pelo ninho materno, mas é ali, autorizado por quem deveria protegê-lo, que terá seu corpinho destruído, impedindo-o de reiniciar o curso de aperfeiçoamento que a vida na Terra lhe ofereceria e que já fora programado na Espiritualidade. É uma suprema traição! Podemos imaginar a dor deste Espírito, que, muitas vezes dominado por imensa revolta, torna-se algoz daquela que lhe seria mãe, como desencarnado ou mesmo como o reencarnado que lhe tira a paz, servindo-lhe de “espinho na carne”.

Aquele Espírito teria um corpo doente e logo desencarnaria? Quem disse que isto nos autoriza a barbárie de roubar-lhe o direito a tal experiência? Eis que, segundo as leis de Amor, esta seria uma necessidade evolutiva dele e dos pais, bem como de todos que sofreriam com esta situação. Agora, todos os envolvidos no aborto delituoso, serão submetidos a novas dores, pois ninguém escapa da Lei de Causa e Efeito: “A cada um segundo as suas obras”, nos ensinou Jesus.

Observando este panorama com olhos de espíritas, sentimos a confortadora certeza de que Deus nunca erra. Assim, se a gravidez é fruto de um estupro, algum resgate existe para aquela mãe que, ao deixar o filho nascer, há-de superar as mazelas do passado que originaram esta dor. Matar o feto, baseado na violência que existiu, só adiará a prova que será, ainda, aumentada. Por isto, Pedro, o apóstolo de Jesus nos ensinou que “o amor cobre a multidão de pecados.”

As razões materiais tal como a falta de dinheiro, não podem autorizar o aborto para quem sabe das Leis de Amor ensinadas pelo Cristo, pois nada é maior do que o milagre da vida que se agita no ventre materno, deixando por secundário os anseios de realização na vida material.

O Espírita sabe que o progresso é individual. Por isto, Jesus veio há mais de dois mil anos, ensinar-nos a ciência do bem viver e aguarda, pacientemente, que aprendamos e exercitemos suas lições. Façamos, pois, a nossa parte, agindo segundo aquilo que o Mestre nos aconselhou e contagiemos o nosso próximo com nossas ações e opções. E todos, um dia, saberemos da própria responsabilidade quanto às leis da vida, porque a dor não nos dará tréguas até que se cumpra a promessa de Jesus, quando disse: ”Nenhuma de minhas ovelhas se perderá!”

  • Nara de Campos Coelho, mineira de Juiz de Fora, formada em Direito pela Faculdade de Direito da UFJF, é expositora espírita nos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, articulista em vários jornais, revistas e sites de diversas regiões do país.