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Promotores da região de Yaroslavl, no centro da Rússia, informaram que uma mulher, mãe de cinco filhos, manteve o corpo do marido morto em seu apartamento por quase três anos após a morte dele, informa a rede de notícias americana CBS. Breno Henrique de Sousa comenta.

  • Data :31 Dec, 2012
  • Categoria :

4 de janeiro de 2013

Russa guarda corpo do marido por 3 anos à espera de ressurreição

Autoridades russas informaram que uma mulher manteve o corpo do marido morto em seu apartamento por quase três anos após a morte dele, informa a rede de notícias americana CBS .

Promotores da região de Yaroslavl, no centro da Rússia, descreveram a mulher, mãe de cinco filho, como uma devota cristã pentecostal com históricos psiquiátricos que ficou tão perturbada com a morte do marido, de causas naturais em 2009, que acreditou que o corpo estava “destinado a ressuscitar”.

Uma investigação foi aberta após o corpo ser encontrado dentro de um saco plástico dentro do lixo em julho deste ano, após a família se desfazer do corpo. Os promotores disseram na segunda-feira que, anteriormente, a mulher mantinha o corpo em uma cama e pedia para que seus filhos conversassem com ele e o alimentassem.

A decisão de descartar o corpo teria sido tomada por dois filhos quando a família se mudou de apartamento.

Terra

Notícia publicada no Portal Terra , em 20 de novembro de 2012.

Breno Henrique de Sousa comenta*

Voltar à vida

Pelo menos dois aspectos desse fato nos servem como reflexões úteis e vou me concentrar brevemente sobre os mesmos.

O primeiro é o de que se trata de um caso que envolve uma senhora com antecedentes psiquiátricos. Independentemente da sua denominação religiosa, o fato de encontrar-se nessa condição explica a reação absurda de manter em casa o cadáver do seu marido. Não sei como ela conservou o cadáver, se usou alguma técnica de embalsamamento ou se o corpo se decompôs. De qualquer forma, é uma situação surreal, algo mesmo tétrico.

Apesar de não estar na plenitude de suas faculdades mentais, a senhora não parecia completamente inapta, pois teve habilidade para armar essa trama e sustentar essa fantasia para aliviar o sofrimento da perda. É uma fuga da realidade para negar a morte, que no caso de uma paciente psiquiátrica, toma as proporções do bizarro.

Outro aspecto é o de que tal fato não pareceria absurdo em determinados povos e épocas, como no Egito, quando embalsamavam-se os corpos porque acreditava-se que eles voltariam à vida. Ou seja, guardados certos princípios éticos universais, como não fazer ao próximo o que não gostaríamos que fizessem a nós mesmos, algumas atitudes só podem ser julgadas dentro do ponto de vista da cultura local. Alguns costumes de algumas civilizações parecem mesmo loucura quando confrontados com a nossa realidade. Porém, no caso dessa senhora, nem se trata de um costume cultural, além de ela apresentar antecedentes psiquiátricos.

Quanto ao fato de pertencer a uma religião neopentecostal, e, de fato, muito segmentos acreditarem na volta a vida ao próprio corpo, desconheço qualquer segmento que recomende esse tipo de atitude. Mesmo para quem acredita na volta à vida no mesmo corpo, para esses isso se dará através de um corpo regenerado, glorificado ou ressurgido da terra.

É interessante que a intuição pela volta à vida é algo tão antigo quanto a própria humanidade. Já falamos dos egípcios, mas todos os povos tinham suas maneiras de acreditar na volta à vida. Uns acreditavam apenas na ressurreição do corpo, depois veio a ideia da existência do espírito. A época de Jesus acreditava-se que podíamos voltar vida, mas não se sabia ao certo como. Voltaríamos no mesmo corpo? Em um corpo diferente? Como se daria esse resurgimento, renascimento, ou ressurreição?

Nicodemos buscou a Jesus para perguntar sobre o assunto e saiu com mais dúvidas do que quando chegou. (João, 3: 1 a 13.) Jesus sabia que ainda não era o momento e guardou para a posteridade os seus ensinamentos na forma de parábolas. Ainda não existia a palavra reencarnação, mas isso é o mesmo que ressuscitar em um corpo diferente, e nisso acreditavam muitos judeus da época. Isso fica claro quando Jesus pergunta aos apóstolos: "– No dizer do povo, quem é o filho do homem? Ao que respondem. – Uns dizem que é o João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas." (Mateus, 16: 13 e 14.) Mas de que maneira ele poderia ser Jeremias ou um dos profetas? Eles teriam voltado? Voltado como? De onde? Como seria Elias se ele já estava morto e todos sabiam que Jesus era filho de Maria e José? De que outra maneira senão pela reencarnação, que era crença comum na época, mas que ainda não estava consolidada nem esclarecida?

A seu tempo, o Espiritismo veio lançar luzes sobre os ensinamentos velados do Cristo e falar abertamente sobre a reencarnação e que  ressurreição é apenas a compreensão inicial desse conceito. Não voltamos a viver no mesmo corpo, isso seria contra as leis da natureza, mas voltamos à vida em um novo corpo, regenerado pela matéria, a fim de seguirmos nossa trajetória de crescimento e evolução.

  • Breno Henrique de Sousa é paraibano de João Pessoa, graduado em Ciências Agrárias e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba. Ambientalista e militante do movimento espírita paraibano há mais de 10 anos, sendo articulista e expositor.