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No dia posterior ao aniversário de 5 anos de seu filho Kyle, Lori Coble saiu em sua minivan com seus filhos: Kyle, 4 anos, Emma e Katie, 2 anos, e sua mãe, Cindy. Na rodovia, de volta para casa, o carro em que estavam se envolveu em um sério acidente. Cristiano Carvalho Assis comenta.

  • Data :30/12/2012
  • Categoria :

31 de dezembro de 2012

A tragédia e o milagre da família Coble

No dia posterior ao aniversário de 5 anos de seu filho Kyle, Lori Coble saiu em sua minivan com seus filhos: Kyle, 4 anos, Emma e Katie, 2 anos, e sua mãe, Cindy. A família foi para um centro comercial onde havia uma roda gigante, na qual Kyle gostava de andar, e a uma loja de animais de estimação. Como a hora de tirar uma soneca se aproximava, os Cobles voltaram para a minivan e foram para casa. Lori bateu em uma linha de recuo do tráfego ao tentar sair da rodovia. Quando parou, deu a volta no carro e pegou Katie que começava a adormecer e fez cócegas em seus dedos dos pés.

Nesse momento, um grande veículo com 40 mil libras de carga indo a 55 milhas por hora, bateu na traseira da minivan de Lori e a destruiu. Lori ficou inconsciente e as crianças gravemente feridas. O choque foi muito violento. Os funcionários da emergência médica tiveram que separar a família. Mandaram Cindy e Lori para um hospital, Kyle e Katie para outro e Emma para um terceiro.

Chris, esposo de Lori e pai das crianças, estava no trabalho quando as autoridades o avisaram do acidente. Ele correu para o hospital para onde Cindy e Lori tinham sido levadas. Quando chegou lá, foi levado a um pequeno quarto perto da sala de emergência. “O médico me disse: ‘Sinto muito, mas Katie faleceu.’ Alguns minutos se passaram e eles me disseram que havia uma ligação do hospital Saddleback. Atendi ao telefonema e a primeira coisa que disse foi: ‘Por favor, me diga que a Emma está viva.’ E ele me disse: ‘Sinto muito, mas Emma faleceu.’ Deixei cair o telefone, pois não podia acreditar que aquilo estivesse acontecendo.”

Chris contou a Lori que as duas meninas tinham morrido e correu para o hospital para onde Kyle tinha ido. Apesar dos olhos abertos de Kyle darem esperança a Chris, os médicos lhe contaram a verdade. O cérebro de Kyle não estava recebendo oxigenação. E recomendaram tirar Kyle dos aparelhos.

Lori foi transportada para o hospital de Kyle para que ela e Chris pudessem dizer adeus a Kyle juntos. “Ela subiu na cadeira de rodas o mais rápido que pode para abraçar Kyle e dizer: ‘Ele tem que ir e ficar com suas irmãs agora. Suas irmãs o esperam’, disse Chris. Nós desligamos os aparelhos. As máquinas e a sala se tornaram escuras. Mantive minha mão no seu peito até o coração dele parar de bater. E ele se foi.”

Lori e Chris disseram que a tragédia se tornou realidade para eles quando tiveram que planejar o funeral e o enterro de Kyle, Emma e Katie. “No dia anterior ao funeral, nós fizemos uma última observação. Tínhamos que ver as crianças uma última vez, diz Lori. “Eles abriram as portas e no fundo da sala havia apenas três caixões em um semicírculo.”

No funeral, Lori e Chris reuniram forças para falar sobre a vida de seus filhos. Chris disse: “Era muito importante para mim e para Lori fazermos isso. Uma das teorias subjacente à perda de entes queridos é enfrentar as coisas difíceis. Nessa situação, você não pode só se sentar de braços cruzados e deixar isso o consumir. Você tem que encarar a culpa e passar pela dor.”

Lori e Chris disseram que o luto deles avançara em velocidades diferentes. “Ela estava há duas semanas na minha frente”, disse Chris. “Eu meio que a usava como termômetro para saber onde estaria em duas semanas no processo de luto.”

Embora os estágios de luto não seguissem necessariamente essa exata ordem – negação, raiva, negociação, depressão e aceitação – Chris diz que se espelhou em Lori. “Em uma manhã, eu passei da negação para a raiva e para o luto. Era tão óbvio para mim que eu estava nesse estágio. Lori tinha estado lá por algumas semanas e eu estava vendo que ela estava passando pela experiência e de repente eu estava me sentindo da mesma forma.”

Conforme eles passavam pela experiência do luto, Lori e Chris fizeram um pacto um com o outro de não cometer o suicídio - para se manterem vivos um para o outro. “Nós prometemos não deixar o outro sozinho”, Chris comentou. “De alguma forma queríamos estar com as crianças e acabar com o sentimento de luto contínuo. Poderíamos facilmente considerar tirar nossas próprias vidas porque talvez fosse melhor, já que os veríamos novamente”, Chris acrescentou. “Mas ao mesmo tempo, nós estaríamos deixando a outra pessoa.”

Onde havia um lar animado e feliz, Chris e Lori agora encontravam silêncio ensurdecedor e solidão. “Há milhares de crianças na nossa rua, e elas estão sempre brincando lá”, Lori continua. “Nós tivemos que fechar nossas janelas. Tivemos que ir para a parte de trás da casa para não ter que ouvir as risadas. Nós viajamos no Halloween para que não tivéssemos que ouvir as crianças vindo e batendo à porta.”

A mãe de Lori, Cindy, falou que estava extremamente preocupada com sua filha e com seu genro depois da morte de seus filhos, completando: “Um dia fui para a casa deles porque ela não estava atendendo ao telefone e comecei a pensar: ‘Pode ser que eles acabem se machucando, pois eu sei o quanto sofri com a perda dos meus netos’”.

Chris e Lori não estavam em casa quando Cindy chegou lá. Ela também não viu o carro deles. “É claro que minha cabeça foi longe: ‘O que eles poderiam estar fazendo no carro?’ E foi então que Lori ligou.” Ela e Chris tinham saído juntos, mas Cindy diz que ainda estava histérica até o momento em que falou com sua filha, que teve que acalmá-la. “O normal seria eu consolá-la. Mas naquele momento eles é que me consolaram. Mas eu estava realmente receosa por eles.”

Cindy tinha dois filhos homens, ambos mais velhos que Lori, e comentava com eles que temia o que Chris e Lori poderiam fazer. “Meus filhos estavam em contato com eles todo o tempo, e todos nós tentávamos apoiá-los da melhor maneira que podíamos”, ela diz.

Três meses depois do acidente, Chris e Lori decidiram tentar ter outros filhos. Chris diz: “Nós sempre nos descrevíamos até aquele ponto como ‘pais sem filhos’. Quando se tem três filhos tão novos quanto os nossos, toda a nossa vida é dedicada a eles e você ama fazer isso.”

Por razões médicas, os Cobles tentaram fertilização in vitro. Na primeira tentativa, eles começaram com 10 ovos. Três foram fertilizados com sucesso – duas meninas e um menino. Nós estávamos indo colocar de volta somente dois, mas percebemos que eram duas meninas e um menino e nós tomamos isso como um sinal lá de cima, Lori diz.

Quase exatamente um ano após a morte de Kyle, Emma e Katie, Lori deu a luz aos trigêmeos Ashley, Ellie e Jake!

Ao mesmo tempo em que o nascimento de Ashley, Ellie and Jake era um milagre, Lori e Chris ainda sofriam pela perda dos filhos. “Eles nunca tomarão o lugar de Kyle, Emma e Katie, diz Lori. Mas a alegria estava de volta à nossa casa. Estava de volta aos nosssos corações. Eles encheram novamente nossa vida de amor, felicidade e sorrisos.”

Os trigêmeos já sabem sobre seus irmãos porque ainda há fotos nas paredes e frequentemente Lori e Chris falam sobre eles. Lori diz: “Eles sabem que têm duas irmãs e um irmão no céu. E nós vamos ao cemitério e fazemos piqueniques.”

Jorge Romero, o homem que dirigia o caminhão que batera na minivan de Lori, foi condenado em três indiciações de homicídio culposo veicular e foi sentenciado a um ano de prisão. Ele é um pai de três filhos que contaram que ele era suicida. Lori e Chris encontraram Romero no julgamento e disseram que o perdoariam. “O Senhor Romero era verdadeiramente uma pessoa muito gentil e de bom coração”, diz Chris. “Ao contar essa história você pode se arriscar a difamar alguém imediatamente, mas há uma pessoa atrás do volante, e enquanto eles partilhavam alguma culpa na tragédia, ele se sentia completamente horrível.”

Lori diz que poderia ter sido qualquer um na direção daquele carro e que o acidente foi causado primeiramente pela localização do seu carro em um intenso engarrafamento. “Eu estava presa no tráfego em uma estrada esperando para sair há cerca de meia milha atrás na estrada, basicamente em um estacionamento de carros. Há uma curva cega surgindo daquela saída e eu estava muito atrás naquela curva cega, que ele não me viu. No momento em que ele viu o trânsito, era tarde demais.”

Chris diz que a rodovia onde aconteceu o acidente tinha sido uma área problemática por uma década. Os Cobles processaram o Departamento de Transporte da Califórnia por morte criminosa, alegando que aquela era uma saída perigosa de uma rodovia. Eles perderam aquele caso e então foram convidados a pagar US$ 291 mil em honorários legais, mas eles disseram que iriam apelar. “Tão logo a maioria das pessoas ouviu a palavra ‘ação judicial’ eles achavam que nós estávamos querendo de alguma forma conseguir dinheiro com essa experiência”, Chris disse. “Nós queríamos que o Departamento de Transporte da Califórnia mudasse seus procedimentos para que eles mantivessem suas estradas sem perigo.”

Chris encorajou as pessoas vasculhando os piores dias da vida deles para não desistirem da luta, para irem em frente, mesmo que as coisas parecessem insuportáveis. Ele disse: “Para mim o luto era como um balde que estivesse se enchendo e de vez em quando o balde tinha que ser esvaziado. O balde esvaziando seria você perdendo o controle e se tornando uma bagunça completa por algum período de tempo. E então tentando se apanhar recuando.”

Para Lori, encontrar apoio das pessoas queridas é o único jeito de sobreviver à dor da perda de entes queridos. Ela diz: “Encontre força em seus amados. Abrace-os bem forte porque você vai precisar deles.”

Traduzido por Tereza Josefina Costa Mazucanti Revisado por Thais Mazucanti

Publicado na página de The Oprah Winfrey Show , em 25 de outubro de 2010.

Cristiano Carvalho Assis comenta*

Falar de momentos de dor como o que esta família passou é difícil e delicado. Qualquer palavra mal colocada poderá ser interpretada como frieza ou ilusão de alguém que não passou por um caso tão intenso e de dor como o deles.

Durante a leitura da reportagem, vivemos sentimentos controversos e intensos em cada parte dos acontecimentos. Mais ou menos como acontece conosco quando passamos pelos nossos desafios morais. Como desejamos intimamente no decorrer da leitura que as crianças tenham escapado de uma forma milagrosa, um erro qualquer na identificação ou um ressuscitar súbito. Como é frustrante para nós quando vemos que realmente morreram. Condoídos e na dúvida de por que Deus e os Espíritos Superiores não as fizeram escapar.

Nestes acontecimentos, devido à nossa forma de pensar limitada e apressada, por vezes dizemos: “Por que sofrem uns mais do que outros? (…) o que ainda menos se compreende é que os bens e os males sejam tão desigualmente repartidos entre o vício e a virtude; e que os homens virtuosos sofram, ao lado dos maus que prosperam. A fé no futuro pode consolar e infundir paciência, mas não explica essas anomalias, que parecem desmentir a justiça de Deus.” (O Evangelho segundo o Espiritismo , Capítulo V.)

Este é o nosso maior desafio, passar pelas dores e perdas sem revolta ou desistência de viver. Sentir a dor da separação e compreender a bondade de Deus mesmo nessas horas. Conseguir entender que, muitas vezes, mesmo com muita prece e fé, o melhor caminho, espiritualmente falando, é a morte, a dor, um acidente que nos deixa sequelas permanentes, não conseguir algumas realizações na vida e muitas outras aflições. Agradeçamos o nosso maior talento dado por Deus chamado Espiritismo. Como ele podemos explicar tão bem aos nossos olhos de homens de pouca fé a “controversa” Justiça Divina.

A morte prematura de entes queridos tão jovens é um dos assuntos que tocam fundo a todos. Não poderíamos deixar de buscar o texto “Perda de pessoas amadas. mortes prematuras”, de O Evangelho Segundo Espiritismo : “Quando a morte ceifa nas vossas famílias, arrebatando, sem restrições, os mais moços antes dos velhos, costumais dizer: Deus não é justo, pois sacrifica um que está forte e tem grande futuro e conserva os que já viveram longos anos cheios de decepções; pois leva os que são úteis e deixa os que para nada mais servem; pois despedaça o coração de uma mãe, privando-a da inocente criatura que era toda a sua alegria. Humanos, é nesse ponto que precisais elevar-vos acima do terra-a-terra da vida, para compreenderdes que o bem, muitas vezes, está onde julgais ver o mal, a sábia previdência onde pensais divisar a cega fatalidade do destino. Por que haveis de avaliar a justiça divina pela vossa? Podeis supor que o Senhor dos mundos se aplique, por mero capricho, a vos infligir penas cruéis? Nada se faz sem um fim inteligente e, seja o que for que aconteça, tudo tem a sua razão de ser.”

Sem dúvida, todos nós espíritas sabemos que “de duas espécies são as vicissitudes da vida, ou, se o preferirem, promanam de duas fontes bem diferentes, que importa distinguir. Umas têm sua causa na vida presente; outras, fora desta vida.” Mas todo esse conhecimento só terá valor se compreendido e sentido em sua profundidade, estando gravado nos nossos corações e sentimentos. Caso contrário, se estiver apenas no nosso conhecer, provavelmente esqueceremos de tudo e não nos diferenciaremos muito dos que não possuem qualquer tipo desses conhecimentos.

Fatos como esses da reportagem mostram realmente quem somos intimamente e o quanto dos nossos conhecimentos intelectuais estão gravados e sentidos profundamente nos nossos corações, sentimentos e emoções. Quantas vezes incontáveis os acontecimentos da vida nos fazem esquecer completamente os melhores estudos e meditações! Quantas dores ou contrariedades nos fazem perder o equilíbrio ou nos fazem errar novamente! Como é difícil, mesmo sabendo que existe uma vida futura, passarmos pela perda frustrante de nossos amores! Como seria bom se o que temos fosse um atestado de sermos! Temos conhecimento, através de livros, internet e as mais variadas formas de buscar o aprendizado da Doutrina Espírita e dos Ensinamentos de Jesus, mas ainda não somos estes conhecimentos.

Para nós, o maior milagre apresentado pela reportagem não é necessariamente o que Deus proporcionou de dádiva, através do nascimento dos outros 3 filhos, mas a capacidade de superação íntima dos pais pelo que passaram. Não é qualquer um que tem sucesso em provas tão amargas quanto essa. A maioria de nós, quando vêm as aflições deste tipo, escolhe ir para processos permanentes de depressão, revolta ou desistência da vida. E eles escolheram o melhor caminho, o de seguir a vida para novos desafios e novas realizações.

Não procuramos a ilusão de achar que o bom sofrer é aquele que não chora pelas perdas, não sente tristezas nas dores ou que não sente nada nas contrariedades. Os que acreditam nisso estão em busca de robôs, psicopatas ou no mínimo dos que não amam. Todos nós que amamos choramos nossas perdas, desejamos ao nosso lado aqueles que a morte levou, sentimos uma facada na alma quando lembramos dos que se foram. Mas precisamos aceitar e sairmos vitoriosos, como o casal, superando as perdas terríveis que temos.

Todo o conhecimento que a Doutrina Espírita e Jesus vieram nos trazer foi para que desenvolvamos o mais rápido possível em nossa alma, nos nossos pensamentos, sentimentos e emoções a confiança irrestrita em Deus e a certeza que teremos uma vida futura. Mesmo que as situações mais terríveis venham nos tirar dos nossos portos seguros, teremos forças e não desistiremos nas nossas provas mais difíceis.

Busquemos a todo instante lembrar nosso Mestre Maior Jesus a nos dizer: “Bem aventurados os aflitos que serão consolados.” Não porque devemos ter uma fé cega, mas por ter a certeza de que tudo que nos acontece, sem exceção, Deus sabe. E se permite é porque é o melhor caminho para o nosso crescimento espiritual e a nossa felicidade futura.

  • Cristiano Carvalho Assis é formado em Odontologia. Nasceu em Brasília/DF e reside atualmente em São Luís/MA. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Maranhense e colaborador do Serviço de Atendimento Fraterno do Espiritismo.net.