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  • Inglês sofre ao internar a mulher, diagnosticada com Alzheimer aos 39 anos

O inglês Steve Boryszczuk cumpre como poucos os votos feitos na hora do casamento. Sua mulher, Michelle, foi diagnosticada com Mal de Alzheimer aos 39 anos, sendo uma das pessoas mais jovens do Reino Unido a enfrentar a doença. Reinaldo Monteiro Macedo comenta.

  • Data :10/10/2012
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16 de outubro de 2012

Inglês sofre ao internar a mulher, diagnosticada com Alzheimer aos 39 anos, mas encontra ‘diário secreto’ e descobre que fez a vontade da amada

Expresso

“Na saúde e na doença”. O inglês Steve Boryszczuk cumpre como poucos os votos feitos na hora do casamento. Sua mulher, Michelle, foi diagnosticada com Mal de Alzheimer aos 39 anos, sendo uma das pessoas mais jovens do Reino Unido a enfrentar a doença. Alguns anos depois, logo após encarar a difícil decisão de interná-la ou não numa casa especializada, Steve encontrou orientações da esposa sobre como a família deveria lidar com o seu problema, e descobriu, por acaso, ter feito todas as vontades dela. As informações são do “Daily Mail”.

Hoje com 43 anos, Michelle Boryszczuk soube aos 28 que trazia o mesmo gene que causara o Alzheimer em seu pai, morto pela doença aos 46 anos. A partir de então, e por oito anos a fio, a britânica passou a manter uma espécie de diário secreto, onde escrevia sobre o mal que, fatalmente, viria a atingi-la mais tarde. Quando os sintomas começaram a aparecer, Steve chegou a abandonar o emprego como caminhoneiro para se dedicar exclusivamente a cuidar da mulher, e continuou a fazê-lo por quatro anos. Em novembro de 2011, no entanto, ela passou a ficar mais agressiva, obrigando o marido a refletir se deveria ou não transferi-la para outro local.

Michelle acabou sendo levada para uma instituição localizada em Louth, no condado de Lincolnshire. Com a casa vazia, Steve, de 47 anos, encontrou vários blocos preenchidos pela letra da esposa. O britânico até sabia que sua mulher havia estudado a fundo o Mal de Alzheimer, mas não que ela havia colocado tanta coisa no papel. A surpresa maior, contudo, veio ao ler de cabo a rabo todas as anotações.

Numa nota, intitulada “Depois do diagnóstico”, Michelle havia afirmado: “Eu não quero mudar de casa. Isso é muito ruim para uma pessoa com Alzheimer, muito desorientador, e pode causar uma grave deterioração no doente, pois os transporta para um ambiente com o qual eles não estão familiarizados”. Em outro trecho, contudo, a inglesa dava uma orientação clara: “Nos estágios mais avançados, eu gostaria de estar em uma unidade especializada ou num asilo”. Ou seja, tudo de acordo com as decisões tomadas por Steve.

  • É um conforto saber que eu pude dar a Michelle o que ela queria, agora que ela já não pode me dizer por si só - disse o britânico, emocionado: - Depois que ela se mudou, eu sentei para ler todas as suas anotações e chorei. Ela tinha muito medo de ver a doença se manifestar após a morte do pai… Michelle ficou desesperada para encontrar tudo o que podia sobre esta condição e sobre como isso a afetaria.

No “diário”, Michelle também tentou enumerar alguns exercícios e métodos para retardar o desenvolvimento do Alzheimer. Sob o nome “Memória, os princípios e técnicas", ela escreveu: “Diga em voz alta onde você está pondo cada coisa. Existe uma razão para a qual você está colocando aquilo em um determinado local, e dizê-lo alto ajuda a corrigir isso em sua memória”. Outra parte: “Coloque um gancho especial para chaves ao lado da porta e as pendure assim que você chegar em casa”.

Steve e Michelle estão casados há 27 anos e têm dois filhos: Richard, de 26, e Graham, de 24. Tanto o pai quanto os jovens visitam a Sra. Boryszczuk quase todos os dias - o marido, na verdade, ainda passa horas ao lado dela diariamente. Os rapazes decidiram não fazer o teste genético que confirmaria ou não a suscetibilidade de ambos ao Alzheimer.

  • Eu perdi Michelle há três anos. É difícil ver a pessoa que você ama se perdendo deste jeito e não poder fazer nada para impedir. Pensei que iria envelhecer ao lado dela, e que contaria aos nossos netos a história de como nos conhecemos, mas isso não vai acontecer. Tenho muitas saudades da minha esposa, mas preciso aceitar que ela se foi. Passo todos os dias com ela, mas não é o mesmo que tê-la em casa. Colocá-la em uma instituição foi a coisa mais difícil que eu já tive que fazer, mas chegou a um ponto onde eu não poderia mais cuidar dela da maneira adequada - contou o patriarca da família Boryszczuk.

Um dos trechos mais emocionantes das anotações de Michelle é quando ela fala sobre como quer que seja feito o seu funeral. O desejo da inglesa é simples: nada de tristeza. “Vejo como uma ocasião para celebrar a vida humana que se foi e para apoiar e consolar os vivos”.

  • As pessoas pensam que o Alzheimer só afeta idosos, por isso estou compartilhando a história de Michelle: para ajudar a sensibilizar sobre os mais jovens que também sofrem desta doença - encerrou Steve.

Notícia publicada no Jornal Extra , em 3 de setembro de 2012.

Reinaldo Monteiro Macedo comenta*

Esse é sem dúvida um caso de altruísmo causado pelo verdadeiro amor entre marido e mulher. Os detalhes que são descritos na reportagem nos remetem à imaginação de um filme tratando de um drama de amor com ingredientes muito bem idealizados pelos produtores. Mas isto não se trata de um filme, é um fato real, no qual somente a existência de um grande amor pode sustentar e suportar. Neste caso específico, o amor entre um homem e uma mulher. Um casal. A célula mater da sociedade.

Os protagonistas oferecem-nos exemplos preciosos de fraternidade e cumplicidade, procurando fazer de tudo para evitar o sofrimento do(a) companheiro(a), usando toda a energia de que podem dispor para minimizar os efeitos inevitáveis da terrível doença que, atingindo fisicamente apenas um deles, é sentido como se fosse dos dois.

Michelle, a esposa, tentando ser racional e até otimista diante da realidade dos efeitos previsíveis da doença. Steve, fazendo o que estava ao seu alcance para trazer para a sua mulher dias melhores e mais confortáveis com o seu carinho e dedicação incomensuráveis.

No entanto, os insondáveis desígnios da providência divina fizeram com que o amor de ambos os preparassem para conviver com a drástica situação de vida que se aproximava inexoravelmente. O dramático mal de Alzheimer, herdado geneticamente por Michelle de seu pai, algo que ela sabia de que também era vítima. Enquanto ela estudava os futuros impactos da doença na sua saúde, visando deixar equacionados vários problemas que iriam se desencadear para a família, ele se dedicava em trazer para ela os melhores dias que fosse capaz de lhe proporcionar, e sem o saber fez exatamente tudo que ela estava deixando por escrito para a família, informando-os de como conduzirem o progresso da doença.

Amor! Eis o elemento chave que viabilizou as condutas de ambas as partes, que buscavam trazer um pouco mais de conforto, um para o outro. Amor: Motivo da criação. Amor: O caminho do meio. Amor: Motivo da vida. Amor: A fonte da evolução do espírito rumo à perfeição relativa, tal como nos deixou Jesus nas suas recomendações, consubstanciadas no Evangelho.

Terminamos com um trecho transcrito da reportagem e que foi escrito por Michelle ao abordar a forma como deseja o seu funeral: "(…) Nada de tristeza. Vejo como uma ocasião para celebrar a vida humana que se foi e para apoiar e consolar os vivos".

  • Reinaldo Monteiro Macedo é aposentado, administrador e analista de sistemas de formação, expositor de estudos e colaborador do Centro Espírita Nair Montez de Castro no Rio de Janeiro/RJ e de algumas outras Casas.