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Dados do último censo mostram que religião tem maior renda média entre grupos com mais de 100 mil adeptos. 62% dos judeus com mais de 25 anos de idade possuem nível superior completo, o maior percentual entre todas as denominações. Cristiano Carvalho Assis comenta.

  • Data :02/09/2012
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6 de setembro de 2012

Judaísmo se destaca pelos altos índices de renda e escolaridade

Censo mostra que religião tem maior renda média entre grupos com mais de 100 mil adeptos

RAFAEL SOARES, ALESSANDRA DUARTE e ANTÔNIO GOIS

RIO - Tabulações do Censo 2010 feitas pelo GLOBO revelam que, entre os grupos religiosos com ao menos 100 mil adeptos, um se destaca pela alta renda e escolaridade de seus adeptos: o judaísmo. Neste grupo, mais da metade (62%) dos judeus com mais de 25 anos de idade possuem nível superior completo, o maior percentual entre todas as denominações. A renda média per capita nessa população também é a maior: R$ 4.701.

Para a presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro, Sarita Schaffel, os dados são reflexo da doutrina da religião, que estimula a leitura e tem a aquisição de cultura como um de seus pilares.

— O povo judeu é o povo do livro. Aprendemos ao longo dos anos, com as seguidas perseguições que sofremos, que a cultura é o único elemento que ninguém pode tirar de um povo. Por isso, a família judaica considera a educação dos filhos uma prioridade — conta Sarita, que acredita que a associação entre renda e religião ainda gera preconceito por parte de grande parte da sociedade — Existem muitos judeus que passam dificuldades, mas somos muito solidários entre nós.

O professor de Sociologia da Religião da PUC-RS Ricardo Mariano considera naturais os dados referentes ao judaísmo mostrados pela pesquisa. Para o especialista, o fato de a religião ser hereditária — só nasce judeu quem é filho de mãe judia — favorece a manutenção de taxas de instrução e renda altas.

— O judaísmo é uma religião étnica, ninguém se converte judeu. Por isso, o perfil de quem pratica a religião não muda. Além disso, o Judaísmo tem a instrução como um de seus pilares principais, afinal depende da leitura e do estudo do livro sagrado para a prática religiosa. O alto grau de instrução leva, naturalmente, a uma renda maior — explica Mariano.

  • Judeus e espíritas são os grupos religiosos que sempre têm aparecido no Censo como tendo presença nas faixas de renda mais altas, e também naquelas com maior nível de instrução. No caso dos judeus, por exemplo, eles têm a característica de serem uma religião de segmento, com uma forte participação no setor empresarial, e localizada em áreas das classes A e B da população - afirma Cesar Romero Jacob, cientista político da PUC-Rio.

Entre os espíritas, 98,6% são alfabetizados

Outro grupo religioso que chama a atenção pelo alto grau de instrução é o espírita. Os dados dos devotos do espiritismo chamaram atenção pelo número de alfabetizados, 98,6%, o maior entre os quatro maiores grupos religiosos contabilizados pelo estudo — católicos, evangélicos, espíritas e praticantes da umbanda e candomblé.

O professor de Ciências da Religião da PUC-SP, Edin Abumanssur, credita esses números ao universo social em que a religião circula:

— O espiritismo tem entre seus adeptos muita gente de classe média e é assim desde o século XIX quando chegou ao Brasil. Para Ricardo Mariano, a forma como a religião é transmitida também influencia na configuração do perfil de quem a pratica.

— A transmissão do espiritismo não se dá pela TV, pelo rádio, mas sim através da literatura. Assim, a capacidade de ler se torna um requisito para a prática religiosa — afirma.

No outro extremo, os grupos religiosos de menor renda e escolaridade são de igrejas evangélicas pentecostais. Na Igreja Evangélica Pentecostal Deus é Amor, apenas 1% possui nível superior completo e a renda média per capita é de R$ 345.

Notícia publicada no Jornal O Globo , em 2 de julho de 2012.

Cristiano Carvalho Assis comenta*

Por mais que a reportagem esteja centralizada nos judeus, não poderíamos deixar de dar maior importância no comentário que foi feito sobre os espíritas. Observamos que a razão apontada para o elevado número de judeus com nível de renda e escolaridade alta, é o fato da tradição judaica incentivar suas crianças e jovens ao estudo. Mas quando pensamos nos espíritas não podemos justificar da mesma forma. Pelo que vemos na reportagem, o judeu busca a educação porque a sua religião estimula enquanto o espírita procura a Doutrina Espírita porque já possui escolaridade e renda.

Dependendo do ponto de vista, os dados apresentados podem ser considerados bons ou não. É válido vermos a Doutrina Espírita se desenvolvendo na porção mais exigente, onde o crivo da razão e o preconceito das coisas espirituais e religiosas são mais fortes. Mas se pensarmos como uma pirâmide, este grupo é o ápice de menor quantidade. Sabemos que não devemos nos importar com a quantidade e sim com a qualidade. No entanto, não podemos ficar imparciais ao perceber que a grande maioria não possui o consolo das ideias equilibradas e sem superstições para suportar suas perdas e dificuldades.

Pelo que observamos nesta pesquisa, tem ocorrido uma verdadeira seleção natural no meio espírita. Onde aqueles que têm maiores estudos e renda estão tendo o privilégio da Doutrina. Por que estaria acontecendo isso? Há dificuldades para os mais simples e humildes permanecerem na Doutrina? Os nossos Centros Espíritas estão preparados para recebê-los? A Doutrina Espírita passa e sempre passará por momentos de desenvolvimento. Seu inicio se deu no meio científico e filosófico na França, tendo desenvolvido seu lado mais religioso aqui no Brasil. Mas, em todos esses momentos, sofreu grande perseguição e preconceito. Como reação natural de proteção e amadurecimento, a Doutrina precisou se desenvolver com muita racionalidade e conhecimento aprofundado para enfrentar os seus contraditores. Ficando por isso, no meio mais culto.

Temos observado que a Espiritualidade Maior deseja mudanças. Os meios de comunicação têm divulgado as ideias espíritas, sem preconceito, perseguições ou ironias. No entanto, observamos que este trabalho muitas vezes precisou ser estimulado por não espíritas. O Espiritismo já é uma planta estabelecida em plena fase de crescimento, precisamos fazer que o pólen das flores desta maravilhosa árvore se espalhe com mais eficiência. Se não acompanharmos este novo momento, poderemos retardar este processo.

Normalmente, dizemos que a Doutrina Espírita é a religião do futuro. E realmente será, se tivermos que esperar que a população tenha prazer em ler, tenha condições para comprar livros ou um bom senso de interpretação. Meditemos. As nossas palestras estão cada vez mais complexas no aprofundamento técnico, indo desde psicologia transpessoal à física quântica. Nossos estudos, muitas vezes, não comportam pessoas que não sabem ler, ou não têm uma capacidade interpretativa apurada. Muitas vezes, nossos livros espíritas precisam estar acompanhados de um dicionário para conseguirmos compreender. Nossos Congressos, Seminários e Encontros estão cada vez mais luxuosos e caros. Centralizamos a divulgação da Doutrina nos livros, quando sabemos que apenas uma pequena parcela da população possui o hábito de leitura. Fica a pergunta: Será que Jesus e os apóstolos poderiam, como pescadores que eram, estar no meio espírita atual?

Não somos ingênuos em achar que devemos sair de um extremo ao outro para acolher os mais simples e por isso deixar de lado a qualidade e os estudos aprofundados. Ou perder a qualidade doutrinária, juntamente com a literária. Ou ainda tentar realizar encontros gratuitos, pois sabemos que estamos no mundo e tudo tem seus gastos. Mas precisamos buscar englobar a todos. Atualmente estamos preparados para discutir em pé de igualdade com Pós-doutores, mas poucos têm a capacidade de conseguir fazer uma pessoa mais simples compreender a doutrina.

Devemos procurar meios de voltarmos nossos olhos à base mais numerosa e simples. Não mais pensando em acolhê-los apenas na caridade material com cestas ou visitas aos doentes e caídos, a qual se deve valorizar e estimular, mas não podemos esquecer-nos de levar também o aprofundamento do ensinamento e o conhecimento da Doutrina Espírita de uma forma mais simples, com qualidade, empatia e amor.

  • Cristiano Carvalho Assis é formado em Odontologia. Nasceu em Brasília/DF e reside atualmente em São Luís/MA. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Maranhense e colaborador do Serviço de Atendimento Fraterno do Espiritismo.net.