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As exigências constantes para comunicar e perceber sentimentos alheios, quando nem sempre se está preparado para essa tarefa, acarretam uma sobrecarga de estresse profissional. Conhecer o que sentimos e respeitar os próprios limites pode evitar desgastes emocionais desnecessários. Cristiano Carvalho Assis comenta.

  • Data :06/04/2012
  • Categoria :

7 de abril de 2012

Emoções sob controle

Conhecer o que sentimos e respeitar os próprios limites pode evitar desgastes emocionais desnecessários

As exigências constantes para comunicar e perceber sentimentos alheios, quando nem sempre se está preparado para essa tarefa, acarretam uma sobrecarga de estresse profissional. Para muitos, encontrar a forma mais adequada de se comportar diante de dilemas que implicam afetos, disputas de poder e manipulação da própria expressão de sentimentos desperta profundas inseguranças.

Em quase todas as profissões espera-se, como “demandas emocionais padrão”, certa dose de simpatia e de prazer na atividade desempenhada. Cada profissão, porém, apresenta peculiaridades e, obviamente, não se trata de buscar agir de forma estereotipada – pois há poucas coisas mais irritantes do que ser atendido por alguém que lhe oferece respostas prontas, como se fosse uma máquina do outro lado da linha ou do balcão. Antes, a questão que se coloca é: como encontrar caminhos de equilíbrio para uma convivência saudável, sem cair em excessos?

É comum que educadores que trabalham com crianças pequenas, por exemplo, eventualmente apresentem emoções considerada negativas, como irritação, mas é fundamental que essa emoção seja expressada de forma comedida e adequada à situação. Mais importante que o “que” é o “como”. Já em bancos e hotéis, normalmente costuma ser desaprovado que um funcionário diga a um cliente, ainda que de forma educada, como realmente se sente – em geral, isso é interpretado como sinal de que alguma coisa deu errado. De juízes, policiais e psicólogos não se esperam demonstrações especialmente efusivas de emoção ou afirmações excessivamente pessoais. Pelo contrário: a postura indicada é a mais neutra possível, embora a empatia seja muito bem-vinda no caso de terapeutas.

Perceber os sentimentos alheios é outro aspecto do trabalho emocional. Se as interações sociais não decorrerem de forma rotineira – como é o caso de um porteiro de hotel que cumprimenta todos os hóspedes que chegam com um amigável aceno de cabeça –, torna-se necessário voltar a atenção para os sentimentos do outro a fim de colocar-se da melhor forma possível. Essa postura exige um dispêndio extra de energia. Mas, se esse movimento não ocorre, pode acontecer, por exemplo, de um cliente achar que não está sendo levado a sério: por mais simpático que seja um bancário, obviamente seria péssimo se ele simplesmente continuasse a sorrir quando um cliente demonstrasse preocupação com as altas taxas cobradas pela instituição ou tentasse renegociar uma dívida.

Apesar de, em geral, ser mais indicado manter a compostura e controlar a raiva, com submissão, falsa passividade e hipocrisia dificilmente a pessoa atingirá bons resultados. Aí entra uma questão pessoal, que quase sempre independe do ambiente: quanto mais uma pessoa olha para si buscando compreender os próprios mecanismos de funcionamento, responsabilizando-se (em vez de culpar-se) pelas situações que deflagram reações às vezes incontroláveis, fica mais tranquilo lidar com as angústias. E é até possível evitar uma armadilha comum: mudar de trabalho, de cenário e de colegas ou clientes, mas continuar vivendo os mesmos tormentos.

Notícia publicada na Revista Mente Cérebro , em 17 de fevereiro de 2012.

Cristiano Carvalho Assis comenta*

As “demandas emocionais padrão ” exigidas atualmente em todos os nossos relacionamentos englobam, entre outros, a cordialidade, a educação, a satisfação pelo trabalho e o controle das emoções. No entanto, nem sempre essa posição condiz com nossos sentimentos mais profundos. Por exemplo, nosso chefe nos comunica que devemos ser sorridentes para com todos. Como queremos continuar no emprego concordamos e fazemos, mas intimamente somos completamente diferentes. Sem dúvida, conseguiremos ser sorridentes por fora para agradar clientes e patrões, mas por dentro continuamos ser vulcões em erupção. Qual a consequência disso?

Primeiro, ao final do dia estaremos com os músculos da face doloridos, pois é feito por obrigação e não por prazer. Seremos homens-robôs que fazemos porque fomos programados, não porque tivemos vontade disso. Nossas atitudes serão falsas, não conseguiremos gerar a empatia tão necessária pelo próximo. Mas fazemos porque nos conduzindo desta maneira, acreditamos ser amados, respeitados e incluídos em qualquer meio. O problema é que nem sempre o que é exigido ainda faz parte de nossa capacidade psicológica e espiritual. Seria como exigir que uma semente já desse fruto. Causando assim uma discrepância entre o eu externo com o interno.

Com essa conduta, temos um excesso de energias, já que todos os sentimentos não trabalhados serão armazenados. As frustrações, raivas, medos e agonias íntimas contidas são fluidos energéticos guardados, esperando ser utilizados de alguma forma. O problema é que cada um possui um recipiente de contenção energética diferente. Uns aguentam mais que os outros, mas a tendência de qualquer um será transbordar com o tempo ou com as situações. Quem é casado, joga toda essa energia guardada na esposa, o chefe no estagiário e por aí vai, gerando as brigas e desavenças. Chegando ao ponto de que quem não tem as pessoas, como chamamos de válvulas de escape, se utilizam de objetos ou animais. Já outros que já não descontam mais em objetos, pessoas ou animais, pois já possuem mais consciência, geram as doenças.

Com o tempo, vemos que estamos infelizes e a primeira conclusão da causa é o nosso trabalho ou as pessoas que nos rodeiam, por isso a solução seria outro emprego, pessoas ou outra vida. A maioria de nós pensamos que está no lugar errado, pois não consegue ser feliz no que faz. No entanto, quando mudamos de emprego e colegas de trabalho, observamos que depois de um tempo parece que tudo volta como antes.

Até chegarmos à conclusão que nenhuma dessas alternativas acima é a mais acertada porque não nos traz paz ou felicidade. O autor da reportagem foi muito feliz em suas colocações e observamos que o mesmo já possui a consciência de que nossos sentimentos e emoções são derivados de nossas próprias realidades e não do que é jogado para nós através de pessoas ou situações, quando diz: “entra uma questão pessoal, que quase sempre independe do ambiente ”. Não são nossos empregos, clientes ou qualquer outra coisa responsáveis pelo nosso sentir. Podem ser por tirar de nós o que já existe dentro. Mas o sentimento depende apenas da nossa forma de ver a situação ou as pessoas. Não precisamos mudar de emprego, amigos ou tipos de clientes, a tarefa urgente que necessitamos empreender é entender o porquê estamos sentindo desta maneira.

Quando deixamos de pensar que sentimos por causa dos outros ou das situações e passamos a meditar “qual a causa dentro de mim de estar sentindo isso?” , iremos começar a nossa melhora real. Iremos empreender nosso autoconhecimento e começarmos a entender o que o autor quis dizer com: “Quanto mais uma pessoa olha para si buscando compreender os próprios mecanismos de funcionamento, responsabilizando-se (em vez de culpar-se) pelas situações que deflagram reações às vezes incontroláveis, fica mais tranquilo lidar com as angústias.

Por exemplo, muitas vezes sentimos nosso trabalho enfadonho, chato ou insuportável. A primeira resposta, normalmente, é julgar como culpado o trabalho ou as pessoas que estão ao nosso lado. E como não podermos sair deste emprego, iremos ser eternos infelizes, frustrados, amargos ou revoltados. Mas se começarmos a meditar que todos nós possuímos um conjunto de ideias-base que formam nossa forma de encarar a vida e por elas elaboramos nossos pensamentos, ações e emoções, deixaremos de responsabilizar os outros pelo nosso agir e sentir.

Quais as causas do nosso sentir? Quais os nossos pensamentos-base para ser do jeito que somos? Por que sinto isto do meu trabalho? Por que sinto raiva daquela pessoa? A primeira resposta sempre será a mais simples, superficial e equivocada: “Porque meu chefe, esposa, filho, vizinho, amigo ou a vida é … ” Nosso orgulho, egoísmo ou nossa preguiça de rever conceitos nos faz ficar por aí. É sempre mais seguro e confortável culparmos alguém por nossos infortúnios, atitudes e sentimentos.

Mas se quisermos evoluir, melhorar e ser mais felizes, necessitaremos ir mais profundamente nessas meditações. O que realmente nos faz sentir isso? Orgulho ferido porque a vida não respondeu como queríamos? Desvalorização íntima pelo que fazemos? Preguiça porque queríamos trabalhar pouco e ganhar muito? São tantas causas quantas pessoas no mundo, mas cada um de nós tem uma específica. A cada consideração iremos nos aprofundar cada vez mais, até chegarmos à causa real por trás daquele sentimento que está em nós e não nos outros.

Não se preocupem com as respostas, elas aparecerão de algum jeito, pois elas estão dentro de nós, e Deus, juntamente com a Espiritualidade Maior, nos ajudarão a encontrá-las, das formas mais diversas, como uma intuição, um livro que cai em nossas mãos, uma conversa sem nenhuma pretensão, entre outras. Já que é uma Lei Divina o “Busca e Achareis”.

Fazendo isso, as situações e as pessoas continuarão as mesmas de antes com suas contrariedades e chatices, mas nós as veremos com outros olhos. Entenderemos que poderão nos trazer raivas, insultos, tristezas ou rejeição, mas tudo isso será uma realidade íntima delas, e nem por isso terá que ser nossa. Onde antes havia raiva, desgosto ou frustração, teremos alegria e satisfação por elas nos ajudarem na nossa autodescoberta de cada dia. As “demandas emocionais padrão ”, realmente tão importantes em nossa vida, serão uma escolha nossa e o sorriso e a empatia irradiarão de dentro, sem dar problemas musculares na face e influenciando o meio que vivemos.

Antes nos foi ensinado que deveríamos conter nossos sentimentos e emoções. Hoje, observamos que escondê-los não é sinônimo de deixar de existir. Por isso, sintamos o que nossas crenças e verdades nos levam a sentir. Por mais força que faças, eles virão, já que são a forma mais simples e superficial de nos autoconhecer. Estudemo-los, vejamos suas causas em nós e se não forem bons reestruturemo-las por outras melhores, tendo por base os ensinamentos no nosso irmão maior Jesus.

  • Cristiano Carvalho Assis é formado em Odontologia. Nasceu em Brasília/DF e reside atualmente em São Luís/MA. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Maranhense e colaborador do Serviço de Atendimento Fraterno do Espiritismo.net.