Carregando...

  • Início
  • Ex-combatente britânico reencontra piloto argentino que pensou ter matado

Quase 30 anos após o fim da guerra entre Argentina e Grã-Bretanha pelas ilhas Malvinas (Falklands para os britânicos), Mariano Velasco e Neil Wilkinson, dois veteranos que lutaram em lados opostos, viveram um encontro emocionante. Jorge Hessen comenta.

  • Data :04/03/2012
  • Categoria :

4 de março de 2012

Ex-combatente britânico da guerra das Malvinas reencontra piloto argentino que pensou ter matado

Marcia Carmo

De Buenos Aires para a BBC Brasil

Quase 30 anos após o fim da guerra entre Argentina e Grã-Bretanha pelas ilhas Malvinas (Falklands para os britânicos), dois veteranos que lutaram em lados opostos viveram um encontro emocionante.

O ex-piloto de caça-bombardeiro da Força Aérea Argentina, Mariano Velasco, de 62 anos, recebeu em sua casa na província de Córdoba o britânico Neil Wilkinson.

Na guerra, Wilkinson atirou e derrubou o avião pilotado por Velasco, no Estreito de São Carlos, no arquipélago no Atlântico Sul. O piloto argentino, que na época da guerra tinha 32 anos, sobreviveu ao pular de páraquedas poucos minutos após o bombardeio.

“Wilkinson sempre achou que eu tivesse morrido depois de alvejar o avião que eu pilotava”, disse Velasco à BBC Brasil.

Programa de TV

Em 2007, o britânico assistiu na televisão a um especial sobre a guerra e viu quando Velasco narrou onde estava quando o tiro atingiu seu avião, na batalha. Ao ouvir a história, percebeu que aquele era o piloto do avião que ele tinha atingido.

“Quando ele me reconheceu, procurou a Embaixada da Argentina em Londres e pediu ajuda para me localizar. Começamos uma amizade por redes sociais, como Facebook, até que ele veio à minha casa”, lembrou.

O encontro ocorreu no fim do ano passado, mas só agora foi divulgado.

“Eu o esperei na porta de casa e meu coração estava acelerado. Quando nos vimos, nos abraçamos e choramos, choramos muito. Wilkinson tremia de emoção por ter certeza de que eu estava vivo”, recordou.

Velasco disse que jamais sentiu ódio pelo britânico. “Fomos apenas peças de circunstâncias”, disse.

‘Emoção’

Na ocasião, o inglês disse que a emoção do encontro “foi muito grande para poder explicar, mas agora tenho certeza de que ele está vivo.”

Wilkinson era artilheiro antiaéreo no barco de combate HMS Intrepid quando abriu fogo contra o avião de combate Skyhawk, pilotado por Velasco.

Ele disse que a imagem do avião caindo o acompanhou durante toda a sua vida.

“Jamais imaginei que ele pudesse ter sobrevivido”, disse.

Dois dias antes de ter o avião derrubado, o argentino tinha participado do ataque a um barco que deixou 19 britânicos mortos.

Churrasco

O encontro entre os ex-combatentes foi na casa do ex-piloto argentino, na localidade de Villa de Las Rosas, na província de Córdoba, onde compartilharam um churrasco.

“Hoje, somos amigos. Nos falamos com certa frequência por e-mail, Facebook ou Skype”, contou.

Velasco recordou que o ataque contra o avião que pilotava ocorreu no dia 27 de maio de 1982, cerca de 50 dias após tropas argentinas invadirem as ilhas, no dia 2 de abril daquele ano.

“Eu machuquei meu tornozelo mas pude me arrastar e caminhar dois dias até uma casa abandonada, onde fiquei do dia 29 ao dia 31 de maio, até que passaram moradores locais, a cavalo, e disseram que avisariam a força aérea argentina. No dia seguinte, me buscaram e me levaram de ambulância. No dia seis de junho me levaram de volta ao continente (argentino)”, afirmou.

O militar argentino da reserva disse ainda que, para ele, as ilhas são argentinas porque assim foi confirmado desde que a Argentina deixou de ser colônia espanhola.

“Não temos ódio contra os britânicos. Somos apenas contra a usurpação das ilhas porque elas são argentinas. Mas sabemos que vai depender da diplomacia para que elas voltem a ser do nosso país”, afirmou.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 19 de janeiro de 2012.

Jorge Hessen comenta*

No dia 25 de maio de 1982, o Skyhawk, um caça-bombardeiro da Força Aérea Argentina, pilotado por Mariano Velasco, investiu contra uma embarcação militar deixando 19 ingleses mortos. Dois dias após, o também Skyhawk pilotado por Velasco foi abatido no Estreito de São Carlos, arquipélago no Atlântico Sul, por Neil Wilkinson, artilheiro antiaéreo no navio de combate HMS Intrepid da Inglaterra. O argentino sobreviveu ao saltar de pára-quedas poucos minutos após o bombardeio.

Quase três décadas após o fim do confronto entre Argentina e Grã-Bretanha pelas ilhas Malvinas(1), os dois ex-inimigos de guerra viveram um encontro emocionante. “Meglio tardi che mai.” Como diz o provérbio italiano: “Antes tarde do que nunca”,  Mariano Velasco recebeu em sua casa na província de Córdoba para um magnificente banquete o veterano artilheiro inglês Neil Wilkinson. Atualmente, são amigos e se correspondem com certa frequência por e-mail, Facebook ou Skype.

O episódio inevitavelmente nos remete para reflexões sobre a guerra. Qual a base lógica que justifica uma guerra? Os Benfeitores do Além admoestam que a guerra é a “predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e satisfação das paixões”.(2) No transcurso da guerra, predominou entre Velasco e Wilkinson a índole selvagem sobre a espiritual. Hoje, 30 anos depois, a situação é inversa entre os dois ex-combatentes inimigos do front de batalha. Infelizmente, o “caso Velasco / Wilkinson” é uma raríssima exceção, pois nem sempre esse é o desfecho entre ex-inimigos de guerra.

Combates militares existem há mais de 5 mil anos, desde os primitivos embates entre os Mesopotâmios, entre gregos e persas; entre Atenas e Esparta; entre Roma e Cartago. Mais recentemente, ocorreram a Primeira e Segunda Guerra Mundial, a Guerra da Coreia, do Vietnã, do Golfo, entre Israelitas e Palestinos. Os recentes conflitos armados entre a Coreia do Sul e a do Norte e os ataques ao Afeganistão, após os atentados terroristas suicidas a Washington e Nova York, em 11 de setembro de 2001.

Desde eras remotas, o império dos maus, de ordinário, reprime a força dos bons, por que os bons se fazem fracos. “Os maus são intrigantes e audaciosos; os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, haverão de preponderar”.(3) “Épocas de lutas amargas, desde os primeiros anos do século XX, a guerra se aninhou com caráter permanente em quase todas as regiões do planeta. A Liga das Nações, o Tratado de Versalhes, bem como todos os pactos de segurança da paz, não têm sido senão fenômenos da própria guerra, que somente terminarão com o apogeu dessas lutas fratricidas, no processo de seleção final das expressões espirituais da vida terrestre."(4)

O Século XX, recentemente findo, foi o século mais sangrento de todos os anteriores. Após a Segunda Guerra Mundial, já ocorreram 160 conflitos bélicos, resultando em 40 milhões de mortos. Se contabilizarmos os resultados dessas paixões primitivas desde 1914, estes números sobem para 401 guerras e 187 milhões de mortos, numa projeção bem superficial.

Os Estados Unidos da América detêm o maior poder bélico do planeta, seus orçamentos em armamentos ultrapassam os 320 bilhões de dólares. Rússia e China gastam 48 bilhões de dólares, cada; França consome 38 bilhões de dólares; Reino Unido desgasta 35 bilhões de dólares; Coréia do Norte gasta 4,7 bilhões de dólares; Índia consome 13 bilhões de dólares; Paquistão gasta 2,5 bilhões de dólares; Coreia do Sul gasta 12 bilhões de dólares e, por fim, Israel detona 9,4 bilhões de dólares. Juntas, essas nações gastam mais de meio trilhão de dólares com artefatos para exterminar a vida.

O que poderíamos alcançar de valor para a melhoria de vida na Terra com esse montante de dinheiro? A lista é ampla… Entretanto, os líderes  dos países acima, assim como os seus partidários, não ambicionam o engrandecimento do orbe e de seus habitantes.

Há milênios, entronizamos o debate sobre a razão humana e permanecemos na guerra da destruição, quais irracionais; exaltamos as mais elevadas demonstrações de inteligência, porém engendramos todo o conhecimento para os massacres humanos impiedosos; exaltamos a paz, fabricando os canhões homicidas e as ogivas de destruição em massa; sugerimos soluções para os problemas sociais, intensificando a construção das cadeias e dos prostíbulos. “Esse progresso é o da razão sem a fé, onde os homens se perdem em luta inglória e sem-fim.”(5)

Por felicidade, “à medida que o homem progride, ela se torna menos frequente, porque lhe evita as causas e, quando é necessária, sabe aliá-la à humanidade.”(6) Cremos que a guerra desaparecerá um dia da face da Terra, “quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus; então todos os povos serão irmãos.”(7)

Jesus nos deixou, há dois milênios, a grande lição do amor, a fim de que chegássemos ao estágio de perfeita harmonia entre os homens. O Príncipe da Paz ensinou: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei”(8) Deste modo, não ouviremos mais falar de guerras e nem rumores de guerra.

Referências bibliográficas:

(1) Falklands (para os britânicos);

(2) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000 Perg. 742;

(3) Idem, Perg. 932;

(4) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB 1987;

(5) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB , 1999, Perg 199;

(6) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000 Perg. 742;

(7) Idem, Perg. 743;

(8) João, 31:34.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal lotado no INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.