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O tailandês Chadil Deffy casou com o cadáver de sua namorada Ann, morta em um acidente de trânsito, para unir suas almas na eternidade, informou a imprensa local. A cerimônia budista foi acompanhada por seus familiares e amigos. Carlos Miguel Pereira comenta.

  • Data :29 Jan, 2012
  • Categoria :

1º de fevereiro de 2012

Tailandês casa com o cadáver de namorada morta em acidente

Bangcoc, 10 jan (EFE).- Um tailandês casou com o cadáver de sua namorada, morta em um acidente de trânsito, para unir suas almas na eternidade, informou a imprensa local nesta terça-feira (10).

O casamento de Chadil Deffy e sua namorada, Ann, aconteceu em 4 de janeiro na província de Surin, no noroeste do país, em cerimônia budista acompanhada por seus familiares e amigos.

“Nosso amor foi algo muito grande, mas por lástima não podemos viajar ao passado e mudá-lo. A vida é curta, e hoje realizo meu desejo e agradeço a todos os que estão presentes”, manifestou o namorado na lúgubre cerimônia.

O jovem de 28 anos enviou um convite a todos seus conhecidos através de sua página no Facebook para o evento, que foi celebrado quatro dias depois do acidente, ocorrido na noite de réveillon.

As imagens do casamento foram transmitidas pela televisão tailandesa, enquanto quase 30 mil pessoas as viram e comentaram através da página pessoal de Chadil.

As fotos mostram a jovem na cama do hospital e depois vestida de noiva durante o casamento, enquanto Chadil colocava o anel em seu dedo e a beijava na mão e na testa.

Para Chadil, o melhor presente de casamento será ver cumprido seu desejo de reencontrar a amada em sua próxima vida.

Notícia publicada no Yahoo! Notícias , em 10 de janeiro de 2012.

Carlos Miguel Pereira comenta*

“Não há almas que desde suas origens, estejam predestinadas à união. Cada um de nós não tem, nalguma parte do Universo, sua metade, a que fatalmente um dia reunirá.” – Questão 298, de O Livro dos Espíritos , de Allan Kardec.

A ideia romântica das almas gêmeas é um conceito simpático e aparentemente inofensivo. No entanto, se analisado em maior profundidade, perceberemos como ele é demasiado redutor, podendo até ser prejudicial para uma relação afetiva. Segundo esta teoria, no início dos tempos Deus separou as almas em pares. Assim, cada alma possuiria a sua metade eterna a que tem fatalmente de se unir para alcançar a felicidade. Juntas, essas metades se irão sentir uma só, mas separadas parece que lhes falta o essencial. Neste contexto, cada um de nós é apenas uma parte, uma fração que precisa da outra metade para se complementar, para se sentir completo.

A lógica das almas gêmeas pode contribuir para a intensificação dos agrilhoados vínculos da dependência afetiva que ainda envolvem tantos Espíritos, incentivando a que anulem as suas próprias caraterísticas para se ajustarem irresistivelmente à outra parte. Este foi um processo de despersonalização que condicionou de forma muito significativa as mulheres ao longo da história, que se viam na necessidade de se conformarem à vontade dos seus maridos.

O ser humano nasce dependente. Até ao fim da infância, ele depende da dedicação dos seus pais para poder sobreviver e ser feliz. Nas fases seguintes do seu crescimento, essa dependência deveria ser eliminada gradualmente, ensaiando o indivíduo o exercício da sua autonomia, responsabilidade e liberdade. Mas, muitas vezes, isso não acontece. Por vezes, são os próprios pais que fomentam essa dependência, outras vezes é o próprio indivíduo que não consegue largar o conforto que essa dependência lhe proporciona. Mais tarde, os hábitos de dependência emocional serão transferidos para aqueles com quem ele se relaciona de uma forma mais íntima, assumindo, muitas vezes, posturas como carência, submissão e subserviência.

O amor genuíno é a expressão mais pura da alma, o ponto mais sublime que ela poderá alcançar. É a força criadora mais poderosa ao serviço do Homem. No entanto, quando esse amor é condicionado pela dependência, há uma deturpação dessa potencialidade e quem amamos passa a ser encarado como alguém que preenche as nossas lacunas, alguém que nos indica o que é certo, que repete o que devemos ou não devemos fazer, alguém que nos motiva para as dificuldades da vida, que nos substitui nas nossas próprias responsabilidades. Isso manter-nos-á terrivelmente dependentes. Dizemos: “Eu amo você”, mas na realidade queríamos dizer: “Eu preciso de você”. E vivemos incapazes de assumir uma decisão séria, imobilizados diante das adversidades da vida, não nos permitindo desenvolver a força necessária para lutarmos pelo que acreditamos, nem a independência necessária para colocar em prática as nossas ideias e pensamentos.

Ao permitirmos que a dependência se sobreponha ao amor, ficamos reféns do nosso parceiro afetivo para alcançar os nossos objetivos, e isso pode impedir-nos de mostrar o nosso verdadeiro valor e atingir o que mais desejamos na vida. O amor deveria libertar o indivíduo, não torná-lo mais dependente. Numa união conjugal saudável, a dependência precisa ser substituída pela compreensão e parceria. Duas pessoas unem-se em amor conjugal não porque dessa relação dependa a sua sobrevivência ou porque ela seja indispensável à sua felicidade, mas porque pretendem partilhar o seu amor, companheirismo, tempo e talentos na conquista de um ideal comum. Cada elemento de uma união conjugal não é uma metade, mas um inteiro. É uma individualidade forjada pelas experiências em vidas sucessivas e que se apresenta nesta vida para continuar a sua aprendizagem rumo à felicidade.

Não se pense que estou a promover o individualismo ou o egoísmo. Nada disso. O egoísmo nada constrói, é como uma esponja que tudo absorve. Numa relação egoísta não existe liberdade nem compreensão. Mas uma união regida pelo amor e liberdade, em que os dois parceiros percebam que são duas individualidades distintas, com necessidades diferentes, talentos e experiências muitas vezes antagônicas, detentores de vontades e interesses que por vezes se contrariam, existirá uma maior possibilidade de ser bem sucedida. Haverá uma maior capacidade para construir uma relação saudável, intensificando, ao longo dos anos de convivência, laços de amor e afinidade que se prolongarão por toda a eternidade.

Assim, a união das almas pela eternidade não está escrita nas estrelas nem poderá ser formalizada através de rituais como os descritos na notícia. Apenas o amor genuíno tem a capacidade de unir duas almas pela eternidade, união que nem o tempo, nem a distância física, nem força alguma, conseguirão quebrar.

  • Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.