Carregando...

  • Início
  • Vítimas contam como se recuperaram de experiências traumáticas

Vítimas de atentados, acidentes de trem, bombardeios durante operações de guerra e tortura falaram dos mecanismos que desenvolveram para tentar superar o trauma e dar continuidade às suas vidas. Claudia Cardamone comenta.

  • Data :10/01/2012
  • Categoria :

Vítimas contam como se recuperaram de experiências traumáticas

Como você reagiria se o trem em que estivesse viajando se chocasse contra um outro e se transformasse em uma bola de fogo?

Em depoimentos à BBC, vítimas de experiências profundamente traumáticas, como atentados, acidentes de trem, bombardeios durante operações de guerra e tortura falaram dos mecanismos que desenvolveram para tentar superar o trauma e dar continuidade às suas vidas.

Troca de confidências, consumo de álcool, treinamento prévio, personalidade e reservas de força interior cumpriram papéis nas histórias relatadas.

A inglesa Pam Warren, do condado de Berkshire, sobreviveu a um trágico acidente ferroviário na estação de Paddington, em Londres, em 1999, mas sofreu queimaduras graves no rosto e mãos.

Ela ficou conhecida na mídia como “a mulher da máscara”, porque teve de usar uma máscara para tentar minimizar o número de cicatrizes em seu rosto durante o processo de recuperação.

Hoje, ela diz ter aprendido a viver com os efeitos físicos e psicológicos da experiência e faz campanha para tornar as ferrovias britânicas mais seguras.

Álcool

Enquanto se recuperava das queimaduras, ela conheceu um outro sobrevivente, o militar Simon Weston. Durante a Guerra das Malvinas, o navio em que ele viajava foi atacado e Weston foi engolido por chamas.

Weston foi a primeira pessoa com quem Warren conseguiu trocar confidências. Ela contou a ele, por exemplo, que estava bebendo muito para tentar esquecer seu trauma.

Weston conta que também procurou refúgio no álcool após ter sido atacado.

“Qualquer pessoa que tenha vivido um evento que muda para sempre sua vida, do luto a uma doença terminal, tudo isso traz um trauma imenso”, ele diz.

“Para muitos de nós, o álcool é um refúgio. Um falso refúgio, porque é um refúgio destrutivo”.

“Você quer se perder, quer ficar anestesiado”.

“Quando fui filmado bebendo direto na garrafa, aquilo me chocou. Fiquei envergonhado, aquele não era eu”.

Weston conta que a última coisa que viu antes de ficar completamente desfigurado foi uma erupção de fumaça e chamas no momento em que a bomba atingiu o navio.

“Guerra é isso”, diz. “Não tem nada no manual que prepare você para estar à bordo de um navio como infantaria e ser atacado por um avião”.

Personalidade e Treinamento

Em 1991, o piloto da Força Aérea britânica John Peters tornou-se refém de soldados iraquianos durante 47 dias.

O Tornado que ele pilotava foi atingido por um míssil perto de Bagdá e o piloto foi retirado da aeronave em chamas.

Ele levou surras de cassetete, foi impedido de dormir e queimado com cigarros, ficou preso em cela solitária, sofreu ameaças de estupro coletivo e execução. Depois, foi exibido na televisão.

Peters diz que se recuperou da experiência a partir de uma combinação de personalidade e treinamento.

“Sou um piloto de aviões a jato, arrogante e superficial”.

“A pessoa que quer pilotar jatos tem um certo tipo de caráter”, explica. “Passei dez anos me preparando para ir para a guerra”.

“Fui capaz de conter o meu horror. Aquilo era o Iraque, era guerra, as circunstâncias eram anormais”.

Peters conta que voltar à vida normal foi “fácil” para ele, apesar da grande repercussão que seu retorno teve na mídia britânica.

Calma Profunda

Entretanto, civis sem treinamento militar, como Tim Coulson, precisam contar com suas próprias reservas de força interior para manter a calma em momentos de crise.

Os ataques de 7 de julho de 2005 contra três estações de metrô e um ônibus em Londres deixaram 52 pessoas mortas.

Junto com duas outras pessoas, Coulson arrombou a janela de um vagão do metrô para poder entrar e ajudar vítimas dos atentados.

Ele viajava no vagão adjacente quando o trem, que saía da estação de Edgware Road, no centro de Londres, foi explodido.

Coulson salvou a vida de uma auxiliar de escritório australiana, Alison Sayer. O empresário Michael “Stan” Brewster, no entanto, morreu nos seus braços.

Coulson, um ex-professor da cidade de Henley-on-Thames, diz que não se sente “heroico”.

“Senti que era importante confortar Stan da maneira que fosse possível e assegurar algo em que acredito verdadeiramente: ninguém deve morrer sozinho”.

“Quando auxiliava Alison, estava determinado a não deixar que ela morresse”.

Tanto Tim Coulson quanto Pam Warren falam da “estranha calma” que sentiram logo após os acontecimentos.

“Havia um reconhecimento de que não sabíamos o que tinha acontecido conosco mas precisávamos trabalhar juntos por algo melhor. Havia uma paz muito marcante naquele momento”, disse Coulson.

Warren concorda. “Uma coisa que lembro do acidente foi quão calmos todos estavam, calmos e solícitos”.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 18 de novembro de 2011.

Claudia Cardamone comenta*

Em O Livro dos Espíritos , Allan Kardec perguntou se há pessoas perseguidas por uma fatalidade, se a desgraça está em seu destino, e os Espíritos responderam:

“- São talvez, provas que devem sofrer e que elas mesmas escolheram. Ainda uma vez levais à conta do destino o que é quase sempre a consequência de sua própria falta. Em meio dos males que te afligem, cuida que a tua consciência esteja pura e te sentirás meio consolado”.

O que geralmente chamamos de desgraça e tragédia são provas que um ou mais espíritos devem passar, podendo ser ou não expiações de faltas cometidas em encarnações anteriores. 

Algumas pessoas parecem lidar bem com elas, seja na hora ou posteriormente. São aquelas que crescem humana e espiritualmente. Como a resposta esclarece, já está na consciência de cada espírito o consolo que encontrará no momento da prova.

Kardec também faz uma pergunta que podemos relacionar com a notícia:

“855. Qual o fito da Providência ao fazer-nos correr perigos que não devem ter consequências?

- Quando tua vida se encontra em perigo é essa advertência que tu mesmo desejaste, a fim de te desviar do mal e te tornar melhor. Quando escapas a esse perigo, ainda sob a influência do risco porque passaste, pensa com maior ou menor intensidade, sob a ação mais ou menos forte dos bons Espíritos, em te tornares melhor. O mau Espírito retornando (digo mau, subentendendo o mal que ainda nele existe), pensas que escaparás da mesma maneira a outros perigos e deixas que as tuas paixões se desencadeiem de novo. Pelos perigos que correis, Deus vos recorda a vossa fraqueza e a fragilidade de vossa existência. Se examinarmos a causa e a natureza do perigo veremos que, na maioria das vezes, as consequências foram a punição de uma falta cometida ou de um dever negligenciado. Deus vos adverte para refletirdes sobre vós mesmos e vos emendardes”.

Esta resposta demonstra o que geralmente pode ser observado. Estas experiências de estar próximo da morte provocam profundas transformações no indivíduo e na forma dele viver e se relacionar com os outros. Aqueles que são capazes de compreender isto não se rebelam, mas utilizam a experiência para melhorarem a si mesmos e, principalmente, melhorarem e consolarem os outros.

O conhecimento enriquece, a vida orienta, mas apenas a experiência é capaz de transformar uma pessoa, e é por isso que os espíritos precisar encarnar em mundos físicos para progredir.

  • Claudia Cardamone nasceu em 31 de outubro de 1969, na cidade de São Paulo/SP. Formada em Psicologia, no ano de 1996, pelas FMU em São Paulo. Reside atualmente em Santa Catarina, onde trabalha como artesã. É espírita e trabalhadora da Associação Espírita Seareiros do Bem, em Palhoça/SC.