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O psicólogo Mark Griffiths, professor da Nottingham Trent University, vem estudando o jogo compulsivo há 25 anos e diz acreditar que o ato de jogar e apostar, se levado ao extremo, é tão viciante quanto qualquer droga. Jorge Hessen comenta.

  • Data :04/01/2012
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Trabalho ou jogos podem ser tão viciantes quanto álcool ou drogas, diz especialista

Mark Griffitths

Psicólogo, Notthingham Trent University

O psicólogo britânico Mark Griffiths, professor da Nottingham Trent University, vem estudando o jogo compulsivo há 25 anos e diz acreditar “enfaticamente” que o ato de jogar e apostar, se levado ao extremo, é tão viciante quanto qualquer droga.

Neste texto escrito para a BBC, ele comenta os resultados de seu trabalho:

“Os efeitos sociais e de saúde da jogatina extremada são muitos e têm muita coisa em comum com os efeitos de vícios mais tradicionais, entre eles mau humor, problemas de relacionamento, absenteísmo do trabalho, violência doméstica e ir à falência.

Os efeitos para a saúde - para jogadores e seus parceiros e parceiras - incluem ansiedade, depressão, insônia, problemas intestinais, enxaquecas, stress, problemas estomacais e pensamentos suicidas.

Se comportamentos como a jogatina podem se tornar um vício genuíno, não existe razão em teoria que impediria alguém de se viciar em atividades como videogames, trabalho ou exercícios físicos.

Pesquisas sobre jogadores compulsivos relatam que eles sofrem ao menos um efeito colateral quando passam por períodos de abstinência, como insônia, dores de cabeça, perda de apetite, fraqueza física, palpitações cardíacas, dores musculares, dificuldades de respiração e calafrios.

Abstinência

Na verdade, jogadores compulsivos aparentam sofrer mais sintomas de abstinência física quando tentam cortar o vício do que viciados em drogas.

Mas quando é exatamente que um entusiasmo saudável se transforma em um vício?

Comportamento excessivo por si só não significa que alguém seja viciado.

Eu consigo pensar em muitas pessoas que se envolvem em atividades excessivas, mas eu não as classificaria como viciadas, já que elas parecem não sofrer qualquer efeito negativo ao apresentar tal comportamento.

Em essência, a diferença fundamental entre o excesso de entusiasmo e o vício é que os entusiastas saudáveis adicionam vida às atividades desprovidas dela.

Para qualquer comportamento ser definido como viciante, é preciso que existam consequências específicas como se tornar a atividade mais importante na vida de uma pessoa ou ser o meio pelo qual o humor dela pode melhorar.

Eles podem também começar a precisar fazer mais e mais da atividade ao longo do tempo para sentir seus efeitos e sentir sintomas físicos e psicológicos de abstinência se eles não conseguem fazê-lo.

Isso pode levar a conflitos com o trabalho e com responsabilidades pessoais e muitos podem até viver recaídas se tentam largar o vício.

A maneira pela qual os vícios se desenvolvem - sejam eles químicos ou comportamentais - é complexa.

Vícios ‘ocultos’

O comportamento viciante se desenvolve a partir de uma combinação de predisposição biológica e genética de uma pessoa, o ambiente social em que elas cresceram e sua constituição psicológica, como traços de personalidade, atitudes, experiências e crenças e a própria atividade.

Muitos vícios comportamentais são vícios “ocultos”. Diferentemente do alcoolismo, o viciado em trabalho não apresenta a fala embolada ou sai tropeçando.

Mas, no entanto, o vício comportamental é um tema relativo a saúde que precisa ser levado a sério por todos os profissionais das áreas médicas ou de saúde.

Se o principal objetivo dos profissionais da área médica é garantir a saúde de seus pacientes, então ter consciência sobre o vício comportamental e os temas que o cercam deveriam ser tão importantes quanto o conhecimento básico e o treinamento.

Diversos vícios comportamentais podem ser tão graves quanto vícios em drogas.”

Notícia publicada na BBC Brasil , em 25 de novembro de 2011.

Jorge Hessen comenta*

A doença do jogo compulsivo atinge mais de 10% da população mundial. Mark Griffiths, psicólogo britânico, professor da Nottingham Trent University, assegura que o hábito de jogar e apostar, se levado ao extremo, é tão viciante quanto qualquer droga. Pesquisas sobre jogadores crônicos garantem que tais viciados padecem de pelo menos um efeito colateral quando sofrem por ocasião de abstinência, como insônia, cefaleias, bulimia, fraqueza física, disritmias cardíacas, consternações musculares, dificuldades de respiração e calafrios.

A rigor, todos e quaisquer vícios são, invariavelmente, danosos ao crescimento espiritual do ser humano. Infelizmente, hoje em dia, tornou-se “modismo” o hábito da jogatina. O Governo estimula inclusive os sorteios de loteria. Em realidade, para os pesquisadores, os vícios se alargam a partir de uma combinação biológica e genética de uma pessoa, além do ambiente sociocultural em que ela cresceu e sua compleição psicológica, como traços de personalidade, atitudes, experiências e crenças e a própria atividade. Para alguns descrentes, o comportamento exagerado, por si só, não significa que alguém seja viciado. A diferença fundamental entre o exagero de entusiasmo e o vício é que os entusiastas saudáveis adicionam alegria de viver às atividades, ainda que desprovidas dos objetos de desejo.

Não afirmaremos jamais que o vício, mormente o que propomos analisar, seja um problema de criminalidade, mas como um problema de desequilíbrio íntimo diante das leis da vida. E isto não apenas no terreno em que o vício é mais claramente examinado. Sobre a temática (vício), Chico Xavier disse: “se falamos demasiadamente, estamos viciados no verbalismo excessivo e infrutífero. Se bebemos café excessivamente, estamos destruindo também as possibilidades do nosso corpo nos servir.”(1) Quando ponderamos a palavra vício, podemos também citar os corrompidos pelo álcool, cigarro, dinheiro, comida e, recordamos, do sexo.

Sobre esse último tópico, Chico Xavier instrui: “do sexo herdamos nossa mãe, nosso pai, lar, irmãos, a bênção da família. Tudo isto recebemos através do sexo. No entanto, quando falamos em vício, lembramo-nos do fogo do sexo e a droga… Mas droga é outro problema para nossos irmãos que se enfraqueceram diante da vida, que procuram uma fuga. Não são criminosos. São criaturas carentes de mais proteção, de mais amor. Porque se os nossos companheiros enveredaram pelo caminho da droga, eles procuraram esquecer algo. E esse algo são eles mesmos. Então, precisávamos, talvez, reformular nossas concepções sobre o vício.”(2)

Paulo confessou: “não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas a iniquidade que habita em mim.”(3) Sob o ponto de vista espírita, o vício de jogar pode se tornar um grave entrave moral para o viciado que se diz adepto de Espiritismo, colocando sob suspeita a sua credibilidade.

Não é recomendável um Centro espírita angariar recursos oriundos de jogos, pois isso provocará um ambiente desfavorável para a tranquilidade e harmonia dos frequentadores. As Instituições Espíritas, voltadas a essa prática, hospedam inevitavelmente irmãos do além despreparados para os serviços de socorro espiritual que a casa pode oferecer. Ainda que procuremos amenizar os argumentos, em realidade, o vício açoita as bases da consciência cristã e desarmoniza a estrutura psicológica. Alguns confrades são afeitos aos jogos de azar, porém, é importante recordá-los de que o hábito persistente de jogar os enlaçará invariavelmente nas urdiduras da obsessão. Tais irmãos poderão ficar encarcerados nas garras insaciáveis do parasitismo ou do vampirismo e vidas que poderiam ser nobres, dignas, proveitosas, tornam-se vazias, estimulante de sujeição calamitosa, em que muitas vezes famílias inteiras são afetadas por essas defecções morais.

No Brasil, há 60 anos, desde o Governo Eurico Gaspar Dutra, os jogos de azar são proibidos. Explorá-los é contravenção penal. Todavia, como assinalo acima, o Governo tem estimulado o jogo de azar (legal). Evoca-se para tal concessão a sena, a megasena, a quina etc. Lembremos que nem tudo que é legal é moral, muito embora essa diversidade de jogos seja perfeitamente aceita pela sociedade.

Quaisquer tipos de jogos, nos centros espíritas, contrariam os princípios cristãos, pelos efeitos nefastos que provocam aos seus praticantes. Não há como compactuar com tais práticas, que estimulam o ânimo dos dirigentes das instituições, promover rifas, bingos e sorteios viciantes, numa inquietante justificativa de que as finalidades são “justas”. Todavia, ainda que para “fins beneficentes”, não se justificam os meios comprometedores, consoante admoesta André Luiz, em Conduta Espírita , publicada pela FEB.

É certo que a Doutrina Espírita não é condescendente com quaisquer proibições em suas hostes, desde que observadas às advertências dos Benfeitores quanto aos malefícios que os vícios (no caso, os jogos) causam aos que a eles se afinizam e se entregam. Cremos ser de bom alvitre a consignação nos dispositivos estatutários e Regimentos Internos da casa espírita, o termo “fica vedado” tal ou qual coisa, pois, não faltará quem sugira a divisão da doutrina em: Espiritismo Conservador e Espiritismo Liberal, tal qual vem acontecendo - sabemos - com outras religiões, que a cada dia perdem adeptos e, consequentemente, força.

Obviamente, se pessoalmente alguém quiser entrar numa casa lotérica e tentar a “sorte”, o problema é pessoal, isso é claro, mas se quiser arrastar essa mazela para a comunidade espírita, a questão muda de figura. A partir daí, alguém precisa alçar a questão em benefício dos postulados kardecianos. A despeito de quaisquer pretextos, uma instituição espírita não comporta, em suas instalações, rifas e jogos de azar.

Para se angariar recursos, visando obras transitórias das edificações materiais, a experiência tem mostrado que podemos pegar a charrua do esforço maior e promovermos os tradicionais almoços fraternos, exibições de fitas cinematográficas, bazares, festival da torta, festival do sorvete etc… Se alguém se dispuser a doar para a instituição um bem de expressivo valor (terreno, casa, carro, jóias), a fim de ser revertido em recursos para obras assistenciais, esforcemo-nos por comercializá-lo a preço de mercado, lembrando sempre o que a sabedoria popular proclama: “o ‘pouco’ com Deus, é ‘muito’!”

Referências bibliográficas:

(1) Fonte: “O Espírita Mineiro”, número 179, julho/agosto/setembro de 1979. Publicado no livro CHICO XAVIER - MANDATO DE AMOR, Editado abril/1993 pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais;

(2) idem;

(3) Epístola aos Romanos, 19:20.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal lotado no INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.