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O casal Jim Bob e Michelle Duggar, famoso nos Estados Unidos por sua numerosa família no programa de TV ‘19 Kids and Counting’ (19 Crianças e Contando), anunciou nesta terça-feira que aguarda o nascimento de mais um filho para 2012. Carlos Miguel Pereira comenta.

  • Data :19 Dec, 2011
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Casal americano aguarda nascimento de seu 20º filho

EFE

O casal Jim Bob e Michelle Duggar, famoso nos Estados Unidos por sua numerosa família no programa de TV “19 Kids and Counting” (19 Crianças e Contando), anunciou nesta terça-feira que aguarda o nascimento de mais um filho.

Michelle, de 45 anos, confirmou sua gravidez com uma mensagem no site oficial da família, e disse que dará à luz em 2012. “Depois do nascimento de Josie (sua filha número 19), não sabíamos se poderíamos ter mais”, disse ela, que correu risco de vida, assim como sua filha, que nasceu prematura em um quadro de pré-eclâmpsia.

A mulher fez menção ao ocorrido dizendo que “aquela experiência foi uma das mais aterrorizantes” pelas quais ela e sua família passaram, mas dá graças a Deus por esse “milagre”. “Há muitos anos, Jim Bob e eu decidimos entregar a Deus este aspecto de nossas vidas, e cada um de nossos filhos está agradecido por estar aqui. Nosso objetivo é ensiná-los a amar Deus e servir ao próximo”, disse.

O casal, que vive no estado de Arkansas e teve há dois anos seu primeiro neto, garante jamais ter utilizado métodos anticoncepcionais. Autodenominados “cristãos conservadores”, Jim Bob e Michelle têm filhos em idades compreendidas entre 23 e 2 anos, todos com nomes iniciados pela letra “J”.

O casal explicou em seu site que a Bíblia os guia diariamente, e que o livro sagrado dos cristãos “contém todas as respostas para as perguntas sobre a vida”, como, por exemplo, a procriação.

“Confiamos que o publico sabe que somos pessoas normais, com nossas fragilidades e imperfeições individuais, mas servimos a um Deus extraordinário que se compadece ao demonstrar seu poder”, disseram os Duggar.

Notícia publicada no Yahoo! Notícias , em 8 de novembro de 2011.

Carlos Miguel Pereira comenta*

Através deste comentário, não é minha intenção fazer um julgamento da atitude deste casal americano, que, em pleno exercício da sua liberdade, abdicou do uso de métodos contraceptivos nas suas relações sexuais. Pretendo apenas alertar para algumas ideias difundidas na notícia e que levadas ao extremo podem conduzir a perigosos labirintos.

A Doutrina Espírita reconhece Deus, não como um ser pessoal e antropomórfico, mas como a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Ainda aprenzides na gloriosa escola da vida, carentes de uma melhor compreensão sobre tudo o que nos rodeia, temos fome de oportunidades, experiências e sobretudo de decisões para que, através de erros e acertos, possamos avançar na estrada do crescimento. Para isso, Deus colocou nas nossas mãos material adequado à tarefa: liberdade para agirmos de acordo com a nossa vontade; inteligência e criatividade para sermos agentes de mudança e do progresso; consciência ética e moral que nos guia pelo que é certo.

Porém, munidos destas ferramentas preciosas, em algumas situações decidimos abdicar delas para entregar a Deus a responsabilidade pelo nosso destino: “Deus que escolha o que é melhor para mim!”, “Seja o que Deus quiser!” Estas expressões, sendo uma manifestação de fé, se isentas da responsabilidade que possuímos pelas atitudes que tomamos, transformam-se muito rapidamente numa forma de fanatismo. Será que essa é mesmo a vontade de Deus? Será que ao abdicarmos de tomar decisões não estaremos a condicionar a real vontade de Deus? Será que a vontade de Deus não seria que cada um de nós utilizasse a liberdade para tomar decisões, fazer escolhas e assumir a devida responsabilidade por elas? Por que teimamos em chamar Deus para tomar decisões que já deviam ser nossas?

“É a vontade de Deus” torna-se, muitas vezes, uma forma de nos auto-absolvermos pelo que de mau acontece na nossa vida: “Deus quis assim… quem sou eu para contrariar?” E se Deus quis assim para testar a perseverânça em contrariar um destino aparentemente impiedoso? Nós não somos marionetes manipuladas por Deus ou por outras forças desconhecidas, mas Espíritos livres em plena jornada de crescimento e aprendizagem. Espíritos livres tomam decisões, fazem escolhas, assumem as responsabilidades por elas e aprendem com os seus próprios erros. A fé verdadeira, sendo confiança em Deus e nos seus desígnios, não se compadece com a isenção de responsabilidade pelo que construímos ao longo desta jornada.

A ideia que um só livro pode conter todas as respostas para as perguntas da vida é também bastante perigosa. As religiões foram criadas para ajudar e orientar os homens na sua marcha de espiritualização, mas, frequentemente, perdem-se cristalizadas em convenções dogmáticas, normas restritas e auto-imposições severas em vez de se focarem no crescimento espiritual dos seus fiéis. A Bíblia, como uma obra resultante de 66 livros escritos a partir do ano 1450 A.C., não é um manual de regras de conduta e muito menos um compêndio científico. O antigo testamento é uma compilação de histórias, narrando através de uma linguagem poética a história do povo judeu e a sua relação com o Deus em quem acreditavam. É uma narrativa simbólica que alia as mais notáveis manifestações de coragem, devoção, fé e de amor com traições, assassinatos, crimes horríveis e outros atos de sobrevivência, revelando a natureza humana na sua mais dura realidade, não fazendo sentido interpretá-la como um modelo de comportamento para as gerações futuras.

O Novo Testamento, composto pelos 4 evangelhos e pelos atos dos apóstolos, procura revelar às gerações futuras a vida e a sublime mensagem de amor e compaixão deixada por Jesus, o Messias profetizado pelo antigo testamento. Nas palavras de Jesus, encontramos um vasto material de reflexão à espera de ser aplicado à nossa vida, uma doutrina de paz e elevação que, tendo sido semeada há mais de dois mil anos, ainda aguarda sua concretização.

Em vez de procurarmos seguir de uma forma cega determinadas regras de conduta impostas por livros, religiões ou outras convenções sociais, façamos a verdadeira vontade de Deus: utilizemos a nossa preciosa capacidade para questionar e refletir, agindo em coerência com aquilo que achamos certo e não porque um livro nos diz aquilo que devemos fazer. Ao longo da sua vida, Jesus foi criticado por religiosos ultra-conservadores que procuravam unicamente cumprir aquilo que dizia a lei, esquecendo o essencial no caminho da espiritualização: certa noite, jantando em casa de um fariseu, este perguntou-lhe porque os seus discípulos violavam a lei, comendo sem lavar as mãos. Jesus respondeu-lhe que não é o que entra, mas o que sai da boca do homem que o torna imundo, pois a sua boca fala do que está cheio o coração; outra ocasião, questionado por fariseus por ter ido contra a lei curando doentes a um Sábado, Jesus afirmou: “O Sábado foi criado para o Homem e não o Homem para o Sábado.”

Jesus nunca permitiu que as convenções sociais, culturais e religiosas retringissem o seu comportamento naquilo que ele achava certo. Foi também por isso que o crucificaram. Utilizemos sempre o exemplo deste sábio e bonsoso carpinteiro como uma estrela guia das nossas vidas.

  • Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.