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Estudo revela que 17% dos dependentes atendidos morreram após cinco anos; na Inglaterra, o índice é de 0,5%; violência e doenças relacionadas ao vício em álcool foram as principais causas de morte; religião é apontada como fator de proteção. Luiz Gustavo C. Assis comenta.

  • Data :12/11/2011
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Mortalidade do alcoolismo no Brasil é quase tão grande quanto a do crack

Estudo da Unifesp revela que 17% dos dependentes atendidos morreram após cinco anos; na Inglaterra, o índice é de 0,5%; violência e doenças relacionadas ao vício em álcool foram as principais causas de morte; religião é apontada como fator de proteção

Lígia Formenti / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

O índice de mortalidade entre dependentes de álcool no Brasil está próximo do registrado entre usuários de crack. Pesquisa inédita feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que, em cinco anos, 17% dos pacientes atendidos em uma unidade de tratamento da zona sul de São Paulo morreram.

“É um número altíssimo. Na Inglaterra, o índice não ultrapassa 0,5% ao ano”, diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador do estudo.

O trabalho, que será publicado na próxima edição da Revista Brasileira de Psiquiatria, segue uma linha de pesquisa de Laranjeira sobre morte entre dependentes de drogas. O estudo feito entre usuários de crack demonstrou que 30% morreram num período de 12 anos. “Naquela mostra, a maior parte dos pacientes morreu nos primeiros cinco anos. Podemos dizer que os índices estão bastante próximos.”

O estudo sobre dependência de álcool procurou, depois de cinco anos, 232 pessoas que haviam sido atendidas num centro do Jardim Ângela, zona sul, em 2002. Desse grupo, 41 haviam morrido - 34% por causas violentas, como acidentes de carro ou homicídios. Outros 66% foram vítimas de doenças relacionadas ao alcoolismo. “Os resultados estampam a falta de uma rede de assistência para esses pacientes. Todas as fases do atendimento são deficientes: desde o serviço de urgência, para o dependente em crise, até a rede de assistência psicossocial”, diz Laranjeira.

Violência. Os altos índices de mortalidade são explicados por Laranjeira. Entre dependentes de álcool, principalmente nos casos mais graves, pacientes perdem o vínculo com a família, com o trabalho e adotam atitudes que os expõem a riscos, como sexo sem preservativo ou brigas.

A velocidade desse processo é maior entre pessoas de classes menos privilegiadas, avalia Laranjeira. “Como em qualquer outra doença, pessoas que têm acesso a um serviço de melhor qualidade têm mais chances de controlar o problema. Daí a necessidade de equipar melhor a rede pública”, comparou.

O grupo avaliado na pesquisa da Unifesp ilustra esse processo. A totalidade dos pacientes atendidos era de classe E e D - 52,2% estavam desempregados. A idade média dos entrevistados era de 42 anos. “Debilitados e sem dinheiro, esse grupo dificilmente consegue se inserir novamente na sociedade”, completou.

A ligação com a violência também está clara. O trabalho mostra que entre sujeitos que consumiram álcool, o risco de estar envolvido com crime era 4,1 vezes maior que entre os abstêmios.

Laranjeira lembra que o Jardim Ângela é bairro de periferia. “Mas os baixos indicadores dos pacientes analisados na pesquisa estão longe de refletir a população do bairro. Ali há economia, pessoas estão empregadas.”

Religião. Além da alta mortalidade, a pesquisa conclui que atividades religiosas exercem um efeito protetor sobre os dependentes. Entre os que pertenciam a algum grupo, incluindo os de autoajuda, os índices de participação em crimes eram menores que entre os demais. Dos entrevistados que faziam parte de algum grupo religioso, 30,6% não tiveram participação em crime. Entre os que não estavam ligados a nenhum grupo religioso, 18% conseguiram se manter afastados de crimes.

“Num cenário de total desassistência, é ali que o grupo conseguiu apoio”, diz Laranjeira. Um resultado que, na avaliação do pesquisador, é muito importante de ser considerado. “Numa doença que apresenta um índice de mortalidade de 17%, qualquer fator protetor deve ser estimulado, sem preconceito.” Justamente por isso ele não hesitaria em recomendar para os pacientes procurarem grupos de apoio, incluindo os de natureza religiosa.

Notícia publicada no estadao.com.br , em 19 de setembro de 2011.

Luiz Gustavo C. Assis comenta*

O Alcoolismo é uma doença, como várias outras, com diversas causas: psicológicas, sociais, biológicas e, com certeza, espirituais. Como doença, deve ser tratada de forma séria e competente pelas instituições de saúde e pela sociedade. Contudo, não é o que nós temos visto, como fica comprovado na matéria acima.

No caso do alcoolismo, entretanto, há um fator agravante. Muitos acham que as pessoas com essa doença não param de beber porque não querem, acham que é apenas uma questão de vontade, o que não é verdade. Junte-se a isso o fato do álcool ser uma droga socialmente aceita e, muitas vezes, ter o seu uso incentivado pela sociedade materialista em que vivemos. Dessa maneira, temos que, se por um lado, a sociedade incentiva o seu consumo, por outro “discrimina” aqueles que não conseguem controlar seu vício e causam diversos danos à sociedade.

Devemos, assim, incentivar ações que visem o melhoramento da rede de tratamento e apoio às pessoas e às famílias que sofrem com o alcoolismo. Cobrar dos governos ações mais sólidas para acabar com esta epidemia que vem assolando a sociedade. Devemos lutar para melhorar a rede de amparo social aos que sofrem e procurar meios de ajudar o próximo, de todas as formas, pois isto ajudará a diminuir o índice de mortalidade entre os doentes. E procuremos, sim, aplicar os princípios cristãos de caridade na nossa sociedade, independente de termos um estado laico. Busquemos, cada vez mais, tornar a nossa sociedade mais Cristianizada, conforme nos ensinam os Espíritos Superiores, em resposta à questão 685a, de O Livro dos Espíritos :

“O forte deve trabalhar para o fraco. Não tendo este família, a sociedade deve fazer as vezes desta. É a lei de caridade.”

Além disso, a matéria nos traz outro dado significativo: a importância da religião como “um efeito protetor sobre os dependentes”. Isso vem nos lembrar, principalmente, a nós, espíritas, a necessidade de divulgarmos a nossa doutrina, oferecendo uma rede de apoio a todos os que sofrem. O conhecimento da doutrina espírita ajudará a muitos que procuram um amparo, um apoio e um esclarecimento para suas dúvidas. Ajudará muitos a se reerguerem e ajudará outros a não caírem. A divulgação da doutrina espírita é papel de todos nós que já fomos tocados pelos seus princípios renovadores e que já fomos tão auxiliados por ela. Procuremos, portanto, meus irmãos, divulgar sempre a doutrina espírita, pois conforme nos ensina Emmanuel, no livro Estude e Viva , psicografado por Francisco Cândido Xavier:

“Lembra-te deles, os quase loucos de sofrimento, e trabalha para que a Doutrina Espírita lhes estenda socorro oportuno. Para isso, estudemos Allan Kardec, ao clarão da mensagem de Jesus Cristo, e, seja no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra, recordemos que o Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade da sua própria divulgação”.

  • Luiz Gustavo C. Assis é psicólogo, trabalhador do Centro Espírita Maranhense, em São Luís do Maranhão, e da equipe do Espiritismo.net.