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Ameneh Bahrami lutou na Justiça de seu país para que Majid Movahedi fosse punido de acordo com a justiça retributiva - parte da sharia (lei islâmica) que considera moralmente aceitável punir o criminoso de forma semelhante ao crime que ele cometeu. Carlos Miguel Pereira comenta.

  • Data :11 Oct, 2011
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Iraniana perdoa homem que a desfigurou com ácido antes de punição

Um homem iraniano que iria ser cegado como punição por deformar o rosto de uma mulher com ácido foi perdoado pela vítima, segundo o canal de televisão estatal.

Ameneh Bahrami lutou na Justiça de seu país para que Majid Movahedi fosse punido de acordo com a justiça retributiva (chamada de qisas ) - parte da sharia (lei islâmica) que considera moralmente aceitável punir o criminoso de forma semelhante ao crime que ele cometeu.

No entanto, a mídia local disse que ela abriu mão do seu direito pouco antes do procedimento que cegaria o homem.

Um tribunal iraniano aceitou o pedido de Bahrami para que Movahedi fosse cegado em 2008, mas a sentença seria aplicada neste domingo.

Ele atacou a mulher em 2004, depois que ela recusou sua oferta de casamento, desfigurando seu rosto com ácido.

A Anistia Internacional fez uma campanha contra a sentença, que chamou de “punição cruel e desumana que pode ser qualificada como tortura”.

Indenização

Segundo a agência de notícias estatal Isna, o promotor Abbas Jafari Dolatabadi, de Teerã, anunciou o perdão de Bahrami.

“Hoje, o procedimento que cegaria Majid Movahedi iria acontecer, na presença de um oftalmologista e de um representante da justiça, quando Ameneh o perdoou”, disse o promotor.

“Eu lutei durante sete anos por este veredito para provar às pessoas que uma pessoa que joga ácido em alguém deve ser punida com qisas, mas hoje eu o perdoei porque é meu direito”, disse a mulher à Isna.

“Eu fiz isso pelo meu país, já que todos os outros países estavam observando o que nós faríamos”, afirmou.

Segundo a TV estatal, Bahrami afirmou que não planejava ir até o fim com a sentença.

“Eu nunca quis me vingar dele. Eu só queria que a sentença fosse dada por retribuição. Mas eu não teria ido até o fim. Eu não tinha intenção de tirar os olhos dele.”

Segundo o promotor Dolatabadi, a mulher pediu dinheiro como indenização por seus ferimentos.

Ela afirma que nunca recebeu dinheiro da família de Movahedi e pediu uma compensação por suas despesas médicas, de 150 mil euros (cerca de R$ 336 mil).

Movahedi serviu sete anos de sua pena, que vai de dez a doze anos de prisão. Mas, segundo a mulher, ele não será libertado a não ser que a indenização seja paga.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 31 de julho de 2011.

Carlos Miguel Pereira comenta*

“Perdoa-lhes Pai: eles não sabem o que fazem!” – Jesus

Analisado de um modo tranquilo e racional, o perdão é sempre o melhor caminho. No entanto, não é possível esconder que aceitar a dor ou o prejuízo infligido, abdicando do desejo que os seus causadores provem um pouco do amargo sofrimento que nos impuseram, é uma tarefa muito difícil. A nível psicológico, perdoar é uma atitude exigente, pois ao longo de muitas vidas criamos hábitos milenares de defesa que nos fazem reagir de forma instintiva às dores, ofensas e humilhações. Mas o que é mesmo perdoar?

Será que perdoar é esquecer o mal que alguém nos fez? Agindo dessa forma seríamos imprudentes, ficando vulneráveis a novas agressões. Então, será que perdoar é negar as próprias mágoas? É normal ficarmos magoados quando nos desiludem ou quando somos traídos na confiança que depositamos em alguém. As nossas mágoas são a natural consequência das ilusões que alimentamos, das expectativas não concretizadas, das ideias equivocadas que possuímos sobre aquilo que nos rodeia. Mágoas são falsos entendimentos ainda doridos pelo choque com a dura realidade.

Então o que é o perdão? É tão simples como parar de odiar, recusando os caminhos tortuosos do ressentimento e do desejo de vingança. Qualquer que seja a ofensa, o perdão está sempre no extremo oposto da vingança, conseguindo responder aos equívocos e erros dos outros a partir de uma postura compreensiva. Para isso, não é necessário pactuar com os erros nem ser passivo diante da brutalidade de alguém. Para perdoar, basta não rebater o mal com o mal, fazendo um esforço de compreensão. Mas o que há para compreender? “Ele me feriu, me prejudicou, por sua causa fiquei sem emprego, me humilhou, roubou minha namorada, me traiu, envenenou meu cachorro…” O que há para compreender?

Há tanto para compreender. Treinar a compreensão é desenvolver a benevolência que nos possibilita o entendimento das razões do outro, percebendo toda a complexidade social, cultural, biológica, moral e espiritual que influencia a todos sem exceção. Perdoar é atingir um grau supremo de lucidez espiritual que permite ver de que carecem os agressores e, em vez de lhes desejar mal, treinar a compaixão. Perdoar não é fácil e nem sequer é necessário que quem agrediu mostre arrependimento. O perdão é uma postura interior de benevolência que deixa a inveja para os invejosos, a maldade para os maldosos, a violência para os violentos, percebendo que estes comportamentos são, eles mesmo, motivo de ardente sofrimento para quem os cultiva. Infelizes dos que alimentam tais emoções perturbadoras, infelizes dos que lhe juntam atitudes criminosas. São almas doentes e perturbadas que merecem que não fiquemos indiferentes às suas dores morais.

Jesus de Nazaré foi pioneiro na prática e divulgação do poder libertador que o perdão exerce nas relações humanas. Até então, o poder de perdoar estava reservado aos Deuses. Jesus foi o primeiro homem a demonstrar que o poder de perdoar é um ato intrinsecamente humano. Em Jesus, o perdão liberta o homem das garras abrasivas das sucessivas vinganças, impedindo que vítima e agressor fiquem enclausurados num ciclo vicioso de ódio e aviltamento mútuo.

A crueldade que o Homem ainda evidencia, e que é difundida de um modo tão sensacionalista pela mídia, é muitas vezes fonte de enormes perturbações e dúvidas sobre a ideia de justiça. A justiça é um atributo da vida, seja esta vida no planeta Terra, na galáxia NGC 4594 ou na dimensão espiritual. Esta justiça não está dependente das leis humanas e das diferentes crenças religiosas. Aqueles que hoje se comportam de uma forma agressiva, aprenderão à sua própria custa que a violência não é a resposta que procuravam e serão solicitados mais cedo ou mais tarde à correção de todo o mal que semearam. Por esse motivo, as normas jurídicas humanas, ainda indispensáveis ao equilíbrio social, mas limitadas no entendimento do que é a vida, não devem ter a pretensão de fazerem plena justiça, pois cometem, muitas vezes, os mesmos equívocos que procuram punir. A resposta da Humanidade ao crime, à crueldade e à injustiça não pode pactuar com comportamentos de brutalidade e de punição selvagem. As graves fragilidades que ainda evidenciamos como seres humanos devem ser combatidas através da educação e da compaixão. “Perdoa-lhes Pai: eles não sabem o que fazem!”

  • Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.