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Filósofos têm argumentado por milênios sobre se as nossas vidas são guiadas por nossa própria vontade ou se são pré-determinadas como resultado de uma cadeia contínua de eventos sobre os quais não temos controle. Cristiano Carvalho Assis comenta.

  • Data :20/06/2011
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Filosofia experimental: Livre Arbítrio versus Causa e Efeito

Baseado em artigo de Jeff Harrison

Liberdade versus determinismo

Filósofos têm argumentado por séculos, milênios, na verdade, sobre se as nossas vidas são guiadas por nossa própria vontade ou se são pré-determinadas como resultado de uma cadeia contínua de eventos sobre os quais não temos controle.

Por um lado, parece que tudo o que acontece tem algum tipo de explicação causal; por outro, quando tomamos decisões, parece-nos que temos o livre arbítrio que nos permitiria tomar decisões diferentes e trilhar outros caminhos.

A maioria das pessoas parece concordar com o império do livre-arbítrio.

Contudo, embora muitos, nas mais diversas culturas, rejeitem o que é conhecido como determinismo, todos continuam encarando conflitos sobre o papel da responsabilidade pessoal em situações que exigem julgamentos morais.

Filosofia experimental

O professor Shaun Nichols, da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, é um dentre um número crescente de pesquisadores que estão tentando encarar esse dilema filosófico através da aplicação de métodos experimentais usados pelos psicólogos do desenvolvimento e por outros cientistas sociais.

Suas últimas conclusões (“A Filosofia Experimental e o Problema do Livre Arbítrio”) foram publicadas na edição desta semana da revista Science.

Até recentemente, essas questões foram dissecadas usando “reflexão cuidadosa e sustentada, aguçada por um diálogo com colegas filósofos,” disse Nichols.

“Quase tudo o que as pessoas têm feito é trabalhar com estes problemas de forma conceitual. Você pensa por meio de problemas; você pensa sobre as implicações de algumas teses. E um monte de trabalhos excelentes foi feito sobre complexas questões filosóficas usando essas técnicas ao longo dos últimos 2.000 anos”.

Mas Nichols está trazendo para a filosofia experimental outra ferramenta que pode proporcionar novas fontes de informação e ajudar a resolver alguns destes problemas.

Livre arbítrio e determinismo

O debate sobre o livre-arbítrio e o determinismo é um problema desse tipo.

O princípio central do determinismo é que tudo o que acontece é o resultado de algo que o fez acontecer, e esse algo foi provocado por um algo anterior e assim por uma cadeia infinita que remonta ao início dos tempos.

O conflito surge quando as pessoas se deparam com a necessidade de fazer uma escolha ou tomar uma decisão que resulta em tomar caminhos diferentes, todos eles caminhos igualmente possíveis.

“O dilema é como conciliamos a forma como normalmente pensamos sobre a explicação causal com a intuição de que temos de que nossas decisões não são apenas o produto destas cadeias causais inevitáveis,” disse Nichols.

Parece que algo tem que ser abandonado, seja o nosso gosto pelo livre arbítrio, seja a ideia de que cada evento é completamente causado por eventos anteriores."

Livre-arbítrio entre as crianças

O filósofo decidiu então testar a noção do livre-arbítrio em crianças.

Quando perguntadas se uma bola que estava rolando em uma rampa rumo a uma caixa poderia ter um destino diferente, quase universalmente as crianças responderam “não”.

Mas quando perguntadas se um adulto que aproximou sua mão da caixa poderia fazer outra coisa que não fosse enfiar a mão na caixa, a resposta foi uniformemente “sim”.

Os resultados são óbvios e nada mais fazem do que reproduzir o dilema, mas podem indicar que estes conceitos se formam muito precocemente.

Livre-arbítrio entre os adultos

Já os adultos mostraram os resultados conflitantes que se verifica sobre a questão desde o surgimento da filosofia.

Dado um universo determinista, onde cada decisão é o resultado de decisões passadas, as pessoas geralmente responderam que ninguém poderia ser considerado moralmente responsável por suas ações em tal universo.

Mas quando apresentadas com um cenário em que um homem nesse universo teórico cometeu um ato criminoso hediondo, a maioria dos participantes concordaram que o homem tinha inteira responsabilidade moral por suas ações.

Pergunta mal feita

Uma possível explicação para estas respostas que o filósofo chama de “conflitantes” é que, quando as pessoas estão calmas e serenas, o determinismo parece excluir o livre-arbítrio e a responsabilidade moral.

Já os casos que são mais emocionalmente carregados e “mais próximos de casa” suscitam respostas diferentes.

“Quando você apresenta às pessoas uma transgressão carregada emocionalmente, e se você pergunta se a pessoa é moralmente responsável, então a esmagadora maioria diz que a pessoa é responsável, mesmo que sua ação tenha sido o resultado determinístico de outra coisa,” diz o pesquisador.

Aceitas ou não essas hipóteses, o experimento não resolve a questão se o nosso universo é um universo determinístico ou um universo guiado pelo livre-arbítrio - a forma como a questão é posta dita o resultado do experimento.

Filosofia de laboratório

A filosofia experimental, contudo, segundo Nichols, pode ajudar a compreender porque as pessoas são levadas em direções diferentes em uma série de problemas do dia-a-dia.

“Esse movimento tem menos de 10 anos e hoje já existem centenas de publicações sobre a filosofia experimental. Nesta revisão eu foquei o livre-arbítrio, mas há uma grande quantidade de trabalhos sobre outros temas, incluindo o julgamento moral, o raciocínio causal, e como as pessoas pensam sobre a consciência,” diz ele.

Notícia publicada no Diário da Saúde , em 22 de março de 2011.

Cristiano Carvalho Assis comenta*

Para entendermos sobre determinismo e livre-arbítrio, segundo o Espiritismo, precisamos compreender quais os pontos de nossas vidas são determinadas, onde está localizado nosso livre-arbítrio e quais os valores de nossas atitudes perante a vida. Sobre este assunto precisamos ter por base as respostas contidas em O Livro dos Espíritos, no tópico da fatalidade, questões 851 a 867:

851. Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre-arbítrio?

A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar , desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, institui para si uma espécie de destino, que é a consequência mesma da posição em que vem a achar-se colocado. Falo das provas físicas, pois, pelo que toca às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou de resistir . Ao vê-lo fraquejar, um bom Espírito pode vir-lhe em auxílio, mas não pode influir sobre ele de maneira a dominar-lhe a vontade. Um Espírito mau, isto é, inferior, mostrando-lhe, exagerando aos seus olhos um perigo físico, o poderá abalar e amedrontar. Nem por isso, entretanto, a vontade do Espírito encarnado deixa de se conservar livre de quaisquer peias.”

Dessa forma, os dois pontos grifados explicam bem a diferença de um para o outro. O determinismo se dá em algumas provas que passaremos, como projetos de vida, onde o objetivo maior será domarmos nossas limitações morais, resgatarmos erros de nosso passado com nossos irmãos e desenvolver o amor em nossos corações. O livre-arbítrio está relacionado ao mundo dos pensamentos, onde todos estamos em completa liberdade de escolha.

Precisamos evitar os extremismos de opiniões, quanto a pensar por isso que tudo em nossas vidas está determinado. Ideia que vai contra todos os postulados da Doutrina no que se refere ao esforço, vontade e evolução moral. Acreditando neste determinismo exagerado, seríamos marionetes do destino, onde tudo já estaria determinado e não adiantaria fazermos nada que sempre o resultado seria o mesmo.

859 a) - Haverá fatos que forçosamente devam dar-se e que os Espíritos não possam conjurar, embora o queiram?

“Há, mas que tu viste e pressentiste quando, no estado de Espírito, fizeste a tua escolha. Não creias, entretanto, que tudo o que sucede esteja escrito, como costumam dizer . Um acontecimento qualquer pode ser a consequência de um ato que praticaste por tua livre vontade, de tal sorte que, se não o houvesses praticado, o acontecimento não seria dado. Imagina que queimas o dedo. Isso nada mais é senão resultado da tua imprudência e efeito da matéria. Só as grandes dores, os fatos importantes e capazes de influir no moral, Deus os prevê, porque são úteis à tua depuração e à tua instrução.”

Mostrando, dessa forma, que nossa vida não está completamente traçada quando reencarnamos. Nem tudo o que vivemos estava programado. A grande maioria dos nossos fracassos ou erros é consequência das nossas escolhas equivocadas nesta vida mesmo, sem determinação prévia.

A maioria das vezes preferimos imaginar que estamos passando por algo devido a um erro de outras vidas do que assumir a responsabilidade pelo que fizemos no hoje. Ficamos na ilusão de uma perfeição que ainda não possuímos, achando que nossos equívocos já são coisas do passado, pois pelo grande conhecimento que adquirimos só estamos resgatando débitos, não mais os cometendo. Grande erro de nossa parte, pois estamos desperdiçando ótimas oportunidades de auto-conhecimento, crescimento espiritual e reequilíbrio de nossas vidas atuais.

O interessante é que nem mesmo “as grandes dores, os fatos importantes e capazes de influir no moral” são fatalidades ou determinismos absolutos, ou seja que não podem ser modificados:

860. Pode o homem, pela sua vontade e por seus atos, fazer que se não deem acontecimentos que deveriam verificar-se e reciprocamente?

“Pode-o, se essa aparente mudança na ordem dos fatos tiver cabimento na sequência da vida que ele escolheu. Acresce que, para fazer o bem, como lhe cumpre, pois que isso constitui o objetivo único da vida, facultado lhe é impedir o mal, sobretudo aquele que possa concorrer para a produção de um mal maior.”

Vemos assim que “o amor cobre uma multidão de pecado” (cf. I Pedro 4, 7) ou “a cada um segundo suas obras” (Rom. 2, 6). Só passaremos por algo se tiver utilidade moral para nós. Uma prova dolorosa em nossas vidas será retirada de nossa programação se já aprendemos com nossos pensamentos, palavras e atitudes o que precisávamos aprender. Fatalidade absoluta só há em um momento de nossas existências, a morte.

Outro equivoco de nossa parte é pensar que há algum projeto de vida de alguém ser assassino, suicida ou qualquer outra atitude desequilibrada.

861. Ao escolher a sua existência, o Espírito daquele que comete um assassínio sabia que viria a ser assassino?

*“Não. Escolhendo uma vida de lutas, sabe que terá ensejo de matar um de seus semelhantes, mas não sabe se o fará, visto que ao crime precederá quase sempre, de sua parte, a deliberação de praticá-lo. *

Para não termos dúvidas sobre a fatalidade ou determinismo e o livre-arbítrio, os Espíritos Superiores definiram: “Demais, sempre confundis duas coisas muito distintas: os sucessos materiais e os atos da vida moral. A fatalidade, que por algumas vezes há, só existe com relação àqueles sucessos materiais, cuja causa reside fora de vós e que independem da vossa vontade. Quanto aos da vida moral esses emanam sempre do próprio homem que, por conseguinte, tem sempre a liberdade de escolher. No tocante, pois, a esses atos, nunca há fatalidade.”

Fica fácil entendermos todos esses aspectos com os ensinamentos espíritas, mas para aqueles filósofos ou pensadores que não têm a chave da reencarnação, da preexistência do espírito, das escolhas das provas e, muitas vezes, nem da crença de Deus, com certeza, será uma tarefa impossível. Tenhamos nós espíritas a gratidão por termos esses conhecimentos, mas que principalmente eles possam fazer a diferença em nosso mundo íntimo e social.

  • Cristiano Carvalho Assis é formado em Odontologia. Nasceu em Brasília/DF e reside atualmente em São Luís/MA. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Maranhense e colaborador do Serviço de Atendimento Fraterno do Espiritismo.net.