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O psicólogo Ibrahim Senay, da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, descobriu uma forma intrigante de criar em laboratório uma versão de obstinação e disposição – e explorar possíveis conexões com a intenção, motivação e estabelecimento de metas. Breno Henrique de Sousa comenta.

  • Data :15 May, 2011
  • Categoria :

Bendita dúvida!

Fixar a mente em uma meta única pode ser contraproducente; com certeza, traçar objetivos é importante, mas questioná-los pode ser decisivo para obter sucesso

por Way Herbert

Manter o foco para atingir objetivos. Essa é uma das orientações que mais se ouvem nos cursos de treinamento de profissionais das mais diversas áreas e se leem em livros de gestão empresarial e até nos manuais de autoajuda. É preciso estabelecer metas claras, mas, principalmente, é fundamental ter força de vontade. Este último conceito, aliás, é bastante enfatizado nos programas de recuperação de dependentes químicos, nos quais as pessoas devem se comprometer com o desejo de se manter afastadas da adicção. Ou seja: é preciso estar disposto a se recuperar – e focar nesse ponto.

Mas agora talvez a ciência possa ajudar. O psicólogo Ibrahim Senay, da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, descobriu uma forma intrigante de criar em laboratório uma versão de obstinação e disposição – e explorar possíveis conexões com a intenção, motivação e estabelecimento de metas. Ele identificou algumas características necessárias não só para abstinência de longo prazo, mas também para atingir qualquer objetivo pessoal, desde perder peso até aprender a tocar violão.

Senay conseguiu esse resultado explorando a “autoconversação”. A acepção do termo é exatamente essa: trata-se daquela voz interna que articula aquilo que você está pensando, expondo em detalhes opções, intenções, esperanças, medos etc. O pesquisador acredita que a forma e o sentido dessa conversa consigo mesmo expressos na estrutura da frase podem ter grande importância na formulação de planos e ações. Além disso, a autoconversação deve ser uma ferramenta para revelar intenções e reafirmar o que desejamos.

Senay testou esse conceito com um grupo de voluntários que trabalhavam com anagramas – por exemplo, mudando a palavra “prosa” para “sopra, ou “fala” para “alfa”. Mas, antes de começar a tarefa, metade dos voluntários era instruída a ponderar se de fato queria e achava que cumpriria a tarefa, enquanto a outra parte simplesmente era informada de que ia trabalhar nos anagramas em alguns minutos. A diferença é sutil, mas marcante, pois ao começarem a atividade os primeiros voltavam seu pensamento à curiosidade (não só em relação à tarefa, mas também à própria disposição em realizá-la); já os integrantes do segundo grupo basicamente se predispunham a cumprir o que lhes seria pedido. Seria a mesma diferença entre se perguntar “será que vou fazer isso?” e afirmar “eu vou fazer isso”.

Os resultados foram intrigantes. As pessoas que antes haviam se questionado sobre o desejo de participar do trabalho se mantiveram mais criativas, motivadas e interessadas nele, completando um número significativamente maior de anagramas, em comparação ao dos voluntários que apenas foram instruídos a cumprir a atividade. Por que as intenções de pessoas tão determinadas – e sem muito espaço para questionamentos – sabotam metas preestabelecidas em vez de favorecê-las? “Talvez porque as perguntas, por sua própria natureza, transmitem a ideia de possibilidade e liberdade de escolha, e meditar sobre elas pode estimular sentimentos de autonomia e motivação intrínseca, criando uma mentalidade que favorece o sucesso”, sugere Senay. Ou seja: saber que não somos “obrigados” a algo nos coloca numa posição de maior responsabilidades sobre nossos atos.

Senay elaborou outro experimento para analisar a questão de forma diferente: recrutou voluntários sob o pretexto de que estavam sendo convocados para um estudo sobre caligrafia. Alguns deveriam escrever as palavras “Eu quero” várias vezes; e outros, “Será que eu quero?”. Depois de preparar os voluntários com essa falsa tarefa de caligrafia, Senay pediu que trabalhassem nos anagramas. E, exatamente como no caso anterior, os participantes mais determinados (que haviam escrito a frase afirmativa) tiveram pior desempenho que aqueles que tinham redigido a sentença interrogativa.

Pouco depois, Senay realizou mais uma versão desse experimento, mas dessa vez claramente relacionado a hábitos de vida saudável. Em vez de propor o uso de anagramas, avaliou a intenção dos voluntários de iniciar e manter um programa de exercícios físicos. Nesse cenário real ele obteve o mesmo resultado básico: aqueles que escreveram a frase interrogativa “Será que eu quero?” mostraram comprometimento muito maior com a prática regular de exercícios do que os que escreveram no início do teste a frase afirmativa “Eu quero.”

Além disso, quando foi perguntado aos voluntários se achavam que estariam mais motivados a ir à academia com maior frequência, os que foram preparados com a frase interrogativa justificaram declarando, por exemplo: “Quero cuidar mais de minha saúde”. Aqueles que escreveram a frase afirmativa deram explicações como: “Porque me sentiria culpado ou envergonhado de mim mesmo se não o fizesse”, mostrando-se mais perseguidos e culpados do que realmente comprometidos.

Esta última descoberta é crucial: indica que pessoas mais flexíveis, com menor receio de rever os próprios conceitos, estavam mais intimamente motivadas, buscando uma inspiração positiva interior – e não tentando prender-se a um padrão rígido, autoimposto em algum momento. Essa inspiração interna faltou aos aparentemente “mais decididos”, o que explica, pelo menos em parte, a fraca determinação para futuras mudanças, ainda que vantajosas a médio prazo.

Considerando a recuperação de dependentes químicos e o autoaperfeiçoamento, em geral, aqueles que declaravam sua força de vontade sem contestações estavam, na verdade, fechando a mente e estreitando sua visão de futuro. Aqueles que se perguntavam sobre os rumos a seguir e conjecturavam possibilidades reafirmavam sua escolha – e se comprometiam com ela.

Way Herbert é diretor da Association for Psychological Science, nos Estados Unidos.

Matéria publicada na Revista Mente Cérebro , em setembro de 2010.

Breno Henrique de Sousa comenta*

Motivação

Sem dúvida, seria muito bom ter uma fórmula pronta com este título, aquela que ao tomar nos daria a motivação que buscamos para terminar qualquer tarefa. Por outro lado, que mérito teríamos se a motivação nos fosse dada por uma fórmula pronta? Motivar-se é uma capacidade individual. Naturalmente, sofremos influências do meio, mas podemos por nós mesmos desenvolver esta capacidade. As obras de auto-ajuda oferecem ferramentas como as da neurolinguística, que são eficazes para o desenvolvimento desta capacidade e a libertação de bloqueios psicológicos que nos impedem de progredir, mas pecam em considerar que todos os seres humanos partem de condições iguais.

Sabemos que fatores sociais, econômicos, biológicos, psicológicos e espirituais influem decisivamente sobre nosso estado de ânimo, mas o Espiritismo nos esclarece que estes fatores resultam de nossas escolhas passadas, desta ou de outras existências físicas. A reencarnação nos faz compreender porque alguns são naturalmente motivados, sem nunca ter lido nenhum livro de auto-ajuda, são capazes de realizar grandes feitos, e outros, apesar de toda leitura, não conseguem sair do lugar. Porém, esta não é uma atitude conformista, pois o Espiritismo, ao afirmar a reencarnação, nos põe a responsabilidade da mudança e da superação. Se tivermos mais dificuldades que o companheiro ao lado, significa que estamos mais atrasados na caminhada e por isso precisamos trabalhar mais arduamente em nossa reforma íntima. Não há motivo para revoltas ou para sentir-se inferior. Cada um possui o patrimônio que se esforçou por adquirir e somos o que fazemos de nós mesmos. Se o outro não precisa ler livros de auto-ajuda para motivar-se, isso significa que outrora ele já absorveu os conhecimentos oferecidos por este gênero de literatura, mas quem precisa deve buscar sempre o conhecimento, em qualquer parte, como forma de libertação.

Esta matéria também me faz lembrar o adágio popular no qual se pede a Deus coragem para mudar as coisas que podem ser mudadas, aceitação para as coisas que não podem ser mudadas e sabedoria para distinguir as duas. Eu diria que a parte mais difícil é a sabedoria. É fácil ser obstinado ao ponto da teimosia, alguns acreditam até que isto seja uma virtude, é fácil também sabotar-se com desculpas para desistir de nossos propósitos, difícil é ser sábio e sabedoria é algo que só se conquista vivendo experiências.

Pedimos sempre a Deus força para superar os obstáculos da vida, mas o que existe essencialmente são os nossos obstáculos internos. A vida flui! Ela não tem intenção de nos por obstáculos. Quando fluímos com a vida, não é preciso “força”, porque fluímos com suavidade. Nesta condição somos naturalmente motivados porque temos consciência plena de nossos propósitos, não dispersamos energias com nossos tormentos, não nos detemos com nossos medos e nem temos a percepção embasada por nossas imperfeições. Quando nos iluminamos por dentro, iluminamos o mundo à nossa volta, compreendemos e enxergamos, esta é a essência da libertação. Assim podemos caminhar leves e sem esforço, de maneira prazerosa e não como alguém que deve cumprir a obrigação de uma árdua tarefa desagradável.

Conhece-te a ti mesmo. Jesus foi o mensageiro divino que nos mostrou o amor como caminho de auto-conhecimento e libertação. A sua boa nova é muito mais profunda que qualquer compêndio de auto-ajuda destes muitos que enchem as prateleiras das livrarias. Quem bebe desta fonte terá vida em abundância!

  • Breno Henrique de Sousa é paraibano de João Pessoa, graduado em Ciências Agrárias e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba. Ambientalista e militante do movimento espírita paraibano há mais de 10 anos, sendo articulista e expositor.