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Pesquisadores pediram a estudantes universitários (282, no total) que avaliassem o quanto eles “desejavam” e “gostavam” de uma série de atividades numa escala de 1 a 5. E os resultados indicaram o quê? Jorge Hessen comenta.

  • Data :05/04/2011
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O que a gente valoriza mais: sexo, dinheiro, comida, álcool, amigos ou elogios?

Thiago Perin

Convenhamos: o que não falta na vida é coisa prazerosa para fazer por aí. Pega essas que a gente citou no título do post e adiciona mais as que você quiser: a lista vai crescendo e crescendo, até ficar gigante. Mas, entre todos os itens gostosinhos que a gente consegue citar, qual deles é o que nos faz mais bem? Em dois estudos, pesquisadores pediram a estudantes universitários (282, no total) que avaliassem o quanto eles “desejavam” e “gostavam” de uma série de atividades numa escala de 1 a 5. E os resultados indicaram o quê? Que os voluntários dão mais valor para aqueles tapinhas na autoestima (como receber um elogio ou uma avaliação positiva) do que para, muita atenção: comer sua comida preferida, fazer sexo, beber, receber o salário do mês e até encontrar um melhor amigo.

“É um tanto surpreendente como esse desejo de se sentir valorizado triunfa sobre qualquer outra atividade prazerosa que a gente possa imaginar”, diz o líder do estudo, Brad Bushman, professor de comunicação e psicologia na Universidade de Ohio (EUA). E não tem nada errado com isso, é claro. Todo mundo quer se sentir bem consigo mesmo, e ser elogiado é parte fundamental disso. Mas tem o lado negro da história: os resultados do estudo sugerem que alguns jovens talvez estejam focados um tantinho demais nesse papo de receber elogios. Os voluntários tiveram que avaliar o quanto “desejavam” e o quanto “gostavam” dos itens, certo? Isso porque pesquisas sobre o vício sugerem que as pessoas viciadas tendem a reportar que “desejam” algo mais do que “gostam” daquilo. E, nesse estudo, os participantes “gostaram” de mais do que “desejaram” todas as atividades prazerosas citadas – mas, quando o papo mexia com a autoestima, a diferença entre os verbos foi a menor registrada, a mais próxima do “desejo”. “Não seria correto dizer que os participantes são viciados em autoestima”, diz Bushman. “Mas eles estavam mais próximos disso do que de serem viciados em qualquer outra atividade estudada”.

Matéria publicada na Revista Superinteressante , em 7 de janeiro de 2011.

Jorge Hessen comenta*

O que uma pessoa tende a valorizar mais: satisfação sexual, dinheiro, comida, álcool, amigos ou elogios? “Pesquisadores avaliaram os desejos e gostos de alguns estudantes universitários sobre uma série de desejos e gostos e os resultados, para surpresa dos estudiosos, indicaram que os voluntários dão mais valor a um elogio ou uma avaliação positiva do que comer sua comida preferida, satisfazer-se sexualmente, beber, receber o salário do mês e até encontrar um melhor amigo.”(1)

Portanto, embora surpresos, os pesquisadores confirmaram que o desejo de se “sentir valorizado”, através de elogios, triunfa sobre qualquer outra situação prazerosa. Cremos que estamos observando gerações em que uma parcela gigantesca de cidadãos é constituída de adultos condescendentes, imaturos para os obstáculos, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e dotados de uma alucinante certeza de que o mundo lhes deve algo, por isso, exigem ser adulados.

Não há dúvida de que a ausência de palavras e frases motivadoras, cada vez mais incomuns nos ambientes domésticos, prejudica a relação parental. Raramente observam-se muitos homens estimulando com palavras edificantes suas mulheres e vice-versa, não se constata regularmente chefes estimulando com sinceridade o trabalho de seus subordinados, não é muito comum pais e filhos estimulando-se com palavras afetuosas.

Óbvio que o bom profissional, inobstante não almeje, valoriza uma palavra de estímulo, o bom filho gosta de ser reconhecido, o bom pai ou a boa mãe exultam de ser avaliados positivamente, o bom amigo, a boa dona de casa, a mulher que se cuida, o homem que se dedica, enfim, vivemos numa sociedade em que um precisa do outro; é impossível um homem viver sozinho, e as palavras motivadoras (que não pode resvalar para elogios) são a oxigenação de ânimo na vida de qualquer pessoa.

Desde que adentramos nos portais dos ensinos kardecianos, aprendemos que o elogio (ainda que bem intencionado) nos amolece e ilude. E nada existe de mais frágil que uma criatura iludida a seu próprio respeito. É verdade, os Benfeitores nos advertem a fim de que não percamos nossa independência construtiva a troco de considerações humanas (bajulações), posto que a armadilha que pune o animal criminoso é igual à que surpreende o canário negligente.

Até mesmo nos momentos de agruras de alguém, “nas horas difíceis, em que vemos um companheiro despenhar-se nas sombras interiores, não olvidemos que, para auxiliá-lo, é tão desaconselhável a condenação, quanto o elogio.”(2) Sussurra a prudência cristã que nunca cederíamos campo à vaidade se não vivêssemos reclamando o deletério coquetel da lisonja ao nosso egocentrismo doentio.

Invariavelmente, ficamos submissos às injunções sociais quando buscamos aprovação (bajulações) dos outros, “quando permanecemos na posição de permanentes escravos e pedintes do aplauso hipócrita e do verniz, da lisonja, condicionando-nos a viver sem usufruir de liberdade de consciência, submetendo-nos a ser manipulados pelos juízos e opiniões alheias.”(3)

O elogio nos arremesa à presunção, a afetação nos remete à vaidade. Nesse insofreável desejo de chamar a atenção alheia, queremos ser aplaudidos e reverenciados perante os outros. Atualmente, adota-se assustadoramente o hábito dos dirigentes incautos de elogiar e exaltar oradores em público. Essas pompas e grandiloquências, observadas à volta de alguns oradores famosos, é bem a repetição dos faustos do cristianismo sem o Cristo.

A rigor, se alguém vem a público dizer que um orador é “maravilhoso”, “fantástico”, “brilhante”, “inesquecível”, “insubstituível” e outras bajulisses, logicamente está elogiando e jamais estimulando ou motivando tal “homenageado”.

Por essas razões, importa vigiarmos as próprias manifestações, não nos julgando indispensáveis e preferindo a autocrítica ao auto-elogio, recordando que o exemplo da humildade é a maior força para a nossa transformação moral. “Toda presunção evidencia afastamento do Evangelho.”(4)

É imprescindível não elogiar (adular) as pessoas que estejam agindo de conformidade com as nossas conveniências, para não lhes criar empecilhos à caminhada enobrecedora, embora nos constitua dever prestar-lhes assistência e carinho para que mais se agigante nas boas obras. O elogio (adulação) é peçonha em forma verbal. Por essa razão, não esqueçamos que “ainda quando provenha de círculos bem-intencionados, urge recusar o tóxico da lisonja, pois no rastro do orgulho, segue a ruína.”(5)

Referências bibliográficas:

(1) Disponível no site http://super.abril.com.br/blogs/cienciamaluca/o-que-a-gente-valoriza-mais-sexo-dinheiro-comida-alcool-amigos-ou-elogios , acessado em 24/03/2011;

(2) Xavier, Francisco Cândido. Fonte Viva, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, Cap. 37;

(3) Xavier, Francisco Cândido. Saudação do Natal – Mensagem “Trilogia da vida”, ditado pelo espírito Cornélio Pires, SP: Editora CEU, 1996;

(4) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1972, Cap. 18;

(5) Idem, cap 20;

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal lotado no INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.