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Falar sobre o carnaval dentro de uma visão espírita exige muito cuidado, ponderação e bom senso, isso porque temos opiniões vindas dos dois planos existenciais, cada uma destacando aquilo que mais chama a atenção. André Luiz Rodrigues dos Santos traz algumas reflexões sobre essa festa cultural.

  • Data :11/02/2011
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Na época da folia…

**André Luiz Rodrigues dos Santos **

Falar sobre o carnaval dentro de uma visão espírita exige muito cuidado, ponderação e bom senso, isso porque temos opiniões vindas dos dois planos existenciais, cada uma destacando aquilo que mais chama a atenção. Os Espíritos nos esclarecem sobre nossos vínculos reais com os desencarnados, destacando as extravagâncias, excessos e desequilíbrios praticados nesses dias, que de fato observamos pelo país afora, propiciando uma nociva e estreita relação com aqueles que ainda experimentam as sensações inferiores. Por outro lado, irmãos encarnados oferecem suas opiniões relevando a seriedade, a inocência e a ingenuidade com que muitos foliões brincam nos dias de carnaval, como sendo uma época de legítimas alegria, confraternização e expressão cultural.

O Brasil tem a característica de ser um país festivo. Comemora-se a conquista de um título de futebol, o Ano Novo, o Natal, Dias dos Pais, Mães e Crianças, datas religiosas… E, claro, o carnaval. Nessas festas, os aspectos positivos e negativos trazem suas impressões. Positivamente, a alegria, o amor e a confraternização são os combustíveis que movem esses encontros; tem-se a oportunidade para o descanso das rotinas intensas, o estreitamento dos laços de amizade e familiares, etc. Se procurarmos seu lado negativo, veremos a violência entre torcedores, acidentes trágicos nas estradas devido ao excesso de velocidade para melhor se aproveitar dos feriados, os abusos do álcool e da comida nas festividades de fim de ano, o consumismo desvairado nas compras dos presentes em substituição aos verdadeiros sentimentos, condutas reprováveis no campo da sensualidade e sexualidade num “vale tudo” sem fim, dentre tantos outros.

Estudando o Espiritismo, como ciência, filosofia e fé raciocinada, compreende-se um princípio fundamental e inviolável, que é o livre-arbítrio de cada indivíduo, ou seja, a não proibição de qualquer ideia, escolha ou ação que seja. Sua maior força está no esclarecimento, explorando as causas e analisando suas consequências, que proporcionarão felicidade ou sofrimento.

Partindo desse princípio, agora envolvendo o foco de nosso raciocínio, cada pessoa dispõe de liberdade para escolher qual festa, como, com quem e onde quer comemorar, assumindo todos os riscos dessa escolha. Há a afirmação de que “a maldade está nos olhos de quem a procura”, e se Deus nos julga pelas nossas intenções, então já temos um elemento a mais a considerar, contra nós ou a nosso favor, que são nossos valores.

Há, sabemos, uma imensa preocupação por parte dos amigos desencarnados por nós, isso para que amadureçamos no entendimento da nossa realidade espiritual, preferencialmente sem os sobressaltos que sempre atrasam nosso progresso. Essa atenção se deve ao estágio evolutivo em que nos encontramos, onde os estímulos físicos ainda são uma necessidade para nos provocar sensações, despertando em nós o autocontrole, a responsabilidade e o senso de consequência. Nesse período carnavalesco, porém, avançamos na tolerância e nos desejos, permitindo a intensificação dos prazeres, quase como uma tradição, podendo criar compromissos graves e com dolosos efeitos.

O Espírito André Luiz, por exemplo, na obra Conduta Espírita , assinala, no capítulo Perante as Fórmulas Sociais, que se deve, por garantia, “afastar-se de festas lamentáveis, como aquelas que assinalam a passagem do carnaval, inclusive as que se destaquem pelos excessos de gula, desregramento ou manifestações exteriores espetaculares. A verdadeira alegria não foge da temperança.”

Se temos essas fraquezas mundanas e devemos avançar espiritualmente, a preocupação dos Espíritos se justificam, mas, mesmo desejando nos conduzir, não podem, nem devem, interferir. A questão é, então: como lidar com essas comemorações hoje, diante da nossa realidade?

A resposta está no entendimento de tudo o que nos envolve. Já disse Emmanuel, Espírito, que no campo da sexualidade não deve haver proibição, mas educação. Assim, em qualquer área de nossa existência, desenvolvendo respeito por nós mesmos e pelos demais, nossa conduta será sempre equilibrada. Não haverá tolhimento do direito de expressão, nem violação de consciências, mas retidão; não mais impulsos, mas racionalidade.

No campo mediúnico, que também devemos considerar, as preocupações vão além das condutas públicas nesse ou naquele ambiente. Nesse caso, já adentramos na esfera das energias mentais, que se tornam quase que palpáveis, segundo o grau de sensibilidade do médium. O Espírito Manoel Philomeno de Miranda, na obra Nas Fronteiras da Loucura , nos traz algumas considerações a esse respeito: “(…) Em lugares onde o comportamento mental é pernicioso, idêntico em muitas pessoas pela gama de interesses vividos, surgem redutos de incúria e sofrimento espiritual, que se ampliam de acordo com a continuidade de exteriorizações psíquicas como graças ao volume e teor delas. A recíproca é verdadeira: onde se concentram tônus psíquicos superiores, abrem-se vias de comunicação com as Esferas elevadas, surgem construções de paz e Espíritos benignos convivem com as almas que se lhes afinam (…)”

Isso nos faz refletir sobre a liberdade sagrada de ir e vir, mas muito mais sobre a capacidade de cada um de resistir às forças contrárias desse caminho, em oposição aos princípios morais que se abraça. “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém” , já disse o Apóstolo dos Gentios, ou seja, confiar em si mesmo é o que determinará o sucesso ou fracasso dessas comemorações.

De um modo geral, na expectativa de nossa evolução espiritual, não estamos percebendo, pelo menos dentro de nossa pequena perspectiva, grandes avanços morais em nossa sociedade ao ponto de desfrutarmos de tamanha liberdade de ação para enfrentar toda e qualquer provocação instintiva, mas não nos iludamos com essa visão pessimista, pois só de se estudar a questão, desvendando seus benefícios e malefícios, já é um avanço significativo, até mesmo para compreender sua gravidade.

Cada pessoa tem o direito de aproveitar esses eventos e se divertir como melhor lhe convier. É o princípio fundamental. As ideias espíritas, entretanto, nos ampliam o discernimento para classificar o que é ou não saudável, e através delas podemos olhar para o mundo e decidir a direção mais adequada, a mais sensata. Carnaval é uma festa para todos gostos e paixões. Viver esse momento é uma opção pessoal e intransferível, cujas consequências baterão às portas somente daqueles que forem ao seu encontro. Portanto, diante dessa comemoração, aproveitar cada bom momento com respeito e responsabilidade é a chave para não se desviar da trilha tão arduamente percorrida. Para o caso de não apreciar, resta aproveitar o feriado com os mesmos cuidados e valores.


908. Como se poderá determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se tornarem más?

“As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado e que se torna perigoso desde que passe a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos, ou para outrem.” (O Livro dos Espíritos .)