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A auxiliar de enfermagem que atendeu Stephanie dos Santos Teixeira, no hospital São Luiz Gonzaga, no Jaçanã (zona norte de São Paulo), admitiu, em depoimento à polícia, que aplicou vaselina em vez de soro na veia da menina. Marcia Leal Jek comenta.

  • Data :30/12/2010
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Auxiliar de enfermagem admite ter injetado vaselina em menina e é indiciada em SP

JULIANNA GRANJEIA DE SÃO PAULO

A auxiliar de enfermagem de 26 anos que atendeu Stephanie dos Santos Teixeira, 12, na última sexta-feira no hospital São Luiz Gonzaga, no Jaçanã (zona norte de São Paulo), admitiu, em depoimento à polícia nesta quarta-feira, que aplicou vaselina em vez de soro na veia da menina. Ela foi indiciada sob suspeita de homicídio culposo (sem intenção de matar).

Stephanie foi internada com dores abdominais, diarreia e vômito, e morreu na madrugada de sábado (4), após receber a dose de vaselina.

O advogado da auxiliar, Roberto Vasconcelos da Gama, afirmou que sua cliente foi induzida ao erro. “O recipiente preparado pela Santa Casa [mantenedora do hospital] não dispunha de elementos esclarecedores que desse a ela condições de saber que se tratava de vaselina líquida”.

De acordo com o advogado, o setor onde estava a vaselina era apenas para soro fisiológico e glicosado - que teria a densidade mais parecida com a da vaselina. “Não era de conhecimento dela de que, naquele lugar, haveria vaselina - que nem intravenosa é - no recipiente igual e com a mesma diagramação do soro”, afirmou Gama.

O defensor da auxiliar também disse que a vaselina foi usada no pronto-socorro infantil - onde a auxiliar atua - para o atendimento de uma criança queimada e lamentou a morte da criança. “[O erro] Não pode acontecer, é lamentável, mas aconteceu porque se trata de ser humano. Foi erro também de quem não pensou na política correta de acondicionar aquilo”, disse Gama.

Segundo o advogado, a auxiliar é formada há dois anos e trabalha há um ano e meio no hospital.

O delegado Antônio Carlos Corsi, do 73º Distrito Policial (Jaçanã), - responsável pelo inquérito - afirmou que a auxiliar está “muito traumatizada” e chorou durante o depoimento. “Ela disse que a maior pena que alguém vai responder será dela porque foi um procedimento dela que causou um homicídio”, disse Corsi.

A auxiliar explicou ao delegado que pegou dois frascos, um em cada mão. “Em um dos frascos ela leu hidratação e, no outro, ela disse ter visto hidratação, mas era vaselina. É um erro, aconteceu, não foi vontade dela, mas é imperdoável, que não pode acontecer no caso de um enfermeiro”, afirmou o delegado.

Sobre o argumento de que a vaselina não poderia estar guardada junto com o soro, o delegado afirmou que ainda vai apurar a informação. “Segundo informações que recebemos da Santa Casa, disseram que isso nunca ocorreu e que a medicação é usada dessa forma há muito tempo. Vamos apurar se o hospital também tem responsabilidade”, afirmou Gama.

O delegado afirmou que oito pessoas já foram ouvidas e ainda restam mais quatro. Hoje, além da auxiliar, dois médicos que atenderam Stephanie prestaram depoimento. Eles deixaram a delegacia sem falar com a imprensa.

O inquérito deve ser concluído até sexta-feira (10). A profissional pode pegar de um a três anos de detenção.

A Santa Casa abriu sindicância para investigar o caso e afastou a equipe que atendeu Stephanie. A assessoria do hospital não foi encontrada hoje para comentar o depoimento da auxiliar.

Notícia publicada na Folha.com , em 8 de dezembro de 2010.

Marcia Leal Jek comenta*

Será que existem fatalidades em nossas vidas? Será que já não planejamos tudo o que estamos passando agora?

Na vida humana, tudo tem uma razão de ser, nada ocorre por acaso, ainda mesmo quando as situações se nos afigurem trágicas. Questionando o ocorrido com a garota Stephanie: Seria uma Fatalidade?… Acaso?… Acidente?…

Somente o Espiritismo tem as respostas lógicas, profundas e claras que explicam, esclarecem e, por via de consequência, consolam os corações humanos.

Os acidentes diversos são predeterminados? E o livre-arbítrio, como ficaria? Escolhendo uma prova antes de reencarnar, instituímos para nós uma espécie de destino, que é a consequência mesma da posição em que venhamos a nos achar colocado. Se estivermos cumprindo, no uso de nosso livre-arbítrio, a programação reencarnatória, não há como, pois, sermos visitados pela fatalidade.

A Doutrina dos Espíritos, embasada em O Livro dos Espíritos , não respalda a ideia de fatalidade, tratando especificamente do assunto, merecendo, por isso, leitura e reflexão.(1)

Nada do que nos sucede é questão de sorte ou azar. Vemos que são quiméricas as ideias de que ocorrências de nossas vidas são influenciadas pelos astros, nomes, números e outros fatores externos semelhantes, que não encontram lugar na lei de causa e efeito e na justiça divina.

“Fatalidade”, “Destino” e “Azar” são palavras que não combinam com a Doutrina Espírita. Da mesma forma, a palavra “sorte”, usada para aqueles que escapam de algum tipo de situação. O Livro dos Espíritos explica, dentre outras informações a respeito, que “a fatalidade só existe no tocante à escolha feita pelo Espírito, ao encarnar, de sofrer esta ou aquela prova; feita a escolha, ele traça, para si mesmo, uma espécie de destino, que é a própria consequência da posição em que se encontra. Em verdade, “fatal”, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte. Chegado esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podemos fugir”.(2)

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo , Allan Kardec assinala: “Não se deve crer, entretanto, que todo sofrimento, porque se passa neste mundo, seja, necessariamente, o indício de uma determinada falta: trata-se, frequentemente, de simples provas escolhidas pelo Espírito para sua purificação, para acelerar o seu adiantamento”.(3)

Consideremos que a enfermeira, errando e administrando a vaselina por via intravenosa, contrai, nesse instante, um débito para com a lei divina, que lhe será causa de sofrimentos futuros. Cedo ou tarde enfrentará as consequências dolorosas de seu ato, tendo ainda que reparar o mal causado a Stephanie. Mas como Deus não é apenas a suprema justiça, mas também a suprema bondade, a enfermeira não precisará pagar sua dívida com a mesma “moeda”; poderá, por vontade própria, resolver saldá-la com amor. Eis porque Jesus afirmou: “O amor cobre a multidão de pecados”, contrapondo-se ao ditado de que “quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

Para a garota Stephanie, a ocorrência possivelmente representará o efeito de uma dívida anteriormente contraída, de um erro cometido no passado próximo ou distante. Terá sido uma forma bastante dura de aprender e resgatar, determinada pelas necessidades do seu caso particular. Em outros casos, o aprendizado e a expiação de erros semelhantes podem ser alcançados por processos mais brandos, menos dolorosos.

A lei pode ser flexibilizada, porque seu objetivo é sempre educar, nunca punir. “O arrependimento é o primeiro passo para a melhora; mas só isso não basta, sendo ainda precisas a expiação e a reparação. Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências.”(4)

O arrependimento pode ocorrer em qualquer parte e em qualquer momento; se tardar, o culpado sofrerá por mais tempo. A reparação consiste em fazer o bem a quem se haja feito o mal.

As provas são etapas imprescindíveis para que as limitações atuais e os erros do passado possam ser ultrapassados, limando arestas e sublimando o Espírito.

Seria uma enorme pretensão procurar determinar as causas que estão na origem de determinados acontecimentos que transcendem a nossa compreensão. Qualquer tentativa de encontrar essa explicação seria um exercício de adivinhação, e a Doutrina Espírita não se presta a simples suposições e hipóteses.

A Doutrina Espírita nos ajuda no equilíbrio necessário ao enfrentarmos esta prova, pois descortina a vida após a morte e ajuda-nos a conviver com esta realidade, aceitando-a como experiência evolutiva do mundo em que vivemos.

Percebamos que a prova que as vítimas deste acontecimento, e também seus familiares, enfrentaram e enfrentam, era uma necessidade de aprendizado que tinham que adquirir, por mais difícil que ela possa parecer.

Fonte:

(1) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos , RJ: ed Feb, 1999, questões 851 a 867, do Livro III, capítulo X;

(2) Idem;

(3) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo . Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, item 9, cap. V;

(4) “Código penal da vida futura”, do capítulo 7, da primeira parte, de O Céu e o Inferno , de Allan Kardec.

  • Marcia Leal Jek estuda o Espiritismo há mais de 25 anos e é trabalhadora do Centro Espírita Francisco de Assis, em Jacaraipe, Serra, ES.