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Pai do assassino da jovem Bárbara Calazans, estrangulada pelo namorado, Bruno de Melo, o produtor cultural Luiz Fernando Prôa lamenta que o filho tenha destruído duas famílias, ‘a da jovem e a dele, além de a si próprio’. Nara de Campos Coelho comenta.

  • Data :02/07/2010
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“Hoje vi uma pessoa boa se transformar num assassino”, lamenta o pai do rapaz viciado em drogas que enforcou a namorada

O Globo

RIO - Pai do assassino da jovem Bárbara Calazans, de 18 anos, estrangulada neste sábado pelo namorado, Bruno de Melo, 26 anos, no apartamento do jovem, o produtor cultural Luiz Fernando Prôa lamenta que o filho tenha destruído duas famílias, “a da jovem e a dele, além de a si próprio”. Numa carta emocionada, enviada ao site do Globo às 6h da manhã deste domingo, dia seguinte ao crime, ele narra o drama que vem enfrentando há seis anos, desde que Bruno começou a se viciar em álcool, até chegar ao crack. Leia a íntegra do relato do pai:

“Meu filho começou na droga pelo álcool, no colégio, esta droga LEGAL com que a propaganda bombardeia nossas crianças e jovens todo dia, escancaradamente, e que produz milhares de mortes no trânsito, destrói lares, pessoas do bem e é, como se sabe, a primeira droga que os jovens experimentam. A maioria segue pela vida em maior ou menor grau se drogando com ela, o álcool, outros acabam provando das ilegais, sendo que uns fogem delas, outros se viciam numa espiral crescente e veloz. Em geral, passam pela maconha, vão na boca adquiri-la, e os comerciantes, felizes, lhes oferecem um variado cardápio, self-service: cocaína, crack, haxixe, êxtase, ácido…

Sei que há seis anos perdi meu filho para o crack, mas apesar das sequelas e problemas, ele nunca deixou de ser carinhoso e educado com todos, o que lhe granjeou um número sempre crescente de amigos.

Ele passou por várias internações - tinha, desde pequeno, outros problemas mentais que se exacerbaram com as drogas. Sempre que saia das internações ficava bem. Até encontrar os amigos, tomar umas cervejas e ai a coisa saía novamente de controle. Nestes tempos o vício, apesar de grave, ainda não tinha produzidos todos seus efeitos devastadores. Mas, com o tempo e a reincidência, o crack foi o devastando. Nos últimos tempos, dizia-se derrotado para o vício, vivia muito deprimido e voltara a frequentar o NA, Narcóticos Anônimos. Tentei de tudo para convencê-lo a se internar, mas vai pedir para um pinguço largar sua garrafa. É inútil. Ele foi cada vez mais descendo a ladeira. De mãos atadas, fiquei esperando pelo pior ou por um milagre, já que segundo os “especialistas”, que ditam as políticas públicas para o tratamento de drogas, o drogado tem de se internar por vontade própria.

A reportagem que o Brasil assistiu esta semana, da mãe que construiu uma cela em casa, para tentar salvar o filho viciado em crack, é bem representativa de como as famílias vítimas deste flagelo estão abandonadas pelo Estado, e se virando à própria sorte. É bem possível que ela seja punida por isso. Na mesma reportagem, uma psicóloga inteligente afirmava que o viciado em crack tem de vir voluntariamente para tratamento. Este é o método correto, segundo a maioria dos que estão à frente das políticas para esta área. Será que essa profissional é incapaz de entender o estrago que o crack/cocaína ocasiona nas mentes de seus dependentes? Será que ela é capaz de perceber o flagelo que o comportamento desses doentes causam sobre as famílias?

Um drogado, ou adicto, que já perdeu o senso de realidade e o controle sobre sua fissura, torna-se um perigo para a sociedade, infernizando a família, partindo para roubos, prostituição e até assassinatos, por surto ou por droga. Esperar que uma pessoa com a mente destruída por droga pesada vá com seus próprios pés para uma clínica é mera ingenuidade destes profissionais. O Estado tem de intervir nesta questão para preservar as famílias e os inocentes. A internação compulsória para desintoxicação e reabilitação destes doentes, que já perderam todo o limite, é uma necessidade premente. Ou será que todas as famílias que vivem esse problema terão de construir jaulas em casa?

Se meu filho fosse filhinho de papai, como falaram, eu já teria pago uma ou mais internações. Mas infelizmente o papai aqui não tem grana para isso, assim como a maioria das famílias vítimas deste, que insisto em reafirmar, flagelo.

Hoje vi uma pessoa boa se transformar num assassino, assim como aquele pai de família correto, que um dia bebe umas redondas, dirige, atropela e mata seis num ponto de ônibus.

As drogas, ilegais ou não, estão aí nas ruas fazendo suas vítimas diárias, transformando pessoas comuns em monstros e o Estado não pode ficar fingindo que não vê.

Dizem que vão gastar 100 milhões para equipar a polícia, mas e as vítimas diretas das drogas como ficam? E os jovens humildes atraídos pelos criminosos para seu exército? E os policiais mortos em combate nesta via indireta da guerra do tráfico? Está na hora de acabar a hipocrisia!

Meu filho destruiu duas famílias, a da jovem e a dele, além de a si próprio. Queria sair do vício, mas não conseguia. Eu queria interná-lo à força e não via meios. Uma jovem, a quem ele amava, queria ajudá-lo e de anjo da guarda virou vítima.

Ele irá pagar pelo que fez, será feita justiça, isso não há dúvida. O arrependimento já o assola, desde que acordou do surto do crack deu-se conta do mal que sua loucura havia lhe levado a praticar. Ele me ligou, esperou a chegada da polícia e se entregou, não fugindo do flagrante. Não passarei a mão na cabeça dele, mas não o abandonarei. Ele cumprirá sua pena de acordo com a lei, dentro da especificidade de sua condição.

Infelizmente, só consegui interná-lo pela via torta da loucura, quando já não havia mais nada a fazer, num surto fatal.

Este é um caso de saúde pública que virou caso de polícia.

Que a família da Bárbara possa um dia perdoar nossa família por este ato imperdoável. Chorei por meu filho 6 anos atrás. Hoje minhas lágrimas vão para esta menina, que tentou por amor e amizade salvar uma alma, sem saber que lutava contra um exército que lucra com a proibição (que não minimiza o problema, pelo contrário, exacerba), por um bando de tecnocratas e suas teorias irreais, e para um Estado que, neste assunto, se mostra incompetente.

Luiz Fernando Prôa, o pai

Notícia publicada em O Globo , em 25 de outubro de 2009.

Nara de Campos Coelho comenta*

A loucura de nossos dias

Não têm sido de poucas pessoas a opinião de que as drogas devem ser descriminalizadas. Nem de pessoas pouco importantes no cenário nacional. O certo é que, diante das dificuldades em controlar a desenvoltura com que cresce o uso das drogas, eles acham melhor aceitar o seu domínio.

Tem sido assim em várias circunstâncias.

Impossível controlar os abortos… então é melhor legalizá-los.

Impossível controlar o crime… então é melhor criar a pena de morte.

Impossível deter o sofrimento do moribundo… então é melhor legalizar a eutanásia.

E assim segue a sociedade contemporânea numa estrada tortuosa, perigosa, cada vez mais comprometendo-se com as leis de Deus.

O Espiritismo nos ajuda muito a entender esta loucura dos nossos dias, que se faz produto da dominante visão materialista. Eis que, quando pensa que está espremido entre o berço e o túmulo, o homem quer aproveitar todos os minutos da vida material, ainda que se destrua. Sem perspectivas de futuro, para que se esforçar por alcançar metas superiores de vida? Corações sensíveis sucumbem sob o vazio de Deus. Ante a moderna teoria de que ninguém deve resistir ao prazer, jovens e adultos derramam suas energias na marginalidade da vida, legando ao futuro uma herança de abismos e sofrimentos que se arrastam além da morte do corpo físico. E após esta, ligam-se aos que permaneceram na Terra, influenciando-os em direção aos descaminhos. E daqui a pouco reencarnam em corpos físicos já dependentes dos vícios e nova batalha é travada. Mais materialismo, mais o domínio dos ideais fúteis e destrutivos permeiam a sua jornada. E as dores se cristalizam e se espraiam absorvendo maior número de participantes, decepando vidas e sonhos.

A droga é um verdadeiro cataclismo.

A única saída é Jesus. Não a imagem crucificada, dependurada na parede. Mas os seus ensinos, que são lógicos e lúcidos, a permitir-nos galgar etapas avançadas de conhecimentos e realizações.

Com a Doutrina Espírita, Jesus é próximo e podemos segui-lo. A reencarnação como lei justa e plena de esperança, lança bases para a edificação de uma vida feliz, ao longo dos séculos, dos milênios. Defeitos vencidos hoje, esperança para o amanhã. Deus é justo e bom e o acaso não existe. Somos artífices do nosso futuro e responsáveis por nossos atos, daí entendermos porque Jesus falou “a cada um segundo as suas obras”.

Corações sensíveis sentem-se seguros, têm objetivo superior a conquistar.

Corações endurecidos encontram a justificativa para edificar o bem.

Pais sabem-se responsáveis pela iluminação das mentes de seus filhos, que são, na verdade, filhos de Deus, que lhes delegou este poder: o maior entre todos os poderes.

Filhos aprendem a respeitar a vida e as oportunidades, os pais e a família, o corpo físico e o país. Têm muito a realizar, não lhes sobrará tempo nem desejo de se embrenhar pelos descaminhos viciosos.

Pobres pais que não conseguiram deter seus filhos no encontro com as drogas.

Pobres filhos que desperdiçaram mais uma reencarnação, sendo o “escândalo” para que se cumpra a Lei de Causa e Efeito.

Pobres governos que se distraem com os interesses próprios e fazem do poder temporal a porta de entrada para o inferno consciencial.

Felizmente a vida continua e se renova por meio da dor e das experiências propiciadas pelas reencarnações.

Assim, hoje ou amanhã, todos estes personagens da vida contemporânea aprenderão a viver com Jesus, construindo um mundo novo, interior e exterior, felicitando a si e a humanidade inteira.

  • Nara de Campos Coelho, mineira de Juiz de Fora, formada em Direito pela Faculdade de Direito da UFJF, é expositora espírita nos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, articulista em vários jornais, revistas e sites de diversas regiões do país.