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O escritor e biofísico americano Gregory Stock é conhecido por seu otimismo em relação à evolução da biologia e da espécie humana. Ele acredita que, no futuro, as pessoas poderão escolher ser mais inteligentes, mais atléticas e serão mais saudáveis. Bárbara Paracampos comenta.

  • Data :18/06/2010
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‘Ninguém será perfeito’, diz biofísico

Por Natalia Cuminale

O escritor e biofísico americano Gregory Stock é conhecido por seu otimismo em relação à evolução da biologia e da espécie humana. Autor do livro Redesigning Humans: Our Inevitable Genetic Future (Reprojetando o ser humano: nosso inevitável futuro genético), ele acredita que, no futuro, as pessoas poderão escolher se querem ser mais inteligentes, mais atléticas e serão mais saudáveis. Então, o mundo será perfeito? “Ninguém será perfeito. A humanidade continuará com seus problemas e reclamações, como sempre”, diz Stock - que acumula a função de presidente da Signum Biosciences, empresa que desenvolve terapias genéticas para o mal de Alzheimer. Leia a seguir os principais trechos de entrevista que ele concedeu a VEJA.com.

Que benefícios os avanços da genética reprodutiva podem trazer para a população? Nos próximos dez anos, provavelmente teremos um avanço na seleção de embriões, poderemos ajudar pessoas com problemas reprodutivos, melhoraremos equipamentos, coisas desse tipo. Mas a utilização da tecnologia para a seleção de embrião com objetivo de definir a aparência física, personalidade e aptidões vai demorar um pouco mais. Só vamos começar a saber disso no prazo de trinta anos. Para que isso realmente beneficie as pessoas, é preciso popularizar e facilitar a técnica da fertilização in vitro, que atualmente tem um mercado pequeno. Todas essas possibilidades estão crescendo com o congelamento dos gametas. Além disso, o preço do mapeamento genético está caindo substancialmente, a um ponto que já é possível fazê-lo por cerca de 2.000 dólares (cerca de 3.700 reais). O valor deve cair ainda mais. O objetivo é ter opções acessíveis e com risco muito baixo.

O senhor acredita que, no futuro, os pais poderão escolher aspectos genéticos de seus filhos? Com certeza. Você poderá fazer uma escolha dentre uma centena de possíveis embriões. Será possível definir que atributos a criança vai ter, quais serão suas capacidades e a sua saúde. Em vinte anos, o rastreamento de uma única célula será rotineiro e simples.

O que o senhor acha do uso de tecnologias reprodutivas para fins estéticos? Eu não tenho nenhuma objeção particular sobre isso. Mas eu acho que cor de cabelo e cor do olho são coisas que dependem da moda. É fácil tingir seu cabelo, é fácil colocar lentes de contato. Existem formas incontáveis de fazer esse tipo de coisa. Algumas pessoas vão achar isso realmente importante, mas todas poderão fazer suas escolhas.

Como podemos imaginar um mundo com todos esses avanços? Como é possível pensar em uma sociedade em que todos são perfeitos? Primeiro de tudo, ninguém será perfeito. A humanidade continuará com seus problemas e reclamações, como sempre. Se você voltasse no passado, olhasse cem anos atrás, e descrevesse para as pessoas o que estaria disponível no futuro, todos diriam: “Nossa, eles serão tão felizes. Que oportunidade, todos viverão como reis”. Mas atualmente o mundo não está tão feliz. Uma coisa que é verdade na condição humana é que as pessoas estão sempre se comparando com pessoas à sua volta. Elas têm essa ambição de serem ainda melhores. O que vai acontecer vai depender muito dos valores das novas crianças, da futura geração de mulheres, porque o mundo está mudando rapidamente e o salto biotecnológico é algo difícil de imaginar. Cada um terá sua visão sobre o que é perfeição. Algumas pessoas acharão legal aumentar demais o Q.I, outras estarão interessadas em se tornar mais altas, mais atléticas. À medida em que ficar mais fácil usar a tecnologia, será menos desafiador fazer esse tipo de coisa. O que as pessoas quiserem fazer, elas vão fazer. E vai ser muito difícil controlar.

Mas quando falamos desse tipo de escolha, os críticos da biotecnologia dizem que os cientistas estão “agindo como Deus” e falam sobre a eugenia. O que o senhor acha sobre isso? Nós agimos como Deus o tempo todo. Nós tomamos decisões sobre nossas vidas e sobre a vida dos outros, quando usamos tecnologias, quando fazemos o controle de natalidade. Estamos tomando decisões o tempo todo. Depende muito do que as pessoas consideram “agir como Deus”.

Qual o risco de criar-se uma discriminação de ordem genética? Eu acho que é muito improvável. Quanto mais as coisas se tornam diversificadas e misturadas, mais difícil fica acontecer esse tipo de coisa. As divisões serão muito dinâmicas. O que as pessoas mais temem é que você terá classes inferiores e que somente os ricos poderão desfrutar de todas as fontes e proporcionar vantagens para sua prole. Eu acho que não deve ser assim, porque a tecnologia evolui rapidamente e todos terão acesso. Eu diria que as verdadeiras divisões se darão entre o presente e o futuro, 25 anos adiante, digamos. Um exemplo é o computador, que estava disponível apenas para os mais ricos há 25 anos e hoje é um objeto que pode ser usado por praticamente qualquer pessoa. Se você olhar para a tecnologia reprodutiva, ela irá pelo mesmo caminho. Não importa quanto dinheiro você tenha, há poucas coisas que dá para se fazer atualmente. Eu acredito que, daqui a 25 anos, haverá muito mais. É difícil dizer o que será. Não é exatamente sobre rico e pobre, é sobre uma geração e a próxima geração. As escolhas das pessoas serão guiadas pela moda, algumas culturas vão acreditar em determinadas coisas e seguirão por uma direção, e outras comunidades irão por outro caminho. Pessoas se interessam por coisas diferentes. Não dá para dividir o mundo em duas partes, pessoas que se vestem bem e pessoas que não se vestem bem. Nossa biologia será o objeto da nossa fonte de desejos, valores e habilidades manipuladas. Será como qualquer outra coisa, você tem a moda, consumismo. Será muito complicado e muito dinâmico, mas no bom sentido.

Mas qual será o lado ruim do impacto social de tudo isso? A má aplicação e os piores impactos são coisas de que nem temos consciência ainda. O que as pessoas pregam como cenários de que deveríamos ter medo ou dos quais deveríamos nos proteger são a separação de ricos e pobres, pessoas clonando seus filhos, que não serão indivíduos, não terão valores, a criação de bandeiras, grupos do mal. Particularmente, eu acho que nada disso faz sentido. São coisas que não podemos prever. Foi o que aconteceu quando surgiu o e-mail. Vários especialistas falavam do problema que o spam poderia causar para as pessoas. Mas não foi o fim do mundo. Com certeza, algumas pessoas poderão ser problemáticas, mas vai ser muito difícil dizer como vai ser. Outro exemplo: o que aconteceria se pudéssemos prolongar a vida humana? Isso traria mudanças fundamentais no mundo - e várias consequências: na saúde, mudaria a estrutura familiar, aspectos da educação, seguro de saúde. Algumas pessoas diriam que essa mudança seria ruim. Por outro lado, outras diriam: “Poderei viver mais, isso é maravilhoso”. Então você tem opiniões muito diferentes em relação às consequências. Não acho que vai ser perfeito, nem um desastre. Depende do jeito que você interpreta. Acredito que a maioria dos medos e preocupações que as pessoas expressam são julgamentos de seus próprios valores. Isso diz muito sobre nós mesmos, e não necessariamente sobre o que vai acontecer.

Então, não devemos ter medo dessa evolução? Algumas pessoas terão medo, outras ficarão confortáveis com isso. Mas com certeza muitas se beneficiarão. Para mim, o aspecto mais importante e mais perigoso disso é a tentativa de controle dessa evolução. Estamos desenvolvendo isso com propósitos médicos, para curar doenças e entender a biologia. Isso nos abre um leque de oportunidades, e algumas pessoas poderão fazer coisas loucas, machucar outras e machucar a si mesmas, mas esse não é o maior problema. Você não consegue parar essa evolução, não se você não tiver um estado totalitário ou se você não parar a ciência biológica. Não há outro caminho. E todos esses caminhos têm consequências bastante perigosas.

O que pode ser feito para regular os avanços sem retardar as pesquisas? O que já é feito atualmente com outras tecnologias da medicina em geral. Você tenta assegurar que as pessoas estejam informadas sobre isso, limita opções de certas coisas - assim consegue evitar o mau uso de certas técnicas. Você tem controles sobre o tipo de cirurgias que podem ser feitas, a que tipo de riscos você pode submeter um paciente. Mas, basicamente, esse é um controle imperfeito. O mais importante nesse sentido é você acompanhar a velocidade da tecnologia. Assim você começa a ver quais problemas há com ela e pode agir a partir deles. É melhor do que você tentar prever os possíveis problemas e tentar impedir a chegada da tecnologia. A pior coisa é criar bloqueios artificiais. Nesse caso, você abre oportunidade para os clandestinos, e as pessoas não terão as informações corretas e poderão ser submetidas a técnicas perigosas.

Qual é o maior desafio sobre o nosso futuro? Eu acho que há uma grande transição. Estamos ganhando controle sobre nossa própria biologia, construindo instrumentos, dando vida a objetos inanimados. Eu acho que a sociedade passará por mudanças profundas. As formas como interagimos, nossos valores, tudo será ajustando para um mundo completamente dinâmico. É muito difícil imaginar o que vai acontecer nos próximos cem, 10.000 ou 100.000 anos. Particularmente, acredito que estaremos muito avançados na ciência, e vivos daqui a 100.000 anos. E o mais incrível é que não estamos apenas moldando nosso futuro, mas observando essa transição enorme. Como você percebe, sou muito otimista sobre o nosso futuro.

Por que a maioria dos críticos não vê esses benefícios? Estamos falando sobre mudanças. E mudanças não são fáceis. Você está falando sobre mudanças na nossa concepção, e em quem nós somos. Nós somos orientados a administrar as mudanças, encontrar um lugar que nos deixe confortáveis. E, neste caso, são situações que não podemos controlar.

Em um de seus artigos, o senhor disse que um dos nossos principais desafios não era o espaço, mas nossa própria biologia. Por quê? É com isso que as pessoas realmente se preocupam. Todos querem ser saudáveis e fariam tudo para que seus filhos se tornassem saudáveis. É uma relação que mexe diretamente com o que somos. E esse é o foco real da evolução biológica.

Matéria publicada em Veja.com , em 29 de janeiro de 2010.

Bárbara Paracampos comenta*

Seremos, sim, perfeitos!

Conforme preceitua O Livro dos Espíritos , os Espíritos fazem parte de diversas classes evolutivas, não sendo iguais em poder, em inteligência, em saber e em moralidade. Há os Espíritos superiores, que já alcançaram a perfeição. Estão mais próximos de Deus e possuem sentimentos nobres e puros. Praticam o amor em sua plenitude.

Nas classes evolutivas mais distantes da perfeição, os sentimentos vão se tornando menos nobres, mais densos e com paixões arraigadas. Quanto menos evoluído o espírito, mais ele terá ódio, ciúme, inveja, orgulho, falta de amor ao próximo… São gradações que variam de acordo com a depuração do ser.

Ainda de acordo com O Livro dos Espíritos , nenhum espírito ficará perpetuamente em determinada categoria. Irá subir degraus evolutivos, se aperfeiçoando, deixando para trás sentimentos menos nobres e passando a nutrir os sentimentos inerentes aos espíritos puros. Essa depuração se dá por meio da encarnação, com o auxílio dos instrumentos expiatórios.

É nesse sentido que afirmamos: um dia seremos todos perfeitos.

No que diz respeito aos mundos, há aqueles em que habitam espíritos menos evoluídos e outros em que espíritos mais perfeitos convivem. A Terra, ainda, não é um planeta habitado por espíritos felizes, mas, como tudo na vida, está evoluindo. Conforme dito linhas acima, tudo o que existe está submetido à Lei do Progresso, inclusive os orbes.

Com a evolução dos espíritos que aqui habitam, a Terra irá também se depurar, tornando-se um mundo perfeito. Essa é uma relação óbvia, pois na medida em que o ser humano se modifica, o ambiente ao seu redor também vai se alterando. E tal evolução não se dá apenas no que concerne à moralidade da humanidade, mas também na evolução da ciência. O aperfeiçoamento da Terra se dá ainda com medidas físicas proporcionadas pela ciência, desde o saneamento básico à internet.

Assim sendo, assiste razão ao escritor e biofísico Gregory Stock quando ele afirma que “… atualmente o mundo não está tão feliz” , porque, conforme mencionado, nosso mundo ainda não é habitado por espíritos felizes, mas por espíritos em estado depurativo, evolutivo.

Porém, não lhe assiste razão quando afirma que “Primeiro de tudo, ninguém será perfeito. A humanidade continuará com seus problemas e reclamações, como sempre” . Seremos sim perfeitos, estamos fadados à Lei Universal do Progresso. Cedo ou tarde a humanidade deixará de lado os problemas fúteis e as reclamações infrutíferas, pois apenas o amor reinará em nosso planeta.

Evoluindo moralmente e cientificamente, parece natural que os medos da comunidade científica não se concretizem, o que não significa dizer que não teremos que adotar, conforme dito por Gregory Stock, medidas para dar mais segurança a todo o poder tecnológico, em especial as pautadas na ética. Mas não olvidemos de dois detalhes: 1) Deus está no controle de tudo, devemos confiar nos planos que Ele tem para a humanidade; 2) Não, não agimos como Deus o tempo todo. Podemos até tentar e nos enganar nesse sentido: “agir como Deus” , de acordo com o que se acredita ser Deus. Mas esse sentimento inerente aos espíritos imperfeitos jamais irá mudar os desígnios verdadeiramente Divinos.

Tenhamos fé e busquemos fazer a nossa parte, para a nossa evolução, a de toda a humanidade e a do Planeta. Assim teremos equilíbrio e discernimento para perceber que todo o desenvolvimento genético trará as alterações sociais necessárias ao nosso crescimento, sejam elas, por hora, negativas ou positivas.

  • Bárbara Paracampos reside em Salvador, na Bahia, é espírita e colaboradora regular do Espiritismo.net.