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Dizem que notícia ruim chega depressa. Mas e as boas? Elas existem em todo lugar. Quando essas notícias são espalhadas, semeiam esperança. A ciência, a determinação abrem caminhos. Conheça histórias emocionantes de quem ajudou, persistiu e venceu. Jorge Hessen comenta.

  • Data :12/05/2010
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A esperança que nasce da solidariedade

A ciência, o amor pelo outro, a determinação abrem caminhos. Conheça histórias emocionantes de quem ajudou, persistiu e venceu.

Reportagem Neide Duarte e Wilson Araújo

Dizem que notícia ruim chega depressa. Mas e as boas? Elas existem em todo lugar. Quando essas notícias são espalhadas, fazem mais que contar uma história feliz, semeiam esperança.

Por isso, é preciso contar as boas histórias. Elas nos lembram que o mundo é de possibilidades. A ciência, o amor pelo outro, a determinação abrem caminhos.

Às vezes o mundo parece ter uma velocidade diferente da nossa. Como se estivéssemos em outra dimensão, onde o tempo tem outra medida, e o céu parece maior que a terra. Em um espaço incômodo e sem ar, de quem esbarra na morte.

“Na verdade você leva uma pancada. A gente não tem uma posição muito consciente do que está acontecendo. Eu cheguei ao hospital assim que o médico estava saindo do exame, me chamou em um canto e ele só sabia que era um negócio grave”, comenta o empresário Paulo Cocchi.

Lucas tinha apenas 15 dias de vida quando Elisa, a mãe, foi internada no hospital. Passou por três cirurgias no cérebro, teve parada respiratória, convulsões, ficou entre a vida e a morte.

“Acho que o Lucas foi o vetor de salvação da Elisa, eu o vejo como salvador de minha filha”, diz o empresário.

“Eu tinha a vontade maior que era cuidar do Lucas, então eu estava sempre feliz. Estava ali certa de que eu ia sair e ficar bem”, conta a empresária Elisa Freitas.

“Hoje com todo equipamento que você dispõe, você tem um controle maior do paciente. Essa tecnologia toda tem um limite. O filósofo italiano Romulo Bodei diz que a esperança para o homem é como o ar para o avião, o que a gente tem pela frente é só esperança. O avião, apesar de toda tecnologia se não tiver ar ele não voa”, explica o neurocirurgião Paulo Niemeyer.

Todo paciente do Hospital do Câncer de São Paulo sonha frequentar a oficina dos curados. São pacientes que tiveram câncer quando crianças e que estão há mais de 8 anos sem nenhuma reincidência.

“É um grupo que foi criado baseado em grupos que já existiam nos EUA e Europa. Aqui no Brasil foi o primeiro grupo que tem como objetivo tratar precocemente os efeitos tardios da criança com câncer. Hoje em dia o câncer infantil tem uma alta taxa de cura. O principal objetivo não é só curar, mas curar com qualidade de vida. E que essa pessoa que já foi uma criança que teve câncer esteja completamente integrada na sociedade”, diz a pediatra oncológica Cecília Maria da Costa.

“De todos os problemas que tive, consegui passar por cima. As oportunidades em minha vida têm sido boas. Eu ganhei uma bolsa de estudo, consegui ter uma educação boa, ganhei uma bolsa de natação, 7 anos, onde melhorei o ritmo de meu braço, restabeleci os movimentos que tinha antes”, diz o estudante Wanderson Martins.

“Eu sinto que foi um sonho. Tive melhores e melhores amigos, que me ajudaram. Agora eu acordei desse sonho e estou curado”, diz o estudante Paulo Domingues da Silva.

“Estou exibindo você e você está curado, eu só não quero chorar, tenho de sorrir, conversar, mas não posso chorar”, afirma a cabeleireira Rosa Maria Favoretto.

Se tivéssemos a oportunidade de salvar uma vida, normalmente gostaríamos que fosse alguém que amamos, mas nem sempre podemos escolher, às vezes é a natureza quem escolhe por nós e nos dá a chance de salvar a vida de um desconhecido.

“Quando vejo as fotos lembro de tudo que passei e agora consegui recuperar essa fase difícil. É muito complicado o que a gente passa”, conta Aline.

Aline teve uma anemia grave aos 3 anos de idade. Incurável. A única possibilidade de cura era o transplante de medula. A família inteira, os vizinhos, conhecidos, todos fizeram os testes para saber se tinham compatibilidade com Aline. Ninguém. Mas em outra cidade, bem longe dali, uma professora se inscrevia no Banco de Medula Óssea de São Paulo. O objetivo dela era salvar a vida do irmão, então com leucemia.

“Eu fiz o teste para ver se era compatível e não fui”, lembra a professora de matemática Suely Walton.

Suely não conseguiu salvar a vida do irmão, mas ficou cadastrada no Banco de Medula Óssea. No ano seguinte foi chamada. Tinha 100% de compatibilidade com uma menina de 11 anos de idade: Aline.

“A chance de não aparentados é de 1 para 100 mil. Muito remota. Fui escolhida, abençoada”, comenta a professora.

“A pessoa que salvou minha vida, não tem muita explicação para isso eu precisava dessa medula e sabia que era só isso que ia me salvar”, agradece Aline.

“Se não fosse esse ato de amor dela jamais a Aline estaria aqui hoje, se não fosse esse ato dela, da Suely”, diz a mãe de Aline.

“A Suely é minha vida, não tem outra explicação, ela que deu a vida para mim, ela está dentro de mim”, completa Aline.

Suely conseguiu salvar duas pessoas. Depois de Aline, doou a medula óssea para outro paciente, alguém que ela ainda não conhece. Por enquanto, só sabe que o transplante foi um sucesso e que em algum lugar do Brasil um desconhecido recuperou a vida. Como se fosse um novo filho, um herdeiro das suas melhores qualidades.

Notícia publicada na página do Bom Dia Brasil , em 11 de fevereiro de 2009.

Jorge Hessen comenta*

O que é solidariedade? Para os egoístas, a palavra reverbera perturbadora. Incomoda, porque o seu verdadeiro significado impõe mobilização de recursos em favor do próximo. Fundamenta-se em valores que não conseguimos quantificar. Mas, o que é ser solidário? É sentir a necessidade íntima de partilhar, é querer ir mais além, é perceber que a alegria de dar é indiscutivelmente superior à de receber; é estender a mão ao próximo sem olhar sua raça, condição, gênero, conta bancária. A internalização do sentimento solidário torna-nos efetivamente pessoas melhores. A solidarização é o “sentimento de identificação com os problemas de outrem, o que leva as pessoas a se ajudarem mutuamente”(1). É uma maneira de assistência moral e espiritual que se concede a alguém, seja por simpatia, piedade ou senso de justiça. No sentido de laço de união fraternal que une as pessoas, pelo fato de serem semelhantes, chamamos de solidariedade humana. É compromisso pelo qual nos sentimos em obrigação umas em relação às outras, ou seja, é a interdependência e a reciprocidade.

Infelizmente, vivemos num ambiente social de quimeras postergadas, de sonhos frustrados, de mentes cansadas, numa sociedade de nódoas morais, de “mentes vazias” e atoladas nas futilidades hodiernas, isoladas no cipoal do “ego” enregelado. Vivemos completamente mergulhados na vida egocêntrica, que nos remete irreversivelmente à solidão. O Espírito Emmanuel ressalta que “a técnica avançou da produção econômica em todos os setores, selecionando o algodão e o trigo por intensificar-lhes as colheitas, mas, para os olhos que contemplam a paisagem mundial, jamais se verificou entre os encarnados tamanha escassez de pão e vestuário. Aprimoraram-se as teorias sociais de solidariedade e nunca houve tanta discórdia”(2).

Os males que afligem a Humanidade são resultantes exclusivamente do egoísmo (ausência de solidariedade). A eterna preocupação com o próprio bem-estar é a grande fonte geradora de desatinos e paixões desajustantes. A máxima “Fora da Caridade não há Salvação”(3) é a bandeira da Doutrina Espírita na luta contra o egoísmo. A solidariedade é a caridade em ação, a caridade consciente, responsável, atuante, empreendedora. Os preceitos espíritas contribuem para o progresso social, deteriora o materialismo, faz com que os homens compreendam onde está seu verdadeiro interesse. O Espiritismo destrói os preconceitos “de seitas, de castas e de raças, ensina aos homens a grande solidariedade que deve uni-los como irmãos”(4). Destarte, segundo os benfeitores espirituais, “quando o homem praticar a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade ”(5).

A recomendação do Cristo “que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”(6) assegura-nos o regime da verdadeira solidariedade e garante a confiança e o entendimento recíproco entre os homens.

A solidariedade na vida social é como o ar para o avião. O avião, apesar de toda tecnologia, se não tiver ar ele não voa. A prática desse sentimento vivifica e fecunda os gérmens que nele existem, em estado latente, nos corações humanos. A Terra, local de provação e de exílio, será pacificada por esse fogo sagrado e verá exercidos na sua superfície a caridade, a humildade, a paciência, o devotamento, a abnegação, a resignação e o sacrifício, virtudes todas filhas do amor e da solidariedade.

É imprescindível darmo-nos, através do suor da colaboração e do esforço espontâneo na solidariedade, para atender, substancialmente, as nossas obrigações primárias, à frente do Cristo(7).

Ante as responsabilidades resultantes da consciência doutrinária, que nos impõe a superar a temática de vulgaridade e imediatismo ante o comportamento humano, em larga maioria, a máxima da solidariedade apresenta-se como roteiro abençoado de uma ação espírita consciente, capaz de esclarecer e edificar os corações, com a força irresistível do exemplo.

Fontes:

(1) Cf. Dicionário Caldas Aulete;

(2) Xavier, Francisco Cândido. “Fonte Viva”, ditada pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1992;

(3) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Cap. XV;

(4) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, pergunta 799;

(5) Idem, pergunta 930;

(6) Jo, 15.12;

(7) Xavier, Francisco Cândido. “Fonte Viva”, ditada pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1992.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal lotado no INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.