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Professor titular de física da UFRJ e membro da Academia Brasileira de Ciências faz palestra sobre esse tema tão polêmico como a coexistência entre ciência e espiritualidade, como parte da Agenda Acadêmica da UFF. Jorge Hessen comenta.

  • Data :07/03/2010
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Coexistência entre ciência e espiritualidade é possível, diz físico da UFRJ

Eduardo Marino, professor titular de física da Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro da Academia Brasileira de Ciências, faz palestra dia 22, às 14h, no Teatro da UFF, sobre esse tema tão polêmico como a coexistência entre ciência e espiritualidade, como parte da Agenda Acadêmica da UFF.

Quando se fala nessas duas palavras, ciência e espiritualidade, diz o professor, dá, à primeira vista, a impressão de que são coisas incompatíveis, opostas. E a ideia da palestra é justamente fornecer ao público um apanhado histórico, mostrando que essa coexistência configura-se hoje como um novo paradigma.

Se na Idade Média havia um paradigma religioso, por meio do qual as pessoas se orientavam e onde tudo era explicado pelas leis religiosas ou pela vontade divina, no Renascimento, uma verdadeira revolução, a partir de Newton e Galileu, sobretudo, transformou a maneira de ver o mundo, criando um novo paradigma, o científico, que ocupou o lugar do anterior, o religioso.

Essa contingência histórica gerou esse consenso, diz Marino, de oposição entre ciência e religião, porque foram os dois paradigmas que, durante séculos, regeram o pensamento da humanidade, desde o início da Idade Média até o século XX. “O que eu queria chamar a atenção, na palestra, é para o surgimento de um novo paradigma, baseado nas novas descobertas da física, apontando para a não contradição entre ciência e espiritualidade”. A ciência nos conduz à espiritualidade, como consequência das descobertas no âmbito da mecânica quântica, da astrofísica e da teoria da relatividade e é isto que vai ser explicado na palestra, afirma Eduardo Marino.

Notícia publicada no site UFF Notícias , em 14 de outubro de 2009.

Jorge Hessen comenta*

Nos tempos medievais, havia o consenso de oposição entre fé e razão (Ciência e Religião). Entronizava-se o paradigma religioso, através do qual tudo era explicado pelas imposições religiosas. Na Renascença, ocorreu a revolução do pensamento científico, mormente a partir de Galileu e, posteriormente, de Newton. A partir deles, o homem modificou a maneira de ver e interpretar o mundo, irrompeu-se um novo enfoque - o científico, desintegrando-se os medievais métodos religiosos. Nos fenômenos espirituais (metafísicos), defrontamos com limitações no que se refere à experimentação científica. Esta classe de fenômenos é, ainda, muito pouco estudada, quando comparada com outros objetos de estudo das ciências ortodoxas. Para Eduardo Marino, professor titular de física, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e membro da Academia Brasileira de Ciências, hoje, apesar de ainda polêmico, há coexistência entre Ciência e espiritualidade, configurando-se em novo paradigma acadêmico.

Em 1962, Thomas Kuhn, introduziu o conceito de paradigma(1). Atualmente, paira um clima de inexatidão racional, compatível com o livre-exame e incompatível com todo princípio que se pretenda absoluto. O físico Fritjof Capra é, totalmente, aberto à metafísica e crê ser capaz de fornecer a matéria-prima para a elaboração de hipóteses experimentais. Em 1975, declarou, em seu livro, O Tao da Física, que “o método científico de abstração é muito eficaz e possante, mas não devemos lhe pagar o preço, pois existem outras aproximações possíveis da realidade”.(2) A rigor, “os inconcebíveis fenômenos da percepção extrasensorial parecem, de certo modo, menos absurdos, comparados aos inconcebíveis fenômenos da física”.(3)

De toda classe de fenômenos, os ditos fenômenos espirituais são os menos redutíveis e controláveis e, por isso, mais distantes de atingir aqueles pretensos requisitos que dão o status de Ciência ou “mais ciência que as outras”. O fato de não se conseguir precisão e controle tão apurados, como nas Ciências exatas, não significa que os métodos e técnicas das Ciências que investigam a espiritualidade sejam menos eficazes ou mais limitados. Os fenômenos quânticos, por exemplo; mas outros tantos campos, como a teoria do caos, revelam, de maneira mais profunda, que quase nada é perfeitamente preciso e controlável. O genial lionês não caiu na psicose de adequação ao paradigma materialista, positivista e reducionista das Ciências do Século XIX. Contudo, preservou características fundamentais a fim de dar um caráter de cientificidade à Terceira Revelação.

O nó da questão é que o “espiritual”, no senso comum, tende ao “sobrenatural”, destarte, não pode ser testado. Ora, não podendo ser testado e verificado, não pode ser científico. Por isso, para que exista uma “ciência espiritual” é preciso que este elemento não seja “sobrenatural”, a fim de que possa ser observado e testado. Porém, o fato de ser natural não significa que seja material e nem, tampouco, que esteja sujeito aos mesmos meios de verificação da matéria. Alguns fenômenos quânticos possuem a característica de serem imprevisíveis e determinados por causas “imateriais”. Além disso, tem-se comprovado a participação da consciência do observador como elemento determinante no desenrolar de fenômenos físicos. Para a teoria quântica, a matéria nem possui uma existência física real, mas uma probabilidade à existência. O que faz a matéria emergir do universo probabilístico, para irromper como onda ou partícula, é a consciência do observador. Por isso, observador e coisa observada formam um único e mesmo sistema. A consciência, mais do que interferir sobre a matéria, é o elemento que torna possível a própria existência da matéria analisada e, como ela não pode ser causa e efeito ao mesmo tempo, é necessário admitir que consciência e matéria possuem naturezas distintas.

O Espiritismo, desde o princípio, reconheceu que a crença e o estado de espírito do observador têm influência direta sobre estes fenômenos e, ao invés de ignorar esse fato, considera-o como elemento fundamental para o sucesso na observação de fenômenos mediúnicos. Embora o Espiritismo trate de assuntos que escapam ao domínio das ciências clássicas, que se circunscrevem aos fenômenos físicos, Kardec, no Século XIX, escreveu que o “Espiritismo e a ciência se completam, reciprocamente”.(4)

Quando citamos ciência e espiritualidade, não estamos referindo a coisas incompatíveis e opostas. Todavia, devemos reconhecer que o objeto fundamental do Espiritismo não se pode comparar ao das ciências tradicionais, salvo nas interfaces ou nos pontos comuns. A Ciência, emancipada da fé, estabeleceu seus métodos de investigação, como meio de se aproximar da realidade, baseando-se em provas, princípios, argumentações e demonstrações que garantam a sua legítima validade.

Em verdade, o Espiritismo toca domínios, até agora, reservados às religiões. Porém, em metodologia, o Espiritismo difere, radicalmente, das religiões tradicionais, porque rejeita a fé dogmática, a crença cega, as práticas ritualizadas, o culto exterior ou esotérico. “Se não é justo que a Ciência imponha diretrizes à religião, incompatíveis com as suas necessidades de sentimento, não é razoável que a religião obrigue a Ciência à adoção de normas inconciliáveis com as suas exigências do raciocínio.”(5)

Os que declaram que os fenômenos Espíritas não são objetos da Ciência, não sabem o que dizem, pois que “O objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual, (…) uma das forças da natureza, que reage, incessante e reciprocamente, sobre o princípio material.”(6)

O genial lyonês afirma que “Espiritismo e Ciência se completam, reciprocamente. A Ciência, sem o Espiritismo, acha-se na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria. Ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação. Seria preciso alguma coisa para preencher o vazio que as separava, um traço de união que as aproximasse; esse traço de união está no conhecimento das leis que regem o mundo espiritual e suas relações com o mundo corporal.”(7)

O Codificador lembra, ainda, que “O Espiritismo, caminhando com o progresso, não será jamais ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro sobre um ponto, ele se modificará sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará.”(8)

Fontes:

(1) Os paradigmas são descobertas científicas universalmente reconhecidas que, por um tempo, fornecem a uma comunidade de pesquisadores problemas típicos e soluções;

(2) Cf. Kempf Charles, artigo O Espiritismo é uma Ciência? Traduzido por: Paulo A. Ferreira, revisado por: Lúcia F. Ferreira, disponível em http://www.uff.br/fisio6/aulas/aula_01/topico_01.htm >, acessado em 07/04/2008;

(3) Koestler, Arthur. As Razões da Coincidência, RJ: editora Nova Fronteira, 1972;

(4) Kardec, Allan. A Gênese, RJ: Ed. FEB, 2003, Cap. 1, parágrafo 16;

(5) Xavier, F. Cândido, Segue-me, ditada pelo Espírito Emmanuel, SP: 7.ed. Matão, Editora O CLARIM, 1994;

(6) Kardec, Allan. A Gênese, RJ: Ed. FEB, 2003, Cap. “Os milagres e as predições segundo o Espiritismo”, item 16;

(7) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, RJ: Ed. FEB, 1984, p. 37;

(8) Kardec, Allan. A Gênese, RJ: Ed. FEB, 2003, cap. 1, item 55.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal lotado no INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.