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Há cerca de 20 anos, instituto ensina massagem oriental a deficientes visuais e melhora perspectivas de vida e de trabalho. É a concretização do ideal do massagista Ichijiro Oniki, fundador da Escola Profissionalizante Oniki, na Vila Guilhermina, zona leste da capital paulista. Leila Henriques comenta.

  • Data :05/02/2010
  • Categoria :

Inclusão Pelo Toque

Instituto ensina massagem oriental a deficientes visuais e melhora perspectivas de vida e de trabalho

Mônica Tarantino

Todo vestido de branco, o deficiente visual José Luiz Oliveira, 39 anos, chega cedo à praça Benedito Calixto, no bairro de Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Depois de tomar um café e fazer exercícios de alongamento para braços, pernas e coluna, ele está pronto para dar início às sessões de massagem que variam entre 15 minutos e uma hora. Das 9h até cerca de 19h, ele atenderá, em média, 30 pessoas. Na mesma sala, cedida gratuitamente para massagem pela associação dos amigos da praça, encontram-se mais duas massagistas com deficiência visual, Aparecida Santos e Samantha Gouvea. Os três são formados na mesma instituição, a Escola Profissionalizante Oniki, na Vila Guilhermina, zona leste de São Paulo. Antes de estudar massagem, Oliveira era pedreiro, armador e eletricista. Há nove anos, perdeu a visão por causa de glaucoma e uma doença chamada retinose pigmentar. Passou por muitas dificuldades até ser levado pela irmã, Maria da Saúde, também cega, à escola de massagistas. Agora, Oliveira diz que não tem mais do que se queixar. “Aprendi a fazer massagem oriental, tenho uma profissão e ganho o suficiente para me sustentar. Voltei a me sentir bem”, explica ele, que recebeu o diploma de massoterapeuta há dois anos e encontrou um caminho para a inclusão no mercado de trabalho. “Alunos como Oliveira são a concretização do ideal do fundador da escola, o massagista Ichijiro Oniki”, diz Fernando Takahama, administrador da escola que já formou 100 massagistas com deficiências visuais.

Cego desde a infância, Oniki aprendeu o ofício por meio de um programa do governo japonês destinado a garantir uma formação aos deficientes visuais. Depois de estudar, fundou uma escola para ensinar outras pessoas como o mesmo problema e fez viagens à América Latina para dar palestras. “Ele ficou chocado quando um deficiente visual perguntou, no Peru, se poderia casar e ter filhos”, conta Takahama. “Entendeu que havia muito desamparo e decidiu se instalar em São Paulo, onde havia maior número de pessoas cegas.” Em 1990, Oniki pegou as economias e, com a mulher, Junko, comprou o prédio onde fica a sede da escola, em São Paulo. Com a morte do mestre, em 2007, aos 94 anos, o discípulo ficou incumbido de levar seu projeto adiante. “Não é fácil porque não temos suporte, a não ser as mensalidades. Por isso, para manter a escola, passamos a aceitar pessoas sem problemas de visão no período noturno”, diz Takahama, que enxerga bem e aprendeu o ofício com Oniki. “Deixei de ser bancário para trabalhar na escola. Isso mudou minha vida”, diz. No Japão e na China, onde a massagem terapêutica é uma prática tradicional, é comum ser ministrada por pessoas com deficiência visual há centenas de anos. Apesar de ser uma opção muito mais recente no Brasil, a especialização tem se mostrado um meio eficiente para ampliar o campo de trabalho, sobretudo para quem tem deficiência visual. “O setor de bem-estar é um dos que mais cresceram na última década”, diz Takahama.

Prova disso, no que se refere à escola Oniki, é que não faltam oportunidades. Além de atuar na praça, os técnicos ali formados são chamados por empresas como Caixa Econômica Federal, Hospital 9 de Julho, DirecTV e Sky. Também atendem em spas, clínicas de estética e dermatologia e clubes. “A massagem é cada vez mais aceita no Brasil”, diz Takahama. O administrador lembra também que existem outras boas escolas especializadas no ensino de massagem a deficientes visuais no País certificadas pelo governo, como o Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro. “O sonho de Oniki era profissionalizar parte da população de cegos do Brasil. E isso está acontecendo”, diz.

Matéria publicada na Revista ISTOÉ , em 15 de janeiro de 2010.

Leila Henriques comenta*

A reportagem, bastante detalhada e elucidativa, não necessita de nós maiores abordagens quanto ao fato em si.

No entanto, vista sob a ótica espírita, o que ela nos evidencia se afigura como uma luz no fim do túnel, a nos dizer que os tempos são chegados, realmente, e fatos como este são uma amostragem dos novos tempos, quando então haverá de imperar a fraternidade e onde os Espíritos que trouxerem lições mais difíceis a serem aprendidas encontrarão sempre mãos amigas que confirmarão o sentimento próprio aos novos tempos: o amor dinâmico, o amor que age, o amor que olha a necessidade do próximo e realmente a vê.

Foi o exemplo deste amor que olha, vê, sensibiliza-se e age que moveu o Sr. Onik, japonês radicado no Brasil, que, embora sem a visão material, não era cego para as dificuldades vividas por aqueles que carregavam a sua mesma deficiência. Não se contentou em resolver o seu problema, mas empenhou-se para ajudar os que passavam por prova idêntica.

Estes que superam suas limitações e se voltam para o trabalho que podem realizar, como é o caso do Sr. Onik e daqueles que, como ele, estão com suas possibilidades de ação cerceadas, mas buscam vencer as barreiras impostas por suas limitações, exemplificam, com sua determinação e força de vontade, os Espíritos que deverão fazer parte da nova humanidade, a qual, bem sabemos, não será constituída de Espíritos puros, mas daqueles que já procuram, com todas as suas forças, o caminho do bem.

Reportagens como essa deveriam estar estampadas na primeira folha dos jornais, como principais manchetes, pois serviriam de incentivo à pratica do bem e ao combate do egoísmo, este tão presente, ainda, em todos nós.

  • Leila Henriques é espírita e colabora na divulgação da Doutrina Espírita na Internet.