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Transformação de ratos fêmeas em machos por uma alteração genética mostra que a definição sexual é uma batalha sem fim. Os protagonistas dessa guerra são os genes do sexo masculino e feminino. Eles lutam por supremacia territorial, segundo um estudo de cientistas alemães. Jorge Hessen comenta.

  • Data :11/01/2010
  • Categoria :

Guerra Dos Sexos

Transformação de ratos fêmeas em machos por uma alteração genética mostra que a definição sexual é uma batalha sem fim

André Julião

Todos os dias, desde o nascimento até o fim da vida, o corpo humano é cenário de uma árdua batalha interna. Os protagonistas dessa guerra são os genes do sexo masculino e feminino. Eles lutam por supremacia territorial. Essa intrigante afirmação surgiu após a conclusão de um estudo pioneiro conduzido pelo Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL, na sigla em inglês), em Heidelberg, na Alemanha. Até então, achava-se que, uma vez determinado nosso sexo, ainda no embrião, este predominava absoluto. Não é bem assim. Os cientistas do EMBL conseguiram provar que a definição do gênero faz parte de um processo mais complexo. Eles transformaram ratos fêmeas em machos por meio de uma alteração genética. Graças a uma técnica especial, os pesquisadores conseguiram desativar o gene Foxl2, presente nas células do ovário. Em dois dias, as células que guardam os óvulos em maturação e produzem hormônios femininos adquiriram características das células masculinas presentes nos testículos.

Embora as ratinhas tenham se transformado em ratos estéreis, elas passaram a ter níveis de testosterona iguais aos dos machos – 100 vezes mais altos do que os normalmente encontrados em fêmeas. O que a ciência acreditava, até então, era que, para ser considerado do sexo masculino, um indivíduo teria de ter o gene Sry, encontrado no cromossomo Y, exclusivo dos machos. As cobaias, por serem fêmeas, não tinham este gene – e mesmo assim adquiriram características masculinas. A descoberta sugere que a definição entre macho e fêmea é bem mais complexa do que a simples presença de um gene. “Se for possível fazer essas mudanças em humanos adultos, poderemos um dia, quem sabe, descartar a necessidade de cirurgia em tratamentos de mudança de sexo", disse à ISTOÉ o geneticista Robin Lovell-Badge, coautor do estudo e membro do Instituto de Pesquisa Médica de Londres. “Mesmo aquelas que passassem por cirurgia produziriam os hormônios certos de seu novo sexo e não teriam de tomá-los em forma de droga, como acontece hoje.” A pesquisa trata apenas da mudança do sexo feminino para o masculino, e não o inverso, já que transformar uma fêmea em um macho – seja um ser humano, seja um rato – é muito mais complexo. Segundo estudo de 1996, publicado no “British Journal of Sexual Medicine”, a cirurgia para transformar uma mulher em homem é bem mais complicada do que a que faz a mudança de homem para mulher. Mais do que atender as pessoas que querem mudar de sexo, porém, o estudo pode solucionar outros mistérios da biologia humana.

“Este trabalho pode ajudar a descobrir por que algumas mulheres, na menopausa, desenvolvem características masculinas, como pelo no rosto e voz grave”, diz Lovell-Badge. Ao perceber como funciona a regulação das características femininas e masculinas, abre-se caminho, ainda, para a terapia genética em crianças que nascem com características dos dois sexos: os hermafroditas. A nova pesquisa alerta, ainda, para algo instigante, do ponto de vista científico, e polêmico, do ponto de vista humano: a maior parte das descobertas ainda pode estar por vir.

Matéria publicada na Revista ISTOÉ , em 23 de dezembro de 2009.

Jorge Hessen comenta*

Durante toda a vida física, o corpo humano é palco de duríssima batalha interna. Os brigões são os genes do sexo masculino e feminino, que disputam a supremacia territorial. Essa afirmativa surgiu em face da conclusão de uma pesquisa conduzida pelo Laboratório Europeu de Biologia Molecular de Heidelberg, na Alemanha. Isto porque, antes, acreditava-se que, uma vez determinado nosso sexo, ainda no embrião, este predominava absoluto. Todavia, os cientistas do Laboratório de Heidelberg conseguiram provar que a definição do gênero faz parte de um processo muito complexo. Eles transformaram ratinhos fêmeas em machos, por meio de uma alteração genética. Graças a uma técnica especial, os pesquisadores conseguiram desativar o gene Foxl2, presente nas células do ovário. Em dois dias, as células que guardam os óvulos em maturação e produzem hormônios femininos, adquiriram as características das células masculinas presentes nos testículos. A descoberta aponta para a direção de que a definição, entre macho e fêmea, é bem mais complexa do que a simples presença de um gene.

A sexagem artificial não é contrária às Leis de Deus, embora, no Brasil, a legislação não permita essa técnica, exceto para prevenir doenças genéticas relacionadas ao sexo. No Século XIX, Kardec perguntou aos Espíritos se era contrário à lei da Natureza o aperfeiçoamento das raças animais e vegetais pela Ciência, e obteve a seguinte resposta: “Tudo se deve fazer para chegar à perfeição e o próprio homem é um instrumento de que Deus se serve para atingir seus fins. Sendo a perfeição a meta para que tende a Natureza, favorecer essa perfeição é corresponder às vistas de Deus.”(1) Portanto, é permitido ao homem intervir na Natureza. Contudo, sem esquecer que, por possuir livre-arbítrio para agir de acordo com seu pensamento e suas convicções, tem responsabilidade por todas as suas ações. Destarte, o agir humano, seja em que campo for, especialmente na intervenção sobre a vida, deve estar norteado pelos valores morais superiores e intenções elevadas.

O alcance da engenharia genética é visto com naturalidade pelo Espiritismo. Entendemos, também, que não cabe a nós estabelecer qualquer juízo extremo, seja contra ou a favor desta ou daquela tecnologia no campo da genética, mas tão somente fornecer, no comentário, algumas reflexões doutrinárias, para que cada leitor forme a própria convicção, respeitando o livre-arbítrio com que todos são dotados.

Os espíritas sabem que “a genética não está submetida a leis puramente físicas, pois, encontram-se presididas por numerosos agentes psíquicos que a ciência humana está longe de formular, dentro dos acanhados postulados academicistas. Os genes (agentes psíquicos), muitas vezes, são movimentados pelos mensageiros do plano espiritual; encarregados dessa ou daquela tarefa junto às correntes da profunda fonte da vida. Eis por que, aos geneticistas, comumente, deparam-se incógnitas inesperadas, que deslocam o centro de suas anteriores ilações.”(2)

Os Benfeitores elucidam que a “natureza do orbe vem melhorando o homem, continuadamente, nos seus processos de seleção natural. Nesse sentido, a genética só poderá agir, copiando a própria natureza material. Se essa ciência, contudo, investigar os fatores espirituais, aderindo aos elevados princípios que objetivaram a iluminação das almas humanas, então poderá criar um vasto serviço de melhoramento e regeneração do homem espiritual no mundo, mesmo porque, de outro modo, poderá ser uma notável mentora da eugenia, uma grande escultora das formas celulares, mas estará sempre fria para o espírito humano, podendo transformar-se em títere abominável nas mãos impiedosas dos políticos racistas.”(3)

Será que as combinações de “genes”, conseguidas pela genética, podem imprimir, no ser humano, certas faculdades ou certas tendências? A tese emmanuelina diz que “alguns cientistas da atualidade proclamam essas possibilidades, esquecendo, porém, que a vocação ou faculdade é atributo da individualização espiritual, inacessível aos seus processos de observação. Os geneticistas podem realizar numerosas demonstrações nas células materiais; todavia, essas experiências não passarão dessa zona superficial, em se tratando das conquistas, das provações ou da posição evolutiva dos Espíritos encarnados.”(4)

É urgente uma ética para a genética, estabelecendo limites e cerceando o desenvolvimento de sonhos trágicos que tornam o ser humano cobaia para experimentos inescrupulosos. Quando a Ciência, através dos nobres investigadores, assenhorear-se da realidade do Espírito, compreenderá a necessidade de ser estabelecido um código de respeito à vida, destarte, necessita de uma bioética fundamentada na reverência e na dignidade da criatura humana.

O homem nada cria, apenas descobre formas de manipular o que está na natureza e transforma os elementos disponíveis. Desse modo, o cientista pode aproximar, artificialmente, dois gametas humanos, colocando, juntos, óvulos e espermatozóides em uma placa de cultivo. Pode, até, conseguir que se efetive a fusão inicial de gametas, mas, sem a presença do Espírito. Isso não passará de um amontoado de células amorfas, incapaz de desenvolver-se até a formação de um ser humano.

A escolha do sexo do futuro filho é, hoje, uma possibilidade da Genética, ofertada aos pais. “Cumpre-lhes, não obstante, respeitar, obviamente, os desígnios divinos, considerando que, desde o primeiro homem na face da Terra, tal decisão é divina.”(5) Deus pode delegar, ao homem, esse poder, “desde que se processe em clima de profunda reflexão e prece, para que a intuição flua do Plano Maior.”(6)

Não se pode esquecer que, desde antes da fecundação, o espírito reencarnante, ligado ao óvulo, expressa a sua polaridade sexual por uma vibração típica. Em função dessa característica, de suas energias, passará a atrair e conduzir, com equilíbrio e precisão, o espermatozóide mais credenciado à formação do sexo do futuro ser, quer seja masculino (espermatozóide Y) quer feminino (espermatozóide X). Isso, porque a sede real do sexo não se acha no veículo físico, mas, sim, no ente espiritual. O sexo é, portanto, mental em seus impulsos e manifestações, transcendendo quaisquer impositivos da forma em que se manifeste e “reside na mente, a expressar-se no corpo espiritual e, consequentemente, no corpo físico.”(7)

Sabemos que é um tema instigante, mas lembremos que, se a própria reencarnação, através da fecundação assistida, obedece aos planos do Mais Alto, como duvidar de que os demais progressos da engenharia genética, também, estão chegando ao planeta Terra sob supervisão do Bem?

Fontes:

(1) Kardec, Allan, O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB 1999, perg. 692;

(2) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB 1999, perg. 35;

(3) Idem, perg. 36;

(4) Idem, perg. 37;

(5) Disponível no portal http://www.espiritismoegenetica.espiridigi.net ;

(6) Idem;

(7) Xavier, Francisco Cândido. Evolução em Dois Mundos, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB 1998.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal lotado no INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.