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A história de um garoto do Malauí que transformou a vida de sua família e de sua comunidade ao construir, com lixo, um moinho de vento para gerar eletricidade é tema de um livro que acaba de chegar às lojas nos Estados Unidos. Carlos Miguel Pereira comenta.

  • Data :17/12/2009
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Menino do Malauí que construiu moinho de vento é tema de livro

Jude Sheerin
Da BBC News

A história verdadeira de um adolescente autodidata do Malauí que transformou a vida de sua família e de sua comunidade ao construir, com lixo, um moinho de vento para gerar eletricidade é tema de um livro que acaba de chegar às lojas nos Estados Unidos.

O menino William Kamkwamba, que ganhou uma bolsa de estudos e hoje frequenta a faculdade em Johanesburgo, na África do Sul, tornou-se um símbolo para ambientalistas como Al Gore e líderes empresariais em todo o mundo.

Uma foto sorridente do jovem, hoje com 22 anos de idade, foi capa da publicação americana Wall Street Journal .

E para muitos, não será surpresa se o livro The Boy Who Harnessed the Wind (O Menino Que Arreou o Vento, em tradução livre), do jornalista novaiorquino Bryan Mealer, acabar transposto para as telas de cinema.

Talento e Raça

As conquistas de Kamkwamba são ainda mais impressionantes se considerarmos que ele foi obrigado a abandonar a escola aos 14 anos porque sua família não podia pagar as anuidades de US$ 80.

Quando retornou à modesta propriedade da família no vilarejo de Masitala, no interior do Malauí, seu futuro parecia limitado.

Mas esta não é mais uma história de potencial africano sufocado pela pobreza.

O adolescente sonhava trazer eletricidade para seu vilarejo - apenas 2% das residências no Malauí possuem energia elétrica - e não estava disposto a esperar pela ação de políticos ou ONGs.

Em 2002, a urgência era ainda maior, pois o país foi assolado por uma das piores secas de sua história, resultando na morte de milhares de pessoas. A família de Kamkwamba quase não tinha o que comer.

O adolescente continuou a estudar usando a biblioteca no vilarejo.

Fascinado por ciências, encontrou, por acaso, em um livro caindo aos pedaços, uma foto de um moinho de vento.

“Fiquei muito interessado quando vi que o moinho podia produzir eletricidade e bombear água”, disse Kamkwamba à BBC News.

“Eu pensei: isso poderia ser uma defesa contra a fome. Talvez eu devesse construir um para mim”.

Quando não estava ajudando na plantação de milho da família, trabalhava no seu protótipo à noite, à luz de uma lamparina de parafina.

As atividades do menino foram alvo de chacota na comunidade, que tem cerca de 200 pessoas.

“Muitos, inclusive minha mãe, achavam que eu estava louco”, ele relembra. “Nunca tinham visto um moinho de vento antes.”

Os vizinhos também estranhavam o fato de que Kamkwamba passava horas mexendo no lixo.

“Eles achavam que eu estava fumando maconha”, disse. “Eu dizia que estava fazendo um trabalho (ritual de magia)”.

Kamkwamba construiu uma turbina usando peças de bicicletas, uma hélice de ventilador de trator e pedaços de canos de plástico, entre outros objetos.

“Levei alguns choques subindo naquilo (no moinho)”, ele contou.

O produto final, uma torre de madeira com 5m, balançando na brisa sobre o vilarejo, parecia pouco mais do que os devaneios de um inventor maluco.

Mas as risadas dos vizinhos rapidamente se transformaram em admiração quando Kamkwamba conectou um farol de automóvel à turbina do moinho.

Quando as hélices começaram a girar na brisa, a lâmpada se acendeu e o vilarejo ficou em alvoroço.

Logo, o moinho de 12 watts estava bombeando energia para a família de Kamkwamba. E os vizinhos faziam fila para carregar seus telefones celulares.

‘Vento Elétrico’

A lamparina de parafina deu lugar a lâmpadas elétricas, um interruptor e outros aparatos, tudo feito com restos de lixo.

A história de Kamkwamba virou assunto de blogs no mundo inteiro quando o jornal Daily Times , de Blantyre, no Malauí, publicou um artigo sobre ele.

O adolescente também instalou uma bomba mecânica movida a energia solar - doada ao vilarejo - sobre um poço. Tanques de armazenamento foram adicionados à bomba e a região ganhou, pela primeira vez, uma fonte de água potável.

O moinho foi adaptado para 48 volts e sua base de madeira, comida por cupins, foi substituída por concreto.

Mais tarde, Kamkwamba construiu um novo moinho, batizado de Máquina Verde, para bombear água e irrigar a roça da família.

Logo, visitantes estavam viajando quilômetros para admirar o “vento elétrico” do menino prodígio.

Em 2007, Kamkwamba foi convidado para participar da prestigiosa conferência Technology Entertainment Design, na Tanzânia. Foi aplaudido de pé.

Ele foi capa do Wall Street Journal e tornou-se um símbolo mundial, participando de conferências em todo o planeta.

O ambientalista Al Gore declarou: “As conquistas de William Kamkwamba com energia eólica mostram o que uma pessoa, com uma ideia inspirada, pode fazer para combater a crise que enfrentamos”.

Hoje, Kamkwamba estuda na renomada African Leadership Academy, em Johanesburgo.

O jovem disse estar determinado, no entanto, a voltar para sua terra e completar sua missão de trazer energia não apenas para o resto do seu vilarejo, mas para todo o Malauí.

“Quero ajudar meu país e colocar em prática o que aprendi”, disse. “Tem muito trabalho para ser feito”.

O jornalista Bryan Mealer, autor de The Boy Who Harnessed the Wind , passou um ano acompanhando Kamkwamba para depois contar sua história.

“Passar um ano com William escrevendo esse livro me fez lembrar por que me apaixonei pela África”, disse Mealer, que tem 34 anos.

“É o tipo de história que comove todo ser humano e nos faz pensar no nosso próprio potencial”.

Notícia publicada pela BBC Brasil , em 2 de outubro de 2009.

Carlos Miguel Pereira comenta*

“A maioria dos jovens da atualidade não tem sonho, nem maus nem bons. Eles não têm uma causa para lutar.” - Augusto Cury

A indignação e irreverência dos jovens do passado foram o grande motor das grandes revoluções tecnológicas, sociais e políticas que transformaram o mundo em que vivemos. Revoltados com as injustiças e abusos dos poderes absolutos, ávidos pela liberdade e prosperidade, usaram a energia da sua juventude e a criatividade que transbordava dos seus espíritos em benefício do progresso e da mudança. Este inconformismo pelo que está errado, não encontra paralelo nas sociedades desenvolvidas dos nossos dias. Resignados a uma vida que nos estende as maiores comodidades, sem que para isso precisemos efetuar um esforço maior do que pressionar um interruptor ou algumas teclas no computador, vemo-nos constantemente carentes de motivação para empreender, inovar e criar de uma forma mais decidida.

O facilitismo, a proteção excessiva, a incapacidade dos pais para impor frustrações aos filhos, retirou às novas gerações a capacidade para improvisar e sonhar com um mundo melhor. As dificuldades são teimosamente evitadas e tudo o que exija um maior esforço e dedicação é trocado por atividades simples, confortáveis e triviais. Trocamos o ativismo social pelo parasitismo social. A revolta surge apenas se o computador quebrar ou se a televisão avaria bem no meio da última rodada do Brasileirão, ou naquela parte tão interessante da novela das 8. Existem inúmeros motivos elevados que reclamam a nossa indignação. A injustiça social, a desigualdade de oportunidades, a destruição do planeta, a violação dos direitos humanos, o materialismo galopante, a indiferença pelo sofrimento alheio, o egoísmo sobranceiro, o egocentrismo crônico, a violência doméstica e a letargia espiritual são alguns exemplos de causas que ainda estão por conquistar e que precisam do atrevimento e colaboração de todos nós.

Há histórias que são muito mais do que histórias. São exemplos vivos que nos mostram o caminho, entusiasmam o espírito e instigam à perseverança. A dedicação e a capacidade de improviso de William Kamkwamba é comovente e faz-nos pressentir o divino que vive em nós. É um suplemento de esperança que irradia nos nossos corações e que fertiliza a nossa vontade em sonhar e trabalhar por um mundo melhor. Em alguns momentos, vergados por um mundo que parece majoritariamente egoísta, desonesto e maldoso, confrontados com a longa estrada que se estende à nossa frente e com a quantidade enorme de trabalho ainda por realizar, o desânimo e a desmotivação ameaçam fazer ruir o sonho. William é um suplemento de fé na capacidade humana de superação, demonstrando que devidamente motivados e decididos, conseguiremos ultrapassar as mais difíceis adversidades e participar na transformação do mundo que nos rodeia.

Não podemos aceitar o conformismo! Nada é mais triste do que um ser humano acomodado ao seu triste destino. A criatividade e inteligência são talentos que Deus pôs à nossa disposição. Precisamos colocá-los ao serviço dos nossos sonhos. Não podemos desistir dos nossos sonhos. William nunca tinha visto um computador, mas com a inteligência que lhe era própria, a vontade inabalável e um livro sobre moinhos de vento, conseguiu mudar a sua vida e a da sua aldeia… Imagine o que cada um de nós conseguirá criar se aliar inteligência, dedicação e conhecimento. Não podemos desperdiçar o nosso tempo e a nossa vida: Precisamos fazer algo maravilhoso, por nós e pelos outros.

  • Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.