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Segundo levantamento da Fiocruz, 60 pessoas por dia tentam se matar por envenamento no Brasil. Maioria dos casos envolve uso de remédios, e o resto das tentativas é por ingestão de raticidas e agrotóxicos. Claudia Cardamone comenta.

  • Data :23/10/2009
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Um quinto dos casos de intoxicação são tentativas de suicídio

Segundo levantamento da Fiocruz, 60 pessoas por dia tentam se matar por envenamento no Brasil. Maioria dos casos envolve uso de remédios

Ricardo F. Santos

Em um ano, mais de 20 mil pessoas tentam se matar ingerindo substâncias tóxicas. Cerca de 60% utilizam medicamentos, e o resto das tentativas dividem-se entre a ingestão de raticidas e agrotóxicos. Esses dados foram divulgados nesta segunda-feira (8) pelo Sinitox (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

As informações são de 2007, quando foram registrados 23.243 casos de intoxicações suicidas. Isso representa 21,4% dos 108.405 envenamentos daquele ano. E dos 479 casos que terminaram em óbito, mais da metade foi notificada como suicídio. Rosany Bochner, coordenadora do Sinitox, diz que as tentativas de suicídio são um problema grave. “É uma coisa complicada de lidar, tem agente tóxico por aí que é barato, de fácil acesso e de alta letalidade, ou seja, difícil de controlar”, afirma.

Segundo Rosany, dos 37 Centros de Informação e Assistência Toxicológica espalhados pelo país, apenas uma minoria conta com psicólogos em suas equipes. “Uma pessoa que se intoxica querendo dar fim à vida, mesmo que seja curada, geralmente vai tentar de novo se não receber aconselhamento apropriado”, diz Rosany. O tratamento psicológico, afirma, é a melhor saída para diminuir o número de atentados contra a própria vida. Apesar de ser um quinto dos casos de envenenamento, o suicídio foi a causa de mais de metade das mortes.

Junto com Carlos Eduardo Estellita-Lins, pesquisador da Fiocruz, Rosany tem um projeto de estudar os casos de suicídio no Brasil, e aliar a psiquiatria ao seu trabalho. “O homem dá menos indícios de que quer se matar, mas, quando se mata, utiliza agentes tóxicos mais letais. Já a mulher demonstra maior mudança de comportamento, porém utiliza agentes menos tóxicos, como remédios”, aponta ela.

Maioria dos casos de intoxicação ocorre com medicamentos

Em 2007, o Sinitox registrou 4.355 intoxicações a menos que no ano anterior. A queda ocorreu porque menos Centros de Informação e Assistência Toxicológica forneceram dados para a pesquisa. De um total de 37 centros, apenas 29 colaboraram, dois a menos que em 2006. A falta de adesão dos centros é um problema que atinge também outras áreas de pesquisa, como a da aids, e dificulta a identificação de tendências.

Mesmo assim, algumas conclusões do relatório podem direcionar políticas de conscientização da população. Os medicamentos estão envolvidos em 30% dos casos de intoxicação, independentemente das circunstâncias. O que gera isso é a forma banal como são tratados, diz Rosany.

Por causa do descuido, a faixa etária mais atingida por agentes tóxicos é de 1 a 4 anos. “As pessoas têm cerca de 20 medicamentos diferentes em casa, muitos mal utilizados e, pior, mal guardados”, afirma. Para esses tipos de intoxicação, Rosany diz que a prevenção é possível com mais campanhas de alerta aos pais, como mensagens obrigatórias em propagandas e rótulos.

Matéria publicada na Revista Época , em 8 de junho de 2009.

Claudia Cardamone comenta*

Dentre as formas de suicídio, uma das aparentemente mais fáceis é realmente a ingestão de produtos tóxicos e remédios. Eles estão facilmente à disposição da pessoa e, muitas vezes, dão a ilusão de que ocorre na ausência de dor. Já vimos em diversos filmes personagens que tentam o suicídio com medicação, onde eles apenas adormecem e geralmente são salvos pelo “acaso” da chegada de alguém.

Quase todos nós, para não generalizar demais, deseja uma morte tranquila, sem sofrimento. A indústria cinematográfica e a imaginação humana criaram esta fantasia da morte serena pela ingestão de medicamentos.

Em comunidades do Orkut, muitos daqueles que dizem ter tentado o suicidio e não conseguiram relatam que o veneno e os remédios só os fizeram vomitar e passar mal. Alguns alegam que não o fazem de outra forma por medo da dor. Estes comentários podem indicar que aqueles que buscam o suicídio pelos remédios ou substâncias tóxicas não o fazem por serem mais fáceis ou mais baratos, mas por terem a ilusão de que esta forma de suicídio é isenta de dor.

O conhecimento das consequências no mundo espiritual pode evitar que alguém se suicide? Sim, mas numa pesquisa no Orkut, onde foi perguntado:

“Se você soubesse o que aconteceria com sua alma depois do suicídio, se suicidaria ou não? Muitas pessoas não se suicidam com medo do famoso VALE DOS SUICIDAS. Diz uma antiga lenda que é o lugar para onde vai as almas dos suicidas, um lugar para elas vagarem para sempre, um lugar não muito bom, devido à sua fama.”

Dentre as respostas, 79% disseram que sim, que mesmo assim cometeriam o suicídio, enquanto apenas 20% disseram que não.

Devemos lembrar que não falamos do suicida que está desesperado, confuso e sofrendo, que de certa forma está desorientado, estamos falando de pessoas que pensam constantemente em suicidar-se, como pode ser visto num dos comentários anexados a esta notícia, onde uma leitora, de nome Eva, diz: “Eu sobrevevi a uma tentativa de suicídio e hoje me arrependo de não ter morrido. Não que esteja deprimida, falo com tranquilidade. Tenho um bom emprego, estudo por prazer e tenho um grande amor. […] Optar pela vida foi a pior coisa que eu fiz, falo com tranquilidade.”

Nós não encontramos desespero ou sofrimento físico, mas é o sofrimento moral do espírito, o desejo aparente do espírito em não querer estar encarnado que o faz desejar cometer o suicídio. Ele não quer fugir de uma situação diretamente, mas parece estar vivo ou encarnado contra a sua vontade.

São espíritos que poderiam ter uma aparente felicidade no mundo espiritual ou que vieram de mundos melhores e que desejam sair daqui, mesmo que acreditem no nada após a morte. Eles, nas palavras da Eva, pedem algo que a doutrina espírita nos ensina: a não condená-los, mas procurar compreendê-los e ajudá-los a compreender porque devem continuar aqui e viver todas estas vicissitudes comuns à vida material.

  • Claudia Cardamone nasceu em 31 de outubro de 1969, na cidade de São Paulo/SP. Formada em Psicologia, no ano de 1996, pelas FMU em São Paulo. Reside atualmente em Santa Catarina, onde trabalha como artesã. É espírita e trabalhadora da Associação Espírita Seareiros do Bem, em Palhoça/SC.