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Apresentação em veículos da EMTU ‘incomoda’ e faz usuário rever hábitos. De segunda a sexta-feira, os atores Aliu Coelho e César Augustos Finhana avançam pela catraca e começam a ‘incomodar’ os passageiros de todas as formas possíveis. Claudia Cardamone comenta.

  • Data :11/10/2009
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No ônibus, peça de boas maneiras

Apresentação em veículos da EMTU “incomoda” e faz usuário rever hábitos

Fernanda Aranda, SÃO PAULO

O nome da dupla não é dos dez mais sofisticados, mas é a parceria entre Escovão e Touquinha que tem levado aulas de etiqueta para dentro dos ônibus de São Paulo. De segunda a sexta-feira, os atores avançam pela catraca e começam a “incomodar” os passageiros de todas as formas possíveis. Falam alto, escutam música no último volume, jogam papel no chão, não dão lugar para idosos e esquecem até das grávidas. Em minutos, viram “espelho” de alguns usuários que ocupam papel de plateia.“É a tentativa de disseminar gentileza entre os pontos de parada”, resume Escovão, identidade assumida por Aliu Coelho, de 31 anos, ator há nove anos.

Todo dia, durante no mínimo seis viagens dentro dos veículos da Empresa Metropolitana de Transporte Urbano (Emtu), a dupla parte sempre ou do Terminal Jabaquara, na zona sul, ou de São Mateus, na zona leste, para espalhar o manual do “passageiro ideal”. “Você não vale nada, mas eu gosto de você”, hit da novela Caminho das Índias, é a trilha que inicia o espetáculo. “Temos o intervalo de quatro pontos em média para representar as situações do cotidiano dos ônibus e passar uma mensagem”, conta César Augustos Finhana, de 28 anos, o Touquinha, uma espécie de office-boy mal educado que consegue, em menos de 2 m² no corredor do coletivo, infringir todas as regras de respeito ao próximo, com um toque de bom humor.

A iniciativa é da EMTU, começou de forma experimental em março, mas ganhou o público. Antes, o teatro a bordo dos ônibus só acontecia de segunda a quarta-feira. Agora, foi expandido para todos os dias úteis. O trajeto é variado, sempre com destino às cidades da Grande São Paulo, como São Bernardo do Campo e Ferraz. As peças de boas maneiras são oferecidas por uma dupla de atores da companhia de Fernando Lyra.

A reportagem acompanhou uma dessas viagens teatrais e registrou as reações. Assim que Escovão e Touquinha passavam a disparar peraltices, os olhos constrangidos tentavam disfarçar que cometem os mesmos pecados da dupla. Desligavam o som alto, tiravam a mochila das costas para facilitar a passagem dentro do ônibus, jogavam lixo no lixo e até olhavam para ver se alguém da terceira idade não precisava sentar. “Esse aí é bem mal-educado, mas eu convivo com piores”, afirmava Cecília Kottke, de 68 anos, que pega ônibus todos os dias para ir ao curso de literatura. “Adorei essa história de teatro educativo”, vibrava.

O teatro nos ônibus já tem próximas missões. Vai abordar dicas de segurança e reciclagem. Os roteiristas são os próprios motoristas, que, com ajuda de Lyra, levam as demandas para definir os temas. Uma das principais virtudes do espetáculo, contam os atores, é que os espectadores podem até estar acostumados com os pecados apresentados, mas muitos assistem a uma peça pela primeira vez. “Isso é o maior barato”, dizem Escovão e Touquinha.

Notícia publicada no estadao.com.br , em 19 de junho de 2009.

Claudia Cardamone comenta*

Esta reportagem demonstra bem o que diz a Doutrina Espírita: que o progresso moral é uma consequência do progresso intelectual.

O indivíduo, ao “ver” seus próprios atos numa peça de teatro, compreende porque não age corretamente e este esclarecimento poderá fazer com que relembre a peça ao realizar algo parecido. A repetição criará o hábito que modificará sua moral.

Esta experiência é muito educativa, pois nos aponta as imperfeições sem nos expor. Por tratar os temas de forma geral, procura instruir as pessoas sem a necessidade de humilhá-las. E, desta forma, também deveríamos, em muito casos, fazer também na casa espírita.

Ao invés de apontar as imperfeições de um médium ou trabalhador, ou mesmo de algum frequentador, publicamente, deveríamos fazer de forma genérica.

Lembro de ouvir um caso em que uma palestrante ao fazer uma exposição sobre o tema da instrução de São Luis, em O Evangelho segundo o Espiritismo, “É permitido repreender os outros?”, em que dizia que não se deve expor o outro, ao mesmo tempo que usava o ex-marido como exemplo negativo.   Muitas vezes, sabemos de um caso que poderia muito bem ilustrar uma explicação, mas quase sempre a identificação é desnecessária. Mas, como diz São Luís, e nos ensina a doutrina espírita, “Tudo depende da intenção” e dela quem sabe é a nossa consciência.

  • Claudia Cardamone nasceu em 31 de outubro de 1969, na cidade de São Paulo/SP. Formada em Psicologia, no ano de 1996, pelas FMU em São Paulo. Reside atualmente em Santa Catarina, onde trabalha como artesã. É espírita e trabalhadora da Associação Espírita Seareiros do Bem, em Palhoça/SC.