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O seu comportamento é influenciado pelos outros mais do que você possa imaginar; e até por gente que você nem conhece. Em vez de responsáveis pelo rumo de nossas vidas, somos passageiros, já que é no subconsciente que a maioria da influência social funciona. José Antonio M. Pereira comenta.

  • Data :17/09/2009
  • Categoria :

Amigo oculto

O seu comportamento é influenciado pelos outros mais do que você possa imaginar; e até por gente que você nem conhece

Por Michael Bond

Os moradores do hemisfério norte parecem não ter muitos motivos para gostar do mês de janeiro. É nessa época do ano que as pessoas tendem a ficar mais deprimidas por lá. Sabe-se que alguns fatores, como o clima ruim, as dívidas pós-Natal e as manhãs e tardes escuras contribuem para esse desânimo. Pelo menos é isso que parece. Apesar de todos esses motivos contribuírem para a tristeza do pessoal lá de cima, há um fator crucial que provavelmente não foi levado em conta: o estado de espírito de seus amigos e parentes. Pesquisas recentes mostram que nosso humor é muito mais influenciado por aqueles que estão à nossa volta do que imaginamos. E, além disso, também somos influenciados pelo estado de espírito de amigos dos amigos de nossos amigos - pessoas que estão a três graus de separação, que nunca vimos na vida, mas cujos temperamentos são disseminados na nossa rede social como um vírus.

De fato, está ficando cada vez mais claro que um grande conjunto de fenômenos é transmitido por meio de rede de amigos, de maneiras que ainda não são completamente compreendidas: felicidade e depressão, obesidade, hábitos como beber e fumar, doenças, inclinação a votar ou não em eleições, o gosto por certas comidas ou músicas… Eles se movimentam como ondas através da rede de comunicação, “como pedras atiradas em um lago”, diz o médico sociólogo Nicholas Christakis, da Escola de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos.

À primeira vista, a ideia de que podemos “pegar” o humor, os hábitos e o estado de saúde não apenas daqueles que estão à nossa volta, mas também dos que nem conhecemos, parece assustadora. Isso sugere que, em vez de sermos responsáveis pelo rumo de nossas vidas, somos pouco mais do que passageiros, já que a maioria da influência social funciona no subconsciente. Mas não precisamos ficar alarmados, segundo o sociólogo Duncan Watts, da Universidade Columbia, em Nova York. “A influência social é uma coisa boa na maioria das vezes. Temos de aceitar o fato de que somos criaturas inerentemente sociais e que muito do que somos e do que fazemos é determinado por forças que estão do lado de fora do pequeno círculo que desenhamos em nossa volta”, diz. Além disso, se estivermos conscientes dos efeitos do contágio social, teremos condições de encontrar maneiras de enfrentá-lo, ou usá-lo a nosso favor.

As descobertas de Christakis sobre a disseminação da felicidade, publicadas no final do ano passado, nos dão uma ideia do que está acontecendo. Sua equipe estudou uma rede de milhares de amigos, parentes, vizinhos e colegas de trabalho que fazem parte do Framingham Heart Study, um grupo de pesquisa epidemiológica multigeracional que rastreou fatores de risco para doenças cardíacas entre habitantes da cidade de Framingham, em Massachusetts, desde 1948.

Eles descobriram que pessoas felizes tendem a agrupar-se não porque isso seja um movimento natural, mas pela maneira pela qual a felicidade se espalha através dos contatos sociais com o tempo. Christakis também descobriu que a felicidade de uma pessoa depende não só da felicidade de um amigo próximo, mas - em um grau menor - da felicidade dos amigos de seus amigos, e dos amigos dos amigos dos amigos. Além do mais, quanto mais uma pessoa é conectada a indivíduos felizes, maior sua chance de ser também. “A maioria das pessoas não se surpreenderá pelo fato de que indivíduos com mais amigos são mais felizes, mas o que realmente importa é se esses amigos são felizes”, diz Christakis.

A FELICIDADE NÃO MORA AO LADO

Eles também descobriram que o efeito não é o mesmo para todo mundo que você conhece. O quão suscetível você é à felicidade de outra pessoa depende da natureza da relação que você mantém com ela. Por exemplo: se um grande amigo que mora há alguns quilômetros de você de repente fica feliz, isso aumenta em 60% as chances de que você também fique. Surpreendentemente, o nível de felicidade de um parceiro com quem você mora junto influencia menos de 10% no seu.

Todas essas constatações levam a uma pergunta-chave: o quanto algo como a felicidade pode ser contagioso? Alguns pesquisadores acreditam que um dos mecanismos mais prováveis seja a imitação empática. Psicólogos demonstraram que as pessoas, inconscientemente, copiam as expressões faciais, o modo de falar, a postura, a linguagem corporal e outros comportamentos daqueles com quem convivem, geralmente com extraordinária rapidez e precisão. E isso lhes causa, por meio de uma série de reações neuronais, a experimentação das emoções associadas ao comportamento que está sendo imitado.

A pesquisadora Barbara Wild e seus colegas da Universidade de Tübingen, na Alemanha, descobriram que, quanto mais intensa a expressão facial, mais forte será a emoção vivenciada pela pessoa que a observa. Ela acredita que esse processo seja intrínseco, devido à sua rapidez e automaticidade. Outros estudiosos sugerem que esse mecanismo funciona por meio de neurônios-espelho, um tipo de célula cerebral acionada quando executamos alguma ação ou quando assistimos a alguém executar - ainda não se sabe se a imitação faz com que os neurônios sejam ativados ou se sua ativação é a responsável pela imitação. O que está claro é que essa imitação inconsciente permite que as pessoas “sintam uma leve ideia das emoções dos seus companheiros” e também “sintam-se dentro da vida emocional dos outros”, diz Elaine Hatfield, da Universidade do Havaí, cuja revisão dos estudos mais recentes sobre o tema será publicada na edição de abril da revista especializada “The Social Neuroscience of Empathy”.

Há várias evidências do contágio emocional fora do laboratório. Em 2000, o pesquisador Peter Totterdell, da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, descobriu uma relação significativa entre a felicidade dos jogadores de críquete durante uma partida e a média da felicidade de seus companheiros de time, sem levar em conta outros fatores, como a vantagem ou não da equipe durante a partida. Também foi demonstrado que, se um estudante sofrer de depressão moderada, seu colega de quarto se tornará progressivamente mais depressivo durante o tempo em que morarem juntos, e que o estado emocional de bancários tem um impacto direto no humor de seus clientes. Podemos perceber, então, que um fenômeno como a felicidade pode passar rapidamente através de uma rede social e infectar grupos de amigos e familiares. No entanto, o que nenhum desses estudos explica é por que a intensidade dessa infecção varia de acordo com quem está contaminando quem. Por que somos muito mais fortemente afetados pela felicidade de um amigo próximo do que pela de um irmão?

O PODER DOS ESTRANHOS

Dois fatores parecem cruciais: a frequência dos contatos sociais e a força das relações. Isso não é surpresa: sabemos que o contágio emocional requer proximidade física. Também é provável que, quanto mais próximos nos sentimos de uma pessoa, mais empatia tenhamos por ela e é mais provável que sejamos envolvidos por suas emoções. No entanto, ainda não se sabe a maneira pela qual esses fatores funcionam nas interações diárias. Também não está claro - porque nunca foi corretamente testado - a extensão da propagação das emoções por meio das redes sociais virtuais.

E o que dizer de outros fenômenos que absorvemos inconscientemente e passamos adiante nas nossas redes sociais? Em 2007, a equipe de Christakis acompanhou novamente os voluntários do Framingham Heart Study e descobriu que a obesidade e a felicidade são transmitidas de maneira parecida. Seu risco de ganhar peso aumenta significantemente quando seus amigos engordam e também é afetado pelo peso das pessoas que estão distantes do seu convívio. “A obesidade parece se espalhar por meio de laços sociais”, diz Christakis. Mais uma vez, sua probabilidade de se contaminar depende das pessoas com quem interage. Após controlar fatores, como diferenças nos níveis socioeconômicos, os pesquisadores descobriram que as chances de uma pessoa se tornar obesa aumenta em 57% se isso acontecer com um dos seus amigos, 40% se ocorrer com um irmão e 37% com o marido ou mulher, independentemente da idade.

No entanto, os vizinhos não têm nenhuma influência, e a distância que você mora daquele amigo gordo também não conta muito. Isso significa que o mecanismo de difusão da obesidade é diferente do da felicidade. Em vez da imitação comportamental, a chave parece estar na adoção de normas sociais. Em outras palavras, à medida que vemos nossos amigos engordando, isso muda nossas ideias sobre o que é um peso aceitável. Uma semelhança com a felicidade é que amigos e parentes do mesmo gênero exercem uma influência maior. Apesar de não estar clara a importância disso para o contágio emocional, as normas para as medidas corporais são claramente determinadas pelo gênero: “Mulheres se miram em outras mulheres, homens se miram em outros homens”, afirma Christakis. Isso também pode ajudar a explicar as epidemias de desordens alimentares verificadas entre grupos colegiais do sexo feminino nas últimas décadas.

INFLUÊNCIA POSITIVA

A disseminação das normas sociais parece explicar outra descoberta de Christakis: quando as pessoas param de fumar, elas geralmente o fazem junto com um grupo de amigos, parentes e contatos sociais. À medida que mais pessoas param de fumar, isso se torna um ato mais socialmente aceitável, e aqueles que optam por continuar são deixados à margem da rede social. Nesse caso, os indivíduos são mais influenciados pelos mais próximos - se a sua mulher ou o seu marido para de fumar, suas chances de parar aumentam 67%. Seus colegas de trabalho também têm certa influência, especialmente se você trabalhar em um lugar pequeno. Amigos com maior nível de escolaridade influenciam mais uns aos outros do que os menos graduados.

Embora o mecanismo de variação de contágio social dependa do fenômeno que está sendo disseminado, em muitos casos a dinâmica é muito similar. Por exemplo, Christakis descobriu que, com a felicidade, a obesidade e o hábito de fumar, o efeito do comportamento de outras pessoas passa por três graus de separação, e não mais do que isso. Ele especula que esse possa ser o caso da maioria ou até mesmo de todas as características transmissíveis. Mas por que três graus? Uma teoria é que as redes de amizade são inerentemente instáveis, pois os amigos periféricos tendem a desligar-se dela. “Apesar de ser provável que seus amigos sejam os mesmos de um ano para cá, são grandes as chances de que os amigos dos amigos de seus amigos sejam completamente diferentes”, afirma Christakis. Isto levanta a questão: o que molda a arquitetura de nossas redes de comunicação social e nossa posição nelas? Claramente, muitos fatores contribuem: onde moramos, onde trabalhamos, o tamanho de nossa família, educação, religião, renda, nossos interesses e nossa tendência a circular entre pessoas similares a nós.

Um novo estudo feito pela equipe de Christakis sugere que também há um forte componente genético. O trabalho comparou redes de comunicação sociais de gêmeos idênticos e fraternais e descobriu que os idênticos tinham redes de comunicação sociais mais similares do que os fraternais. Isso sugere que a estrutura de nossa rede de comunicação social é influenciada por nossos genes. A conclusão pode não parecer extraordinária, já que traços de personalidade, como sociabilidade e timidez, têm claramente um papel na determinação de quão conectados nós somos. Mas há muito mais do que isso, segundo Christakis.

“Não se trata somente de ter uma predisposição genética a fazer muitos amigos, mas ter uma predisposição genética a fazer amizade com muitas pessoas populares. Esse é o mistério: como nossos genes podem determinar nossa posição nesse espaço social?” A resposta pode nos ajudar a entender melhor a “inteligência coletiva” das redes de comunicação sociais, as quais alguns pesquisadores comparam à aglomeração dos pássaros - a decisão de parar de fumar, por exemplo, não é um movimento mais isolado do que a decisão dos pássaros de voarem em conjunto para a esquerda.

Sociólogos e outros estudiosos estão usando modelos matemáticos para testar essa dinâmica e tentar entender melhor o que desencadeia a difusão de comportamentos. O pesquisador Duncan Watts, da Universidade Columbia, demonstrou que semear certas ideias ou comportamentos em grupos sociais determinados pode levar à sua progressão por todas as redes de comunicação globais. Isso contradiz a noção que alguns estudiosos defendem de que as epidemias sociais dependem de poucos indivíduos influentes cujo exemplo é seguido por todo mundo. A chave para a difusão de qualquer coisa, segundo Watts, da felicidade à preferência por uma determinada música, é a massa crítica de indivíduos interconectados que se influenciam mutuamente.

Existe alguma maneira de suavizar os efeitos de forças sociais tão fortes e penetrantes? É pouco provável que algum dia possamos escapar completamente da influência social, nem se quisermos. “Mesmo quando está ciente disso, provavelmente você está suscetível”, diz Watts. Ainda assim, ter consciência pode ajudar, especialmente quando procuramos evitar comportamentos indesejáveis ou adotar hábitos positivos. Podemos ser seletivos com novos amigos, procurando por pessoas cujos estilos de vida aspiramos ter: se você quer perder peso, por exemplo, junte-se a um clube de corrida e - o mais importante - socialize com seus integrantes.

Na verdade, cortar relações com velhos amigos é um pouco drástico, mas passar menos tempo com pessoas cujas características não gostaríamos de compartilhar pode ser uma boa ideia, como gente preguiçosa ou inclinada a ter pensamentos negativos. E tome cuidado com aqueles que andam com essas pessoas, mesmo que não compartilhem esses comportamentos ou pontos de vista - lembre-se da regra dos três níveis de contágio. Finalmente, se você não consegue evitar a companhia de pessoas cujo comportamento ou estado emocional não gostaria de “pegar” (como aquela sua tia histérica ou o primo glutão que sempre aparece nos almoços de domingo, por exemplo), você pode tentar reprimir sua inclinação natural a imitar sua linguagem corporal e expressões faciais e, desse modo, limitar o contágio.

A lição que você pode tirar disso tudo é a necessidade de uma sutil reorientação social. Sempre seremos vulneráveis ao que as pessoas ao nosso redor estão fazendo. Por isso, sempre que possível certifique-se de que está andando com as pessoas certas. Lembre-se da nova máxima: nós somos aqueles com quem andamos.

Copyright 2008 “New Scientist”. Distribuída por Tribune Media Services - Tradução de Fernanda Colavitti

Matéria publicada na Revista Galileu , em março de 2009.

José Antonio M. Pereira comenta*

À primeira leitura desta matéria, fiquei com a impressão de que não se tratava de algo muito científico. As conclusões me pareceram um tanto quanto “esotéricas”, por assim dizer, para um texto de cunho acadêmico.

No entanto, é uma questão de costume. A cada dia surgem mais pesquisas, profissionais, publicações, etc, que analisam, estudam e trabalham com conceitos cada vez mais distantes do concreto, do material. Além disso, temos de considerar as referências que dão credibilidade ao texto: a revista New Scientist, a Escola de Medicina de Harvard, a Universidade de Columbia e a Universidade do Havaí, que por sinal não tem faculdade de surf, mas de Medicina, Farmácia e Direito.

É mais uma matéria que nos mostra o quanto o conhecimento humano tem se aproximado das ideias expressas pelos Espíritos na Codificação Kardequiana. Veja-se a questão 388, de O Livro dos Espíritos (1):

388. Os encontros, que costumam dar-se, de algumas pessoas e que comumente se atribuem ao acaso, não serão efeito de uma certa relação de simpatia?

“Entre os seres pensantes há ligação que ainda não conheceis. O magnetismo é o piloto desta ciência, que mais tarde compreendereis melhor.”

Apesar da questão ter objetivo diverso do tema central do texto, a intrigante resposta cita uma ligação entre todos nós, que ainda não conhecemos. O resultado das pesquisas parecem apontar para algo nesse sentido… Não estaremos mais próximos de “compreender melhor” certos mistérios, conforme no diz a resposta dos Espíritos?

Fonte:

(1) O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec – FEB, 76a. Edição, p. 213.

  • José Antonio M. Pereira coordena o ESDE e é médium da Casa de Emmanuel, além de integrante da Caravana Fraterna Irmã Scheilla, no Rio de Janeiro. Também é colaborador da equipe do Serviço de Perguntas e Respostas do Espiritismo.net.