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Motivos como estresse, pressões do dia-a-dia, raiva, uso do carro como uma arma explicam, mas não justificam esse comportamento. Especialistas dizem que relação do brasileiro com carro é de poder. Claudia Cardamone comenta.

  • Data :09 Sep, 2009
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PM registra por dia mais de 400 casos de briga no trânsito de SP

Casos são registrados no disque 190 da Polícia Militar. Especialistas dizem que relação do brasileiro com carro é de poder.

Do G1, com informações do Bom Dia Brasil

A Polícia Militar registra mais de 400 casos todos os dias, só em São Paulo, de brigas no trânsito. Motivos como estresse, pressões do dia-a-dia, raiva, uso do carro como uma arma explicam, mas não justificam esse comportamento. O trânsito acaba se transformando em uma válvula de escape e o que se vê nas ruas são comportamentos cada vez mais descontrolados.

Um exemplo é o caso filmado em Curitiba (PR). Em plena luz do dia, um motorista se irritou com um caminhão de uma floricultura parado no meio da avenida e agrediu o dono da loja. A filha do comerciante e outras duas mulheres revidaram e atacaram o rapaz. Quando tudo parecia terminado, ele voltou ao carro e atacou a filha do comerciante com uma caneta. Uma outra mulher usou um pedaço de madeira e o comerciante e o motorista voltaram a brigar. Seis pessoas tiveram que separar os dois. Ferida no olho pela caneta, a mulher ainda tentou evitar que o agressor deixasse o local. Mas ele foi embora antes da chegada da polícia.

São cada vez maiores os relatos de agressões no trânsito. Só em São Paulo, o disque 190 da Polícia Militar recebe por dia 400 registros. Seria maior ainda esse número se muitas pessoas não tivessem medo de prestar queixa.

Especialistas em trânsito dizem que a relação do brasileiro com o carro tem como referência sentimentos de status e poder. Dominar o veículo, ruas, impedir ultrapassagens são formas de exibição. E da combinação de problemas em casa, no trabalho e do trânsito caótico pode nascer a violência.

O psiquiatra da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Júlio César Fontana Rosa, alerta que casos de violência no trânsito podem acontecer até mesmo com pessoas que não têm antecedente de agressividade. “Em determinadas situações em que você tem um tempo para refletir, você deixa de realizar aquele ato. Algumas pessoas não conseguem ter essa reflexão. Nós temos que ficar atentos. O trânsito está nos levando a situações de impaciência em que nós estamos explodindo. Em São Paulo, por exemplo, já está difícil o sujeito aceitar que o carro da frente fique, por exemplo, dez metros longe do outro carro. Ele acha que aquele carro está atrapalhando a passagem dele”, disse.

A partir de 1º de julho, quem se envolver em um acidente grave de trânsito terá a carteira suspensa e será obrigado a passar por exames físicos e psicológicos. Ficará a cargo da autoridade de trânsito local definir o que é um acidente grave.

Notícia publicada no Portal G1 , em 16 de junho de 2009.

Claudia Cardamone comenta*

As pessoas se controlam no trabalho, na escola ou em casa; elas procuram não reagir agressivamente nestes ambientes. Mas quando estamos no trânsito, estamos no nosso território, que é nosso carro ou moto. Aquele espaço em movimento é nosso e lá nós somos autoridade absoluta.

Quando alguém fecha o meu carro, não é ao carro que está fechando, mas a mim, ao direito absoluto que eu tenho de estar ali. Outro dia vivenciei algo deste gênero. De carona com um amigo, quando chegamos numa rótula, um carro se colocou ao lado do nosso, para atravessar a via principal, já que isto é perimitdo. Meu amigo ficou indignado da falta de respeito deste indivíduo, verbalizando: - “Quem ele pensa que é para se colocar nesta posição impedindo a minha visão de um dos lados da pista? Pois eu agora vou ficar bem do lado dele e ele vai ver o que é bom!” E maldizia uma atitude que ele mesmo já tinha feito, mas como a fez depois estava justificada. Praguejava que não dava para ficar deixando os outros irem toda hora.

Eu chamo estas e outra atitudes de Síndrome do Cavalo Puro Sangue, porque os cavalos que há gerações são criados para vencer corridas, já nascem com um instinto de não permitir que outro corra à sua frente. Além disto, numa tropa, o cavalo dominante, líder e reprodutor sempre segue à frente.

Em outras palavras, o que vemos no trânsito é o choque de orgulhos. Mas por que não há um autocontrole das pessoas envolvidas? Talvez porque no trânsito temos a sensação do anonimato: ninguém sabe quem eu sou e, sendo meu território móvel (Veículo), se acontecer alguma coisa, vou embora e ninguém me encontra. Além disto, há dois outros agravantes da situação: a tensão constante pela possibilidade de um assalto e a crença que se criou de que o tempo que passamos no trânsito é um tempo perdido, e ninguém gosta de perder alguma coisa, seja lá o que for.

  • Claudia Cardamone nasceu em 31 de outubro de 1969, na cidade de São Paulo/SP. Formada em Psicologia, no ano de 1996, pelas FMU em São Paulo. Reside atualmente em Santa Catarina, onde trabalha como artesã. É espírita e trabalhadora da Associação Espírita Seareiros do Bem, em Palhoça/SC.