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Todo mundo passa por fases boas e ruins na vida. Você vai ver no quadro Conversa ao Vivo histórias de quem conseguiu dar a volta por cima. Tire as dúvidas com a psicanalista Ana Maria Sabrosa. Carlos Miguel Pereira comenta.

  • Data :11/08/2009
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Pessoas mostram como transformar sofrimento em vontade de mudar

Todo mundo passa por fases boas e ruins na vida. Você vai ver no quadro Conversa ao Vivo histórias de quem conseguiu dar a volta por cima. Tire as dúvidas com a psicanalista Ana Maria Sabrosa.

Todo mundo passa por fases boas e ruins na vida. Mas como transformar o sofrimento e a dor em luta e vontade de mudar? E também quando saber que é preciso buscar ajuda? Você vai ver agora no quadro Conversa ao Vivo histórias de quem conseguiu dar a volta por cima.

“Eu sei muito o que eu faço, que é cabelo, agora lidar com dinheiro não sei”, Sonia Nesi, cabelereira. Foi essa falta de conhecimento em administração que fez Sonia passar por sérios problemas. “Eu tive que vender meu patrimônio, eu tinha 14 imóveis, eu tinha nove terrenos. Saí vendendo tudo pela metade do preço, porque eu me apavorei e quando vi tava sem nada”.

Para Kátia, a crise foi emocional. “Tudo começou logo apos o nascimento da minha filha. Que eu apresentei uma depressão. E depois de cinco anos que eu já tinha minha filha, meu marido teve um câncer. E durante o tratamento, me afundei completamente. Eu não queria tomar banho, não sair de casa. Eu não tinha mais alegria em nada.”, diz Kátia Carvalho, estudante.

Dificuldades todos nós temos. O que muda é a maneira de enfrentá-las. Nem sempre se consegue dar a volta por cima sozinho. Para saber quando é hora de buscar ajuda, é preciso prestar atenção no tempo que você leva para superar o problema e no tamanho do sofrimento que ele causa.

“Você reagir à perda com sofrimento é normal, é o que a gente chama de luto, que é um processo em que a pessoa elabora qualquer perda. Seis meses a pessoa demoraria para se recuperar de um baque”, diz Leonardo Gama Filho, psiquiatra.

Depois desse período, a indicação é procurar ajuda pra evitar doenças como depressão, fobia ou síndrome do pânico. O tratamento combina psicoterapia e medicação. Os médicos orientam ainda a buscar apoio da família e amigos. E realizar atividades que dão prazer.

Katia procurou ajuda médica quando sentiu que a filha tinha começado a perceber o sofrimento dela. A busca pela cura a levou de volta aos estudos. “Estou estudando psicologia e aprendendo bem sobre o que é isso. Hoje eu digo que eu sou uma outra pessoa”, diz ela.

A Ana Paula Araújo volta agora com as perguntas dos nossos telespectadores. E quem responde é a psicanalista Ana Maria Sabrosa.

Jornal Hoje: A gente começa com o comentário da Ana Cristina: ela diz que tem 48 anos, mas aparenta 70, há quase 20 não sai de casa e o casamento está por um fio. Ela pergunta o que pode fazer para virar o jogo.

Ana Maria Sabrosa: Vinte anos sem sair de casa, eu acho que ela está precisando de um tratamento psicanalítico. Poder ver alguém, poder descobrir o que está se passando, porque pode ser alguma coisa depressiva, de necessidade de medicação, pode ser uma questão psicanalítica.

Jornal Hoje: Falando agora de luto, a Mônica Cristina diz que perdeu uma tia que era como uma mãe há mais de 10 anos, mas ainda não conseguiu superar essa perda. A Fernanda, do Distrito Federal, tem 17 anos e perdeu a mãe há dois. Como lidar com uma situação difícil dessas?

Ana Maria Sabrosa: Perda de mãe, de tia meio mãe, vai ser sempre uma dificuldade muito grande. Eu acho que o que é mais importante nesse momento é a pessoa acreditar que tudo aquilo que fez parte dos modelos de identificação, da criação, tão dentro de si. Quer dizer, naquele momento em que você pensa ‘o que a minha mãe diria agora, o que ela falaria, qual a dica que ela me daria?’, está dentro. Você já aprendeu com ela, já se identificou. Mais um pouquinho e você vai chegar lá, ela vai te ajudar dentro de você. Não é uma lembrança, é mais que uma lembrança, ela tá dentro.

Jornal Hoje: Vamos ver agora uma pergunta que chegou em vídeo. É da Maria Auxiliadora, de Roraima. “O que eu quero saber é quanto tempo, afinal de contas, a gente leva pra esquecer um grande amor. E se existe cura para isso.”

Ana Maria Sabrosa: Eu acho que o importante nessas situações é não polarizar. A pessoa não ficar se auto-depreciando, ‘foi um erro meu, eu sou uma porcaria mesmo, sou um feio, sou um impotente, sou uma droga’. Ou polarizar para o outro lado, ‘o outro é que fez besteira, o outro é que não prestava’. Mas tentar um equilíbrio, tentar uma possibilidade reflexiva, uma possibilidade de pensar o que que se deu, o que que era meu, o que era do outro, para até poder partir para outras situações, para até poder se ver na vida, né?

Jornal Hoje: A Thamires, de Cuiabá, também terminou um relacionamento há dois anos e agora recebeu convite para o casamento do ex. Aí é demais um pouco, né doutora?

Ana Maria Sabrosa: Aí ela tem de investigar os sentimentos dela. Se perguntar se ela está à vontade para ir a essa cerimônia, se ela acha que foi selado mesmo o término do relacionamento, ela vai, ela vai ver qual é. Mas se ela achar que isso vai violentá-la, pra quê? Então investigue os seus sentimentos, pergunte o que você se sentiria mais à vontade para fazer, e faça.

Jornal Hoje: Última pergunta, falando de trabalho. O Osmar foi demitido de uma empresa há sete anos e ainda pensa que isso não aconteceu. A Mirella está empregada, mas está insatisfeita. Em situações de trabalho, como reagir?

Ana Maria Sabrosa: Emprego é uma questão delicada, porque envolve não só a conta corrente, onde vai entrar o dinheiro e aonde as coisas têm de ser pagas, mas implica também nas questões de prestígio. Então ele tem que avaliar como ele vai dar uma saída. Se ele foi o tempo todo gerente de banco, tá bom, hoje eu não consigo mais ser gerente, mas vamos lá, eu vou fazer alguma outra coisa. Aproveitar para achar uma saída.

Notícia publicada no site do Jornal Hoje , em 7 de maio de 2009.

Carlos Miguel Pereira comenta*

Esquecidos do seu papel na sobrevivência humana, a dor ainda é temida, odiada e quase sempre encarada de uma forma negativa. O combate à dor é algo que tem mobilizado os Homens ao longo dos séculos, procurando suprimi-la através da ciência médica e entendê-la através da filosofia. Especialistas médicos na área da neurologia afirmam sem pudores que a dor física é biologicamente imprescindível, já que nos protege como se fosse um alarme, avisando-nos que algo está errado e que ultrapassamos os nossos limites físicos. Em termos orgânicos, a dor revela-nos a existência de infecções, ensina-nos sobre os perigos da exposição do nosso corpo a determinadas condições adversas, é um sintoma de uma doença em formação ou uma consequência de um excesso cometido. Por mais profunda que seja a dor física, a sua existência ajuda-nos a reunir esforços para superá-la, corrigindo a causa ou prevenindo a sua reincidência.

O mesmo se passa com as dores psíquicas, morais e emocionais, com a preciosa diferença de não dispormos de analgésicos para suprimi-las miraculosamente. Mas se estivermos empenhados em não lhes oferecer um assento, todos os acontecimentos dolorosos, sem exceção, são mecanismos de correção, aprendizado e de superação. Como exemplo, é comum dizer-se que não há dor mais forte do que a dor da perda. Na verdade, a perda de alguém que nos era próximo e querido é um acontecimento muito doloroso e profundamente marcante, mesmo para alguém que saiba que a alma é imortal e que a morte não existe. Mas esse fato é, ao mesmo tempo, uma excelente oportunidade para refletirmos sobre o real valor da nossa existência e sobre a pouca importância que atribuímos àqueles que amamos quando ainda os temos perto de nós. Normalmente, é apenas quando “perdemos” alguém, que nos apercebemos o quanto amávamos e quanto essa pessoa nos fazia falta. Se soubermos aprender com essa experiência dolorosa, isso poderá ajudar-nos a corrigir comportamentos, priorizar o que deve ser priorizado, valorizar devidamente o que necessitamos valorizar, relativizando as insignificâncias da vida a que ainda atribuímos uma importância desmedida. A dor é uma professora exigente e inflexível mas tremendamente eficaz.

Quem estiver a ler estas palavras poderá dizer: isso é muito bonito, mas como atenuar e fazer desaparecer a dor que me corrói por dentro? Como fazer desaparecer a sensação de angústia que me dá vontade de esconder ou fugir sem saber para onde?

Precisamos perceber que não há para onde fugir, porque não podemos fugir de nós mesmos. A única solução passa pela compreensão das origens da dor, assumindo as responsabilidades próprias através de um trabalho sério de auto-conhecimento. Uma dor recorrente é sinal de estagnação no processo de crescimento de um indivíduo, que teima em não retirar o aprendizado necessário das sucessivas experiências dolorosas da sua vida. A dor permanecerá apenas o tempo necessário para que possamos apreender a mensagem que ela quer transmitir. Se percebermos a mensagem, gradualmente a dor irá se dissipando até desaparecer.

A dor é um convite. Mas não é um convite para abraçarmos o sofrimento. É um indício do caminho que precisamos seguir para podermos sair dele. É um mecanismo precioso que nos impele à superação e à reavaliação das nossas atitudes, pensamentos e comportamentos. Sempre que um acontecimento doloroso tocar a sua vida, não pergunte por quê? , mas sim: para quê?

  • Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.