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Um tribunal de Teerã, no Irã, decidiu que um homem considerado culpado de cegar uma mulher com ácido, depois que ela se negou a casar com ele, deve ser castigado pelo crime da mesma forma. Carlos Miguel Pereira comenta.

  • Data :20/04/2009
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Tribunal condena homem a ser cegado com ácido no Irã

Um tribunal de Teerã, no Irã, decidiu que um homem que foi considerado culpado de cegar uma mulher com ácido deve ser castigado pelo crime da mesma forma.

De acordo com informações publicadas por jornais iranianos, o homem, Majid Movahedi, jogou ácido no rosto da mulher, Ameneh Bahrami, depois que ela se negou a casar com ele.

A punição é prevista na Sharia, a Lei Islâmica, que prevê castigos seguindo a lógica do “olho por olho, dente por dente” no caso de crimes violentos.

O tribunal também determinou que o condenado pague uma compensação à vítima.

Pedido

O ataque aconteceu em 2004. Bahrami viajou à Espanha para passar por uma cirurgia para reconstituir sua face, mas os médicos foram incapazes de restaurar sua visão.

A decisão do tribunal foi em resposta a um pedido apresentado pela própria vítima, que pediu que o réu também fosse cegado para evitar ataques semelhantes contra outras mulheres.

Bahrami alegou que Movahedi também tentou matá-la.

“Desde que o ácido foi jogado em mim, tenho uma sensação constante de estar em perigo”, disse a mulher ao tribunal.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 28 de novembro de 2008.

Carlos Miguel Pereira comenta*

O Antigo Testamento, as histórias mitológicas egípcias, gregas ou romanas, bem como outras revelações antigas, estão impregnados de ideias de vingança, punição e castigo. Esta forma de pensar, exalta a dor como um processo divino para punir os que erraram e encontra na Lei de Talião a sua expressão maior, aplicando um castigo igual ao erro cometido como forma de justiça. Das palavras escritas acima, o leitor pode não ter percebido, mas lamentavelmente os verbos encontram-se no presente do indicativo. Isto porque dois mil anos depois de um bondoso amigo ter vindo desmistificar estas ideias punitivas e exortar ao amor como a melhor forma de viver e pensar, elas ainda prevalecem na mente da grande maioria dos seres humanos, invocando-as como justiça divina. Em muitas culturas e sociedades, Deus ainda serve de justificação para as práticas mais cruéis, substituindo-se a Ele ou mesmo transformando-o no severo juiz que tem a responsabilidade de executar as sentenças mais ignóbeis, para que quem fez sofrer também sofra e, se possível, ainda mais. Desta forma, e tal como o faziam os antigos povos da antiguidade em relação aos seus Deuses, o Homem atira para cima do Criador as responsabilidades pelos seus sofrimentos, fracassos e desilusões, culpando a sorte, a má estrela, a fatalidade do destino e a falta de amparo divino, fingindo desconhecer as responsabilidades próprias nos acontecimentos menos positivos da sua vida.

Através deste conceito de castigo divino e de justiça atroz, procura-se coagir e pressionar a não praticar o mal por medo das consequências, ao invés de haver uma preocupação pelo esclarecimento e pela educação dos povos. Precisamos não esquecer que Jesus se levantou em defesa da mulher adúltera que todos queriam apedrejar. Perguntou aos que a acusavam se tinham a consciência tranquila, disse-lhe que não estava ali para a julgar e pediu-lhe para que não voltasse a cometer os mesmos erros. Jesus ensinou-nos e mostrou-nos que todos somos os filhos pródigos da sua parábola, a desfrutar dessa enorme oportunidade de aprendermos e crescermos, que é a vida. Cometemos erros, magoamo-nos. Se formos inteligentes, aprendemos e voltamos a tentar, tudo fazendo para não voltarmos a cometer esses mesmos erros. Vamos cometer outros? Claro que sim. É inevitável, porque nós ainda temos muito que aprender e continuaremos a errar até termos adquirido esse aprendizado. A evolução é resultado de um longo e demorado processo de sucessivos erros corrigidos. Então, se é inevitável o erro, seria lógico Deus nos castigar por algo a que não podemos fugir? Claro que não.

Para a Doutrina Espírita, Deus não dá com uma mão e com a outra tira. O culto da culpa e da punição por nossos erros não vem de Deus, porque Deus não castiga. A sua infinita bondade e justiça são incompatíveis com o obtuso: “Olho por olho, dente por dente.” Deus é a inteligência suprema, a mais sublime manifestação do Amor, um Pai infinitamente justo e bom, que ama todos seus filhos sem exceção e que a cada erro cometido nos concede mais uma oportunidade. Deus não castiga em caso algum. Deus ama. A todos os Espíritos confusos e em ignorância, erro após erro, Deus concederá consecutivas e infindáveis oportunidades para aprenderem, corrigirem a sua postura e evoluírem rumo à perfeição.

Em relação aos erros dos outros, ainda sentimos necessidade de os publicitar e punir, exigindo o sofrimento ou humilhação de quem fez algo que não deveria. O dever de uma sociedade perante aqueles que violam as regras definidas e cometem crimes passa por exigir a correção e a educação do indivíduo. Isto pode parecer óbvio, mas é algo que não é praticado na maior parte dos presídios deste mundo. Os prisioneiros são tratados como seres execráveis, criminosos irrecuperáveis, sendo o tempo de prisão apenas uma punição e não uma excelente oportunidade de educação e transformação.

A simples punição não promove o crescimento e a mudança, antes provoca maior raiva, medo e desejo de retaliação ou vingança. Disse Mahatma Gandhi: “Olho por olho e mundo acabará cego”.

  • Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.