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O aumento no número de suicídios no início deste ano com o agravamento da crise econômica está causando preocupação no Japão. O final de março é considerado pelas autoridades e especialistas um período crítico. Claudia Cardamone comenta.

  • Data :07 Apr, 2009
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Suicídios aumentam no Japão e preocupam governo

Ewerthon Tobace De Tóquio para a BBC Brasil

O aumento no número de suicídios no início deste ano com o agravamento da crise econômica está causando grande preocupação no Japão.

Em janeiro houve um aumento de 15% no número de casos em comparação com o mesmo mês no ano anterior.

Segundo fontes do governo, a preocupação neste ano é maior por causa da crise econômica que afetou seriamente o país no final de 2008.

Pessoas que perderam o emprego nos últimos meses do ano passado começam a passar por dificuldades agora, após o fim do seguro-desemprego.

O benefício é pago por no mínimo três meses a assalariados despedidos e pode ser recebido, dependendo da faixa etária e de outros fatores, por até um ano. Muitos dos que perderam o emprego em novembro de 2008, por exemplo, devem ter recebido a última parcela do seguro agora em março.

‘Problema de março’

O final de março é considerado pelas autoridades e especialistas um período crítico.

Chamado na literatura psiquiátrica local de “problema de março”, o pico no número de mortes coincide com os exames vestibulares e início da temporada de contratações. Muitos dos que ficam de fora do sistema, sem outras perspectivas, optam por acabar com a própria vida.

Somente em janeiro deste ano, segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Polícia, foram registrados 2.645 suicídios. Isto representa um aumento de 15% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando foram notificados 2.305 casos.

Em 2008, o número total ficou próximo dos 32 mil, ultrapassando a marca dos 30 mil pelo 11º ano consecutivo. No ano anterior, foram registrados 33.093.

A média nacional é de um suicídio a cada 20 minutos. Nas piores épocas, o tempo entre uma morte e outra cai para até 15 minutos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, entre os países ricos o Japão está em segundo no ranking de suicídios, atrás da Rússia. Lá, a média de suicídios é de 40 a cada 100 mil pessoas. No Japão a média é de 24 e, no Brasil, cinco.

Floresta dos suicidas

A província de Yamanashi é a campeã entre os lugares onde ocorrem suicídios no Japão. Em 2008, a média foi de 40,8 a cada 100 mil pessoas. A explicação é a existência da floresta Aokigahara, também conhecida como “floresta dos suicidas”, considerada o segundo lugar mais famoso do mundo para se matar - atrás somente da Ponte Golden Gate, em São Francisco, nos Estados Unidos.

Pessoas de várias partes do Japão adentram todos os meses a densa floresta e se matam por lá. Parte da popularidade é por causa de um romance chamado Kuroi Jukai (Mar Negro de Árvores , numa tradução livre). A história termina com o casal de namorados se suicidando naquela floresta.

Desde 1950, o local registra todos os anos ao menos 30 suicídios. O governo da província tem investido nos últimos anos em projetos para diminuir o número de mortes e perder o título nada agradável.

“O fato de as pessoas estarem perdendo o emprego nos preocupa muito”, admitiu à BBC Brasil Yumi Kimura, 34, chefe do Departamento de Estudos Vitalícios do governo de Yamanashi. “Por isso, começamos uma campanha de prevenção na região com distribuição de pôsteres e cartazes com informações sobre onde procurar ajuda”, contou.

O material pode ser encontrado nos táxis, pontos turísticos e hotéis da região. “Também criamos uma rede de comunicação com os moradores locais, que voluntariamente tomam conta dos arredores de suas moradias”, disse Yumi. Caso o morador perceba alguma atitude estranha de visitantes, ele comunica a central.

Medidas preventivas

O governo central também trabalha para evitar suicídios no país. O objetivo é reduzir em até 20% o número de suicídios até 2016. Entre as medidas estão o treinamento de conselheiros e o apoio a organizações sem fins lucrativos. Também existe um projeto de realização de palestras de alerta em escolas e empresas.

Porém, o problema é de difícil solução, pois o suicídio é visto como uma opção honrosa pela sociedade japonesa em geral, principalmente nos casos de homens que não conseguem mais garantir o sustento da família e daqueles acusados de corrupção.

Historicamente, a tradição samurai de se matar em nome da honra e o caso dos camicases, que faziam operações suicidas na Segunda Guerra Mundial, dão respaldo ao suicídio. Além disso, as principais religiões do país, o budismo e o xintoísmo, são neutras em relação ao assunto.

Além do governo, algumas empresas têm criado projetos para tentar conter os suicidas. A Companhia Ferroviária Keihin Electric Express, por exemplo, instalou no ano passado, em algumas plataformas de suas estações de trem, uma lâmpada de cor azul. A cor teria o poder de “acalmar” as pessoas.

Segundo a empresa, desde que as lâmpadas foram trocadas, há 11 meses, não ocorreram mais suicídios naquelas plataformas. Outras companhias ferroviárias estão seguindo o exemplo e também começaram a instalar as lâmpadas azuis para realizar um período de experiência.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 25 de março de 2009.

Claudia Cardamone comenta*

Esta reportagem não pode ser compreendida apenas como um acumulado numérico de tendências pessoais, mas como a face de uma sociedade que nós talvez não compreendemos corretamente.   “suicídio é visto como uma opção honrosa pela sociedade japonesa em geral”. A sociedade japonesa coloca a honra acima de tudo. Mas o que é esta honra e como compreendê-la? É uma manifestação do orgulho e egoísmo simplesmente? Seria necessário estudar profundamente esta cultura para poder afirmar qualquer coisa, mas podemos fazer alguns levantamentos sob a ótica espírita.

“946-a. Os que levaram o desgraçado a esse ato de desespero [o suicídio] sofrerão as consequências disso?

  • Oh! Infelizes deles! Porque responderão como por um assassínio.” (O Livro dos Espíritos , Allan Kardec.)

Como culpar toda uma sociedade pela escolha de um indivíduo? A vergonha inmensurável que estas pessoas sentem em encarar a sociedade como alguém que tenha fracassado é tão grande e para nós incompreensível, que o suicídio pode lhes parecer um mal menor. Neste caso os infelizes que levaram alguém ao suicidio não são apenas aqueles que agiram diretamente, mas também aqueles que podendo fazer algo, não o fazem, cultivando a manutenção de valores milenares.

“948. O suicida que tem por fim escapar à vergonha de uma ação má é tão repreensível como o que é levado pelo desespero?

  • O suicidio não apaga a falta. Pelo contrário, com ele, aparecem duas em lugar de uma. Quando se teve coragem de praticar o mal, é preciso tê-la para sofrer as consequências. Deus é quem julga. E, segundo a causa, pode às vezes diminuir o seu rigor.” (O Livro dos Espíritos , Allan Kardec.)

“949. O suicídio é perdoável quando tem por fim impedir que a vergonha envolva os filhos ou a família?

  • Aquele que assim age não procede bem, mas acredita que sim, e Deus levará em conta a sua intenção, porque será uma expiação que a si mesmo se impôs. Ele atenua a sua falta pela inteção, mas nem por isso deixa de cometer uma falta. De resto, se abolirdes os abusos da vossa sociedade e os vossos preconceitos, não tereis mais suicídio.” (O Livro dos Espíritos , Allan Kardec.)

O ato do suicídio é sempre condenável, mas ele o é por Deus apenas, não nos cabe condenar ninguém, a quem não conhecemos nem a história, nem as intenções.

Julgar é um ato necessário para que possamos compreender o certo e o errado. Talvez um grande passo seja aceitar que não somos perfeitos, somos falíveis, possuímos defeitos e vícios e desta forma nos daremos o valor mais exato, nem mais nem menos.

  • Claudia Cardamone nasceu em 31 de outubro de 1969, na cidade de São Paulo/SP. Formada em Psicologia, no ano de 1996, pelas FMU em São Paulo. Reside atualmente em Santa Catarina, onde trabalha como artesã. É espírita e trabalhadora da Associação Espírita Seareiros do Bem, em Palhoça/SC.